domingo, 30 de agosto de 2009

Retorno magiar*


* Publicado originalmente no Olheiros.

A Hungria é conhecida por Puskas, Kocsis, Czibor, Hidegkuti e...só. A impressão (não tão errada assim) que se tem é que o futebol magiar não passou de um one hit wonder, que teve seu único momento de brilho na Copa de 1954. Desde então, foram participações esporádicas e campanhas meramente figurativas, sendo que a última aconteceu há 23 anos, no México, sem passar da primeira fase.

Um ostracismo tão prolongado pode indicar que aqueles anos dourados foram realmente apenas uma fase. Mas se voltar ao patamar de outrora é quase impossível, ao menos voltar para o mapa do futebol parece ser um processo em andamento no futebol do país. Abordamos aqui no Olheiros, em nossas primeiras semanas, o estágio deplorável em que se encontrava a seleção nacional, vice-lanterna de seu grupo nas eliminatórias para a Euro 2008 e sem jogadores de destaque. A esperança depositava-se num futuro próximo, com os atletas da geração ’89 podendo mudar o panorama.

Quase dois anos depois, percebe-se uma clara evolução – e a campanha nas Eliminatórias para a Copa são o primeiro sinal disto. Vice-líder do Grupo 1 com 13 pontos em seis jogos, a Hungria tem na próxima semana dois jogos decisivos em casa que podem garanti-la ao menos na repescagem europeia. Ao receber Suécia e Portugal, o time do holandês Erwin Koeman terá de provar a força da melhor defesa deste qualificatório, que sofreu apenas dois gols até aqui.

Apesar de ser um grupo experiente, com quase a totalidade dos atletas já acima dos 25 anos e jogando fora do país, é em um jogador de 22 anos que se depositam as maiores esperanças de um futebol que lembre aquele dos magiares mágicos. Balázs Dzsudzsák, titular da meia-esquerda do PSV, é responsável pelas principais jogadas criativas da equipe que Koeman montou baseando-se em meias abertos, velocidade e muita movimentação – pilares do esquema de outro time histórico, da Holanda dos anos 70.

Dzsudzsák foi revelado pelo Debreceni, campeão nacional da temporada passada que passou pelo qualifying e chega agora à fase de grupos da Uefa Champions League, encerrando um jejum de treze anos da Hungria na principal competição de clubes da Europa. A agremiação foi a única do país a ter jogadores relacionados na última convocação da seleção, para as partidas da semana que vem: o experiente zagueiro Laszlo Bodnar e o veloz atacante Gergley Rudolf, destaque da campanha vitoriosa de 2008/09.

Depois de Dzsudzsák, a Locomotiva tem dois nomes promissores no meio-campo que podem render muito já pensando numa eventual participação no Mundial da África do Sul: o volante József Varga, de 21 anos, possui forte poder de marcação e foi o autor do primeiro gol na vitória sobre o Levski Sofia que confirmou a classificação para a fase de grupos da UCL. Seu companheiro Tamás Huszák, de 20 anos, é um meia habilidoso que, se bem trabalhado, pode muito bem assumir a função de camisa 10 cerebral que o futebol do país tanto necessita.

A classificação para a Copa torna-se essencial para a evolução húngara exatamente por poder permitir a jovens talentos, no momento em que eles mais precisam, a experiência necessária para crescerem. Afinal, após outro bom hiato, as seleções de base também começam a aparecer. No Europeu Sub-19 do ano passado, os meninos de Tibor Sisa não só chegaram à fase final como deixaram de bater a Itália na semi por muito pouco. Mesmo que a nova geração não tenha sido capaz de emular a temporada 1983/84, quando foi campeã da categoria, o desempenho em gramados tchecos serviu para confirmar que o grande destaque desta equipe, o atacante Krisztian Németh, é realmente a maior esperança magiar.

