quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

2008 em números

758

É o número de vezes que Sir Bobby Charlton vestiu a camisa do Manchester United, entre 1954 e 1973. O lendário jogador estava nas tribunas do Old Trafford quando Ryan Giggs igualou esta marca. A cereja do bolo foi o gol marcado por Giggs, que lhe garantiu o décimo título da Premier League, e o troféu da temporada 2007/08 para os Red Devils.

130

O número de jogos de Edwin Van der Sar pela seleção holandesa. A marca foi alcançada em 10 de novembro, em partida contra a Noruega pelas Eliminatórias para a Copa de 2010. O goleiro de 38 anos tornou-se não só o jogador mais velho a defender a Laranja, mas também o terceiro goleiro que mais vezes atuou por uma seleção, empatando o número do mexicano Jorge Campos.

83

Soma total de gols marcados por Rogério Ceni, em 839 jogos pelo São Paulo, ao longo de 18 anos de carreira no Tricolor. O maior goleiro artilheiro da história foi mais uma vez peça importantíssima na conquista do hexacampeonato brasileiro.

71

É o tempo, em anos, que se passou até que Alexander Frei se tornasse o maior artilheiro da história da seleção suíça. A marca de 37 gols foi alcançada ao fazer dois no amistoso ante Liechtenstein, em maio - vitória por 3 a 0. O atacante do Borussia Dortmund bateu assim o feito de Xam Abegglen, que entre 1922 e 1937 havia anotado 34 vezes.

59

Há exatos 59 anos, o Al Ahly conquistava seu primeiro título egípcio. Agora, alcançou seu quarto triunfo em seqüência e o 33º no total. Além disso, levantaram mais uma vez a Liga Africana e já possuem três vezes mais troféus nacionais que seu maior rival, o Zamalek.

48

É o tempo que se passou desde a primeira edição da Copa Libertadores. Em 2008, pela primeira vez na história, um time equatoriano levantou a taça: a LDU surpreendeu, bateu o Fluminense nos pênaltis e se tornou apenas o terceiro time de fora de Brasil ou Argentina a ser campeão nos últimos 17 anos.

44

Quarenta e quatro anos durou o jejum de títulos da Espanha. Ao conquistar a Euro 2008 de maneira convincente e terminar o ano liderando o Ranking da Fifa com larga vantagem e incrível série invicta, a Fúria acabou com a pecha de amarelona e recebeu o status de melhor seleção do planeta no momento.

31

O número de jogos que durou a invencibilidade do Standard Liége, que com isso levantou seu primeiro título belga em 25 anos. O grito de campeão foi solto no dia 20 de abril, com uma vitória de 2 a 0 sobre o Anderlecht.

23

O número de títulos conquistados por dois gigantes: Sir Alex Ferguson, no comando do Manchester United há vinte anos, e Oliver Kahn, o melhor goleiro alemão de todos os tempos, que se aposentou do Bayern de Munique e do futebol em 17 de maio.

18

Há exatos 18 anos, o Hoffenheim era um time amador que disputava a oitava divisão alemã. Agora, são a sensação do futebol europeu e terminaram o primeiro turno da Bundesliga na ponta - a primeira vez que um time vindo da segunda divisão consegue tal feito.

14

Faltam 14 gols para que Raúl ultrapasse a lenda Alfredo Di Stefano no número de gols marcados na Liga Espanhola. Di Stefano tem 227, e o maior artilheiro de todos os tempos, Telmo Zarra, 237. Raúl já é o maior artilheiro da história da Uefa Champions League.

8

Se o Hoffenheim subiu rapidamente, o Hull City precisou de oito anos para sair da última divisão do futebol inglês até a primeira. Os tigres, que completaram 104 anos de fundação em 2008, estão fazendo uma grande temporada, aparecendo na sexta posição, logo atrás do Arsenal.

É com estes números que o blog deseja a todos um feliz 2009, cheio de gols, pontos, cestas, aces, touchdowns, home runs, pole positions e tudo de melhor que pode existir!

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Mete miedo

Do blog do Olheiros.

O sonho de todo garoto das categorias de base é fazer parte da equipe de profissionais. Mas, para ele entrar, alguém tem que sair do time. Pensando nisso, a Nike, patrocinadora do Boca Juniors, lançou uma série de comerciais na TV argentina.

Intituladas "mete miedo", as peças publicitárias mostram garotos da cantera xeneize intimidando atletas consagrados como Palacio, Battaglia, Ponzio e Hirsig. A idéia é trabalhar a ligação entre os grandes ídolos da equipe profissional e os garotos, nem sempre tão amistosa.

