quarta-feira, 31 de março de 2010

Série estádios clássicos - Estádio Centenário


Campos sagrados, fortalezas inexpugnáveis, arenas gigantescas e sedes intimidadoras - eles são também os locais de disputa dos momentos mais memoráveis das Copas do Mundo. A partir de hoje, o Jornalismo Esporte Clube leva até você os perfis das catedrais do futebol.

ESTÁDIO CENTENÁRIO

O estádio Centenário em Montevidéu permanece na trilha do passado e do presente do planeta futebol. Um monumento ao amor dos sul-americanos pelo esporte, o colosso de concreto que abrigava 100 mil pessoas foi o palco principal da primeira Copa do Mundo, introduzindo ao mundo a irrefutável visão do futebol como o único esporte verdadeiramente global.

Construído para sediar a Copa de 30 e em comemoração ao 100º aniversário de independência do Uruguai, o Centenário permanece até hoje como um marco inquestionável do futebol e da identidade nacional. Apesar de ter acontecido no cume de uma das maiores crises econômicas da história, a Copa do Mundo atraiu 13 seleções que buscavam o sucesso e o reconhecimento mundial, e o Centenário foi palco de pelo menos um jogo de cada uma das equipes. O estádio recebeu 10 das 18 partidas do Mundial, incluindo os três jogos-desempate, já que naquela época não havia disputa por pênaltis. Conquistou o título de "templo do futebol", dado pelo então presidente da FIFA, Jules Rimet.

O ambicioso projeto de construção do estádio começou em 21 de julho de 1929, a cerca de um ano do início do torneio. Mas o dinheiro era escasso para atender aos requisitos de infraestrutura da FIFA e também para garantir a segurança econômica que a organização de um evento como esse exigiam. Apesar disso, multidões de operários trabalharam incansavelmente para assegurarem que o estádio estivesse pronto a tempo. Cada parte do estádio foi designada para uma companhia construtora, enquanto os suprimentos de água e energia elétrica sendo garantidos pela comunidade local. Sob a supervisão do arquiteto Juan Antonio Scasso, três turnos foram organizados para que a construção não parasse, seguindo 24 horas por dia.

Os esforços intermináveis foram recompensados na abertura da Copa, no dia 18 de julho, quando o Uruguai bateu o Peru por 1 a 0 e toda a nação explodia em êxtase, orgulhosa pela vitória e pelo grande feito que fora a construção daquele estádio. Embora o Centenário seja considerado o palco principal da Copa de 30, havia outros dois estádios na capital Montevidéu - o relativamente pequeno Pocitos e o Parque Central. De fato, oficialmente a primeira partida disputada na história das Copas, a vitória da França por 4 a 1 sobre o México, aconteceu no estádio Pocitos para um público de cerca de mil espectadores no dia 13 de julho. Mas o mais importante para os uruguaios é que as cinco partidas da Celeste Olímpica na campanha do título mundial foram disputadas no gigante de concreto.

A final viu os anfitriões recuperarem-se após um gol dos arqui-rivais argentinos e virarem o jogo para 4 a 2 para conquistarem a primeira Copa do Mundo. O capitão uruguaio José Nazassi foi o primeiro jogador a erguer a Taça Jules Rimet. As comemorações duraram dias e mais dias em Montevidéu, ao passo que a era global do futebol começava com um triunfo doméstico. O futebol nunca mais seria o mesmo.

Mesmo 75 anos depois, quando o Centenário já se aproxima de sua própria comemoração de cem anos, o estádio permanece como a casa e, muitas vezes, como uma fortaleza inexpugnável para a seleção uruguaia.
O time conheceu raras vitórias em seu estádio, e mesmo os melhores do mundo encontram dificuldades neste templo do futebol. O Brasil, por exemplo, só conseguiu duas vitórias em 20 partidas disputadas lá até hoje. As estatísticas do Uruguai no Centenário em Copas América se aproximam da perfeição. O país sediou o evento por sete vezes, mas só quatro após a construção do estádio. E em todas as quatro, eles não só não perderam um jogo sequer como foram campeões.
Os dois maiores clubes uruguaios, Peñarol e Nacional, eternos rivais e ambos sediados na capital, já jogaram inúmeros clássicos no estádio que ambos chamam de casa. Tirando algumas modernizações, o estádio permanece muito parecido com o que era quando construído para sediar a primeira Copa do Mundo. E até hoje, quem entra nesse estádio é transportando de volta à época em que as camisas dos uniformes tinham botões e cordões e o futebol era algo muito mais inocente. Mas nem por isso menos belo.
Estádio Centenário

Localização: Montevideu, Urugui
Inauguração: 18/07/1930
Sediou 10 jogos da Copa de 30 e quatro Copas América (1942, 1956, 1967 e 1995).

terça-feira, 30 de março de 2010

Grandes técnicos das Copas - Joseph 'Sepp' Herberger




Conhecida como "O Milagre de Berna", a vitória da Alemanha na Copa de 54 está intrinsecamente ligada a Joseph Herberger, um homem cujas conquistas transcendem as fronteiras convencionais do mundo dos técnicos de futebol. De fato, ele é considerado o pai da ressurreição alemã pós-Segunda Guerra, um homem do esporte que se transformou em um ícone da reconstrução do país após o triunfo sobre os favoritos húngaros na final.

"Sepp", como era conhecido, era o caçula de seis filhos de uma família podre. Quando seu pai morreu, teve que trabalhar com apenas 14 anos nas empreiteiras de construção civil e depois em metalúrgicas. Mas mesmo assim, ele mantinha sua paixão pelo futebol e estreou no clube local, o Waldhof Mannheim, aos 17 anos. Convocado pelo exército, afastou-se dos gramados por dois anos até voltar ao Waldhof e ser convocado para a seleção alemã. Jogou apenas três jogos, mas deixou sua marca de artilheiro também no futebol internacional.

Jogou por mais dois clubes e, aos 30 anos, começou a estudar para virar treinador. Formou-se em primeiro em sua turma com a tese "Buscando a máxima performance no futebol" e trabalhou por quatro anos como técnico de juvenis na federação alemã. Após o fracasso alemão nas olimpíadas sediadas por Berlim em 36, Sepp foi nomeado treinador da seleção principal. Na medida do possível, fez um bom trabalho na Copa de 38, mas foi tolhido pelas políticagens da época, que o obrigaram a convocar jogadores da Áustria, então anexada pelo regime nazista alemão. Durante a Segunda Guerra, as competições foram suspensas e Sepp ocupou seu tempo tentando sobreviver à destruição dos combates. Em 1950, voltou a comandar a seleção, que foi excluída do Mundial do Brasil.

Em 54, Sepp já tinha montado um time-base para a seleção alemã, com o jogo todo centrado no capitão Fritz Walter do Kaiserslautern. Apesar de serem uma boa equipe, os alemães eram considerados azarões e estavam com a moral muito baixa após a derrota na guerra. Na primeira fase, uma derrota humilhante por 8 a 3 para os incríveis húngaros de Puskas e Kocsis parecia ter provado que essa afirmação era verdadeira. Muito criticado, Sepp afirmou que decidiu por escalar um time mais fraco como estratégia para um plano mais ambicioso: ele havia poupado seus jogadores para o jogo contra a Turquia, que a seleção venceu. Depois, no desempate contra os mesmos turcos, mais uma vez escalou a força máxima. E deu certo: a Alemanha estava na segunda fase. Os críticos se calaram e mais uma vez ele foi reconhecido como um grande estrategista do futebol.

Sua fama cresceu, em parte graças ao seu árduo trabalho: ele mantinha um caderno em que anotava todos os detalhes dos próximos adversários, inclusive suas forças e fraquezas. Em 4 de julho de 54, a seleção alemã, contrariando todos os prognósticos, chegou a final e enfrentaria os amplamente favoritos húngaros. "Era uma final previsível", diziam, mas não foi bem o que aconteceu. Autoritário, Herberger sabia como motivar seus jogadores e arrancou deles o máximo naquele dia: os alemães foram mais fortes, mais valentes, determinados e, acima de tudo, tiveram espírito de equipe. Sepp sempre cobrava isso de seus jgoadores: "vocês têm que ser um grupo de 11 amigos", dizia. E o que se viu foi uma vitória impressionante, uma conquista histórica que serviu de exemplo para o povo alemão, que se sentia menosprezado. O "Milagre de Berna" não poderia ter outro nome, nem outro responsável: Sepp liderou um grupo cabisbaixo para uma vitória triunfante.

A conquista alavancou uma nova onda de otimismo e muitos jovens começaram a jogar futebol, orientados pelas recomendações de Sepp, que coordenava até as categorias de base da seleção alemã. Em 62, recebeu a Ordem Nacional do Mérito de Primeira Classe e permaneceu no cargo até 64, conquistando resultados expressivos nas Copas de 58 (quarto lugar) e de 62 (chegou até às quartas-de-final). Seu sucessor foi Helmut Schön. Em 77, morreu de uma infecção no pulmão, aos 80 anos.