Destaque nos Europeus Sub-17, Németh passou pelo MTK, da capital Budapeste, com média de gols superior a uma por jogo. Observado pela ampla rede de observadores gerenciada por Rafa Benitez, chegou ao Liverpool ainda em 2007 junto com o goleiro Peter Gulacsi, emprestado ao Hereford United da League One na temporada passada. Com absurdo faro de gol, posicionamento, força física e até aptidão para assistências, Németh é considerado a principal promessa de Merseyside, o que não é pouco. Como já não tem mais idade para atuar pela equipe sub-19, acabou emprestado para o AEK, onde terá chance de mostrar serviço.

O tripé está formado: seleção com boas chances de classificação, clube disputando a Champions League e promessas de qualidade surgindo e se transferindo para grandes centros. Se a Hungria voltará a ser a potência de antes é muito difícil prever ou até mesmo acreditar, mas certamente será motivo de comemoração de for constatado num futuro próximo que os magiares retornaram ao cenário do futebol mundial – principalmente, se for graças aos seus novos talentos.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

A vitória de Platini


O sorriso estava estampado no rosto do presidente da UEFA, Michel Platini, ao final do sorteio dos grupos da Uefa Champions League 2009/10. Afinal, uma de suas principais bandeiras de campanha acabava de tornar-se realidade: o aumento do número de países representados nesta fase da UCL e, consequentemente, o de campeões, de fato, participando da Liga dos Campeões.

Afinal, esta edição será a que terá mais países diferentes na fase de grupos desde a última mudança no sistema de disputa, na temporada 2003/04, quando o mata-mata passou a substituir uma segunda fase de grupos nas oitavas-de-final. (confira lista no final do post)

Ao total, serão clubes de 18 países disputando até o final do ano vagas entre os dezesseis melhores do continente. Com isso, as mudanças profundas pelas quais passou nesta temporada o qualifying, a fase classificatória da UCL, mostram-se extremamente eficazes já em seu ano de estreia.

Ao contrário dos outros anos, quando campeões e não-campeões se enfrentavam sem distinção pelas vagas restantes nos grupos, a UEFA (seguindo idéia de Platini) separou o qualifying, divindido as dez vagas entre cinco para campeões nacionais e outras cinco para os restantes. É por isso que vemos, por exemplo, um time húngaro passar do classificatório pela primeira vez em treze anos. Países totalmente fora do eixo, como o Chipre, por exemplo, também vão ganhando espaço - é o segundo ano consecutivo que a pequena ilha ao sul da Turquia coloca um time nesta etapa.

É neste ponto que muitos criticam, afinal no ano passado já houve algumas zebras, como as participações de BATE, de Belarus, e do Anorthosis, do mesmo Chipre. O argumento é que times mais fracos participando facilitam a ocorrência de goleadas e que, assim, menos surpresas podem ocorrer. O círculo vicioso resultaria num efeito contrário ao proposto por Platini, de ampliação da diferença entre as principais forças e os centros periféricos ao invés de um equilíbrio das forças.

Muito simplista, entretanto, pensar desta forma. Afinal, os clubes que se classificam para a fase de grupos da Liga dos Campeões recebem premiações em dinheiro muito interessantes e, na maioria dos casos destes "pequenos" da Europa, valores bem acima do que estão acostumados. Assim, bastam algumas participações para, num futuro próximo, a equipe se reforçar, ganhar experiência e conseguir, aí sim, importunar os gigantes.

Existe sim o perigo, em ligas menores onde a concentração de taças com um mesmo campeão é muito grande, de um aumento do abismo entre este clube e os outros, mas é um risco que se deve correr. No geral, a idéia de Platini é ótima, mais do que bem-vinda e o melhor: tem tudo para dar certo.

Países representados na fase de grupos da UCL:

2009/10 - 18
2008/09 - 17
2007/08 - 15
2006/07 - 17
2005/06 - 15
2004/05 - 14
2003/04 - 16

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Igual, mas diferente

Publicado originalmente na coluna da Série B da Trivela.

