sexta-feira, 30 de novembro de 2007

O que faz um craque?*

Caro leitor, pense na pergunta que está no título desta coluna: o que faz um craque? O que diferencia este daquele jogador? Habilidade? Força? Rapidez de raciocínio? Velocidade? Dentre os profissionais, estas são algumas das características que tornam um atleta mais completo que o outro. Mas e entre os garotos? Como comparar indivíduos ainda em formação?

Acompanhando a evolução do futebol, percebemos mudanças profundas nas características do padrão de jogo, (2-3-5, WM, 4-2-4, 4-3-3, 4-4-2, 3-5-2), no papel desempenhado pelos atletas (ponta, lateral, líbero, cabeça-de-área, meia-armador) e na forma como eles disputam o jogo – enquanto hoje um jogador percorre em média onze quilômetros por partida, na década de 70 ele percorria sete.

Porém, um fator mudou pouco ao longo do tempo: a necessidade de uma preparação física adequada. Desde a primeira edição dos Jogos Olímpicos da Era Moderna, ou das primeiras partidas de futebol disputadas na Grã-Bretanha, o condicionamento físico é requisito primordial para o atleta ser de fato atleta e diferenciar-se das pessoas comuns.

Até por isso, as características físicas como estrutura óssea, composição muscular,
resistência e explosão são as mais utilizadas na avaliação de jovens que chegam aos testes das categorias de base – as famosas peneiras. Goleiros têm que ser altos, assim como zagueiros precisam ser fortes, volantes necessitam de vigor acima da média e atacantes têm que correr sem se cansar. Contudo, esse pode não ser o melhor caminho.

É preciso considerar as diferenças de crescimento de um garoto para outro. Enquanto um atinge seu auge aos 16, outro pode se desenvolver até os 22. Assim, o menino que hoje é magro e tem pouca massa muscular pode render em breve, se bem trabalhado, muito mais que seu companheiro que se desenvolveu precocemente. Por isso, é fundamental que o profissional que avalia esses meninos tenha conhecimento suficiente para saber quem pode se desenvolver e quem tem tudo para ser um “foguete molhado”.

Vejamos um exemplo das diferenças que meninos de mesma idade podem apresentar: no Mundial Sub-20 realizado este ano no Canadá, a República Tcheca tinha uma média de altura de 1,83 m, enquanto os franzinos garotos de Zâmbia apresentaram a média de 1,57m. Uma diferença absurda, que obviamente existe por fatores genéticos e nutricionais, entre outros. Detalhe: enquanto os tchecos foram derrotados apenas na final, pela Argentina, os zambianos pararam nas oitavas.

Mas o que isto significa? Que somente jogadores altos e fortes têm espaço no futebol atual? Um certo baixinho que marcou mil gols desmente. Como em tudo na vida, também no futebol generalizações são perigosas. Que os olheiros realmente abram os olhos, e que o talento nunca seja preterido. Pelo bem do futebol de hoje e de amanhã.


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* Coluna publicada originalmente no Olheiros.

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Tragédia na Fonte Nova: era preciso?

Louvável, desejável e nada mais que a obrigação a atitude do governador Jacques Wagner, anunciando a decisão de implodir a Fonte Nova. Lamentável, porém, que reine no Brasil a (in)cultura de se tomar atitudes somente quando uma tragédia acontece (sem contar os N exemplos de que, mesmo assim, nada é feito).

Lembro-me de uma declaração de Bobô, se não me engano no ano passado (e se não me engano, em matéria que li no Máquina do Esporte), de que a Fonte Nova era um excelente estádio e que teria todas as condições de passar por algumas reformas e sediar jogos da Copa do Mundo. Apesar de nunca ter visitado o estádio, sei muito bem que a frase do Superintendente da Sudesb foi totalmente cega e descabida. À época, entretanto, ninguém deu pelota.

Entretanto, o que me preocupa mesmo são outras declarações desse tipo que vêm agora à tona, mostrando o total despreparo e falta de visão da maioria dos dirigentes brasileiros: alertado sobre as condições do Couto Pereira, o presidente do Coritiba, Giovani Gionedis, adota a postura imbecil e arrogante de todos os incompetentes engravatados: “Estamos tranqüilos em relação a isso, pois o Coritiba sempre cuida do seu patrimônio. Não reconheço esse estudo, pois ele não foi apresentado ao clube”.