TÁTICAS

Herberger era um estrategista nato. Após a vitória alemã na estréia da Copa de 54 sobre a Turquia por 4 a 1, ele fez oito mudanças na equipe, deixando seus melhores jogadores descansarem para a partida decisiva. Com o time reserva, perdeu para a Hungria por 8 a 3. Entretanto, a manobra se mostrou um golpe de mestre quando o time alemão, recuperado, derrotou novamente os turcos no jogo-desempate.

Nome: Joseph 'Sepp' Herberger
Data de nascimento: 28/03/1897
Data de morte: 20/04/ 1977
Local de nascimento: Mannheim, Alemanha

CARREIRA

Como jogador
1914 a 1921: Waldhof Mannheim
1921 a 1926: VFR Mannheim
1926 a 1930: Tennis Borussia Berlim
3 jogos pela seleção alemã, 2 gols

Como técnico

Em clubes
1930 a 1932: Tennis Borussia Berlim

Na seleção alemã
1936 a 1964 (campeão da Copa de 54)

segunda-feira, 29 de março de 2010

Sem chances no São Paulo, Wellington e Sérgio Mota podem ir para o Figueirense


Publicado no blog do Olheiros

Após a confirmação de Marco Aurélio Cunha como consultor da nova gestão do Figueirense Futebol Clube, não param de surgir especulações sobre negociações de jogadores com o São Paulo, através de uma possível parceria que teria, como uma de suas principais características, o empréstimo de jogadores tricolores que não estejam sendo aproveitados.

Neste contexto, segundo informações do site Infoesporte, duas recentes revelações são-paulinas poderiam pintar em Florianópolis para a disputa da Série B: os meias Wellington e Sérgio Mota, pouco aproveitados por Ricardo Gomes nesta temporada - Mota entrou quatro vezes do banco e Wellington chegou a ser titular contra o Mirassol, mas foi expulso contra o Oeste e não jogou mais.

Apesar das especulações, os jogadores ainda não foram oferecidos e, pelo que consta, o nome de Sérgio Mota não teria sido bem recebido pelos profissionais do departamento de futebol do Figueira. No ano passado, o meia já foi emprestado ao Toledo para a disputa do Paranaense, mas não fez uma boa campanha, retornou e não foi aproveitado no Brasileiro.

E você, o que acha: eles teriam espaço no time de Ricardo Gomes? Se forem realmente emprestados, poderão se destacar na campanha do Figueirense na Série B?

domingo, 28 de março de 2010

História das Copas - México 1970 (parte I)

O Brasil não encontrou dificuldades em sua preparação para a Copa, derrotando seus adversários nas eliminatórias por placares mais que convincentes, uma vez que o futebol apresentado também era de grande qualidade. No comando da seleção estava João Saldanha, cronista esportivo convidado a dirigir o time por João Havelange, presidente da CBD.

Entretanto, apesar dos bons resultados, Saldanha brigou com os dirigentes e não convocou o atacante Dario, do Atlético-MG, time do General Médici, causando descontentamento e, após um empate com o Bangu em um jogo-treino, sua demissão foi anunciada. Zagallo assumiu o comando da equipe, mas o futebol que se via não era o mesmo. A seleção chegava, assim, um tanto quanto desacreditada ao Mundial.

Na estréia, contra a Tchecoslováquia, uma virada para impôr respeito: Petras abriu o placar logo aos 11 minutos, resultado da pressão tcheca, mas Rivelino empatou 13 minutos depois. O Brasil administrou o jogo e Pelé ampliou aos 14 do segundo tempo. Os tchecos se perderam em campo e Jairzinho fez mais dois, para completar a fatura.

Tostão foi escalado apesar das críticas que diziam que, após o desvio de retina que ele sofrera numa partida do campeonato brasileiro, ele estaria acabado para o futebol. Entretanto, o cruzeirense jogou bem e não saiu mais do time. Nessa partida, um lance antológico: Pelé, ao ver o goleiro Viktor adiantado, chutou do meio do campo. O guarda-metas correu de volta para o gol, mas a bola passou rente à trave. Foi o quase-gol mais bonito da história das Copas.

No jogo seguinte, o Brasil enfrentou a Inglaterra, adversário feroz que tornou o jogo muito difícil. Gérson não jogou por problemas musculares e, quando o placar ainda estava no zero, o goleiro inflês Gordon Banks proagonizou a defesa mais conhecida da história do futebol, ao espalmar uma cabeçada `indefensável` de Pelé. O gol só saiu no segundo tempo, após grande jogada de Tostão, que tocou para Pelé servir Jairzinho.

Já classificado, o Brasil jogou contra a Romênia buscando a vitória para permanecer na cidade de Guadalajara até a final. E foi uma luta para conseguir a vitória, pois os romenos montaram uma forte retranca. Rivellino estava fora dessa vez, mas Pelé acabou com o nervosismo ao marcar de falta aos 20 minutos do primeiro tempo. Jairiznho ampliou ainda antes do intervalo, dando mais tranqüilidade ao escrete canarinho. Na segunda metade, Dumitrache diminuiu em falha da zaga, mas antes que os romenos pudessem esboçar uma reação, Pelé marcou novamente. Dembrovski ainda descontou, mas a vitória já era brasileira.

A comoção do povo mexicano para organizar as Olimpíadas de 68 e a Copa de 70 foi tão grande que, impulsionado pela sua torcida, o time mexicano passou pela primeira vez à segunda fase da Copa, deixando de lado o estigma de saco de pancadas da Copa. Os `ticos`, como eram chamados, pegaram um grupo mediano, empatando sem gols contra a União Soviética, goleando os fracos El Salvadorenhos e conquistando a classificação numa suada vitória de 1 a 0 sobre a Bélgica, com gol de pênalti. Esta foi a primeira Copa dos mexicanos sem o goleiro Carbajal, que em 66 estabelecera um recorde ainda inalcançado: foi o jogador que atuou em mais Copas do Mundo: 5, de 1950 a 1966. Na Copa de 70, Carbajal foi convocado para a reserva como homenagem.

No Grupo 2, a Itália classificou-se sem muito alarde, vencendo a Suécia pela contagem mínima e empatando sem gols contra Uruguai e Israel. O Uruguai, que perdeu para a Suécia, classificou-se nos critérios de desempate, mandando os suecos de volta para casa.

No grupo 4, a Alemanha venceu os 3 jogos e despachou logo seus adversários. A briga pela segunda vaga ficou entre peruanos, búlgaros e marroquinos, mas o time comandado pelo brasileiro Didi, bicampeão em 58 e 62, cujo astro maior era o atacante Cubillas, não deu chances e venceu a Bulgária por 3 a 2 e o Marrocos por 3 a 0, garantindo a vaga nas quartas-de-final para enfrentar o Brasil. Os outros jogos das quartas-de-final seriam Uruguai x União Soviética, Itália x México e Alemanha x Inglaterra.

sábado, 27 de março de 2010

Ele não está pronto

Apesar da campanha favorável, ainda não é hora de Neymar ir para a Copa

Publicado no Olheiros

Vila Belmiro, 14 de março de 2010. Aos 35 minutos do segundo tempo, Paulo Henrique deixa Madson na cara do gol, e o baixinho apenas toca na saída de Marcos para empatar em 3 a 3 o clássico entre Santos e Palmeiras. Na saída de bola, o time da casa pressiona e retoma a posse. Neymar é lançado próximo à linha lateral, mata no peito, domina com o joelho e peteca uma vez com o pé direito, até receber um toque de Pierre, que fica com a bola. Na sequência, o camisa dezessete santista se escora em Léo, corre e atinge, sem bola, o volante palmeirense com um pontapé.

A expulsão de Neymar pelo árbitro Antonio Rogério Batista do Prado monopolizou as discussões futebolísticas, desde o balcão do botequim até à mesa redonda televisiva, na semana passada. Não pela legitimidade do cartão vermelho, mas muito pelo gancho que o meia atacante poderia pegar – falou-se em 18 partidas, que afinal tornaram-se apenas duas.

Pouco foi falado, entretanto, sobre a reação do garoto à expulsão e ao próprio lance, em que Pierre lhe toma a bola limpamente, por sinal. São naturais o desespero de um jogador habilidoso que sofre inúmeras faltas durante a partida e o desconsolo de um menino de 18 anos que recebe o primeiro vermelho de sua carreira. Foi a primeira expulsão, mas não a primeira advertência: Neymar já levou cinco cartões amarelos neste ano, o maior número entre os quatro grandes de São Paulo.

Pode-se dizer que é exatamente a marcação irritantemente insistente que faz com que Neymar revide, cometa faltas bobas e receba os amarelos. Somente a vivência lhe dará a experiência necessária para controlar seu temperamento e entender que, se é perseguido dentro de campo, o é exatamente por ser diferenciado - “ele está louco” é a única coisa que pode ser publicada da leitura labial que se faz de Neymar nos instantes que seguem a expulsão.