Maior público do ano em todas as divisões, com mais de 70 mil pessoas em um único jogo. Melhor campanha da Série B ao final do primeiro turno, com onze vitórias, seis empates e duas derrotas. As frases acima poderiam descrever os anos sabáticos de Atlético-MG e Corinthians, mas aplicam-se a outro alvinegro dos grandes do futebol brasileiro. Após altos e baixos, o Vasco cumpre metade da caminhada na Segunda Divisão com a convicção de que estará de volta em 2010.

Foram 76.211 pagantes na goleada por 4 a 0 sobre o Ipatinga no sábado, primeiro jogo da campanha no Maracanã, em comemoração aos 111 anos do clube, completados um dia antes. Carlos Alberto foi o camisa 111, jogada do departamento de marketing que chamou a torcida, e ela compareceu. O time de Dorival Júnior prometeu e entregou, com uma atuação convincente e que mostra o momento diferente pelo qual passa o até então adormecido Gigante da Colina. Há pouco tempo, momentos como esse eram constantemente estragados, como a festa pelo gol mil de Romário adiada pelo Gama.

O que mais chama a atenção é o fato de boa parte da imprensa ter descoberto a campanha vascaína só agora, quando os números escancararam-se iguais aos do Corinthians do ano passado com as mesmas dezenove rodadas. Isto mostra que a “saga” de 2008 foi muito mais o comum exagero de tudo que cerca o time paulistano do que realmente uma jornada fantástica, por mais que o grande desempenho tenha ocorrido de fato no segundo turno, com quatorze vitórias, três empates e uma derrota. Para comparação, vale mesmo é lembrar do excelente primeiro turno do Grêmio na Série A passada, com dois pontos a mais.

Há mais coincidências que unem as duas equipes. Ambas perderam para o mesmo adversário – Bahia – e amargaram uma fase de baixa, acumulando empates. A diferença é que os tropeços corintianos foram mais espaçados, e concentrados no final do turno. Os cinco empates seguidos derrubaram o Vasco para a oitava posição e colocaram em dúvida a possibilidade do acesso. De fato, o Corinthians tinha um time muito melhor tecnicamente que este vascaíno, e possuía mais poder de fogo. Não à toa, ambos acumularam o mesmo saldo de gols (22), mas o Timão marcou 36 gols e sofreu mais (14 contra 11).

O Vasco é um time mais voluntarioso, que marca mais, especialmente com Amaral e Nilton, e que depende mais das jogadas dos laterais, Paulo Sérgio e Ramon – líderes de assistências da temporada, com nove e cinco, respectivamente. Se é em Carlos Alberto que a torcida encontra o papel do ídolo tão necessário no momento de superação, talvez o maior trunfo de Dorival Júnior tenha sido conseguir montar uma equipe competitiva sem depender do meia de cabelo dreadlock.

A queda de produção explica-se pela perda de alguns jogadores que formavam o time-base que fez ótima campanha no Estadual. As contusões de Tiago, Fernando, Titi, Jéferson e Rodrigo Pimpão demandaram uma alteração estrutural profunda e demorou até que o treinador encontrasse os substitutos, especialmente do meio para a frente, já que Fernando Prass, Vilson e Gian formaram a melhor defesa do campeonato.

Os jovens volantes Mateus e Souza devolveram a consistência perdida no meio-campo e Alex Teixeira, finalmente, fez jus ao título de promessa e firmou-se como titular, mudando até o estilo de jogo para o 4-3-2-1. Élton, agora isolado, também passou a render mais: é o artilheiro cruzmaltino na temporada com 19 gols e soma cinco assistências.

O Vasco pavimenta um caminho sólido de volta à primeira divisão, com uma campanha eficaz de atração de novos sócios que já conta com 33 mil adesões, patrocínio forte e pagamentos em dia. A aposta, na iminência da queda, de que o retorno seria breve, parecia mais um “querer crer” em Roberto Dinamite do que uma convicção, além de uma constatação dos anos anteriores, em que os grandes sempre voltaram. Agora, passadas as maresias, a nau parece muito mais próxima de um porto seguro ao final da jornada – e com perspectivas de voltar a ser tão importante quanto um dia já foi.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Semanário

Os textos da semana que passou, compilados para os amigos:

Na Trivela, o São Caetano surpreende e se candidata a uma vaga no G-4 ao final do primeiro turno da Série B.