Isso me irrita profundamente. Por que não levar a sério o estudo e verificar as reais condições do estádio? Afinal, se foi constatado tal problema, ele deve existir, não é? Por que assumir uma postura como essa de “temos tudo sob controle”, quando não se tem? É essa falta de visão que nos separa dos países desenvolvidos: onde está a preocupação com o torcedor, com a segurança? O mínimo que deveria ser feito é, com tal estudo em mãos, verificar as condições. Mas não. Prefere-se deixar tudo como está e acomodar-se.

Triste também é o silêncio da CBF. Até a FIFA se manifestou. Mas isso não surpreende em nada. E com seguidas atitudes como essas, aos poucos nada mais surpreende e perdemos nossa força de luta. Afinal, o que são sete vidas em nome do bem maior que é a Copa do Mundo?

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Eliminatórias Copa 2010 - Análise dos grupos

Pouca gente se interessa e muita gente nem sabe do que se trata, mas aconteceu neste domingo em Durban, na África do Sul, o sorteio dos grupos das eliminatórias asiáticas, européias, africanas e da Concacaf para a Copa de 2010. Como gosto muito de acompanhar as eliminatórias, faço uma breve análise do sorteio, lembrando sempre que tenho como base o momento atual das seleções (afinal, as eliminatórias européias, por exemplo, começam só depois da Eurocopa).

Na Concacaf, pouco há a se dizer, afinal a primeira fase tem muitos sacos de pancada na disputa. O cenário promove poucas surpresas e, se tudo der certo, os favoritos avançam sem problema à terceira fase e aí a briga esquenta. No grupo A deveremos ter Estados Unidos, Guatemala e Trinidad & Tobago brigando por duas vagas no hexagonal final, com Cuba fazendo número. No B, México, Jamaica, Honduras e Canadá também travarão uma disputa acirrada, enquanto que a Costa Rica tem tarefa fácil no C e deve passar, ao lado do Panamá, deixando Guiana e Haiti para trás.

Na África, o sorteio também foi muito preliminar e as grandes forças não devem ter problemas. Destaque para o grupo que coloca frente a frente Nigéria e África do Sul. Os Bafana-Bafana participam das eliminatórias porque elas também valem para a Copa das Nações Africanas de 2010.

Na Ásia, a briga já esquenta. Participando das eliminatórias pela primeira vez no continente, a Austrália pega um grupo difícil com Iraque, campeão continental, e a China. Apenas dois avançam à fase final. O Japão pegou o Bahrein, que quase foi à Alemanha, e os ascendentes Omã e Tailândia, mas não deve ter dificuldades, assim como Arábia Saudita e Uzbequistão, no grupo 4. A chave 3 reservou uma grande rivalidade, quando as duas Coréias se enfrentam. E no grupo 5, o Irã tem trabalho fácil, enquanto Kuwait e Emirados Árabes brigam pela segunda vaga.

Europa

Mas a grande atração mesmo são as chaves européias. Vamos a uma análise mais detalhada das chaves.

Grupo 1 – Portugal, Suécia, Dinamarca, Hungria, Albânia e Malta
Portugal é favorito a vencer a chave, ainda que não se saiba quem será o técnico das eliminatórias – há 99% de certeza na saída de Felipão após a Euro. Suécia e Dinamarca brigariam pela segunda posição, com um teórico e ligeiro favoritismo aos suecos, que têm números impressionantes nas últimas eliminatórias tanto da Copa quanto da Euro. Mas nada impede que uma zebra tire Portugal da Copa, num dos grupos mais fortes.
Palpite: Portugal e Suécia

Grupo 2 – Grécia, Israel, Suíça, Moldávia, Letônia e Luxemburgo

De longe o grupo mais fraco, graças à ascendência grega dentro do continente – que finalmente deve receber seus dividendos mundialmente. Tendo sido a maior pontuadora nas eliminatórias da Euro em um grupo mais difícil que este, a Grécia é favoritíssima a passar. Só acho que, apesar da excelente campanha dentro de casa, não será dessa vez que Israel conseguirá se classificar – a consistência suíça deve falar mais alto.
Palpite: Grécia e Suíça

Grupo 3 – República Tcheca, Polônia, Irlanda do Norte, Eslováquia, Eslovênia e San Marino