Evitando ser minimalista e reduzir todo o contexto em apenas um fato, a expulsão de Neymar é um argumento sólido contra os que defendem veementemente sua convocação à seleção brasileira para a disputa da Copa do Mundo. A crise tardia de identidade do time de Dunga, o medo inconsciente e coletivo de que Kaká e Luís Fabiano, que enfrentam temporadas turbulentas, não dêem conta do recado e a sensação de que o banco de reservas é pobre de inspiração transformaram um simples desejo de muitos no pedido incessante de quase todos – “Neymar deve ir à África do Sul”.

O coro soma-se à campanha velada de quase a totalidade da imprensa pela convocação de Ronaldinho Gaúcho, por mais que o camisa 80 do Milan não tenha feito nada de relevante nos últimos três anos e, de uma hora para outra, tenha resolvido jogar diante de Sienas e Livornos. A ida de Neymar, defende-se, ofereceria um gole de habilidade a um time sedento por ideias e seria fundamental para o desenvolvimento do jogador, que tem tudo para se tornar um dos principais craques do futebol mundial, garantem.

Contudo, Neymar não está pronto. Levá-lo à Copa criaria um ambiente de expectativa muito grande sobre o menino, diferente do que aconteceu com Pelé em 58 – exemplo que costumam oferecer à discussão para convencer que ele pode sim ser convocado, mas que fecha os olhos à diferença existente entre a cobertura midiática da época e a atual e, bem, ao fato de Pelé ser Pelé. Correria-se um risco exagerado de, assim como foi com o inglês Theo Walcott em 2006, esperar tanto do garoto que ele mesmo se perca no processo.

Esta é uma história comum a muitas promessas do futebol que não se concretizam. Que Neymar é diferente da maioria delas, certamente o é, e pelo que já demonstrou neste primeiro ano de profissional tem realmente tudo para ser protagonista em 2014. Mas o mau desempenho no Mundial Sub-17 do ano passado alerta para o fato de que nem sempre o craque está em um dia bom.

Principalmente, é preciso lembrar que Neymar teria, na delegação brasileira, peso e importância radicalmente diferentes dos que possui no Santos, onde já é estrela estabelecida - teria de se relegar a um segundo plano. Neste ponto, os dois argumentos principais que defendem sua convocação se excluem: se ele deve ser chamado apenas para ganhar experiência, então será um jogador espectador, configurando-se em uma opção a menos de um time que já carece de boas alternativas no banco.

Por outro lado, se for convocado realmente por seu desempenho e para atuar de fato, não será uma convocação apenas para que conviva com os grandes nomes e amadureça, podendo facilmente queimá-lo no sempre conturbado processo que envolve uma Copa do Mundo, com pressão gigantesca por resultados e espaço zero para erros.

Por tudo isso, Neymar ainda não está pronto. Nem Paulo Henrique, seu companheiro de equipe, que acredito ser até um jogador já mais maduro. Afinal, Robinho já foi unanimidade e, por querer queimar etapas, voltou ao Brasil como um dos atletas mais criticados por sua atitude antiprofissional. O craque não precisa de oportunidade. Ele precisa de tempo para se estabelecer – algo que acontecerá naturalmente com o novo menino da Vila.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Álbum de figurinhas da Copa sai no dia 11 de abril

Agora é oficial. A Editora Panini, responsável pelo licenciamento dos álbuns de figurinhas oficiais das Copas do Mundo, incluiu em seu site global as primeiras imagens da coleção que será lançada na próxima semana (a coletiva de imprensa para o lançamento do álbum no Brasil está marcada para a próxima terça, dia 30, com o álbum chegando às bancas no dia 11 de abril, um domingo).

(Clique na foto para visualizar em tamanho maior)

As imagens foram retiradas em seguida, por se tratarem de um teste do layout do site. Mas através do blog Copa do Mundo em 3x4, dos amigos Felipe Noronha e Danilo Pilan, que trazem uma série de curiosidades sobre os álbuns dos Mundiais, obtivemos imagens feitas em um evento da editora na Itália:


A capa do álbum, como já divulgado na semana passada via Twitter, será laranja, seguindo toda a identidade visual do Mundial escolhida pela Fifa - a imagem de fundo do site oficial da Copa é laranja, assim como foi azul claro toda a identidade visual da Copa de 2006.

Além do logotipo oficial da Copa, a capa tem também as bandeiras dos 32 países representados por suas seleções, e não conta mais com a foto da bola oficial do Mundial, como ocorreu em 2002 e 2006.

Ainda não sabemos o número total de figurinhas, mas serão todos os 32 times, seus escudos e uma foto posada da equipe, além de cromos dos 10 estádios, da Taça Fifa, do logotipo oficial, do mascote e do pôster oficial. Cada página, como podemos ver na página do Brasil, tem 19 cromos, com 17 jogadores mais o escudo e a foto posada da equipe.

O preço do álbum e do pacotinho ainda não foi divulgado, mas fique atento para mais informações.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Crônica de uma morte anunciada


Vasco de Vágner Mancini é apenas mais um time mal montado e mal treinado

No dia em que iam demiti-lo, Vágner Mancini levantou-se pela manhã para estudar o adversário que enfrentaria. "Sonhava sempre com vitórias", disse a mãe, recordando depois os pormenores daquela quarta-feira ingrata. Tinha uma reputação bastante bem ganha de observador certeiro dos times alheios, mas não descobrira qualquer saída nas manhãs que precederam a sua demissão.*

O Vasco estampou ontem no peito de sua nova camisa a cruz que o vascaíno carrega não é de hoje em suas costas: um clube que acumula vexames com a mesma facilidade que somava títulos na década passada, quando a Cruz de Malta - que na verdade é a Cruz Pátea - era vestida com orgulho por seus torcedores.

Há oito anos o Gigante da Colina não caía duas vezes seguidas para pequenos: em 2002, derrotas para Americano e Bangu, ambas em São Januário. Com as quedas perante Olaria e - novamente - Americano, o torcedor mais pessimista já vislumbra novo rebaixamento no Brasileiro.

De novo, o calvário cruzmaltino não tem nada: velhos erros foram cometidos na preparação, como a contratação em massa de jogadores ainda em dezembro, quando sequer o técnico era conhecido. Como saber se o futuro comandante da nau aprovaria os marujos selecionados?

Vágner Mancini, por sua vez, não fez o que dele se esperava - ou fez, para quem, como este que vos bloga, pouco acreditava no treinador que teve no Paulista e no Vitória triunfos importantes, mas que no Grêmio e no Santos, clubes de verdadeira expressão e com latente pressão, falhara retumbantemente.

Com Mancini, o Vasco começou promissor, muito graças à goleada sobre o Botafogo em uma noite atípica das duas equipes. Dodô, encantado, desencantou contra o ex-clube e depois marcou mais três contra o Friburguense, adotando um quaresmal jejum de gols ainda não quebrado.

O tempo que era ensolarado na Colina fechou após a derrota na final da Taça Guanabara, sujeito a trovoadas e relâmpagos durante o restante do período - empate sem gols em casa com o Sousa, da Paraíba, derrota para o Flamengo no clássico e novo empate pela Copa do Brasil, contra o mesmo ASA que já eliminou Palmeiras.

Essencialmente, o Vasco perdeu seu espírito após o revés do Maracanã. Um time zumbi, que já naquela partida mostrou uma de suas muitas faces distorcidas: dominou todo o jogo, mas não foi capaz de defini-lo - e assim foi também contra o Flamengo.

Mancini errou ao mudar muito do pouco que vinha dando certo na equipe, alterando a formação para três zagueiros, mudando a toda rodada o miolo da defesa e insistindo em jogadores desqualificados como Magno, Paulinho e Geovane Maranhão (foram 29 atletas utilizados). A nova mexida, voltando para o 4-3-1-2 do início do ano - e de todo o ano passado -, foi o último levante de um treinador que não conseguiu dar moral à equipe e mexer com o brio de um grupo que, num ínterim, perdeu toda a confiança.

Mais: durante toda sua passagem, fez do Vasco um time ansioso, que mesmo tentando ser leve e veloz batia demais: foram 72 amarelos em 18 jogos, média de quatro por partida, além de 8 expulsões, quase uma a cada dois jogos.

Um time que buscava resolver a partida como se fosse a última, buscando a bola da mesma forma que uma mariposa segue instintamente a vela sem questionar sua chama que, eventualmente, irá matá-la.

Enfim, o Vasco de Mancini foi, desde seu início, a crônica de uma morte anunciada. Caberá, agora, a Leão, ou Tite, ou Abel Braga, ou Oswaldo de Oliveira, ou por que não Antônio Lopes, ressuscitá-lo a tempo de salvar o time de outra crucificação ao final da temporada.

* Adaptação do primeiro parágrafo de "Crônica de uma morte anunciada", de Gabriel Garcia Marquez.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Juntos novamente

Dupla de sucesso das bases do Fortaleza se reencontra, agora no Vitória

Publicado no blog do Olheiros

Dois garotos que fizeram muito sucesso pelas bases do Fortaleza irão se reecontrar em outro time do Nordeste: o atacante Bambam foi anunciado como reforço do Vitória para a disputa do Campeonato Baiano, da Copa do Brasil e do Brasileirão.