No Olheiros, um especial sobre os gatos no futebol brasileiro: como surgem, os principais casos e a certeza de que a solução está longe do fim.

E ainda, como as expectativas exageradas por pais e treinadores podem acabar com a carreira de uma jovem promessa. Veja >>>

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

O gato no futebol brasileiro


A oferta é tentadora, simples e aparentemente lícita. Por uma quantia pequena, de aproximadamente R$ 500 (que para a maioria das famílias às quais a proposta é feita, não é nada pequena e pode significar até mesmo um mês de salário), o empresário que acaba de se apresentar promete “ajeitar a documentação do menino” e colocá-lo em um clube grande. Tudo porque, segundo o engravatado olheiro com carregado sotaque da capital, o garoto “tem tudo para estourar, mas bem que podia ser uns dois anos mais novo”.

Confira, no Olheiros, um dossiê especial sobre o problema, e a constatação de que a solução ainda está muito longe.
Leia >>

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Brasileirão: 50%


Chegamos ao final do primeiro turno do campeonato brasileiro e, assim, é hora de mais uma análise dos números. Ainda que faltem três jogos a serem disputados - e eles podem mudar até o campeão simbólico da primeira metade, muito já se pode dizer sobre este campeonato.

A primeira impressão é a de que o nível está diferente do últimos anos: com 19 rodadas por acontecer, os blocos já parecem muito mais definidos, com as aspirações de cada time até o final do ano. Pode-se dizer, com menor margem de erro, que dificilmente o campeão não será São Paulo, Internacional ou Palmeiras. Isto porque, como já se percebe novamente, as equipes de Celso Roth largam muito bem, mas caem no decorrer do campeonato. Fica aberta, assim, uma vaga para a Libertadores, que tem como principal pretendente, hoje, o Goiás, mas que pode muito bem ser o Avaí, se mantiver a sequência. Grêmio e Cruzeiro, pelo que apresentaram até agora, estão um degrau abaixo.

O campeonato começou com uma quantidade incrível de empates - foram cinco em cada uma das duas primeiras rodadas. Com metade dos times envolvidos em Copa do Brasil ou Libertadores, o Internacional disparou com quatro vitórias seguidas, confirmando o bom início de temporada, e o Atlético-MG, eliminado cedo da Copa do Brasil, assumiu a ponta na sexta rodada, liderando por oito rodadas - o maior tempo de liderança do turno. Ao contrário dos anos anteriores, entretanto, o primeiro colocado nunca disparou de fato, e a maior diferença foi apenas de três pontos.

Desde o início do campeonato, os clubes paranaenses e pernambucanos agonizaram na zona de rebaixamento. Com a chegada de Antônio Lopes, o Atlético-PR surpreendentemente se distanciou, e o Coritiba, ainda que bastante irregular, subiu algumas posições. Já Náutico e Sport amargaram as piores sequências negativas do primeiro turno: o Timbu ficou 13 rodadas sem vencer e somou seis derrotas seguidas, enquanto o Leão já está há dez sem triunfar, com quatro derrotas consecutivas.

Quem se recuperou foi o Avaí, que chegou a ser o lanterna na 9ª e na 10ª rodadas e emendou cinco vitórias, estando há nove sem perder. A maior sequência de vitórias, entretanto, pertence a Goiás e São Paulo, que conseguiram seis - a do Tricolor, aliás, está ainda em curso. Já a maior invencibilidade foi do Barueri, que começou muito bem o campeonato mas caiu. O Abelhão não foi batido por dez rodadas seguidas.

