sexta-feira, 29 de maio de 2009

O jogo dos sete erros


Ninguém pode negar a Luxemburgo o status alcançado após tantas conquistas. Mas não há como discordar quando se diz que o técnico do Palmeiras já pareceu muito mais técnico do que agora. Luxemburgo tem sido tão manager quanto pode, e vem tomando decisões erradas há algum tempo. Ontem, errou de novo e prejudicou o time num jogo que poderia ser muito mais fácil.

Os sete erros de Luxemburgo no empate com o Nacional:

1. Esquema tático:
O Palmeiras não tem jogadores para o 3-5-2 que o treinador insiste em utilizar. Wendell, Armero, Fabinho Capixaba – nenhum deles é ala que aprofunda o jogo com a velocidade necessária para se utilizar esta formação. O time renderia muito mais com laterais mais plantados, subindo esporadicamente, Pierre à frente da zaga e Cleiton Xavier e Marquinhos dos lados, com Diego Souza aproximando e Keirrison com um companheiro. Ou ainda, com a volta de Edmilson, Diego Souza no meio, Cleiton Xavier e Marquinhos (ou Willians) abertos pelos lados.

2. Escalações equivocadas: Capixaba precisa de confiança para render o pouco que pode. Souza foi colocado na fogueira em Santiago, mas a pressão da torcida alviverde é pior que duas Bomboneras para um garoto que ainda não está no ritmo do restante da equipe.

3. Mudanças precoces: Não era o caso de pode trocar dois jogadores com menos de trinta minutos em um primeiro jogo de quartas-de-final. Luxemburgo se arriscou sem necessidade, podendo sofrer com expulsão ou contusão em partidas normalmente viris como são as contra uruguaios. Existe uma diferença entre arrojo e invencionice.

4. Obina: Por mais que a torcida gritasse seu nome, não era o caso de lançar o atacante tão cedo, e nessas circunstâncias. Obina não produz e força os chutões dos companheiros, procurando nele uma referência que nem Keirrison, nem mesmo o ex-flamenguista, são. Pareceu ter sido muito mais uma alteração psicológica, para mexer com a torcida. Uma aposta do tipo besta ou bestial.

5. Marquinhos: Por que não lançá-lo desde o início? O time o procurava a todo momento e, como já havia demonstrado, é a melhor opção para a ala direita ofensiva que Luxemburgo tanto precisa.

6. Padrão de jogo: O Palmeiras não possui jogadas ensaiadas, forma de jogo definida ou pontos fortes claros. O forte do São Paulo é a bola aérea. Do Inter, a troca de passes entre seu trio ofensivo. O Corinthians tem a velocidade de Dentinho e Jorge Henrique, a cobertura de Elias e Cristian e uma dupla de zaga eficiente. O Palmeiras continua sem ter nada: os gols saem em jogadas fortuitas, sem preparação, e as chances são atribuídas ao acaso ou a falhas do adversário.

7. Keirrison: Por que sacar seu principal atacante quando o adversário está retrancado e você vence por apenas um a zero? Por que colocar um volante e diminuir a já escassa criatividade da equipe?

Luxemburgo tem cada vez mais perguntas a equacionar, e suas respostas não têm sido boas. Mexe mal, escala errado e o time não evolui. Contratou mal, insiste em jogadores errados e não se incomoda em trabalhar a cabeça dos que precisam, como Keirrison.

O discurso do Nacional, de que o Verde era o pior dos brasileiros na Libertadores, acabou por se justificar.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Só faltam seis


A convocação para a Copa das Confederações é a mais importante que teremos até a definitiva, para a Copa, em aproximadamente um ano. Como a garantia da vaga é questão de tempo, os jogos finais das Eliminatórias e demais amistosos servirão apenas para preparação e para que Dunga tire suas últimas dúvidas, nas posições que restam.

O torneio na África do Sul pode servir para confirmar algumas coisas - como se o Brasil precisa mesmo de Ronaldinho ou não, e quem é de fato o lateral-esquerdo. Apenas uma campanha catastrófica tiraria alguns nomes já praticamente certos da lista de 23, da mesma forma que somente uma jornada de sonho garantiria nomes ainda incertos como garantidos.

É fato que ainda temos uma temporada inteira pela frente, mas é difícil discordar que Dunga já tenha hoje 17 dos 23 nomes fechados para a Copa. Basta ver o número de convocações de cada jogador e os chamados recentes para se traçar o panorama.