Bambam, 19, estava encostado no time B do Internacional, e chega sem custos para o clube baiano. Ele poderá reeditar a parceria com Adaílton na Copa São Paulo de 2008 e em outros torneios de base – na ocasião, ambos foram o destaque da equipe que chegou às quartas de final da Copinha.

Após inúmeros problemas com o Fortaleza, Adaílton finalmente chegou ao Vitória no início do ano e até agora marcou três gols no Estadual. Bambam, por sua vez, disputou o primeiro turno da Série B de 2009 com o Leão antes de seguir para o Inter.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Craques das Copas - Gerd Müller


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O início da carreira foi de superação. Após jogar por 9 anos nas categorias de base do pequeno TSV Nördlingen, time de sua cidade natal, e, aos 16 anos, já atuar no time titular (tendo marcado 180 gols após profissionalizar-se), foi contratado pelo Bayern de Munique, naquela época renegado à segunda divisão. O técnico Zlatko Cajkovski, quando viu o jogadr pela primeira vez, brincou: "O que é que eu posso fazer com um levantador de peso?". De fato, as pernas curtas de Müller não combinavam bem com o resto do seu corpo, forte e "em forma de barril", como brincavam seus companheiros. Müller teria que provar seu valor com gols.

E foi o que ele fez na sua estréia contra o Freiburg, após amargar o banco por dez rodadas. Marcando dois gols, Müller calou o técnico e fez as fundações de uma carreira sólida e vencedora. Em 1965, juntamente com o goleiro Sepp Maier e com o `Kaiser` Franz Beckenbauer, levou o time à primeira divisão e, no primeiro ano na Bundesliga, já terminaram em terceiro. Em 69, ajudou o time a conquistar seu primeiro título alemão, fato que se repetiria depois em 72, 73 e 74. Sem ele, as glórias do Bayern seriam inconcebíveis, uma vez que Müller foi o artilheiro do time em todas as temporadas em que esteve no clube, por 15 anos. Além disso, foi artilheiro do campeonato alemão por 7 vezes. Com tal desempenho, era apenas uma questão de tempo para que ele fosse convocado para a seleção alemã.

O técnico Helmut Schön convocou-o pela primeira vez em 66, após a derrota na final da Copa para a Inglaterra. Não demorou muito para que fosse efetivado ao time titular e, também na seleção, provou ter um faro de gol incomparável: marcou 68 gols em 62 partidas pela seleção e foi o artilheiro da Copa de 70, com 10 gols. Marcou três gols em duas oportunidades e, na semifinal contra a Itália, fez 2. Em 72, foi fundamental para a conquista da Eurocopa e, em 74, alcançou a glória final com a conquista da Copa do Mundo em sua terra natal. Desta vez ele não foi o artilheiro, mas seus quatro gols bastaram para que ele alcançasse a marca que perdurou até 2006 de maior artilheiro de todas as Copas, com 14 gols marcados. O mais especial deles foi exatamente o último, o gol da virada na final contra a Holanda.

Müller deixou a seleção precocemente, logo após a conquista do Mundial, com 28 anos. Na época, o motivo mais comentado era de que a decisão era uma represália à proibição da participação das esposas na festa de comemoração do título, algo que teria desagradado muito o atacante, que desmente tudo.

Cinco anos depois, assinou um lucrativo contrado com o Fort Lauderdale Strikers, dos Estados Unidos, onde ele jogou pela primeira vez contra seu grande companheiro no ex-clube, Beckenbauer, que jogava no New York Cosmos. Depois, jogou mais uma temporada no Smith Brothers Lounge, um time pequeno também dos Estados Unidos, onde encerrou sua carreira. Lidar com o fim dela, entretanto, foi um problema. Müller, que estava acostumado com os holofotes, não aceitava voltar ao anonimato e caiu no alcoolismo, separando-se da esposa. Felizmente, seus ex-companheiros de Bayern de Munique o ajudaram a passar por essa fase e hoje ele é técnico das divisões de base do Bayern, além de ter sido o embaixador de Munique para a Copa de 2006.

Nome: Gerhard `Gerd` Müller
Data de nascimento: 03/11/1945
Local: Nördlingen, Alemanha

Carreira:

Em clubes:
365 gols em 427 jogos no campeonato alemão (recorde)
1955 a 1964: TSV Nördlingen
1964 a 1979: Bayern München
1979 a 1981: Fort Lauderdale Strikers
1981 e 1982: Smith Brothers Lounge

Na seleção:
68 gols em 62 jogos (10 na Copa de 70 (artilheiro); 4 na Copa de 74 - o segundo maior artilheiro da história das Copas)

Títulos:
Campeão Mundial em 1974
Campeão da Eurocopa em 72
Tetracampeão alemão (1969, 1972, 1973 e 1974)
Tricampeão da Copa Européia de Clubes (1974, 1975 e 1976)

quinta-feira, 18 de março de 2010

História das Copas - Inglaterra 1966 (parte II)

Ao se classificar para enfrentar Portugal, a sensação da Copa, a Coreia do Norte já havia conquistado um grande feito, e muitos imaginavam que pararia por ali. Mas não foi o que os coreanos queriam: logo a um minuto de jogo, Seung Zin Pak abriu o placar, espantando a todos. Mas isso não era tudo: Li e Yang ampliaram para uma surpreendente vantagem de 3 a 0.

O time português parecia liquidado, mas dois gols de Eusébio, um de pênalti quando o primeiro tempo já terminava, animaram novamente os lusitanos, que voltaram com tudo para o segundo tempo e jogaram uma partida memorável, virando o placar para 5 a 3, um dos maiores jogos de todos os tempos. Acabava ali a aventura norte-coreana.

Nos outros jogos, a Alemanha não teve dificuldades para massacrar o Uruguai por 4 a 0, diferente dos donos da casa, que só marcara um gol na Argentina a 12 minutos do fim. No outro jogo das quartas-de-final, a União Soviética venceu a Hungria por 2 a 1 em uma partida muito truncada. Os portugueses enfrentariam agora os anfitriões em uma semifinal, enquanto que os alemães duelariam contra os soviéticos.

O encanto português acabou na semifinal, ao perder por 2 a 1 para os ingleses, em um jogo onde Eusébio pouco apareceu, apsar de ter marcado o gol de honra de pênalti já no fim do jogo. A Inglaterra enfrentaria na final a Alemanha, que derrotou a União Soviética de Lev Yashin pelo mesmo placar, com gols de Haller e Beckenbauer. Portugal ainda contentou-se com o terceiro lugar, liderado novamente pelo craque Eusébio, que marcou um gol na vitória por 2 a 1 sobre os soviéticos.

No dia 30 de julho, 93 mil espectadores aguardavam pela final, que não decepcionou a ninguém pela emoção. Haller abriu o placar para os alemães quando o jogo mal começara e logo depois Hurst empatou. Já no final do segundo tempo, Peters virou para os ingleses, levando o público ao delírio. Mas a Alemanha empatou quando o jogo já terminava. Uma prorrogação tensa aguardava a todos. Hurst marcou um dos gols mais polêmicos da história das Copas: a bola bateu no travessão e caiu em cima da linha.

O juiz suíco Gottfried Dientz, após titubear um pouco, confirmou o gol inglês, levando os alemães ao desespero e esfriando seus ânimos. A Alemanha não conseguiu mais reagir, e Hurst marcou ainda mais um gol, confirmando o título dos inventores do futebol em seu próprio templo.

VIII Copa do Mundo - 1966 - Inglaterra

Campeão: Inglaterra
Vice: Alemanha
3º: Portugal
4º: União Soviética

Período: de 11 a 30 de julho de 1966
Total de jogos: 32
Gols marcados: 89
Média de gols: 2,78 por partida
Artilheiro: Eusébio (Portugal) - 9 gols

Público total: 1.614.677 pagantes
Média de público: 50.459 pagantes

O Brasil: 11º lugar - 3 jogos (1V e 2D), 4GP/6GC
Jogos: Primeira fase: Brasil 2x0 Bulgária (Pelé e Garrincha)
Brasil 1x3 Hungria (Tostão; Bene, Farkas e
Brasil 1x3 Portugal (Rildo; Eusébio (2) e Simões)

quarta-feira, 17 de março de 2010

As melhores seleções estrangeiras de todos os tempos

Se o mundo da bola discute até quem é o “Pelé” do futebol (Pelé? Mara-
dona? Garrincha?), definir as melhores seleções de todos os tempos (fora as
brasileiras) é assunto para a vida toda. É quase impossível comparar períodos
distintos do esporte, e pode resultar anacrônico igualar o futebol de dife-
rentes décadas. A bola que voa em 2010 é outra pelota, se comparada a que
rolava em 1970. Piorou? Melhorou? Mudou. Como a vida. Como o mundo.