Finalistas do Paulistão, Corinthians e Santos têm passado desapercebidos pelo campeonato. Com campanhas modestas, os alvinegros parecem ter pouco a almejar nesta temporada - especialmente o Timão, que perdeu peças importantes e já tem vaga garantida na Libertadores 2010. Com a chegada de Luxemburgo, espera-se que o Santos chegue a brigar pela competição continental, mas a inconsistência ofensiva do time é gritante. Quem rondou a zona de rebaixamento mas parece fadado à zona intermediária é o Botafogo, que se equivocou ao dispensar Ney Franco para trazer Estevam Soares, que chegou com uma proposta de jogo mais defensiva, baseada nos contra-ataques, mudando a filosofia do time nos últimos anos.

Destaques individuais

A briga pela artilharia mais uma vez ficou estagnada. Desde a 12ª rodada, o líder evoluiu apenas dois gols - Felipe (Goiás), Roger (Vitória) e Val Baiano (Barueri) tinham oito, e Adriano (Flamengo) termina o turno na frente, com dez. Diego Tardelli foi destaque do Galo e marcou nove, sendo convocado para a seleção brasileira.

Outros nomes que se sobressaíram foram Pedrão, artilheiro do Barueri negociado com o Oriente Médio; Fernandinho, meia de 23 anos também do time da Grande São Paulo, considerado a principal revelação até aqui; Willians, destaque defensivo por parte do Flamengo, graças ao maior número de bolas roubadas até aqui (89 contra 64 de Pierre); e Cleiton Xavier, líder nas assistências com 12, contra 7 de Júlio César, do Goiás.

Libertadores e rebaixamento

Em 2008, os quatro que estavam na zona da Libertadores se classificaram ao final do campeonato. Em 2007, apenas o São Paulo (saíram Botafogo, Cruzeiro e Vasco e entraram Santos, Flamengo e Fluminense - mas o Cruzeiro se classificou pelo fato do Flu ter sido campeão da Copa do Brasil). E em 2006, saiu o Paraná e entrou o Grêmio, mas o Paraná acabou na Libertadores porque o Inter, campeão continental, acabou em segundo.

Em 2008, dois que estavam na zona de rebaixamento caíram (Vasco - 17º, 19 pontos - e Ipatinga - 20º, 16). Em 2007, também (Juventude - 18º, 16 - e América-RN 20º, 10). E em 2006, também (Fortaleza - 19º, 20 - e Santa Cruz - 20º, 18).

Destaques (rodadas 17 a 19): Golaços de Marcelinho Paraíba, boa fase de Washington, sequência da arrancada do São Paulo e da série invicta do Avaí recuperação do Atlético-PR.

Perebas: Defesas de Náutico e Sport, desempenho do Fluminense, irregularidade do Flamengo.

19ª rodada

Melhor ataque
2009: Barueri (38 gols)
2008: São Paulo (33)
2007: Cruzeiro (40)
2006: Paraná (33)

Melhor defesa
2009: Palmeiras (17 gols)
2008: Grêmio (12)
2007: São Paulo (7)
2006: Santos (17)

Pior ataque
2009: Cruzeiro (18 gols)
2008: Atlético-PR (17)
2007: América-RN (16)
2006: Flamengo (16)

Pior defesa
2009: Náutico e Sport (37 gols)
2008: Portuguesa e Vasco (39)
2007: América-RN (42)
2006: Ponte Preta (39)

Gols e média
2009: 545 (2,91 em 187 jogos)
2008: 519 (2,73)
2007: 520 (2,81)
2006: 502 (2,64)

Artilheiros
2009: Adriano (Flamengo) - 10 gols
2008: Alex Mineiro (Palmeiras) e Kléber Pereira (Santos) - 11 gols
2007: Josiel (Paraná) - 12 gols
2006: Dodô (Botafogo) - 9 gols

Números inéditos
Série de vitórias atual: São Paulo (6)
Série invicta atual: Avaí (9)
Série de derrotas atual: Sport (4)
Série sem vencer: Sport (10)

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Textos da semana

Convido os amigos a acompanharem as duas colunas semanais deste que vos bloga.