Com Júlio César e Doni garantidos, falta-nos um terceiro goleiro que seria naturalmente Diego Alves, mas Gomes apareceu de surpresa e pode furar a fila. A lateral-direita é a mais tranquila, com Maicon e Daniel Alves até com passaportes e número dos assentos reservados. Na zaga, qualquer coisa que não seja Lúcio, Juan, Alex e Luisão será surpresa.

O maior enigma está na lateral-esquerda. Pelo número de convocações, Kléber (12), Gilberto (11) e Marcelo (10) brigam por duas vagas. Mas como Gilberto não é chamado desde que foi relegado ao Tottenham, a impressão que se tem é que Kleber e Marcelo irão para a Copa - mas a verdade é que ninguém confia muito no jogador do Internacional. Se considerarmos que Kleber, mais vezes convocado, é o atual titular e nome provável, a lista cai para cinco vagas.

No meio, Gilberto Silva e Josué são escolhas naturais e titulares indiscutíveis. Felipe Melo tem apenas convocações recentes, mas está em alta com Dunga e parece ter sua cadeira reservada. Sobra uma posição para os volantes, que poderia ser de Lucas, Hernanes ou Ramires (vantagem para o são-paulino no histórico recente, mas para o ex-cruzeirense pela ida ao Benfica). Pode ser ainda que Anderson seja chamado e colocado nesta posição, abrindo uma vaga a mais para os meias.

Isto porque Kaká, Elano e Júlio Baptista estão confirmados. Diego tem 15 convocações e, agora na Juventus, poderia ser nome certo não fosse a resistência enorme que Dunga sempre teve com ele - ainda não foi chamado em 2009. Ronaldinho Gaúcho, quem diria, não tem presença garantida, embora seja difícil imaginar que, independente de sua forma física, ele fique de fora. Com isso, outros nomes ficam pouco cotados.

E finalmente, no ataque, Luís Fabiano, Pato e Robinho parecem estar confirmados. Abre-se aí a vaga mais concorrida: recentemente Adriano, agora Nilmar, e ainda Vágner Love, Rafel Sobis, Fred...sem esquecer de Ronaldo. Uma coisa é certa: gente boa vai ficar de fora.

Confira os jogadores garantidos, as posições que estão vagas e os números de convocações

Goleiros:
Júlio César e Doni (falta 1)
Laterais-direitos: Maicon e Daniel Alves
Laterais-esquerdos: Kléber e Marcelo os mais cotados (ainda faltam 2)
Zagueiros: Lúcio, Juan, Alex e Luisão
Volantes: Gilberto Silva, Josué e Felipe Melo (ainda não 100%) (1 ou 2)
Meias: Kaká, Elano e Júlio Baptista (1)
Atacantes: Luís Fabiano, Pato e Robinho (1)

Os mais convocados

Goleiros: Júlio César (17), Doni (12) e Hélton (5)
Laterais-direitos: Maicon (19), Daniel Alves (18) e Rafinha (3)
Laterais-esquerdos: Kleber (12), Gilberto (11) e Marcelo (10)
Zagueiros: Juan (16), Lúcio (15), Luisão (12), Alex (10) e Naldo (7)
Volantes: Gilberto Silva (19), Josué (16), Mineiro (9), Lucas, Dudu Cearense e Fernando (6)
Meias: Elano (20), Diego e Júlio Baptista (15), Kaká (14), Ronaldinho (13) e Anderson (9)
Atacantes: Robinho (22), Vagner Love (10), Pato e Luís Fabiano (9) e Rafael Sóbis (8)
*Agradecimentos ao amigo Dassler Marques.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Copa...do Brasil??


Luiz Adriano, Jadson e Naldo marcaram os gols da decisão da última Copa da Uefa da história. É a primeira vez que jogadores de um mesmo país que não os representados pelos finalistas (no caso, Alemanha e Ucrânia) monopolizam a tábua de escore.

O Shakhtar Donetsk foi campeão com méritos. Jogou melhor que o Bremen, soube aproveitar as falhas defensivas do adversário e as ausências importantes de Mertesacker e Diego.

Mas vale o mérito do misterioso e excêntrico Rinat Akhmetov, bilionário fã do futebol brasileiro que pagou caro até demais por jogadores apenas promissores como Fernandinho e Brandão - que saiu no início do ano. Investimento que se paga - ainda que não inteiramente - agora.