Os comerciais falam também do espírito de luta e da valorização das categorias de base, e funciona como um aviso às estrelas, que devem treinar e não podem se acomodar.

Confira:









Um feliz Natal a todos!

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

De volta com o mata-mata!

Não, este não é um post para discutir pontos corridos versus mata-mata. É apenas uma brincadeira, que o amigo Filipe Lima iniciou no ano passado e dou continuidade agora. E se o Campeonato Brasileiro 2008 fosse decidido no mata-mata, como seria? Acompanhe a brincadeira.

A regra é simples: pega-se a classificação final do campeonato e arranja-se os oito primeiros na chave que era utilizada até 2002: 1º x 8º, 2º x 7º e assim por diante. Para sabermos os resultados, basta pegar os placares do primeiro e do segundo turno. Em caso de empate, prevalece a melhor campanha.

E aí, como seria?

Quartas-de-final

São Paulo (1º) x Goiás (8º)

Após uma arrancada espetacular, o São Paulo garantiu a primeira colocação e o direito de decidir todos os duelos em casa. No jogo de ida, polêmica pelo local do jogo, já que o Goiás havia perdido o mando de campo. Debaixo de muita chuva em Brasília, Borges apareceu, impedido, e deu a vantagem ao Tricolor. Na volta, Zé Luís abriu o placar logo a dois minutos de cabeça. Iarley empatou de pênalti aos 15 e já nos acréscimos da primeira etapa, em uma cobrança de falta na intermediária, Rodrigo chutou forte, a bola fez uma curva, foi no canto e Harlei não conseguiu alcançar. O São Paulo passou no sufoco, já que o Goiás pressionou muito durante o segundo tempo.

Goiás 0x1 São Paulo
São Paulo 2x1 Goiás

Grêmio (2º) x Botafogo (7º)

O Grêmio liderou boa parte do campeonato, mas acabou ultrapassado pelo São Paulo no fim. No primeiro jogo, no Engenhão, o Tricolor sentiu a saída repentina de Roger e foi derrotado por 2 a 0, com gols de Túlio e Zé Carlos, um em cada tempo. Na volta, o Bota abriu o placar aos 30 minutos e o garoto Douglas Costa empatou logo depois, batendo de fora da área. Aos 18 do segundo tempo, Réver aproveitou o escanteio e virou. Os donos da casa precisavam de mais um gol para se classificar, mas a partida seguiu em ritmo lento até o final.

Botafogo 2x0 Grêmio
Grêmio 2x1 Botafogo

Cruzeiro (3º) x Internacional (6º)

O Cruzeiro esteve na parte de cima da tabela o tempo todo, enquanto o Inter se dedicou também à Sul-Americana, terminando campeão. No primeiro jogo, vitória de um remendado Inter por 1 a 0, com gol de Gustavo Nery. Mas, no Mineirão, prevaleceu a qualidade do time azul e Gérson Magrão, que substituía Wagner, fez 1 a 0 logo a três minutos, passando por Clemer. Nilmar desperdiçou pênalti aos 39, para defesa de Fábio, e o gol da classificação saiu no início da segunda etapa, logo a dois minutos: Sorondo tentou cortar cruzamento de Guilherme e marcou contra.

Internacional 1x0 Cruzeiro
Cruzeiro 2x0 Internacional

Palmeiras (4º) x Flamengo (5º)

O duelo das equipes mais próximas da tabela foi o mais emocionante. Com grande atuação de Ibson e Kléberson, o Flamengo aplicou uma goleada de 5 a 2 no primeiro jogo e praticamente assegurou a passagem às semifinais, mas o Palmeiras pressionou muito no Parque Antárctica buscando três gols. Só conseguiu um, com Sandro Silva, aos 6 minutos do segundo tempo, e Luxemburgo saiu irritado de campo.

Flamengo 5x2 Palmeiras
Palmeiras 1x0 Flamengo

Semifinais

São Paulo (1º) x Flamengo (5º)

Se o Flamengo goleou nas quartas, foi goleado em pleno Maracanã na semifinal. O Flamengo pressionou desde o início, empurrado pela grande torcida, mas Borges novamente foi decisivo, marcando dois gols. Ibson também jogou bem, anotando os dois tentos Rubro-Negros, e o Fla foi para cima, mas Éder Luís fez o quarto já nos acréscimos. O jogo da volta foi tranqüilo para o SP, apesar da pressão carioca, que teve um gol bem anulado no começo. Aos 44min, Zé Luiz cruzou da direita e a bola sobrou livre para Dagoberto marcar para a equipe tricolor. O Fla se entregou e Hugo fechou o placar no segundo tempo, de cabeça.