No Olheiros, uma análise do grupo do Brasil no Mundial Sub-17 mostra que os adversários são ideais para se crescer durante a competição. Leia >

Na Trivela, Ceará surpreende e, com salários em dia e time entrosado, mostra que pode ir longe na Série B. Leia >

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Brasileirão 2009: 40%


Passadas as férias, que não permitiram as análises da 8ª e da 12ª rodada, chegamos (com um pouco de atraso, é verdade) com um olhar mais aprofundado sobre o campeonato dada a aproximação do final do primeiro turno.

Como tem sido costume nos últimos campeonatos, a aproximação da virada do turno é o momento de maior instabilidade dos clubes: os líderes se alternam, equipes que começaram mal melhoram e o inverso também acontece. As rodadas seguidas, todas as quartas e domingos, testam a capacidade de reposição dos elencos e ajudam a definir quem vai brigar pelo quê na reta final. Sendo assim, qualquer análise feita neste momento pode parecer precipitada.

Dessa forma, não se pode dizer que o Palmeiras seja o principal candidato ao título, apesar de ter roubado a liderança que foi do Atlético-MG por oito rodadas. O Galo, apesar da boa fase de Tardelli, continua levantando suspeitas exatamente pelo trabalho recente de seu treinador, que todos os anos faz boas campanhas no primeiro turno, mas depois cai de produção. Com um elenco tão instável, é preciso tempo para ver as reais intenções do clube.

O Goiás, por sua vez, surpreende com jogadores experientes como Iarley e Ramalho, peças importantes do ano passado como os alas Vitor e Júlio César e ótimas aquisições, como o artilheiro Felipe, o ídolo Fernandão e até mesmo o renegado Léo Lima, que tem ido bem no meio-campo. Com Hélio dos Anjos, o alviverde é sim candidato forte a uma vaga na Libertadores.

Quem não para de subir é o São Paulo, que parece ter reencontrado o seu futebol forte pelo conjunto. São quatro vitórias em cinco rodadas e a ótima fase de Dagoberto, responsável pelos três gols que o time marcou nos dois últimos triunfos. O Avaí, após começar na lanterna, emendou cinco vitórias consecutivas e um empate fora de casa com o Corinthians para chegar à zona intermediária - difícil saber o que almeja o time de Silas, mas não parece que brigará contra o rebaixamento. O Corinthians, por sua vez, acusa o golpe das saídas de André Santos, Cristian e Douglas (principalmente do segundo, fundamental na marcação e coesão do meio-campo) e a ausência momentânea de Ronaldo.

O número de jogadores empatados na artilharia impressiona: são dois com 9 gols e mais cinco com 8, sendo que nenhum deles era apontado no início do campeonato como candidato à chuteira de ouro. Com o mercado aberto até o final do mês, poderemos ter mais perdas para os clubes. O número de gols marcados também é bom - o melhor dos últimos quatro anos -, lembrando que faltam dois jogos adiados a serem realizados.

Na parte de baixo da tabela, a situação mais preocupante é de fato a do Fluminense, que possui apenas em Darío Conca um jogador capaz de fazer algo diferente. Fernando Henrique não inspira confiança, a zaga falha e o time não cria e não finaliza - é o pior ataque. Fred, muito aquém do jogador que saiu do Cruzeiro, rendia pouquíssimo até se machucar. Outros indícios de que a queda é sim possível: Renato Gaúcho também fez o Vasco crescer na reta final, mas não evitou a queda. Valdir Espinosa também foi contratado para auxiliar o time cruzmaltino, e o resultado foi nulo. E, finalmente, o time tem muitos garotos que não podem decidir tudo sozinhos.