Têm sido normal as legiões brasileiras nos últimos campeões europeus, conforme a tabela abaixo, apenas dos últimos três anos, mostra. A diferença do Shakhtar para o Milan ou o Barcelona, que também tinham cinco dos nossos no elenco, é que no time ucraniano todos são titulares e jogaram a decisão.

Vendo por este ponto de vista, os gols de Jadson e Luiz Adriano não são mais tão dignos de comemoração.

Confira os brasileiros presentes nos últimos campeões europeus:

2008/09
Shakhtar Donetsk - 5 (Fernandinho, Jadson, Ilsinho, Luiz Adriano e Willian)

2007/08
Manchester United - UCL - 1 (Anderson)
Zenit St. Petersburg - Uefa - 0

2006/07
Milan - UCL - 5 (Dida, Cafu, Serginho, Kaká e Ricardo Oliveira)
Sevilla - Uefa - 4 (Daniel Alves, Adriano, Renato e Luís Fabiano)

2005/06
Barcelona - UCL - 5 (Belletti, Sylvinho, Thiago Motta, Edmilson e Ronaldinho Gaúcho) 
Sevilla - Uefa - 4 (Daniel Alves, Adriano, Renato e Luís Fabiano)

Escola de Goleiros


Um post um pouco diferente hoje, para ajudar os amigos.

Pioneira no país, a Escolinha de Goleiros de Americana promove amanhã (21/5), às 19 horas, no Clube Veteranos, um bingo beneficente para arrecadação de fundos do projeto, que completa três anos de atividades, atendendo alunos de 7 a 18 anos com aulas gratuitas. Além de camisas autografadas por ídolos do futebol brasileiro, o bingo terá prêmios em dinheiro.


O coordenador do projeto, Vander Batistella, revelou que serão sorteadas camisas oficiais dos goleiros Marcos (Palmeiras), Ronaldo e Felipe (Corinthians), Magrão (Sport) e Rogério Ceni (São Paulo). Além disso, haverá prêmios em dinheiro (R$ 1 mil, R$ 500, R$300 e R$200).


Em três anos de atividades, o projeto já atendeu aproximadamente 600 alunos. Atualmente cerca de 120 alunos, três vezes por semana, treinam e desenvolvem habilidade na posição.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

EquilíBRio


Equilíbrio já deixou de ser adjetivo para se tornar chavão quando se fala de Campeonato Brasileiro. Mesmo que apenas duas rodadas tenham sido disputadas - e com metade dos times priorizando Copa do Brasil ou Libertadores -, salta aos olhos a igualdade marcante em todos os jogos realizados até agora.

O número de empates impressiona. Foram cinco na primeira rodada e cinco na segunda, metade dos jogos até agora. Uma porcentagem elevada, sem comparação nos últimos anos: em 2008 foram 5; 2007, apenas 1; 2006, 4; Antes disso, os campeonatos tinham mais equipes e o cruzamento de dados fica desigual.

Com tantos empates, outra marca é curiosa: apenas oito times já venceram no campeonato. São estranho, mas o fato é que menos da metade das equipes saiu de campo vitoriosa. Em 2008, também apenas duas equipes mantiveram 100% na segunda rodada (Náutico e Cruzeiro), e igualmente uma (Ipatinga) ainda não havia somado ponto. Mas doze times diferentes já tinham conquistado três pontos em uma partida.

O equilíbrio chama a atenção porque os placares também não foram dilatados. Quem venceu com mais folga, teve margem de dois: o Santo André foi o mais distonante e fez 4 a 2 no Coxa, exatamente o lanterna. Se a divisão de atenções com a Copa do Brasil serve de desculpa, o argumento cai por terra ao ver que Inter e Vitória, também quadrifinalistas, estão na ponta.

A média de gols foi baixa, como tem sido nos últimos anos. Dos atacantes e craques tão comentados, nenhum está na lista dos cinco artilheiros até aqui, com dois marcados. Pelo menos até a oitava rodada, quando teremos a final da Libertadores - provavelmente com um brasileiro -, não dá para afirmar que 100% das equipes estarão 100% focadas no campeonato.