É com estas palavras que a bola começa a rolar e Mauro Beting abre o jogo em seu "As melhores seleções estrangeiras de todos os tempos", lançamento da Editora Contexto que teve sua noite de autógrafos realizada nesta terça-feira, na Livraria Saraiva do Shopping Eldorado.

Habilidoso com as palavras como jamais seria com a bola nos pés - ato confesso dele próprio, ainda que seja dos melhores goleiros que este país não viu -, Mauro Beting escalou os amigos André Rocha e Dassler Marques para o auxiliarem na escolha, análise e tradução para o ótimo futebolês as sete melhores seleções de todos os tempos, campeãs mundiais ou não.

Em ano de Copa do Mundo, entender porque a Hungria de 54 e a Holanda de 74 não foram campeãs (mas sim a Alemanha, em ambos os casos), conhecer de lances perdidos da conquista inglesa em 1966, como o lençol de Pedro Rocha em Bob Moore, e render-se às conquistas de Itália em 82, Argentina em 86 e França em 98, por mais que as derrotas brasileiras nestes três mundiais tenham sido por demais doloridas, é fundamental para todos os que param tudo por um mês a cada quatro anos, como Mauro tão bem lembra em sua deliciosa dedicatória.

Por ter tido o privilégio de estar presente no lançamento e a honra de aprender demais com este craque de todas as linhas, fica aqui uma dica para os fãs de futebol, de Copa do Mundo, de literatura e de Mauro Beting.

O livro já está disponível nas melhores livrarias e aqui, no site da Saraiva.

Faça como as seleções descritas neste livro: não perca!

segunda-feira, 15 de março de 2010

Grandes técnicos das Copas - Vittorio Pozzo


Iniciamos hoje mais uma série de postagens especiais sobre a Copa do Mundo, falando agora dos grandes técnicos dos Mundiais. Começamos com aquele que dominou o futebol mundial na década de 30.

VITTORIO POZZO

Em apenas um período de quatro anos, Vittorio Pozzo levou a seleção italiana à conquista de duas Copas do Mundo e de uma medalha de ouro olímpica, transformando-se em um dos maiores técnicos de toda a história. Não só "o velho maestro", como era chamado, montou um dos melhores times de todos os tempos, como também foi o responsável por estabelecer várias características tradicionais do futebol italiano, como a forte marcação mesclada com ataques habilidosos.

Conhecido como um mago da tática, Pozzo era também um líder de sucesso. Autoritário, mas paternalista e atencioso, ele exigia de seus jogadores a vitória a qualquer preço, mesmo quando alguns de seus comandados não eram italianos. A conquista da Copa de 34 em casa foi um triunfo para I itália e para seu ditador, Mussolini. Mas provando que o time era realmente bom e que não havia vencido por favorecimentos, Pozzo levou a Itália ao bicampeonato na França.

Pozzo teve contato com o futebol pela primeira vez na Inglaterra quando jovem. Foi jogador de futebol entre 1905 e 1911, atuando pelo Grasshoppers da Suíça e pelo Torino. Em 1912 e 1924, dirigiu a seleção olímpica italiana, conquistando uma medalha de bronze em Paris. Em 1929, assumiu o comando da seleção principal.

Na Copa de 34, teve seu trabalho criticado após o empate com a Espanha nas quartas-de-final, mesmo tendo vencido os Estados Unidos na primeira fase por 7 a 1. Pozzo tratou de motivar seus jogadores, dizendo a eles que as críticas que o time recebera deveriam servir como incentivo para a vitória. E deu certo: a Itália avançou para as semifinais com a vitória de 1 a 0, quando enfrentou a temida seleção austríaca, considerada por todos o melhor time do Mundial. Pozzo usou o favoritismo austríaco em seu favor e conseguiu tirar o melhor dos jogadores, chegando à final. Após a vitória, o técnico calou seus críticos e recebeu o título de Commendatore, alta honraria italiana.

Após a conquista da medalha de ouro em 36, a Itália aparecia como favorita ao Mundial de 38, embora o time estivesse bastante diferente do campeão quatro anos antes. Pozzo convocou Piola e Colaussi, que juntos fizeram 9 gols e foram fundamentais na batalha do bicampeonato. A conquista fez dele um herói nacional, embora ainda assim tenha lutado contra adversários políticos para manter-se no cargo, de onde saiu em 48, aos 62 anos, aposentando-se. No total, dirigiu a Azzurra em 93 jogos, conquistando 63 vitórias, 17 empates e 15 derrotas. Tanto o número de jogos como o de vitórias são ainda hoje recordes nacionais.

Mas a carreira de Pozzo não foi só de alegrias: em 1949, a tragédia com o avião da delegação do Torino matou muitos amigos e colegas de profissão de Pozzo, que conhecia tão bem os jogadores que foi um dos escolhidos para identificar os corpos. Após a aposentadoria, ainda aventurou-se como jornalista esportivo, mas o regime fascista de Mussolini havia endurecido de tal forma que não poupava nem os comentários do velho mestre. Uma figura popular ou não, o lugar de Pozzo na história das Copas estará sempre guardado, juntamente com o do time que dirigiu.

TÁTICAS

Quando morava na Inglaterra, Pozzo observou o centro-médio Charlie Roberts do Manchester United e teve a idéia de formar um sistema com dois jogadores recuados e um centro-médio que armasse as jogadas. Inspirado pela Áustria do técnico Hugo Meisl, Pozzo desenvolveu sua própria formação tática, chamada de "Método". Os times dirigidos por ele (seja a seleção italiana ou o Torino, que comandou de 1912 a 1924) jogavam mais com os atacantes centrais Giuseppe Meazza e Giovanni Ferrari do que com os meias, conseguido furar os bloqueios das defesas com mais facilidade através da combinação de dois estilos típicos de jogo na época: o 2-3-5 e o WM.

Na década de 40, o centro-médio transformou-se em um desarmador de jogadas, e a estratégia, revisada, recebeu o apelido de "Sistema". Esse novo estilo foi o antecessor do típico modo de jogo italiano: defesas sólidas e rápidos contra-ataques, que se provaram eficientes ao longo do tempo no complexo mundo do futebol internacional.

Nome: Vittorio Pozzo
Data de nascimento: 12/03/1886
Local de nascimento: Turin, Itália
Data de morte: 21/12/1968

CARREIRA

Como jogador

1905 e 1906: Grasshoppers (SUI)
1906 a 1911: Torino

Como técnico

1912 a 1924: Torino e seleção olímpica da Itália
1929 a 1948: Seleção italiana

Títulos
1924: Medalha de bronze nas olimpíadas de Paris
1934: Copa do Mundo da Itália
1936: Medalha de ouro nas olimpíadas de Berlim
1938: Copa do Mundo da França

domingo, 14 de março de 2010

História das Copas - Inglaterra 1966 (parte I)

Os inventores do futebol foram presenteados pela FIFA com a organização do Mundial de 66. Semanas antes do início da Copa, a taça Jules Rimet foi roubada e achada misteriosamente num lixão por um cachorro chamado Pickles. Muitos, entretanto, acreditam que a história seja uma farsa, apenas para promover o torneio.

A preparação do Brasil foi bastante turbulenta, sofrendo várias derrotas em amistosos e padecendo de uma péssima organização. O técnico Vicente Feola era duramente criticado por não definir um time titular e um esquema de jogo.

Além do Brasil e da anfitriã Inglaterra, Portugal de Eusébio - que se classificara de maneira invicta eliminando os vice campeões tchecos - e Alemanha eram cotados como favoritos. Argentina, Uruguai e Chile foram os outros representantes da América do Sul, enquanto a Coréia do Norte qualificou-se de maneira heróica ao derrotar a Austrália, após a desistência da Coréia do Sul. Todavia, não era a primeira peça que os norte-coreanos iriam pregar. Na Europa, os favoritos Espanha, Itália e França se classificaram, enquanto que o México foi, mais uma vez, o representante da Concacaf.

O Brasil foi à Inglaterra a passeio. Essa é a conclusão que se pode tirar do desastre canarinho na terra da rainha. Cedendo a pressões, o técnico Vicente Feola convocou 44 jogadores para a preparação da Copa, definindo os 22 escolhidos apenas duas semanas antes do início do Mundial. Ainda com toda essa bagunça, o Brasil conseguiu vencer na estréia, derrotando a Bulgária por 2 a 0, com gols de Pelé e Garrincha, de falta. Pelé, entretanto, machucou-se logo na primeira partida, assim como havia acontecido em 62. Os zagueiros caçavam-no em campo de maneira tão feroz que o Rei conviveu com outro drama: suas únicas duas contusões sérias foram nas Copas de 62 e 66. No segundo jogo, uma derrota inexplicável para a já frágil Hungria por 3 a 1. Tostão fez o gol de honra brasileiro.