Considerando as forças presentes, acredito que este seja a chave mais equilibrada. A República Tcheca é favorita e não deve decepcionar. A Polônia, que tem ido bem nas eliminatórias mas fracassa de forma contumaz nos torneios, pode ter seu caminho dificultado pela sempre chata Eslováquia e a surpreendente Irlanda do Norte. Por ser o grupo mais equilibrado, deixo o palpite de que será este o único a não classificar o segundo colocado para a repescagem.
Palpite: República Tcheca

Grupo 4 – Alemanha, Rússia, Finlândia, País de Gales, Luxemburgo e Liechtenstein

Chave tranqüila para a Alemanha, que classificou-se à Euro sem tropeços. Sorte boa para a Rússia do sortudíssimo Guus Hiddink, que conseguiu classificar sua seleção à Euro na base do milagre e agora não deve ter sustos, podendo até, quem sabe, beliscar pontos dos alemães no confronto direto. Apesar da campanha razoável nas eliminatórias para a Euro, a Finlândia deve ficar pelo caminho.
Palpite: Alemanha e Rússia

Grupo 5 – Espanha, Turquia, Bélgica, Bósnia, Armênia e Estônia

Outro grupo tranqüilo para as duas forças principais, já que a Bélgica vai involuindo aos poucos seu nível internacional. Não me surpreenderia se a Turquia vencesse o grupo e mandasse a Espanha para a repescagem, já que a Fúria costuma tropeçar nos qualificatórios.
Palpite: Espanha e Turquia

Grupo 6 – Croácia, Inglaterra, Ucrânia, Bielorrúsia, Cazaquistão e Andorra

Vingança! É com esse espírito que os ingleses enfrentam novamente a Croácia em outro dos grupos mais equilibrados. A Ucrânia foi mal nas eliminatórias da Euro, mas qualquer prognóstico é complicado quando não se sabe sequer o nome do novo treinador do English Team. Considerando as últimas campanhas croatas em qualificatórios, parece mais seguro apostar neles novamente.
Palpite: Croácia e Inglaterra

Grupo 7 – França, Romênia, Sérvia, Lituânia, Áustria e Ilhas Faroe

Poderia ser o grupo mais difícil se a Áustria vivesse dias melhores e se ainda não pairassem certas dúvidas sobre quão longe podem chegar Romênia e Sérvia. Ainda assim, os Bleus têm um árduo caminho pela frente e tropeços como os do qualificatório para a Euro não podem se repetir. Em uma disputa muito parelha, escolho a Romênia para a segunda colocação baseando-me no desempenho recente.
Palpite: França e Romênia

Grupo 8 – Itália, Bulgária, Irlanda, Chipre, Geórgia e Montenegro

Ao contrário de algumas opiniões que ouvi, não acho o grupo italiano muito difícil. Bulgária e Irlanda estão num nível bem inferior e, ao contrário das últimas campanhas, não acredito em muita dificuldade da Azzurra para avançar. Búlgaros e irlandeses brigam pela segunda vaga, mas cravo no time do eterno Robbie Keane.
Palpite: Itália e Irlanda

Grupo 9 – Holanda, Escócia, Noruega, Macedônia e Islândia

Finalizamos com o grupo que tem uma seleção a menos – mas nem por isso a vida fica mais fácil. A Macedônia roubou pontos importantes na Euro e pode repetir o feito contra os favoritos holandeses. Escócia e Noruega podem travar uma disputa acirradíssima pela vaga na repescagem – ou não. Tudo depende de quanto tempo os escoceses conseguem mostrar a excelente performance dos últimos meses. Pela regularidade, aposto na Noruega.
Palpite: Holanda e Noruega

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

A arrogância tupiniquim


Dentre tantos outros assuntos que gostaria de ter abordado nos últimos dias - e não tenho conseguido por falta de tempo, realmente -, o principal é o desempenho da seleção brasileira, que me irrita profundamente.

Ainda durante a partida contra o Peru, pensava em alguma forma de entender por que, mesmo tendo tantos jogadores acima da média, a seleção brasileira não conseguia jogar bem. Naquela partida, o Brasil aumentava seu jejum de vitórias fora de casa. Se antes o Brasil vencia fácil a todos os adversários, depois de uns tempos começou a ficar complicado jogar bem em casa, por exemplo, afinal "os times jogam muito retrancados", disseram vários treinadores que passaram pelo cargo. Agora, sabe-se lá porquê, o Brasil não vence nem fora, quando teoricamente os oponentes sairiam mais para o jogo e dariam mais espaços.