Esperar tanto para engrenar pode ser tarde demais para alguns. Mas até lá, talvez, o equilíbrio já nem esteja mais tão presente. Ao menos por enquanto, a promessa é de um campeonato disputado dividida a dividida, onde até a vitória no cara ou coroa pelo "bola ou campo" é comemorada.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Menos surpresas


Dos oito cabeças-de-chave principais da Copa do Brasil, apenas dois falharam em chegar às quartas-de-final - fase em que tradicionalmente a competição se afunila e surgem os confrontos mais importantes. Santos e Botafogo caíram ainda na segunda fase, eliminados por CSA e Americano, que já estão fora da disputa, derrotados por Coritiba e Ponte Preta. Seria, na teoria, uma das quartas, que hoje vai colocar coxas brancas ou pontepretanos na melhor colocação destes clubes na história do torneio.

A exceção virou regra nos últimos anos e, desde que os classificados para a Libertadores deixaram de disputar a Copa do Brasil, o número de times grandes na competição diminuiu e vimos um número maior de zebras. Como em 2009 foram times de médio-grande porte que chegaram às quartas, pode-se dizer que esta é a Copa do Brasil com menos surpresas desde 2003.

Com grandes jogos, fica difícil prever uma final ou um campeão. Inter e Corinthians pintam como favoritos, e com as perspectivas de boa campanhas de ambos no Brasileirão, há quem sonhe por uma final entre os dois para abrir mais espaço no BR para vagas na Libertadores.

As surpresas da Copa do Brasil desde 2003, até onde elas foram e quem ficou pelo caminho:

Ano – Clube – Até onde foi (eliminado por quem) – Quem ficou pelo caminho
2009 – CSA – oitavas-de-final (Coritiba) – Santos
2009 – Americano – oitavas-de-final (Ponte Preta) - Botafogo
2008 – Corinthians-AL – quartas-de-final (Vasco) – Atlético-PR
2007 – Brasiliense – semifinal (Fluminense) – Cruzeiro
2007 – Gama – oitavas-de-final (Figueirense) – Vasco
2006 – Volta Redonda – quartas-de-final (Vasco) – Atlético-PR
2006 – XV Campo Bom-RS – oitavas-de-final (Volta Redonda) – Grêmio
2005 – Paulista – campeão – Botafogo, Internacional, Cruzeiro, Fluminense
2005 – Baraúnas – quartas-de-final (Cruzeiro) – Vasco, Vitória
2005 – Treze-PB – quartas de-final (Fluminense) – Coritiba, São Caetano
2004 – Santo André – campeão – Atlético-MG, Palmeiras, Flamengo
2004 – XV Campo Bom-RS – semifinal (Santo André) – Vasco

E você, quem acha que será o campeão?

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Ranking Olheiros do futebol de base brasileiro

Olheiros.net lança o primeiro ranking do futebol de base brasileiro. Confira!

Contestações, questionamentos quanto à formula de cálculo, insatisfação pelo fato do clube X estar abaixo do Y. Mais até do que estabelecer uma verdade dos fatos sobre quem é melhor que quem, os rankings de clubes e seleções servem para alimentar a discussão no bar, na roda de amigos e até nas mesas redondas.

Entretanto, quando se fala de futebol de base, nunca houve levantamento semelhante. Afinal, quem tem a melhor categoria de base do país?

Para responder a essa pergunta, os Olheiros Pedro Venancio e Maurício Vargas coletaram dados das principais competições de base nacionais e internacionais nos últimos três anos para lançar a primeira edição do Ranking Olheiros do futebol de base brasileiro.

Uma iniciativa inédita, pioneira como o próprio Olheiros, primeiro site a falar exclusivamente da base no Brasil.

Mas afinal, o que importa na base? Conquistar títulos ou revelar jogadores? A fórmula de cálculo adotada pretende encontrar este meio termo, tanto que os primeiros colocados, como se pode ver, têm revelado diversos nomes de qualidade para o futebol nacional ao passo que colecionam troféus.

Após a definição dos critérios de pontuação e a coleta de dados, o resultado é o material que se vê na nova seção do site. O Ranking será permanentemente atualizado, a cada competição concluída.

Por isso, fique de olho nas informações sobre os campeonatos, que você só encontra no Olheiros. Você torce para o seu time ser campeão, revelar novos craques e chegar – ou permanecer – no topo. E aguarde. Vem aí também o Ranking Olheiros de seleções. Algum palpite para o primeiro lugar?