Para o jogo decisivo contra Portugal, um reforço inesperado: Pelé estava recuperado e jogaria. O técnico brasileiro sofria pressão de todos os lados e trocou nove jogadores do time que perdera para os húngaros. Novamente, Pelé foi caçado em campo e, novamente, a falta de entrosamento causada pelo despreparo custou ao Brasil a vitória: 3 a 1 para o empolgado time português, comandado por Eusébio, o craque da Copa. Era o fim do sonho do tri consecutivo.

A eliminação do Brasil na primeira fase não foi a única - e nem a maior - surpresa dessa Copa. Os norte-coreanos aprontaram o que, se levadas em conta as condições, foi a maior zebra da história das Copas. Após perderem para a União Soviética por 3 a 0 e arrancarem um empate sofrido com o Chile, a Coréia do Norte enfrentou a Itália, favorita do jogo, sem muitas pretensões. Talvez o salto alto tenha sido o fator principal que custou a vitória aos italianos: no final do primeiro tempo, Doo Ik Pak marcou o gol histórico que eliminou a Squadra Azurra da Copa. Mas as façanhas coreanas, acreditem, não pararam por aí.

No grupo 1, os anfitriões ingleses classificaram-se sem dificuldades após 2 vitórias e um empate, juntamente com o Uruguai. O México conseguiu dois empates e terminou na frente da França, embora ambos tenham sido eliminados. No Grupo 2, Alemanha e Argentina se classificaram, em mais um fracasso espanhol. Estavam então definidas as quartas-de-final: Inglaterra x Argentina, União Soviética x Hungria, Alemanha x Uruguai e Portugal x Coréia do Norte.

sábado, 13 de março de 2010

Um bom lugar para começar

Atuações de Pjanic e Alaba mostram que Liga dos Campeões também é palco para os jovens

Publicado no Olheiros

As grandes competições são para os grandes jogadores, para os atletas prontos, correto? Não há muito espaço para os jovens inexperientes, pelo medo de que possam sucumbir à pressão das partidas decisivas. Às vésperas de mais uma Copa do Mundo, e com o clamor popular pela convocação de Neymar crescendo a cada exibição de gala do Santos, tal discussão parece bastante aproriada: afinal, é possível utilizar os meninos em jogos de ponta sem correr riscos exagerados?

Nesta semana, dois ótimos exemplos para os defensores da resposta “sim” à pergunta do parágrafo anterior foram dados na maior competição de clubes do mundo: a Uefa Champions League. Com apenas 19 e 17 anos respectivamente, Miralem Pjanic e David Alaba foram os destaques das heróicas classificações de Lyon e Bayern de Munique às quartas de final.

Pjanic não é nenhuma novidade. O meia bósnio vindo do Metz em 2007 estreou na UCL ainda na temporada passada, e nesta transformou-se titular absoluto do meio-campo de Claude Puel, tendo marcado três gols e anotado cinco assistência na Ligue 1. E foi além: na atual Liga dos Campeões, é o motor do renovado Lyon pós-Juninho Pernambucano, com quatro gols (vice-artilheiro do campeonato) e três assistências. Na primeira fase, contra o Debrecen, da Hungria, foi o homem do jogo, com um belo gol de falta no melhor estilo do meia brasileiro.

Por isso, quando o camisa 8 dominou a bola na coxa direita à frente de Casillas e fuzilou de canhota sem deixar a bola cair, sabia-se que era a afirmação definitiva de um jogador que ascendeu aos profissionais aos 16 anos, marcou seu primeiro gol na Ligue 1 aos 17 (um dos mais jovens da história do campeonato) e estreou aos 18 na seleção principal de seu país.

Um dia antes, 1287 quilômetros a leste de Madrid, na capital da Toscana, outro garoto aparecia com evidência na surpreendente eliminação do time da casa. Desta vez, não por marcar um gol, mas por evitá-los. David Olatunkubo Alaba, austríaco de Viena, mas de mãe filipina e pai nigeriano, quebrou mais um recorde em sua ainda breve carreira.

Jogador mais jovem a atuar na Bundesliga austríaca (estreou aos 17 anos, três meses e 20 dias pelo Áustria Viena), o garoto que tinha dois dias de idade na final da Euro 92, quando a Dinamarca bateu a Alemanha, alcançou duas marcas em uma semana pelo Bayern de Munique: no final de semana, aos 17 anos, oito meses e dez dias, foi o atleta mais novo a defender os bávaros pela Bundesliga, no empate em 1 a 1 com o Colônia. Três dias depois, era titular diante da Fiorentina, em uma partida válida pelas oitavas de final da Champions League.

Alaba torna-se, desde já, uma referência em ascensões meteóricas. Há seis meses, recém-alçado ao time titular dos Violetas (austríacos, não os que ajudou a afundar na quarta-feira), recusou uma extensão de contrato para assinar com os bávaros e foi direcionado ao time B. Foram 16 partidas na Regionalliga Sul, terceira divisão nacional, e há exatamente um mês, no dia 10 de fevereiro, foi convocado para o elenco que enfrentaria o Greuther Fürth pela Copa da Alemanha. A estreia foi perfeita, e concedeu até mesmo uma assistência nos 6 a 2.

O desempenho acima do esperado foi surpreendente para um garoto tão inexperiente no que se refere a este nível de jogo, e por mais que seu chamamento tenha sido primordialmente devido às contusões de Demichelis e Contento, Alaba foi amplamente elogiado pela imprensa alemã, recebendo a melhor avaliação de toda a linha defensiva da equipe. Tudo isso jogando fora de sua posição ideal – foi improvisado na lateral esquerda, por mais que seja um meiocampista central de orientação defensiva.

Alaba poderá retornar ao time B assim que Demichelis voltar, mas o importante é que mostrou qualidades para permanecer no elenco principal, feito bastante relevante em um Bayern que emprestou o supervalorizado Toni Kroos por problemas de adaptação. Com exemplos como o de Rooney – que aos 18 anos marcou um hat-trick sobre o Fenerbahçe, na UCL de 2004 e é, no momento, o maior atacante em atividade –, não há dúvida que até mesmo as principais competições do mundo são, sim, um bom lugar para se começar.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Morre Euzébio, ex-jogador do Santos e campeão paulista de 73


Faleceu na noite desta quinta-feira, após um acidente automobilístico ocorrido no km 149 da Rodovia Luiz de Queiroz (SP-304), altura do distrito de Tupi, no sentido Santa Bárbara d’Oeste, o ex-jogador do Santos e União Barbarense Carlos de Jesus Euzébio, popularmente conhecido como Euzébio.

Ouça entrevista com Euzébio feita em 2008, para o Domingo Esportivo da rádio Azul Celeste de Americana, afiliada à Rádio Bandeirantes:



O motivo do acidente ainda não foi esclarecido, mas de acordo com informações preliminares obtidas junto à família de Euzébio, ele estava sozinho em um Toyota/Corolla e teria batido contra uma mureta.

Revelado pelo União Barbarense, Euzébio foi campeão paulista de 1973 com o Santos de Pelé e atuou por onze anos no futebol mexicano. Mais que um ex-jogador, era uma pessoa de caráter irreprensível, honesto, grande amigo e excelente contador de histórias.

A ele, a homenagem deste blog, reproduzindo parte de um texto que fiz em 2005 sobre sua carreira e vida. Abaixo, deixo o texto completo para leitura. São sete páginas de uma história de vida impressionante, que merece ser conhecida.

"A religião esteve com Euzébio em toda sua vida, especialmente no centro do gramado do estádio do Morumbi na tarde nublada daquele domingo, 26 de agosto de 1973. O Santos, escalado com Cejas; Zé Carlos, Carlos Alberto, Vicente e Turcão; Clodoaldo e Léo; Jair da Costa, Euzébio, Pelé e Edu empatara com a Portuguesa em 0 a 0 na final do campeonato paulista. Da beira do gramado, a imprensa, toda a favor da Portuguesa, via as arquibancadas lotadas de santistas após entrevistar alguns dos outros 10 mil que ficaram do lado de fora sem ingresso. O público de 116.156 torcedores é recorde paulista até hoje e dificilmente será quebrado. Jogo nervoso. A Portuguesa tinha um elenco jovem e, no Santos, Euzébio era o mais jovem e o mais nervoso. O garoto não foi escalado para cobrar os pênaltis, mas ficou ajoelhado no campo, mãos justapostas, camisa molhada de suor, rezando um Pai-Nosso. O goleiro santista defendeu os três primeiros pênaltis da Portuguesa, enquanto Zé Carlos desperdiçou a cobrança para desespero de Euzébio. Faltando ainda duas cobranças de cada lado, só uma tragédia tiraria o título do Santos. Então, na terceira defesa de Cejas, o árbitro Armando Marques, erroneamente, apita e declara o Santos campeão. O menino que cortava cana no interior de São Paulo vibra com seus companheiros e com os mais de 100 mil torcedores, corre, pula, grita. Só que, cinco minutos depois, os jogadores já perceberam o que havia ocorrido."