Finalmente, dois estados agonizam e devem ter, ao menos um cada um, clube rebaixados ao final do campeonato: Pernambuco tem no Sport apenas uma sombra do temido time do primeiro turno e, no Náutico, uma equipe que não parece capaz de se superar como fez nos dois anos anteriores; e o Paraná vê no Coritiba uma equipe carente dos nomes que revelou nos últimos anos e também dos desfalques, especialmente Ariel, além do Atlético que, concentrado com a preparação da Arena para a sede da Copa de 2014, retira investimentos do elenco para direcionar ao estádio. Se não cair este ano, eventualmente arcará com o preço - assim como fizeram Kaiserslautern, Nuremberg e Colônia na Alemanha, antes da Copa de 2006.

Confira abaixo os números acumulados ao final da 16ª rodada:

Destaques: Recuperação do São Paulo, séries positivas de Goiás e Avaí e boa fase de Dagoberto.

Perebas: Defesa do Náutico, ataque do Fluminense e o Cruzeiro, que não conseguiu se recuperar ainda da derrota na final da Libertadores.

16ª rodada

Melhor ataque
2009: Barueri (33 gols)
2008: Vasco (30)
2007: Botafogo (35)
2006: Paraná (30)

Melhor defesa
2009: Palmeiras (14 gols)
2008: Grêmio (12)
2007: São Paulo (7)
2006: Santos (14)

Pior ataque
2009: Fluminense (13 gols)
2008: Atlético-PR (15)
2007: América-RN e Grêmio (14)
2006: Fortaleza (10)

Pior defesa
2009: Náutico (34 gols)
2008: Portuguesa (32)
2007: América-RN (14)
2006: Ponte Preta (31)

Gols e média
2009: 453 (2,86)
2008: 434 (2,71)
2007: 445 (2,87)
2006: 411 (2,56)

Artilheiros
2009: Val Baiano (Baueri) e Diego Tardelli (Atlético-MG) - 9 gols
2008: Alex Mineiro (Palmeiras) e Kléber Pereira (Santos) - 10 gols
2007: Josiel (Paraná) - 12 gols
2006: Dodô (Botafogo) - 9 gols

Números inéditos
Série de vitórias atual: Goiás (5)
Série invicta atual: Botafogo, Flamengo, Goiás e São Paulo (5)
Série de derrotas atual: Barueri (3)
Série sem vencer: Náutico (13)

Conheça o avô de Diego Tardelli


Para ilustrar a excelente matéria do amigo Dassler Marques, fiz as fotos que a equipe do Terra transformou em galeria.

Confira o simpático senhor Nelson, barbeiro em plena atividade aos 75 anos, na cidade de Santa Bárbara d'Oeste.

A matéria:

terça-feira, 4 de agosto de 2009

B de Bahia?


Publicado originalmente na Trivela.

A regularidade no futebol, um dos meios mais instáveis que se conhece, é uma virtude alcançada por poucos. Mas há casos em que o padrão é não haver padrão algum: dono do retrospecto mais mediano da Série B, o Bahia parece afundado em uma crise mais de identidade do que financeira ou estrutural. Pior do que combater um problema grave é não conhecê-lo, e é talvez esta letargia que promove uma perigosa estagnação no tradicional clube nordestino, que aos poucos começa a se acostumar com a Segunda Divisão.

Do terceiro lugar na rodada inicial ao 14º posto há três semanas, o Tricolor sempre se manteve na parte intermediária da tabela. Após perder para o Fortaleza no sábado, encontra-se em posição emblemática: décimo lugar, com cinco vitórias, cinco empates e cinco derrotas. Marcou 19 gols e sofreu a mesma quantidade.

A quatro jogos do final do primeiro turno, a equipe chegou a ficar seis rodadas sem vencer, na transição entre Alexandre Gallo e Paulo Comelli, e só conseguiu duas vitórias consecutivas em uma oportunidade (lanterna Campinense fora e Vasco em casa). A vitória sobre os cruzmaltinos, aliás, encerrou um jejum de três partidas sem triunfo no Pituaçu, que desde que começou a ser utilizado pelo clube havia se transformado em um caldeirão, certeza de vitória certa. Desacreditada, parte da torcida chegou a se mobilizar pelo “público zero” no confronto com os cariocas, alegando que o time não conseguia vencer como mandante e que, por isso, de nada adiantaria a torcida apoiar.