Confira a primeira edição do Ranking Olheiros em:
http://www.olheiros.net/artigo.aspx?id=1207

terça-feira, 12 de maio de 2009

Baila comigo*


*Coluna desta terça-feira na Trivela.

Foi em meados de 1989 que Velloso estreou no gol do Palmeiras, substituindo o titular Zetti, lesionado. Desde então, uma amizade muito forte uniu os dois goleiros, que se enfrentaram diversas vezes. Entre 1994 e 1995, Velloso, então titular alviverde, foi procurado por Valdir de Moraes, treinador de goleiros do São Paulo, e convidado a trocar de CT na Barra Funda. Estava tudo certo para que a transferência ocorresse, até que numa conversa casual Zetti revelasse que não estava sendo valorizado pela diretoria Tricolor, que dificultava a renovação para contratar o palmeirense. Quando soube disso, Velloso encerrou as negociações e cada um ficou no seu clube.

Na semana passada, Velloso aguardava uma reunião com o presidente do Paraná Clube, Aurival Corrêa, para discutir a renovação do elenco para a disputa da Série B. Em vez disso, foi surpreendido com o anúncio de que ele não seria mais o treinador, já que um grupo de empresários iria investir no clube, levando alguns jogadores, mas exigia a contratação de um técnico de confiança. O nome escolhido foi exatamente o de Zetti.

“Foi a primeira vez que fui demitido na minha vida. Já entendi que para trabalhar como treinador eu vou ter de mudar. E principalmente estar preparado para coisas que eu nem sonhava. E também não vou acreditar na palavra das pessoas”, disse um magoado Velloso ao Bandsports. A forma como a troca de comando foi tratada não mostrou apenas como, pela segunda vez, os dirigentes “azedaram” a amizade dos dois ex-goleiros. Velloso parece ter descoberto, da pior maneira, a forma como atuam os donos da bola no país do futebol.

A palavra “planejamento” é uma das mais utilizadas no vocabulário futebolístico brasileiro, mas é usada na prática, como define seu conceito, em apenas, vá lá, 1% dos clubes. A sensação que se tem é que o emprego da palavra acontece em razão inversamente proporcional à efetiva realização do dito cujo planejamento. Mais um caso clássico do “faça o que eu digo, não faça o que eu faço” que impera em gramados tupiniquins.

Tamanha é a instabilidade com que lida o técnico de futebol no Brasil – lição número dois a ser aprendida por Velloso e quaisquer outros aspirantes a “homem do boné” –, que apenas uma hora depois da segunda parte de nosso Guia da Série B ter entrado no ar, ele já estava defasado. Conforme indicamos, a possibilidade de que Velloso saísse já era latente, mas como a bola da vez era Vagner Benazzi, fora dos padrões financeiros do clube no momento, a impressão era de que o time se viraria nas primeiras rodadas com o que sobrou do Estadual.

Velloso não possui ainda, de fato, tanta experiência como técnico a ponto de brigar por um acesso à primeira divisão – ainda mais com o elenco que possui o Tricolor. Entretanto, considerá-lo o único culpado pela queda de produção no octogonal do Paranaense e pela eliminação na Copa do Brasil é não querer enxergar a realidade. Sem alguns titulares contundidos, a equipe sentiu a falta de peças de reposição à altura e foi logo eliminada da disputa pelo título estadual.

Sem tempo para qualquer trabalho mais aprofundado, Zetti montou um onze com o que tinha em mãos e foi sufocado pelo Bahia, sofrendo dois gols nos vinte primeiros minutos de jogo. Depois do estrago, Marcelo e Aderaldo foram expulsos e o time só se defendeu até o final. Para quem venceu a primeira apenas na sétima rodada no ano passado e escapou do rebaixamento nas últimas partidas, o enredo atual pode ser ainda mais sinistro. Bem diferente do time que Zetti encontrou em sua passagem anterior, quando foi vice estadual e disputou a Libertadores. Os vôos da Gralha Azul poderão ser bem mais curtos neste ano.

Eu voltei

No Atlético Goianiense, a mudança deve ser vista sob outro prisma. “Tenho certeza que você voltará ao Atlético”, disse o presidente Valdivino José de Oliveira quando Mauro Fernandes foi contratado pelo Vitória para substituir Vagner Mancini. Ele só não sabia que seria tão cedo – apenas três meses depois.