Clique aqui para visualizar o texto compledo do perfil de Euzébio.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Encostado no Fla, Erick Flores é emprestado ao Ceará

Publicado no Olheiros

Após muita indefinição, a diretoria do Flamengo acertou o empréstimo de Erick Flores ao Ceará até o final do ano. O meia de 20 anos não vinha sendo aproveitado pelo técnico Andrade – desde a estreia do treinador, atuou apenas três vezes no Brasileirão, sempre entrando do banco.

Em 2010, foi titular na estreia na Taça Guanabara (mas foi substituído no intervalo por Vinícius Pacheco, que não saiu mais da equipe), e depois entrou no final da partida contra o Volta Redonda, na segunda rodada.

O nome de Erick chegou a ser confirmado no Internacional no início da temporada – já numa demonstração clara de que Andrade não pretendia contar com o jogador –, mas a negociação não evoluiu.

Levado ao profissional em 2008 por Caio Júnior, Erick Flores estreou na vitória sobre o Atlético-MG, no primeiro turno do Brasileirão daquele ano. Seu melhor momento foi sob o comando de Cuca, quando tornou-se titular e teve papel importante na conquista da Taça Rio. Chegou ainda a participar da preparação da seleção sub-20, mas não foi convocado para o Mundial do Egito.

Ao todo, disputou 28 partidas pelo Flamengo, não tendo marcado nenhum gol e feito duas assistências.

terça-feira, 9 de março de 2010

Craques das Copas - Franz Beckenbauer




Beckenbauer é, sem sombra de dúvidas, um dos grandes jogadores de todos os tempos. Como jogador, redefiniu o papel de líbero e conquistou a Copa de 74, em sua terra natal. Como treinador, levou a Alemanha ao tri em 90, na Itália. De rara técnica e extremamente aplicado em campo, o "Kaiser", como foi apelidado, havia nascido para brilhar.

Começou sua carreira aos 9 anos, no time mirim do SC München 06, indo para o Bayern quatro anos depois. Sua estréia no time principal só aconteceria em 64, jogando de ala esquerdo. Um ano depois, aos 20, já foi convocado pela primeira vez para a seleção alemã. Na Copa de 66, era titular na zaga e, mesmo assim, marcou dois gols contra a Suíça na primeira fase, um contra o Uruguai nas quartas-de-final e outro contra a União Soviética na semifinal. A derrota para os ingleses na final foi doída, mas ele estava certo de que chegaria a sua vez.

Em 69, uma temporada dourada no Bayern de Munique: campeão da Copa da Alemanha e do campeonato nacional. Em 70, no México, ele tentaria o título mundial novamente. Como capitão da seleção, Beckenbauer possuía muito mais responsabilidade em campo, e por isso marcou apenas um gol na Copa, mas um gol que valeu muito: foi contra a Inglaterra, nas quartas-de-final, a vingança pela derrota de quatro anos antes.

Sua determinação foi posta à prova na semifinal contra a Itália, quando o `Kaiser` disputou boa parte do jogo com o braço enfaixado junto ao corpo, demonstrando a vontade de vencer. A Alemanha perdeu para a Itália e ficou com o terceiro lugar, mas o público não esqueceria tão cedo a demonstração de garra daquele alemão.

Após conquistar o tricampeonato nacional, o `Kaiser` tinha a missão de levar a seleção à conquista do bicampeonato em sua própria nação, que organizaria a Copa de 74. E ele não os desapontou. A essa altura, ele já jogava na posição que revolucionou: líbero, atrás da defesa, organizando o time e ajudando também ofensivamente. Juntamente com Gerd Müller e Paul Brietner, Beckenbauer atendeu ao clamor da massa alemã e foi o primeiro capitão a levantar a Taça FIFA, após um início conturbado na primeira fase. Embora não tenha marcado nenhum gol nesta campanha, Beckenbauer a reconhece de longe como a mais memorável, pelo fato da seleção ter vencido os holandeses, que chegaram à final com todo o favoritismo. O sonho do Kaiser estava concretizado.

Após a Copa, o Bayern conquistou três títulos europeus consecutivos, um recorde até hoje. O time, que fora a base da seleção campeã mundial, encantou a todos e era, de longe, o melhor time do mundo na época. Em 77, Beckenbauer aceitou o convite do Cosmos, de Nova Iorque, e foi jogar ao lado de Pelé. Apesar de ter ficado lá por três anos e conquistar três campeonatos nacionais, Beckenbauer achou que a experiência não deu muito certo e ele voltou, já fora da seleção. Jogou duas temporadas no Hamburgo, encerrando sua participação no campeonato alemão com 44 gols em 424 jogos. Em 83, voltou para o Cosmos para encerrar definitivamente a carreira.

Logo no ano seguinte, foi escolhido como técnico da seleção alemã, levando-a ao vice-campeonato em 86, no México, e dando seqüência ao trabalho, levou o time à conquista do tri na Itália em 90, terminando a Copa de forma invicta. Após a conquista, deixou o comando da seleção para tornar-se técnico e depois presidente do seu clube de coração, o Bayern de Munique, onde ficou até 98. Eleito para a vice-presidência da Federação Alemã de Futebol, trabalhou ativamente no Comitê Organizador da Copa de 2006.

Nome: Franz Beckenbauer
Data de nascimento: 11/09/1945
Local: Munique, Alemanha

Carreira:

Em clubes:
1954 a 1958: SC München 06
1958 a 1977: FC Bayern Munich
1977 a 1980 e 1983: New York Cosmos
1980 a 1982: Hamburg SV

Na seleção:
14 gols (4 na Copa de 66 e 1 na Copa de 70) em 103 jogos (50 como capitão)

Como técnico:
1984 a 1990: Seleção alemã
1990 e 1991: Olympique de Marselha
1994 e 1996: Bayern de Munique

Títulos:

Como jogador:
Campeão da Copa de 1974
Pentacampeão alemão (1969, 1972, 1973, 1974 e 1982)
Tetracampeão da Copa da Alemanha (1966, 1967, 1969 e 1971)
Tricampeão da Copa Européia de Clubes (1974, 1975 e 1976)
Tricampeão da Liga Norte Americana (1977, 1978 e 1980)

Como técnico:
Campeão da Copa de 90
Campeão alemão de 1994
Campeão da Copa da UEFA em 1996

segunda-feira, 8 de março de 2010

Análise: qual candidato ao título da Copa tem o melhor goleiro?


Lionel Messi, Wayne Rooney, Didier Drogba, Kaká e Cristiano Ronaldo. Ao passo que os maiores artilheiros do mundo são sempre as vedetes de cada Copa, é nos goleiros que a última esperança de defesa se apoia. Com o papel primordial de Buffon na conquista italiana de 2006 e a forma perfeita de Kahn em 2002, a importância dos arqueiros nos Mundiais só tem motivos para ser exaltada.

Por isso, nada melhor que analisar os goleiros dos sete cabeças-de-chave mais a França, afinal se o campeão sair de alguém de fora deste grupo teremos, em solo africano, a maior zebra da história das Copas. Acompanhe, dê sua opinião e lembre-se: todo grande time começa por um grande goleiro.

Grupo A - França

Ainda favoritos no Grupo, apesar da fraca campanha de 2009, os franceses finalmente se despediram de Barthez. A nova geração de goleiros - que nem é tão nova assim, afinal o baixinho careca poderia ter sido substituído em 2006 sem problemas - chega com Hugo Lloris, de grande temporada na meta do Lyon, e Steve Mandanda do Olympique Marseille. A briga pela titularidade ficará entre os dois, embora Mandanda, que tenha sido titular em boa parte das Eliminatórias, pareça hoje um nível abaixo. Cedric Carrasso, do Bordeaux, deverá ser o terceiro goleiro. Independente da insegurança que qualquer um dos três passe, uma coisa é certa: o melhor goleiro francês da década, Grégory Coupet, acabou encerrando sua passagem pela seleção sem jogar efetivamente uma Copa do Mundo - tudo porque Barthez não largou o osso.

Grupo B - Argentina


No Brasil, costuma-se ter uma ideia, bastante equivocada, de que a Argentina sempre teve, historicamente, bons goleiros. Este mito foi reforçado pelo pegador de pênaltis Goicoechea e pelo Hugo Gatti, mas a verdade é que os hermanos sempre tiveram exatamente isso: goleiros excêntricos. Pato Abbondanzieri não foi seguro em 2006 e, agora, a entressafra parece bastante evidente. Por mais que Sergio Romero tenha finalmente convencido Maradona de suas qualidades, o técnico argentino é um dos poucos que demonstra confiança com o arqueiro do AZ Alkmaar. Mariano Andujar, o reserva, também não está ranqueado entre os principais goleiros do mundo, por mais que tenha feito sua parcela de milagres no Catania.

Grupo C - Inglaterra


O dilema é antigo: desde David Seaman (que não era nenhuma sumidade), o técnico da Inglaterra, seja ele quem for, começa suas preocupações pelo camisa 1. Robert Green, do West Ham, e o veterano David James, do Porstmouth (reserva em 2006) travam a briga mais equilibrada dentre as oito seleções, e não há favoritismo, tampouco certeza na cabeça de Fábio Capello. Para a terceira vaga, Ben Foster, reserva do Manchester United, briga com Joe Hart, do Birmingham. Mas nada impede que um deles, ou até mesmo um quinto nome, apareça de surpresa às vésperas da estreia contra a Argélia, em 12 de junho.