Flamengo 2x4 São Paulo
São Paulo 2x0 Flamengo

Cruzeiro (3º) x Botafogo (7º)

O Botafogo continuou surpreendendo os favoritos e venceu apertado, na primeira perna, por 1 a 0: em um jogo fraco tecnicamente, Giuliano Bozzano marcou pênalti discutível de Thiago Heleno sobre Wellington Paulista e Lúcio Flávio converteu. Na volta, muita retranca de um Bota repleto de desfalques e o Cruzeiro fez o mínimo, vencendo por 1 a 0 também graças a um pênalti, convertido por Guilherme após falta de Leandro Guerreiro em Wagner.

Botafogo 1x0 Cruzeiro
Cruzeiro 1x0 Botafogo

Final

São Paulo (1º) x Cruzeiro (3º)

O São Paulo chegou à final como grande favorito, após a melhor campanha e quatro vitórias em quatro jogos no mata-mata. No Mineirão, o Cruzeiro começou pressionando, mas logo o São Paulo tratou de equilibrar o jogo. Aos 32, Jonathan recebe na área, em velocidade, e cruza para trás. Guilherme domina e bate de perna esquerda, a bola desvia e engana Rogério Ceni antes de entrar. O São Paulo voltou com duas mudanças para o segundo tempo. Richarlyson e Éder Luís entraram nos lugares de Zé Luís e Aloísio, que estavam com cartão amarelo. A mudança surtiu efeito. Com 36 segundos, Richarlyson achou Borges na área. O atacante driblou Leo Fortunato e tocou na saída de Fábio. A partir daí, o jogo ficou equilibrado e as duas equipes tiveram oportunidades para marcar mais gols.

Na volta, antes mesmo do jogo, o técnico Muricy Ramalho teve uma complicação de última hora para escalar o time. Ele não pôde contar com o goleiro Rogério Ceni que sofreu uma lesão muscular no treino do último sábado e teve de ser substituído por Bosco. Os são-paulinos se mostravam apreensivos, mas os 15 primeiros minutos de jogo foram completamente tricolores. Se o 0 a 0 no intervalo era preocupante, o início do segundo tempo foi desesperador, já que o Cruzeiro pressionava. Após muita tensão, a torcida pôde finalmente explodir: com 35min, após cobrança de escanteio de Jorge Wagner, o zagueiro André Dias subiu mais que a defesa do Cruzeiro para cabecear e marcar o gol que abriu a vitória. Já nos acréscimos, em cobrança de falta, Jancarlos deu números finais ao placar e a festa do hexa foi completa.

Cruzeiro 1x1 São Paulo
São Paulo 2x0 Cruzeiro

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Um ano depois da final*

*Especial publicado no Olheiros, em conjunto com Dassler Marques.

Rio Branco e Figueirense, no dia 25 de janeiro no Nicolau Alayon, foi uma final surpreendente para a Copa São Paulo de 2008. Ao contrário do que se pode imaginar, entretanto, as duas equipes tiveram um desempenho destacado ao longo do certame, desmistificando a idéia de zebras comuns a torneios de mata-mata.

O ano todo se passou, porém, e praticamente nenhum menino vingou ao longo da temporada. É verdade que, para um torneio sub-18, seria realmente cedo para imaginar vôos longos e duradouros, mas poucos deram sinal de vida. As realidades envolvendo Figueirense e Rio Branco, contudo, foram distintas. O campeão catarinense ainda não lançou sua geração e atribui a isso uma das causas para a queda na Série A. O Tigre de Americana, por sua vez, protagonizou um verdadeiro desmanche de sua talentosa equipe.

Atento, o Olheiros mostra, nas linhas abaixo, os diferentes rumos que levaram os jogadores finalistas da Copinha de 2008. (Dassler Marques)

Figueirense: meninos no forno

O ano que começou feliz para a torcida do Figueirense acabou negro. Rebaixado para a Série B onde não atua desde 2001, o clube ainda viu o maior rival, Avaí, chegar à elite. Diferentemente de muitos que acabam sendo degolados, o Figueira não expôs sua garotada de ouro, e a maioria segue no Orlando Scarpelli e é considerada a salvação para a temporada de 2009.

Ao contrário do que se pode imaginar, o não aproveitamento de Talhetti e companhia no elenco profissional não foi algo programado. Pelo contrário. Dentro do Figueirense, é consenso a idéia de que faltou utilizar os meninos para tentar salvar a equipe na Série A, mas a passagem de vários treinadores ao longo do Campeonato Brasileiro (Gallo, Guilherme Macuglia, PC Gusmão, Mário Sérgio e Pintado) não ofereceu um terreno seguro para que fosse feita uma transição.