O efeito foi exatamente contrário: o público de 25.376 é o segundo maior do campeonato até agora, atrás apenas de Ceará 0x2 Vasco, com 27.629. Ações com resultados assim mostram quanta discordância de opiniões há sobre o time. Da mesma forma, uma enquete promovida após a inesperada vitória sobre o Vasco mostrou divisão total de pensamentos: 31,5% dos participantes disseram acreditar no acesso, contra 28,5% de descrentes. Já 40% dos que opinaram se disseram em dúvida, condicionando a volta à elite após sete anos a fatores tão distintos quanto troca da diretoria, contratação de reforços ou mais garra em campo.

Mas afinal, o que faz do Bahia, campeão brasileiro e uma das folhas salariais mais caras da Série B, um clube que ainda não deu mostras de que pode voltar à Primeira Divisão – e, principalmente, permanecer nela? A falta de planejamento da diretoria é a alegação número um dos críticos: gastou-se demais para trazer nomes rodados como Patrício, Nen, Rubens Cardoso e Nadson e até agora apenas o zagueiro tem correspondido, transformando-se no único destaque do time. Não obstante, falta ainda um meia responsável pela armação e que chame a responsabilidade, carência da equipe durante toda a temporada.

Um pouco da reclamação do torcedor é movida pelo coração, já que Paulo Carneiro possui história no rival rubro-negro. Se a falta de planejamento é regra no futebol brasileiro e pode ser relevada, a alegada saudade de Carneiro dos tempos de Barradão parece reavivar quando ele cita o rival, que “subiu há dois anos mudando de treinador quatro vezes. Então qualquer time pode fazer isso”, disse quando do anúncio de Sérgio Guedes.

Há muitos acertos, como investimentos no CT e modernização da estrutura, mas não dá para negar que contratar quarenta jogadores em oito meses é um pouco de exagero. Some-se a isso o criticado retorno de Paulo Comelli (bancado pelo presidente Marcelo Guimarães Filho, mas não apoiado por Carneiro), que, para muitos, fez o time retroceder, mudando a forma de jogo e desestabilizando a defesa, único setor que funcionava bem. Não à toa, durou menos de um mês no cargo, sendo demitido pelo telefone após acumular duas vitórias, dois empates e duas derrotas: desempenho apenas mediano, que reflete bem a apatia da equipe.

Apatia que é outro sintoma detectado por quem acompanha o clube. Não há jogadas ensaiadas, entrosamento e o torcedor reclama da falta de vibração e entrega dos jogadores. Foram quatro oportunidades em que o Tricolor saiu na frente mas permitiu a virada ou o empate, ao passo que só se recuperou contra o Vasco, numa atuação considerada exemplar, mas exceção até aqui.

Tudo isso faz a saída de Comelli parecer menos repentina e mais compreensível, tão logo um treinador com o perfil desejado ficou disponível no mercado. Sérgio Guedes chega respaldado pelas boas campanhas com Ponte Preta e Santo André, no maior desafio de sua ainda curta carreira. Nos dois clubes, teve mais tempo e menos pressão para trabalhar, mas lidou com elencos parecidos: mesclando jovens e experientes, ainda que mais homogêneos do que terá no Fazendão.

O Bahia ainda tropeça. Cada uma das críticas carrega um pouco de razão, e um time que não briga em campo, não cria e não se incomoda com o revés irrita mais o torcedor que um grupo limitado que se entrega, mas cede ao final – vide a Portuguesa do ano passado. Se continuar assim com o novo técnico, pode dar outro passo rumo a uma realidade que hoje já parece bem mais palpável: transformar-se em um ex-grande, com importância regional relativa e nacional reduzida. Um clube pequeno demais para a Série A, mas que é grande demais para a Série B.