Nos dias entre o jogo contra o Peru e o contra o Uruguai, muito foi dito e Kaká argumentou que, antes de dar espetáculo, o importante é vencer. Falou-se sobre a ineficiência do meio-campo, mas tenho pra mim que quem não cabe na seleção é Mineiro, não Gilberto Silva. Enquanto assistia a partida entre Colômbia e Argentina, ouvi André Escobar, comentarista do Sportv, dizer que a torcida brasileira não aceitaria jogar com três volantes, como a seleção argentina fazia.

Pois bem. Eis que, ao acompanhar a péssima apresentação contra o Uruguai, deparei-me com algumas ponderações sobre esse tema. Primeiro: não acredito que jogadores do nível de seleção brasileira fiquem "atordoados" ou "perdidos em campo" devido a uma marcação mais consistente, como tentou-se fazer crer. Segundo: obviamente, não tenho a pachorra de dizer que encontrei a solução para que o time jogue bem.

Mas, ainda que deteste chavões, o futebol parece mesmo não ter mais tantos "bobos". Acredito que o Brasil não joga bem porque não tem um técnico no banco, e sim um selecionador, que nem isso faz direito - não aceito convocações como Fernando e Vágner Love. Dunga pode até montar o time antes do jogo, dispor as peças no gramado, mas não possui variações táticas e saídas para problemas antigos que a seleção enfrenta, como a marcação com duas linhas de quatro.

Outro fator que considero importante: no Real, Robinho não marca. No Milan, Kaká não marca. No Barça, Ronaldinho não tem obrigação de marcar. São estrelas. Mas quando se juntam na seleção, precisam voltar e marcar para que o Brasil não seja batido na inferioridade numérica. Se existe um ponto que o time não dá sustos é a defesa, e por isso considero que os três não devem voltar para dar combate aos meias adversários.

Entretanto, o pensamento que me veio é algo totalmente diferente. O Brasil não consegue mais dar espetáculo não pelo nivelamento dos times ou pela falta de amor à camisa. O Brasil é arrogante. Provavelmente nem seja algo intencional, mas naturalmente quem é considerado o melhor acaba mudando seu comportamento. E digo que o Brasil é arrogante por nunca se preocupar com o adversário e deixar que o adversário se preocupe com ele, cabendo aos brasileiros apenas jogar. É o discurso que aparece na mídia: quantas vezes você já viu Dunga dizendo que "fulano de tal é perigoso e precisamos tomar cuidado"? Ou que "podemos recuar um pouco para sair no contra-ataque"? São atitudes que a própria torcida e a imprensa não admitem, mas que poderiam muito bem ser utilizadas para o bem do time.

Ao contrário, só o que se fala são opções no ataque, formas do Brasil jogar, contestações às convocações e NUNCA se lembra que do outro lado existem outros onze jogadores. É como se o adversário não existisse. Daí, quando as dificuldades surgem, não se está preparado para elas.

Poderia me alongar muito mais, falar sobre minhas idéias de esquemas táticos e outros assuntos. Mas por hoje, peço humildade não só à seleção como a todos nós. Porque não é só o Brasil que entra em campo e, por mais que existe sempre a pressão por vitória, é preciso lembrar que o futebol é um jogo, e que muitas vezes nem sempre o melhor vence.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

"O fortalecimento muscular não é nocivo"

Tive o prazer de conversar com o Dr. Turíbio Leite de Barros, fisiologista do São Paulo, sobre as características do trabalho físico nas categorias de base. Deixo, aqui, alguns trechos da entrevista que você confere, na íntegra, no Olheiros.net.

Olheiros - Quais as características necessárias para desenvolver um bom trabalho físico nas categorias de base?
Dr. Turíbio - Eu acredito que a questão do trabalho com os garotos do futebol, cujo perfil é o mesmo até para outras modalidades esportivas, é você ter todo um cuidado no que diz respeito a determinados modelos de treinamento, que devem considerar a enorme importância da fase de crescimento e desenvolvimento que o jovem terá durante o período da adolescência. Então, a maior preocupação que nós temos é priorizar a natureza, ou seja, contemplar as necessidades que o jovem tem para crescer e se desenvolver. Antes de se tornar um atleta ou, eventualmente, um jogador de sucesso, ele precisa ter a saúde que ele vai necessitar para toda sua vida. Se uma agressão é feita, no sentido de um trabalho físico inadequado ou um modelo de treinamento desajustado à sua necessidade individual, isso pode trazer conseqüências sérias no futuro, principalmente na terceira idade, quando ele vai pagar o preço dessa imprudência.