O Campeonato Brasileiro Sub-20 que ainda é disputado no Rio Grande do Sul foi um aquecimento para Marquinhos Júnior, Marcelo (foto acima), Talhetti, Gustavo, Luís Eduardo e Edson Galvão, alguns dos que devem integrar o elenco profissional na Série B de 2009. Ainda que tenham ficado na primeira fase – avançaram Ipatinga e Palmeiras -, os meninos do Figueira saíram invictos: uma vitória e três empates.

As grandes baixas em relação ao time campeão da Copa São Paulo de 2008, no momento, defendem as cores do Porto, em Portugal. O habilidoso lateral-esquerdo William Massari e o zagueiro Rafhael Oliveira estão emprestados aos Dragões até o fim da temporada européia, e atualmente jogam nas categorias de base. Massari vem tendo seu desempenho bastante comentado e é, da dupla, quem pinta melhor na Terrinha até aqui.

Em entrevistas recentes, o treinador Pintado, confirmado para 2009, ressaltou a idéia de aproveitar muitos meninos da geração campeã no seu elenco para a Série B. Além de todos os nomes que foram com Rogério Micalle para o Brasileiro Sub-20, o lateral-direito Luan, o atacante Franklin e mais um ou outro nome devem ser pinçados. O ano que vem será hora, definitivamente, da meninada alvinegra sair do forno. (Dassler Marques)

Rio Branco: desmanche total

A Copa São Paulo deste ano foi a última competição disputada pelo Rio Branco com o clube no comando do departamento de futebol, que agora é terceirizado e totalmente gerido por uma empresa de gerenciamento de atletas. Antes mesmo de a bola rolar, o destino de alguns dos principais jogadores de uma das maiores geração da história do Tigre já estava selado: cinco garotos haviam sido negociados com o empresário Delcir Sonda e, dependendo do desempenho da equipe na Copinha, seriam colocados neste ou naquele clube. Veio o vice-campeonato e, com isso, o desmanche da equipe.

O volante Lucas Vieira, que começou o torneio como titular e candidato a craque, foi negociado com a base santista, junto com os atacantes Índio, reserva e mais jovem do grupo, e Izac, titular na final. Enquanto os dois primeiros continuam na Baixada, mas não participaram da campanha do título do Paulista Sub-20, Izac foi dispensado pelo técnico Narciso. Já Denis, lateral-esquerdo e um dos principais nomes do time, foi para o Atlético Paranaense e fez parte do grupo campeão da 49ª Copa Tribuna de Futebol Júnior.

Felipe, grande destaque da Copinha e vice-artilheiro com sete gols, permaneceu no clube e disputou algumas partidas da Série A-2. Negociado com o Palmeiras, foi muito bem na 1ª Porto Seguro Cup mas não apareceu tanto no Paulista Sub-20, marcando apenas dois gols. Ficou de fora do grupo que disputa o Brasileiro Sub-20, ao contrário de Danilo, apelidado em Americana de “Peito de Aço”. O meio-campista, também negociado com o Palmeiras, marcou três vezes no estadual e foi titular no nacional da categoria, disputado no Rio Grande do Sul, marcando o gol da vitória sobre o Fluminense na primeira fase.

Negociados também foram o atacante Thauan, titular das primeiras partidas, que também está no Palmeiras, mas com menos oportunidades, e o goleiro Alisson, bastante criticado na cidade. Clube e empresário não chegaram a um acordo e o catarinense de 1,98m foi para o Grêmio, onde é reserva de Fernando Júnior e Matheus.

Dos titulares daquela campanha, permanecem no Décio Vitta o lateral-direito Bruno, o meia Tiago Silva e o atacante Hélerson. Os dois últimos sofreram com contusões e disputaram algumas partidas tanto da Série A-2 quanto da Copa Paulista. O primeiro foi capitão do Tigre no Paulista Sub-20, mas a equipe foi eliminada logo na primeira fase. Tiago Silva, inclusive, é nome certo para brigar por posição na Série A-2 que começa em janeiro. Jean e Iago, atacantes que também fizeram parte do grupo, também continuam treinando em Americana. (Maurício Vargas)

Ficha técnica: Rio Branco-SP 0 x 2 Figueirense

Local: Nicolau Alayon, em São Paulo (SP).
Data: 25/01/2008 (sexta-feira).
Arbitragem: Welton Orlando Wohnrath, auxiliado por Cláudio Roberto da Costa e Reinaldo Rodrigues dos Santos.
Cartões amarelos:Talhetti (Figueirense); Rafael Santos, Alisson (Rio Branco).
Gols: Marcelo, aos 36’/1° tempo, Marquinhos, aos 23’/2° tempo (Figueirense).