Fernandes chegou a Salvador com a responsabilidade de manter a equipe na mesma toada que vinha desde o ano passado, quando fez boa campanha no Brasileirão. Entretanto, a classificação suada na Copa do Brasil, eliminando o ASA de Arapiraca somente nos pênaltis, somada a um empate com o Bahia e uma derrota para o Fluminense de Feira de Santana – todos na mesma semana – resultou numa pressão exagerada sobre o técnico, cujo time liderava o Baianão.

Sendo assim, o treiandor ficou disponível no mercado e Valdivino sentiu desde então uma enorme coceira para trazê-lo de volta. Com PC Gusmão, chegou às finais do Goianão e venceu o primeiro jogo, mas a derrota na segunda partida e a consequente perda do título eram a oportunidade que o dirigente precisava para trazer o técnico campeão da Série C de volta. A desculpa foi, além da derrota na decisão, o salário de PC e de sua comissão técnica, considerado alto para os padrões do clube.

Conhecedor do elenco que montou, o técnico devolveu a confiança a equipe e aproveitou um remendado América para vencer em Natal e começar a Série B com vitória. Com um retrospecto invejável em Goiânia – no ano passado, foram 21 vitórias e dois empates –, a torcida já começa a sonhar alto.

sábado, 9 de maio de 2009

O Brasileirão dos meninos*


* Publicado originalmente no Olheiros.

Com o início neste final de semana de mais uma temporada dos campeonatos nacionais das séries A e B, não começa apenas a briga pelo título máximo do futebol brasileiro. Em um ano que promete ser excepcional, afinal nunca na história recente houve tantos craques desfilando pelos gramados tupiniquins, a expectativa recai também sobre quais serão as revelações que os 40 principais times do Brasil preparam para os próximos meses.

Histórico não só por sua tradição de fatos e acontecimentos como também pelos nomes que apresentou ao longo do tempo, o Brasileirão se orgulha de ter sido o palco de exibições de gala protagonizadas por garotos, como os cinco gols fenomenais de Ronaldo sobre o Bahia em 1993, a estreia aquática do ensaboado Pato em um chuvoso Palestra Itália em 2006 ou até mesmo a guerra vencida sob o comando do cadete com espírito de comandante Anderson, na Batalha dos Aflitos em 2005.

Entretanto, com a chegada recente e inesperada de jogadores de ponta como o próprio Ronaldo, Fred, Adriano e D’Alessandro, entre outros, existe a sensação de que talvez sobre menos espaço para os garotos aparecerem. Afinal, nas últimas temporadas, o discurso mais utilizado foi exatamente de que, com as dificuldades financeiras e a incapacidade de manter seus destaques, os clubes eram obrigados a apostar principalmente em sua base, como brilhantemente fez o Atlético-MG no retorno à elite.

Se o espaço diminui, a garotada trata de buscá-lo. Após uma janela de transferências fraca em virtude da crise, a expectativa é que os clubes europeus se movimentem mais no mercado de verão. Nomes como Hernanes e Ramires, que apareceram bem já em 2007, podem ter suas saídas finalmente confirmadas, deixando a vaga para quem vem de baixo. No próprio Cruzeiro, que tem a política clara de negociar destaques para se manter, pode ocorrer novamente o adeus de Wagner, abrindo caminho para Bernardo se firmar de vez como titular.

Quem tem despedida marcada para o meio do ano é Thiago Neves, que pode ser acompanhado por Fred, que mal chegou. Maicon, que tem entrado bem e feito gols importantes, aguarda ansiosamente uma chance, assim como Alan. Wellington, meia da seleção sub-17, dificilmente será aproveitado nos profissionais nesta temporada. Ainda no Rio, o Flamengo terá a confirmação do xará Wellinton, zagueiro do Brasil sub-20, em substituição ao recém-aposentado Fábio Luciano, e o Botafogo aposta em nomes que aparecem bem, como o lateral-esquerdo Gabriel – além do já experiente goleiro Renan.

Sede de dois dos melhores times de 2009 – o Grêmio na Libertadores e o Inter no geral –, o Rio Grande do Sul mostra mais uma vez a capacidade formadora de sua dupla de gigantes. Taison é o grande nome de um trio ofensivo que tem Nilmar e D’Alessandro, e Adilson Warken e Saimon devem garantir que a fama de copero y peleador do Tricolor continue viva.