Olheiros - Muito se fala sobre como o fortalecimento muscular, muitas vezes, poda a mobilidade e a técnica dos atletas. O que há de verdade e mentira em torno desse mito?
Dr. Turíbio - Essa história do fortalecimento prejudicar a agilidade, a velocidade, é muito mais um mito do que um fato. O problema não é fazer um fortalecimento muscular, mas sim fazê-lo no momento errado. Quando isso é feito precocemente, a possibilidade é grande de prejudicar aquilo que seja até a característica fundamental do talento que o garoto tem. Então, se ele for submetido a um programa de musculação muito cedo, ele pode sim se tornar um atleta que perca velocidade, perca agilidade. Ao contrário, se isso for feito no momento certo, no momento em que ele já teve seu crescimento e seu desenvolvimento amadurecidos, o ganho de massa muscular vai tornar este atleta mais rápido, ágil, forte e resistente.

Confira a entrevista completa no Olheiros.

sábado, 17 de novembro de 2007

MSC – MOVIMENTO DOS SEM CRAQUES

Manifesto dos Blogueiros a favor da transformação do futebol brasileiro

Nossa paciência está no limite. É triste ver a que ponto chegamos. O futebol nacional nunca esteve tão ruim, tão feio. É difícil de acreditar no que estamos vendo. Craques surgem aos baldes, mas antes mesmo de se tornarem ídolos em seus clubes, que os lapidaram e os revelaram, são vendidos ao exterior, muitas vezes a preço de banana. O que mais nos assusta é que muita gente reclama, muitos esperneiam, mas quem pode tentar reverter a situação não tem feito nada.

Clubes de futebol devendo milhões. Não há clube de futebol sem dívidas no Brasil, mas sim os que devem menos. Estádios precários caindo aos pedaços, monopólios de transmissão em TV, falta de organização e preocupação com o bem estar do torcedor.

Se fôssemos listar tudo que há de errado em nosso futebol, escreveríamos um livro e não um manifesto.

A força dos Blogs e dos blogueiros que vos escrevem é nula ou insignificante, mas nossa comunidade tem crescido a cada dia e com ótimos escritores, jornalistas ou somente fanáticos por futebol, gente que age por paixão, que se dedica e escreve belos textos. Com isso, convocamos todos os amigos, parceiros ou simples militantes do nosso futebol que se engajem nesta campanha em prol do esporte bretão.

Ainda não sabemos o que fazer e como fazer, mas sabemos que algo precisa ser feito com urgência e partindo de alguém. Da imprensa parece que não vai ser. Da CBF não esperamos nada, e do governo menos ainda. Então por que não tentarmos nós? Os clubes vivem um martírio onde as dívidas com suas federações e com o Clube dos 13 os fazem reféns de verdadeiros Barões da cartolagem, limitando as suas possibilidades de ação.

A esperança olha para nós. O povo brasileiro. Não podemos deixar a maior paixão do nosso povo se esfacelar desta forma. Chegou a hora de agirmos. Vamos fiscalizar, divulgar e cobrar. A divulgação nós já fazemos, agora é a hora de começar a cobrar. Temos representantes em todos os cantos. Vamos nos unir porque não custa tentar.

Orlando Silva Júnior, Ministro dos Esportes é o nome de quem devemos começar a cobrar ações, dos dirigentes dos nossos clubes temos que cobrar atitudes e dos nossos Deputados e Senadores temos de cobrar a revisão da Lei Pelé. Temos que começar a criar condições de manter os nossos craques no país, criar condições para que os clubes consigam ter sustentabilidade, e exigir maior transparência nas administrações dos mesmos. Todos nós admiramos o futebol europeu pela sua organização e marketing, e temos que nos espelhar em seu modelo de gestão, melhorando-o e adaptando-o às nossas circunstâncias.

Cabe a nós cobrar. Cobrar, acompanhar e fiscalizar.

Este manifesto é apenas um texto de meros blogueiros que entendem pouco mas que são apaixonados pelo futebol e que têm muita vontade de ver as coisas mudarem. Se tivermos união, sei que poderemos colocar pelo menos um tijolo na construção de uma nova forma de encarar o esporte mais brasileiro que existe.