Rio Branco
Alisson; Bruno, Rafael Santos, Vander e Denis; Thiago Melo (Joãozinho), Felipe, Danilo e Thiago Silva (Índio); Isaac (Thauam) e Hélerson.
Técnico: Marcos Sartore.

Figueirense
Gustavo; Rafael, Luis Eduardo e William; Júlio, Ricardo, Edson Galvão, Talhetti (Franklin) e Massari; Marcelo (Roberto) e Marquinhos (Jeferson).
Técnico: Rogério Micalle

domingo, 14 de dezembro de 2008

Crise de identidade*


*Publicado originalmente no Olheiros

Qual a posição mais carente do futebol brasileiro atualmente? Pode-se dizer com certa razão que são os centroavantes, ou ainda os meias de mais toque de bola e menos firula ou correria. Mas a maior carência, hoje, é sentida até – e principalmente – na seleção brasileira. Deparei-me com ela quando preparava o especial dos nomes para o Sul-Americano Sub-20: a posição mais ausente de nomes, no Brasil é a lateral. Mas... De quem é a culpa?

Poderia ser uma entressafra ou uma crise técnica dos principais nomes, mas é difícil acreditar que Maicon, por exemplo, possa jogar muito mais do que tem feito. E nenhuma entressafra dura mais de dez anos. Afinal, Cafu e Roberto Carlos, mesmo sempre questionados, perduraram intocáveis no onze inicial brasileiro por três Copas do Mundo. A verdade é uma só: o Brasil não tem laterais decentes e a culpa é do trabalho de base mal feito.

Explico. Falei em minha coluna inicial aqui no Olheiros do mal que faziam os técnicos que prendiam garotos a esquemas táticos pré-definidos e limitavam as oportunidades de evolução em uma fase da vida onde a posição em campo pode não ser a definitiva – vide os tantos casos de jogadores que começaram como atacantes e terminaram como volantes, por exemplo. Da mesma forma, o caminho inverso acontece: o problema está na seleção dos meninos e na maneira como se treina.

Historicamente, o futebol brasileiro se caracterizou pela obediência quase ignorante a fórmulas que dão certo. É por isso que o 4-2-2-2 de décadas atrás continua sendo tão utilizado por aqui. Igualmente, o 3-5-2 que garantiu o quinto título mundial tem milhares de adeptos no mundo inteiro, mas quase todos seus seguidores vivem e trabalham no maior país da América do Sul. Basta ver que, dos cinco primeiros colocados do Brasileirão, apenas o Cruzeiro teve quatro zagueiros durante toda sua campanha.

A partir daí, a fórmula de sucesso do São Paulo vai sendo copiada e admirada. Mas a questão é que o futebol brasileiro é muito refém de suas engessadas formações táticas, e não evolui como o sistema de jogo mundial. Não cansa insistir: os laterais brasileiros são os únicos no mundo que não possuem uma identidade em campo. Não sabem qual sua função principal: atacar ou defender? E fazer ambos com 100% de eficiência é impossível.

Por isso, a idéia de laterais ofensivos é embutida na cabeça do olheiro e do treinador da base. Garotos com essas características é que são selecionados, e se destacam nas categorias inferiores por sua “velocidade, habilidade e chegada ao ataque”. É claro. São meias, pontas, atacantes. Não laterais. E aí, a imagem do “ala” surge com força. Basta ver a qualidade de todos os laterais premiados no final do campeonato brasileiro: todos “alas” de suas equipes que jogam com três zagueiros.

Mas jogam com três zagueiros por quê? Para cobrir a subida dos alas, que não marcam. Ou seja: o futebol brasileiro está preso a uma posição que não possui jogadores bons. Ou pior ainda: uma posição que não existe. Porque se os laterais que surgem da base tivessem características defensivas, ou ainda mais equilibradas, bons no apoio mas também na marcação, poder-se-ia criar linhas eficientes de quatro defensores que, com organização tática, poderiam surpreender. Mas a maioria não sabe sequer cruzar...

Basta ver o caso dos irmãos Da Silva: enquanto Fábio, lateral-esquerdo, se destacou na seleção sub-17 pela força ofensiva, agora é Rafael, que sempre foi menos atrevido, que recebe elogios da imprensa inglesa. É fato que Fábio passou por uma cirurgia e não teve as mesmas oportunidades, mas este é o caso típico: os laterais brasileiros que se destacam vão para a Europa e viram, grande parte das vezes, meias esternos, como foi com Mancini. Difícil entender a razão?