Há ainda muitos outros nomes que podem pintar ou se consolidar – casos de Rafael Tolói, Ciro, Victor Ramos, Souza, Wallyson, Renan Oliveira e Medina, entre outros, mas talvez aquele que mais desperte curiosidade seja o de Neymar, que deve estrear em Brasileiros neste domingo contra o Grêmio. Sua qualidade indiscutível terá a primeira prova verdadeira quando a bola rolar no Olímpico.

B de base

A Série B também promete apresentar muitas revelações. Com orçamentos modestos e maiores dificuldades, aliás, é até mais comum que times da Segundona que possuam categorias de base minimamente estruturadas as utilizem para rechear seus elencos.

Grande favorito da temporada, o Vasco montou uma equipe com média de idade bastante baixa, ao contrário do que normalmente se faz na Série B. Além disso, conta com a expectativa de que Alex Teixeira e Alan Kardec finalmente engatem uma sequência razoável de bons jogos. Fica também a pergunta no ar: será que Philippe Coutinho será integrado aos profissionais? Como a caminhada cruzmaltina não parece que será das mais difíceis, talvez fosse o caso de esperar. Mas como há menos holofotes, menos pressão e, principalmente, como em breve o garoto parte rumo à Itália, talvez sua estreia aconteça antes do que se imagina.

Um dos times a apostar mais na base para esta campanha é o Fortaleza, que teve o melhor desempenho do Nordeste nas duas últimas Copas São Paulo e tem em Bismarck uma responsabilidade grande pelo sucesso do time. Coadjuvantes, Bambam, Marllon e outros podem também se tornar protagonistas de um acesso que poderia ser comparado ao do Galo. A Ponte, que chega credenciada a uma das vagas, tem em Tinga, destaque na Copinha, um de seus principais nomes.

O mesmo acontece com o Figueirense de Talhetti, o Guarani de Romário e o Juventude de Zezinho, da seleção sub-17. Todos com vontade de crescer e aparecer. Com tantos candidatos a craque, espaço é o que não vai faltar para novas revelações no Brasileirão que se inicia.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Por que Ronaldo não pode ser convocado


Quem é o melhor atacante em atividade no futebol brasileiro hoje? Diego Tardelli tem os maiores números absolutos: foram 20 gols, 16 no Campeonato Mineiro e 4 na Copa do Brasil. Taison, Keirrison e Gilmar, do Náutico, têm 19 cada, divididos entre Estaduais, Copa do Brasil e Libertadores.

Ronaldo chegou ao seu décimo gol na vitória corintiana sobre o Atlético-PR, ultrapassando Chicão na artilharia do time na temporada. Na sequencia de cinco partidas que realizou recentemente (a maior desde que voltou), foram cinco gols, média de um por jogo.

Longe, aqui, de querer comparar o Fenômeno com os atacantes acima citados.

Mas o burburinho sobre sua convocação para as Eliminatórias e/ou Copa das Confederações cresce e monopolizou a coletiva de Dunga e Ricardo Teixeira no anúncio de um novo patrocinador para a CBF.

Ainda é cedo.

Não porque Ronaldo tenha feito menos gols que Tardelli ou Taison, ou ainda porque Luís Fabiano tenha caído absurdamente de produção no Sevilla, mesmo marcando gols na seleção (grande parte porque ele é, na verdade, o único centro-avante do time).

Ronaldo não deve ser convocado porque seria um retrocesso enorme em sua recuperação e preparação física a estadia, por menor que seja, com a seleção brasileira.

É fato que ele ainda está acima do peso, e dificilmente voltará às medidas anteriores. Mas para o nível das defesas que enfrenta por aqui, sua forma é mais que suficiente para que ele apareça somente na hora de definir - e isso ele faz como nenhum outro.

Mas no nível de seleção, Ronaldo parecerá deslocado. E mais: ficará uma semana na Granja Comary jogando rachões, participando de movimentações sem função tática ou técnica nenhuma. E se for para a Copa das Confederações, perderá todo o cronograma de treinamentos físicos preparado pela comissão técnica corintiana.

Não é jogando que se adquire forma física. É treinando, ficando de fora de um ou outro jogo, conforme o planejado, e trabalhando com quem o tem recuperado tão bem até agora.

Se ficar no Corinthians, Ronaldo poderá voltar para a seleção na hora certa, da maneira certa, e rendendo o que sempre pôde.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Quem para o Manchester?