O nosso futebol merece esse nosso esforço. Contamos com todos. Blogueiros e não blogueiros, uní-vos!"

[Texto de Bruno Silva que será postado nesta data por vários Blogueiros que se associaram a este Movimento. Se você tem um Blog sobre futebol, participe! Este é um movimento sem dono ou representante.]

terça-feira, 13 de novembro de 2007

O dono da bola



Abordo novamente um assunto que considero por demais importante e que, aparentemente - para meu desespero e para a infelicidade geral da nação - a imprensa esportiva brasileira tem dado pouca atenção: passado o furor do anúncio do Brasil como sede para a Copa de 2014, começa a corrida desenfreada para dividir as fatias do bolo.

E é exatamente esse título, "o dono da bola", que a revista Veja usa essa semana em sua entrevista com Ricardo Teixeira. Afinal, se a Fifa faz toda questão de deixar claro que "a Copa do Mundo é da Fifa"¹, ao menos este brasileiro é o que terá mais poder sobre o evento em terras tupiniquins.

Já adianto que a entrevista não traz nada de novo ou revelador, primeiro pela qualidade da revista e segundo pela personalidade do entrevistado. Mas dá mostras do discurso que podemos esperar nesses sete anos.

"Não vou comprar nada com dinheiro do governo. Não vai ter dinheiro público nas coisas básicas desportivas da Copa", disse Teixeira. Observe o verbo conjugado na primeira pessoa, mostrando claramente que quem faz a Copa no Brasil é ele. Quem TROUXE a Copa pra cá foi ele. O povo brasileiro DEVE isso a ele, e por isso ele pode fazer o que bem entender. Arrogante? É este o discurso do presidente da CBF e do Comitê Organizador Local, a ser criado em breve.

É óbvio que os governos estaduais e federal não irão bancar as reformas do Morumbi. Mas Teixeira esquece-se de que alguns dos estádios escolhidos são públicos, e por mais que surjam as PPPs, ALGUM dinheiro público será gasto. E ao contrário de investimentos em infra-estrutura, que podem beneficiar a população, instalação de cadeiras no Mineirão não mata a fome de quem mora no Vale do Jequitinhonha, uma das regiões mais pobres do Brasil. E ambos os exemplos são de obrigação do Governo do Estado de Minas.

Repito: é muito poder na mão de alguém que tem tanta facilidade para capitalizar quanto para apagar os rastros. Teixeira vê-se no direito até de influenciar em decisões políticas, uma vez que basta um dedo em riste para que ele sugira a eliminação de uma cidade como possível sede da Copa. Até 2008, quando as sedes serão escolhidas, o presidente da CBF tem a chance de se refestelar com mimos, lobbies e muita, MUITA articulação.

Quando perguntado sobre CPI do Corinthians/MSI e a antiga CPI da Nike, Teixeira desconversou. Preferiu atacar o proponente da CPI, senador Álvaro Dias. Não que ele não tenha seus esqueletos no armário, mas a reação de Teixeira foi típica de um culpado que se sente acuado.

Encerro com a frase que considero mais emblemática. Quando perguntado sobre o orçamento para a Copa, Teixeira simplifica: "ainda é muito cedo para saber". Ora, se a Alemanha foi escolhida também sete anos antes para a Copa de 2006 e sabia, por que para nós é muito cedo? Vale lembrar que por lá as coisas acontecem muito mais rápido. Tais incertezas abrem espaço para mais e mais negociações.

É esperar. Mas em nome de um mês de festa (que o povo brasileiro nem vai poder acompanhar direito, já que a maioria dos ingressos vai pra fora), corremos o grande risco de viver sete anos em letargia. O que era para ser o gatilho de uma mudança recebe ares de mantenedor do statu quo.

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¹ Sobre este assunto em particular, indico excelente artigo de Oliver Seitz no porta Cidade do Futebol (ver).

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Em time que está ganhando...

Posto, hoje, coluna publicada originalmente no Olheiros, na sexta-feira. Convido a todos a acessarem o site.

Conquistas seguidas do São Paulo dificultam acesso de atletas vindos da base


Quem está no topo, quer permanecer no topo e, para isso, busca sempre se reforçar. O raciocínio é simples e se aplica, com perfeição, ao São Paulo. Tão logo Rogério Ceni abaixou a taça na quarta-feira, o discurso passou a ser apenas um: “precisamos nos reforçar”. Repetir o insucesso continental dos últimos dois anos é algo impensável no Morumbi e a diretoria já se manifestou: vai atender os pedidos de Muricy.