Uma alternativa seria escalar esses jogadores no meio-campo, exatamente como esternos. Mas não é da cultura do futebol tupiniquim jogar com duas linhas de quatro e, pelo jeito, nunca será. E o meio perderia meias de verdade, diriam os puristas. Enquanto isso, treinadores montam equipes de base no 3-5-2 para “aproveitar o poder ofensivo dos laterais”.

E assim são criados jogadores medianos, que possuem velocidade, um pouco de habilidade e nada mais. Surgem coringas, como tem sido mais e mais comum, de laterais que também são volantes ou até quebram um galho de zagueiros. Ao mesmo tempo, Fábio Aurélio tem feito partidas excepcionais pelo Liverpool atuando exatamente da maneira que se espera de um lateral. Mas ele é tímio no apoio, não deverá ser notado.

Enquanto isso, permanece a idéia de que Roberto Carlos e Cafu tiveram grandes reservas de luxo, como Felipe, Athirson, Cicinho, Gilberto, Juan Maldonado ou Leonardo Moura, quando foram eles, na verdade, duas exceções em uma regra cada vez mais sacramentada: o Brasil não consegue produzir bons laterais, e a culpa é exatamente de quem deveria solucionar o problema: as categorias de base.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Brasileirão - 100%


É um post enorme. Mas convido a todos a lerem até o final, e comentarem. Vamos à análise final do Campeonato Brasileiro, passando primeira por uma rápida olhada nas últimas três rodadas, para depois falarmos do campeonato todo.

Melhores: Figueirense, Cruzeiro, São Paulo
Piores: Atlético-MG, Ipatinga, Flamengo

O Figueirense foi o melhor da reta final, vencendo as três partidas, o que não foi suficiente para escapar do rebaixamento – o time caiu devido ao péssimo saldo de gols (-24), empatando em pontos e vitórias com o Náutico. O São Paulo tropeçou em casa diante do Fluminense e chegou à última rodada podendo perder o título, mas o Grêmio foi goleado para o Vitória e a diferença que era de dois pontos terminou em três. O Cruzeiro, com duas vitórias e um empate, saiu de uma ameaçada quarta colocação para o tranqüilo terceiro lugar, garantido a vaga na fase de grupo da Libertadores.

O Flamengo, por outro lado, somou apenas um ponto – perdeu fora para Cruzeiro, adversário direto, e Atlético-PR, e só empatou em casa com o Goiás após estar vencendo por 3 a 0. Com isso, pegou apenas a Sul-Americana, graças ao fator Caio Júnior. Impressionante como o técnico conseguiu vaga na Libertadores com o Paraná Clube, mas não repetiu o feito com Palmeiras e Flamengo. O Atlético-MG, apenas cumprindo tabela, também só somou um ponto, além do Ipatinga, que mesmo se tivesse vencido as três, teria caído.

Em um período de poucas mudanças, os quatro times da zona do rebaixamento na 25ª rodada acabaram caindo. Quem mais subiu foram Figueirense e Botafogo (duas posições cada), e que mais caiu foram Flamengo, Goiás, Atlético-MG e Santos (também duas). Com essa queda, o Flamengo foi o único time a alterar sua condição nas últimas três rodadas – cedeu o lugar no G-4 para o Palmeiras.

O Brasileirão 2008 em números

Melhor ataque
2007 - Cruzeiro (73 gols)
2008 - Flamengo (67)

Melhor defesa
2007 - São Paulo (19)
2008 - Grêmio (35)

Pior ataque
2007 - América-RN (24)
2008 - Ipatinga (37)

Pior defesa
2007 - América-RN (80)
2008 - Figueirense (73)

Artilheiros
2007 - Josiel (PAR): 20 gols
2008 - Kléber Pereira (SAN), Keirrison (COT) e Washington (FLU): 21 gols

O Campeonato Brasileiro de 2008 pode ser separado em três períodos distintos. O primeiro, até a 13ª rodada, quando o Flamengo despontou e liderou em dez delas; o segundo, da 14ª a 26ª rodada, quando o Grêmio assumiu a liderança, terminou o primeiro turno na frente com recordes de desempenho, chegando a abrir seis pontos para o segundo colocado; e o terceiro, da 27ª até a última rodada, quando a disputa ficou embolada entre cinco equipes e, finalmente, o São Paulo tomou a ponta graças a um segundo turno impecável.

Esta, obviamente, a análise da parte de cima da tabela. Se olharmos para baixo, percebemos a presença constante do Ipatinga na zona de rebaixamento, apesar de a equipe ter demonstrado muita garra durante todo o torneio, caindo apenas na penúltima rodada. Da mesma forma, a Portuguesa esteve acima da 10ª colocação apenas em duas oportunidades e jogou um futebol até convincente na reta final, mas as falhas defensivas falaram mais alto e o time também caiu na 37ª.