Cada era teve seu time na história da Copa Européia: o Real Madrid da década de 50, Benfica e Inter em 60, Ajax do início dos 70 - depois Bayern e Liverpool e o Milan do final dos anos 80.

Desde a introdução da Uefa Champions League em 1992/93, entretanto, nunca houve uma hegemonia. Houve sim o Real Madrid três vezes campeão em cinco anos, e a Juventus que venceu a final de 96 e perdeu as duas seguintes, mas desde o Milan de Gullit, Van Basten e Rijkaard, não temos um bicampeão.

De fato, um mesmo time não chegava a duas decisões seguidas desde que o Valencia foi bi-vice em 2000 e 2001. E o último campeão a chegar novamente à decisão foi, como dito, a Juve.

O feito do Manchester ganha importância quando fica claro o domínio inglês, que desde 2004/05 coloca todos os anos um time na decisão. Caso o Chelsea se classifique hoje, será a primeira final repetida em anos seguidos da história e a segunda somente entre ingleses, enquanto espanhóis e italianos monopolizaram a disputa uma vez cada. Significará, também, que a Inglaterra será a maior vencedora do torneio, já que hoje possui as mesmas onze conquistas que os clubes da Espanha e da Itália.

Minha aposta para esta tarde, entretanto, é no Barcelona. E em uma decisão com dois times tão espetaculares, qualquer palpite é suicídio.

Mas vale o registro.

Confira até onde foram os campeões da UCL na temporada seguinte ao título e compare com o desempenho do Manchester:

1996/97 - Juventus - Vice
1997/98 - Borussia Dortmund - Semifinal
1998/99 - Real Madrid - Quartas
1999/00 - Manchester United - Quartas
2000/01 - Real Madrid - Semifinal
2001/02 - Bayern Munique - Quartas
2002/03 - Real Madrid - Semifinal
2003/04 - Milan - Quartas
2004/05 - Porto - Oitavas
2005/06 - Liverpool - Oitavas
2006/07 - Barcelona - Oitavas
2007/08 - Milan - Oitavas
2008/09 - Manchester United - Finalista

segunda-feira, 4 de maio de 2009

O início, o meio, o fim


Vivemos a semana mais interessante do futebol nacional. A semana que parece perdida por começar com o ápice dos estaduais e terminar com uma desinteressante primeira rodada do Brasileiro. Chuto agora uma bola lindamente levantada pelo amigo André Rocha em seu blog semanas atrás: na bagunçada organização dos clubes brasileiros, o que é menos importante torna-se mais importante do que o que é mais importante. Soa confuso? Tente entender as justificativas dos dirigentes.

No dia primeiro de janeiro, pergunte a torcedores dos vinte clubes da Série A o que eles preferem: o título estadual ou a vaga na Libertadores? A maioria dará preferência ao torneio continental. Mesma coisa com os da Segundona: quase todos sonham com o acesso e desdenham do regional.

Mas eis que vêm os tropeços ante os pequenos, os duelos contra desconhecidos na Copa do Brasil e os torneios antes prioritários são menosprezados, já que o que vale é o bom momento no Estadual, onde a chance do título é latente. Ao priorizar o antes de menor prioridade, os clubes se confundem, tropeçam e dão adeus aos dois ao mesmo tempo. São os casos, por exemplo, de Santos e Botafogo.

E os que vencem seguem firme para o restante do ano, certo? Bem, nem sempre. Pergunte aos flamenguistas quantos deles abririam mão do Carioca de 2008 em nome da classificação na Libertadores.

E é bom lembrar que a última vez que o campeão estadual foi também nacional foi com o supercampeão Cruzeiro de 2003. E quando se vai mal, a desculpa é que o planejamento não foi adequado, porque o Estadual não serve de parâmetro.

Uma verdadeira bola de neve.

Cujo fim nos remete ao início (ou seria o meio?) da nossa idéia: enquanto para alguns clubes o ano já acabou, para outros está no meio e outros está apenas começando - ou a torcida do Galo quer lembrar do Mineiro'09?

E a impressão que se tem é que, no final das contas, o campeonato que valeu mais no ano é aquele que não vale mais nada, que já passou, que serve apenas de balão de ensaio para o restante da temporada. Cuja abolição muitos - inclusive este que vos bloga - pedem.