Para um clube que fatura 120 milhões de reais por ano, reforçar o elenco chega a ser um exercício assaz divertido. Afinal, buscar jogadores com o caixa no vermelho não é lá uma das tarefas mais agradáveis. E até por isso, o São Paulo busca soluções para seus poucos problemas sem perceber que elas podem estar ali, bem embaixo do nariz. Literalmente.

A vida dos garotos que esperam por uma chance no time principal não tem sido fácil. Ao invés de olhar para as bases, o Tricolor sai às compras – o que tem sido uma constante na política de negociações do clube, que compra jogadores até então medianos e vende por cifras excelentes (casos de Ilsinho, Josué e Cicinho, entre tantos outros). Como isso dá retorno para o cofre, continua como está. O caso de Denílson, negociado com o Arsenal antes mesmo de se firmar no time titular, é exceção.

Em meio às trocas no elenco, o outrora chamado expressinho fez uma campanha excelente na Copa São Paulo e só caiu na final diante do ótimo Cruzeiro nos pênaltis. Daquele time, Breno foi um dos poucos que subiu, mas Sérgio Motta, Flávio e Serginho poderiam muito bem ter ganhado uma chance e feito o mesmo sucesso do zagueiro, que provavelmente será eleito a revelação do campeonato.

Até Fabiano, que não começou no clube e estreou apenas porque Ceni estava contundido e Bosco suspenso. Quando jogou, mostrou que tem qualidade. Assim, o São Paulo vai seguindo o caminho inverso de outros clubes brasileiros que, por falta de dinheiro, apostam quase tudo nas bases. Mas enquanto lá o clima é tumultuado e a pressão, constante, cá no Morumbi o ambiente é perfeito para se lançar novos talentos. O São Paulo gaba-se de ter estrutura e grandes times na base, mas não tem sabido se aproveitar deles. Saber mesclar esses talentos com os reforços (necessários sim, e bem-vindos, porque não), é a equação a ser solucionada.

Relembrar é viver

Em fevereiro de 1987, dois anos antes do nascimento de Breno, o Tricolor conquistava o bicampeonato brasileiro na final contra o Guarani. O time, comandado por Pepe, tinha os garotos Silas, Müller e Sidney, entre outros, que ficaram conhecidos como os “menudos do Morumbi”.

Mas o trabalho havia começado em 84, com uma reformulação imposta por Cilinho, que promoveu vários jogadores da base e recuperou Careca. O time mudou muito no ano seguinte, mas a semente plantada por Cilinho foi o embrião da equipe que disputou três finais seguidas do campeonato brasileiro, vencendo em 91 e abrindo as portas rumo a Tóquio.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Brasileirão: 90%


Ainda que Juventude e São Paulo jogem apenas na quarta, o resultado em nada influirá na classificação do campeonato. Por isso, fazemos já nossa última análise antes do final do campeonato.

O São Paulo, que sofria de uma queda que tem sido natural para os líderes na reta final do campeonato desde 2003, garantiu sem problemas o pentacampeonato a quatro rodadas do fim. Pode, ainda, atingir o segundo melhor índice de aproveitamento (71,9%, contra 72,4% do Cruzeiro-03) e a maior diferença para o vice-campeão na história dos pontos corridos.

Vice-campeão que parecia definido, nas últimas análises. A série de sete derrotas do Cruzeiro só terminou neste final de semana, no confronto direto com o Flamengo, e o time chegou até a ficar de fora do G-4. A seqüência é razoável : Inter e Sport fora, América em casa. Com quatro pontos, pode ao menos salvar a Libertadores. O vice chegou perto do Santos, que venceu bem o Náutico fora de casa graças à subida de produção de Pedrinho. Mas a tabela é complicada e o time apenas empatou em casa com o Galo.

O Flamengo protagonizou uma ascensão que lembrou o Goiás de 2004. A derrota para o Cruzeiro foi a primeira após quatro vitórias consecutivas, que colocaram o time na briga por uma antes impensável vaga na Libertadores. Souza fez gols importantes, Ibson tem jogado muito bem e a dupla de alas formada por Juan e Leonardo Moura é a melhor do Brasil. Como está numa curva ascendente, o Flamengo é favorito, hoje, a ficar com uma das vagas, deixando a briga pela restante para Cruzeiro e Palmeiras.