Gols

Um campeonato que prometia muito, com até seis ou sete times candidatos reais ao título, demorou para engrenar: a média de gols do primeiro turno chegou a bater em 2,2 por partida, e nunca esteve acima dos três. A disputa pela artilharia, ao menos, foi mais movimentada e teve mais protagonistas, chegando ao recorde de três chuteiras douradas ao final da competição. Mas o número de gols acabou devendo mais uma vez.

A quarta rodada foi a que teve menos gols, com apenas 16 – foram apenas dois 0 a 0, mas os dois jogos com mais gols tiveram três cada. Na 35ª, por outro lado, 41 gols foram marcados e apenas Sport e Internacional não balançaram as redes. Tivemos várias goleadas por 5 a 0, 4 a 0, mas a maior do campeonato foram os 7 a 1 do Grêmio sobre o Figueirense em pleno Orlando Scarpelli. A segunda maior, Vasco 6x1 Atlético-MG, na 16ª. Mas o jogo com mais gols foi outro: logo na primeira rodada, Portuguesa e Figueirense empataram em 5 a 5.

Sobe e desce

Além de Flamengo, Grêmio e São Paulo, o Palmeiras liderou por duas rodadas, e o Náutico foi o primeiro na segunda rodada. Quinze equipes estiveram na zona de rebaixamento em algum momento do campeonato, ainda que algumas tenham aparecido nas primeiras rodadas, o que é natural devido à prioridade para Libertadores e Copa do Brasil: apenas Cruzeiro, Flamengo, Botafogo, Grêmio e Internacional nunca visitaram o G menos 4.

Dando uma rápida olhada na tabela no fim do primeiro turno e a classificação final do campeonato, percebemos que quem mais subiu posições foram Fluminense e Goiás: ambos galgaram cinco degraus na classificação. O Figueirense, por sua vez, despencou seis postos para chegar à zona do rebaixamento. A Portuguesa caiu cinco, mas foi quem menos pontuou no segundo turno: apenas três vitórias e 16 pontos conquistados, enquanto o São Paulo sobrou e marcou 42, com uma derrota somente no início do returno.

Destaques individuais

Marcinho era o nome do campeonato até ser negociado e o Flamengo despencar. No primeiro turno, ninguém jogou tanto quanto Marquinhos, revelação do Vitória e do torneio. Na frente, Alex Mineiro, Kleber Pereira e Guilherme disputavam a artilharia gol a gol, enquanto Victor segurava o Grêmio na liderança. Na reta final, Keirrison e Washington alcançaram e até ultrapassaram alguns de seus adversários, e Borges marcou oito gols nas últimas seis rodadas para levar o São Paulo ao hexacampeonato.

No meio-campo, quem jogou demais foi a dupla de volantes gremistas, William Magrão e Rafael Carioca – especialmente o segundo, já negociado com o futebol russo. Ramires consolidou o status de grande jogador sendo um dos principais nomes do Cruzeiro. No Palmeiras, momentos esporádicos de brilho de marcos, Leandro, Diego Souza e Kleber, e um time instável que não conseguiu se segurar na ponta.

Os goianos mantiveram a tradição de grandes campanhas no segundo turno graças principalmente à sua dupla de alas: Vitor pela direita e Júlio César pela esquerda marcavam gols com a mesma freqüência com que serviam seus companheiros. O Atlético-MG teve em Leandro Almeida e Renan Oliveira mais uma prova de que precisa apostar mais na base. Dentre os rebaixados, destaque para Madson, que quase conseguiu salvar o Vasco sozinho, Adeílson, bom atacante do Ipatinga, e Athirson, que voltou ao Brasil mostrando um futebol razoável. A Portuguesa teve ainda em Edno um nome a ser lembrado.

Tática

Este é um assunto que pretendo há tempos abordar com mais profundidade: quando o 4231 se torna o esquema da moda na Europa e o 433 volta com força, o Brasil continua refém do 352. Sem meias de qualidade, os laterais velozes e nem sempre bons no cruzamento ou na finalização deixam a função de marcar de lado e formam a base da maioria dos times do campeonato. Dos cinco primeiros, apenas o Cruzeiro não jogou com três zagueiros – o Palmeiras adotou o esquema em algumas oportunidades.