Palmeiras que pode pagar caro pelas derrotas que sofreu em casa para times ameaçados pelo rebaixamento: Sport no primeiro turno, Juventude agora. A outra derrota para o Sport poderia ter sido evitada, mas fato é que, nas últimas rodadas, o time teve um desempenho superior ao apresentado no restante do campeonato. As duas derrotas mostram o quanto o time é irregular, como a maioria. Até por isso, continua na briga.

Três derrotas em quatro jogos deixaram o Grêmio distante da vaga. O time subiu de produção no segundo turno, mas a dificuldade em fazer pontos fora de casa pesou. Botafogo e Atlético-PR ainda sonham, mas o Fogão não sabe se é o time que goleou o Cruzeiro ou o que empatou com Juventude e América; e o Furacão, ainda que tenha renascido com a chegada de Ney Franco, reagiu tarde demais.

Inter e Figueirense também apresentaram uma oscilação muito grande. O Colorado teve a excelente estréia de Nilmar, mas perdeu para o Paraná e empatou em casa com o Sport. Já o Figueira surpreendeu e venceu Santos e Grêmio, afastando o perigo de rebaixamento. Vasco e Sport, ainda que não tenham tido desempenhos muito bons, não devem se assustar mais com o rebaixamento, assim como o Atlético-MG, que tem tabela muito tranquila: pega Goiás e Juventude em casa. O Vasco, aliás, poderá ser o fiel da balança para o Timão: enfrenta o Corinthians na penúltima rodada, e o Paraná na última.

Perdendo fôlego, o Náutico chegou a sonhar com a Sulamericana, mas três derrotas fazem com que Roberto Fernandes se dê por satisfeito com a manutenção do time na primeira divisão. Uma vitória sobre o América e um empate diante do Figueirense devem bastar, já que na última rodada o Flamengo - provavelmente ainda sonhando - será um adversário duríssimo.

Finalmente, Corinthians, Goiás e Paraná brigam para escapar do rebaixamento. O Paraná precisará se superar, já que tem uma tabela complicada: Botafogo fora, Santos em casa e Vasco fora. Deve cair. Aos dois restantes, a próxima rodada marca um confronto direto no Serra Dourada. É o jogo do ano para o Corinthians e uma derrota pode significar o rebaixamento para ambos. Impossível de se prever.

Quem mais subiu: Flamengo (de 9° para 4°, 9 pontos em 12)
Quem mais caiu: Vasco (de 7° para 12°, 4 pontos em 12) e Sport (de 8° a 13°, 4 pontos em 12)
Destaques das últimas quatro rodadas: Finazzi (quatro gols em quatro jogos), Pedrinho e Souza.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

O penta no penta

77, 86, 91, 06 e 07. O São Paulo fez a quina e é o primeiro pentacampeão brasileiro sem contestação - afinal tem muita gente que ainda não reconhece o penta flamenguista, especialmente a CBF.

Para quem ainda defende o argumento retrógrado de que o campeonato brasileiro é o mais equilibrado do mundo, de que "todo ano pelo menos dez equipes disputam o título", uma definição célebre de Mauro Beting acaba com a discussão: a cada ano, o campeonato brasileiro parece ser mais uma disputa entre vinte times para evitar o rebaixamento que, eventualmente, é vencida por quem errar menos. Fica a lição para dirigentes perpétuos, que mesmo sabendo que seus clubes não têm condição de serem campeões, inflamam seus discursos para agradar a torcida.

Digo isto porque o time atual do São Paulo é inferior ao de 2006 e, enquanto aquele terminou o campeonato nove pontos à frente do vice e garantiu o título a duas rodadas do fim, este já abre 15 e foi campeão com quatro jogos de antecedência. Não desmereço o time são-paulino, afinal em 2007 a defesa sofreu 19 gols a menos que no ano passado. Mas é fato que nunca uma conquista parece ter sido tão fácil.

Assim, acaba a história de que "o Brasil tem vários times grandes". Com a quinta estrela, o São Paulo sacramenta o que já era: o maior time do Brasil. O mais vencedor. O mais rico. O penta no país do penta. Uma hegemonia que, a julgar pelos adversários, só tende a crescer.