A variação do popular 3421 para um 3142, com um volante de contenção e uma linha de meio-campo com volantes que saem para o jogo ou meias de menor qualidade deram o tom – foi assim com São Paulo, adaptação perfeita de Muricy, e Flamengo. O Grêmio teve, na figura de Tcheco, um esboço de camisa 10, mas quem brilhou foi a dupla Rafa Carioca e Magrão. Dos rebaixados, apenas a Portuguesa não tinha o esquema com três zagueiros como principal, ainda que na busca pelo resultado todos os técnicos tenham alternado bastante.

Seleção

Por fim, deixo a minha seleção do campeonato. Um campeonato que provou que nem sempre é preciso ter um elenco forte – afinal, o São Paulo foi campeão sem reservas de qualidade. Que provou que ser o campeão do turno não garante nada, contrariando a história recente – o Grêmio que o diga. E mostrando que planejamento nada mais é que tomar consciência de suas possibilidades, não cometer loucuras nas contratações e treinar exaustivamente. Ainda que treino continue sendo treino, e jogo continue sendo jogo.

Victor (Grêmio)

Vitor (Goiás)
André Dias (São Paulo)
Rever (Grêmio)
Juan (Flamengo)

Rafael Carioca (Grêmio)
Ramires (Cruzeiro)
Hernanes (São Paulo) - o craque do campeonato
Alex (Internacional)

Keirrison (Coritiba)
Washington (Fluminense)


Técnico: Muricy Ramalho (São Paulo)

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Seleção da 38ª rodada

Trazemos hoje a seleção da 38ª rodada. Ainda esta semana, a análise final do Brasileirão e a seleção de todo o campeonato.

Renan (BOT): Várias defesas cara a cara, fez milagres o jogo todo.

Felipe Mattioni (GRE): Iluminado, sofreu o pênalti logo após entrar em campo. Jogou bem.
André Dias (SAP): Outra partida de muita aplicação, garra e marcação perfeita.
Welton Felipe (ATM): Apesar da derrota, ganhou a maioria das divididas e deu trabalho aos atacantes gremistas.
Fernandinho (CRU): Se não foi grande coisa no jogo, ao menos converteu dois gols de pênalti.

Richarlyson (SAP): Surpreendeu pela disposição, marcando Paulo Baier muito bem em uma função à qual não estava mais tão acostumado.
Ramires (CRU): Buscou o jogo o tempo todo e chegou com velocidade ao ataque, levando perigo.
Lúcio Flávio (BOT): Duas bolas na trave, participação no gol e comando da equipe o tempo inteiro.
Tcheco (GRE): Ditou o ritmo gremista, deu belos passes e fez um gol importante.

Borges (SAP): Chato, brigador e a cara dos atacantes são-paulinos: bem no pivô, melhor ainda nas finalizações.
Wilson (SPO): Oportunista, mostrou faro de gol e bom posicionamento para marcar três vezes.

Técnico: Geninho (ATP): A missão nem era tão difícil, mas o Atlético entrou bem postado, com vontade e goleou o Flamengo, escapando do descenso e se classificando para a Sul-Americana.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Colunas da semana

Confira as colunas desta semana:

Na Trivela, o Grasshopper tem o melhor início de campanha em anos, mas a crise financeira mundial pode trapalhar a seqüência. (
Confira na coluna Futebol Alpino)

No Olheiros, a eleição de Maurício Assumpção é a promessa de que o Botafogo voltará a ser um clube revelador de talentos. (
Confira na coluna Ponto Futuro)

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Seleção da 37ª rodada

Marcos (PAL): Principal responsável pelo time não ter sido derrotado em Salvador.

Bustos (INT): Antes de se machucar, foi muito perigoso no ataque. Fez o cruzamento para o gol de Gustavo Nery.
Thiago Silva (FLU): Absoluto na zaga, só bobeou no lance do gol.
André Dias (SAP): Mais uma aula de cobertura, posicionamento e marcação.
Tiago Feltri (FIG): Muito veloz pela esquerda, aproveitou os buracos e marcou o gol de empate.

Rafael Carioca (GRE): Soberbo na marcação e na saída de bola, é o pulmão e o cérebro do time gremista.
Arouca (FLU): Correu sem parar e criou as principais oportunidades do Fluminense no primeiro tempo.
Marquinho (FIG): Cruzamento para o primeiro gol, infernizou a defesa do Botafogo.
Paulo Baier (GOI): Jogou muito no segundo tempo. Comandou o time e guardou o seu de pênalti.

Leandro Amaral (VAS): Acordou do sono em que estava nas últimas partidas, brigou e fez dois importantes gols.
Marcel (GRE): Principal responsável pela virada gremista com seu oportunismo e faro de gol.

Técnico: René Simões (FLU): Sua chegada modificou profundamente o estilo de jogo do Flu. Jogou bola para ganhar do São Paulo.