Grupo D - Alemanha


Um choque. É o que aconteceu com o futebol alemão após o suicídio de Robert Enke, nome certo na lista de Joachim Löw para a Copa da África. Sem ele - que começou as Eliminatórias como titular, mas depois perdeu a posição -, Löw tem praticamente certos os três nomes para o gol: Manuel Neuer, do Schalke 04, Tim Wiese, do Werder Bremen, e René Adler, do Bayer Leverkusen. O problema é que os três entram na disputa pela camisa 1 com 33% de chances cada um. Adler é o mais novo e considerado mais talentoso dos três, porém sua falha no amistoso com a Argentina levantou dúvidas. Wiese, mais experiente, deve ser visto mais como um goleiro para o grupo, posto que já cometeu diversas falhas ao longo dos anos com o Bremen, especialmente em jogos mais importantes, como são os de Copa do Mundo. Pela temporada que vem fazendo, Neuer deverá ser a cara nova do gol alemão, que ressentirá a segurança dos Mundiais passados.

Grupo E - Holanda


De times tradicionalmente ofensivos, a Holanda nunca deu muita bola para seus goleiros - bastava fazer mais gols que tomar. Até que surgiu Van der Sar, e a tranquilidade enfim reinou. Contudo, o camisa 1 do Manchester United já chegou aos 39 anos e anunciou que não voltará da aposentadoria. Por isso, Bert van Marwijk deve escolher entre Maarten Stekelenburg (Ajax), Michel Worm (FC Utrecht) e Piet Velthuizen (Vitesse). Mesmo sem ter em Stekelenburg um nome confiável, o treinador da Oranje deverá insistir no guarda metas de 27 anos pela falta de experiência internacional dos outros dois com seus clubes. Novamente, será preciso depender bastante do ataque.

Grupo F - Itália

A Itália é Buffon e mais dez, correto? Bem, não necessariamente. Apontado por muitos como melhor goleiro do mundo na década, Buffon não tem tido uma temporada muito feliz com a Juventus. Apesar de parecer já veterano, sua idade (32) o permite até mesmo disputar a Copa de 2014, mas o fato é que Marcelo Lippi já testou outros nomes como Amelia, Marchetti e De Sanctis por precaução. Buffon será titular da Azzurra, sem dúvidas, mas certamente não com a mesma segurança de quatro anos atrás - suas atuações na Euro e na Copa das Confederações são prova disso.

Grupo G - Brasil

O Brasil não tem centroavantes de peso cotados para a artilharia da Copa, mas em compensação não precisa se preocupar com o gol. Não parece uma descrição muito fiel às tradições tupiniquins, correto? Mas é o mais fiel retrato da realidade. Ao passo que o lobby por Ronaldinho Gaúcho e Pato só aumenta, a maior unanimidade da seleção é Júlio César: defesas incríveis na Copa das Confederações, Copa América e, especialmente, nos jogos contra a Argentina concederam ao goleiro da Internazionale o posto de melhor camisa 1 do mundo em 2009. Há muito tempo, o Brasil não tinha tanta tranquilidade no gol - é só torcer para que ele não se machuque, porque depender de Doni ou Gomes é demasiadamente arriscado. Victor, o melhor goleiro em atividade no Brasil há dois anos, parece fora da briga pela reserva.

Grupo H - Espanha

Ele não pode ser tão famoso por aqui, mas na Europa Iker Casillas é um mito. Tido por muitos um jogador com mais identificação com o Real Madrid até mesmo que Raul, Casillas tornou-se titular do Real aos 18 anos e nunca mais saiu. Até por isso, vai a sua terceira Copa como titular tendo apenas 28 anos. Segurança, experiência, agilidade e posicionamento fazem dele a primeira ameaça de um time quase completo, favoritíssimo ao título. Não é exagero dizer que Casillas, aliás, é um jogador garantido na próxima Copa (e quem sabe até na seguinte, igualando o recorde de cinco participações) - basta a Espanha se classificar. Na reserva, Pepe Reina e Sergio Asenjo são nomes de qualidade, a ponto de deixar o instável, porém bom Victor Valdés de fora.

E você, quem acha que terá o melhor goleiro na Copa do Mundo?

domingo, 7 de março de 2010

História das Copas - Chile 1962 (parte II)

Quatro anos depois do primeiro empate em 0 a 0 da história das Copas, Brasil e Inglaterra se enfrentavam novamente. Dessa vez, entretanto, o placar foi bem diferente. O Brasil deu show, principalmente com Zito e Didi no meio-campo e Garrincha no ataque, que marcou o primeiro gol aos 32. Quatro minutos depois, os ingleses empataram com Hitchens, mas Vavá, aos 9 da segunda etapa, e Garrincha novamente aos 14, acabaram com as esperanças dos ingleses: Brasil 3 a 1.

Nos outros jogos das quartas de final, a Iugoslávia, campeão olímpica dois anos antes em Roma, venceu a Alemanha por 1 a 0; a Tchecoslováquia derrotou uma decadente Hungria pelo mesmo placar e os donos da casa eliminaram a União Soviética de Yashin por 2 a 1.

Nas semifinais, o encontro mais esperado: Brasil e Chile. Os anfitriões estavam empolgados com a vitória sobre os soviéticos e anunciavam uma comemoração da vitória regada a café brasileiro, produto muito exportado na época. Garrincha mais uma vez comandou o time e o Brasil venceu sem dificuldades, por 4 a 2. O Mané das pernas tortas abriu o placar logo aos 9 minutos e ampliou a vantagem aos 32. Toro diminuiu já perto do intervalo, mas tão logo reiniciou-se a segunda etapa, Vavá marcou mais um. Os chilenos voltaram a diminuir com o artilheiro Leonél Sanchéz, de pênalti, mas a 12 minutos do fim, Vavá sepultou qualquer esperança de um empate, ao aproveitar cruzamento de Garrincha. O Brasil estava na final novamente e os chilenos, mesmo derrotados, apoiariam o Brasil na final, tamanho era o deslumbramento que o futebol canarinho despertava nas pessoas.

O outro finalista seria a Tchecoslováquia, que derrotou os iugoslavos por 3 a 1 em um jogo de público fraquíssimo para uma semifinal: 5 mil pessoas. Os campeões olímpicos dominaram a maior parte das ações do jogo, mas os tchecos abriram o placar com Kadraba logo no início da segunda etapa. Jerkovic empatou e, quando o jogo já rumava para a prorrogação, Scherer marcou duas vezes para sacramentar a classificação theca.

Na decisão do terceiro lugar, os 67 mil chilenos que lotaram o estádio Nacional em Santiago vibraram com a vitória por 1 a 0 sobre a Iugoslávia, gol marcado por Rojas, aos 45 do segundo tempo. No dia seguinte, eles lotariam novamente o mesmo estádio, dessa vez para torcer para o Brasil, mesmo eles tendo sido eliminados pelos brasileiros.

O jogo foi movimentado, com chances para os dois times e marcação cerrada por parte dos tchecos no meio-de-campo. Mas Garrincha & cia conseguiram furar o bloqueio, embora tenha sido Masopust, aos 15 minutos, quem abriu o placar. Sem se abater, o brasil empatou dois minutos depois com Amarildo, virando o jogo na segunda etapa, com Zito e Vavá. O apito final do juiz soviético Nickolaj Latychev selou o bicampeonato do Brasil, que foi recebido com muita festa na volta para casa.

VII Copa do Mundo - 1962 - Chile

Campeão: Brasil
Vice: Tchecoslováquia
3º: Chile
4º: Iugoslávia

Período: de 30 de maio a 17 de junho de 1962
Total de jogos: 32
Gols marcados: 89
Média de gols: 2,78 por partida
Artilheiros Jerkovic (Iugoslávia), Leonel Sanchez (Chile), Albert (Hungria), Ivanov (URSS), Garrincha e Vavá (Brasil) - 4 gols

Público total: 896.363 pagantes
Média de público: 28.011 pagantes

O Brasil: CAMPEÃO - 6 jogos (5V e 1E), 14GP/5GC
Jogos: Primeira fase: Brasil 2x0 México (Zagallo e Pelé)
Brasil 0x0 Tchecoslováquia
Brasil 2x1 Espanha (Adelardo; Amarildo (2))
Quartas-de-final: Brasil 3x1 Inglaterra (Garrincha (2) e Vavá; Hitchens)
Semifinal: Brasil 4x2 Chile (Garrincha (2) e Vavá (2); Toro e Leonel Sánchez)
Final: Brasil 3x1 Tchecoslováquia (Amarildo, Zito e Vavá; Masopust)

sábado, 6 de março de 2010

Culpado ou inocente?

Sumiço de Walter escancara pressões exageradas aplicadas aos jovens jogadores

Publicado no Olheiros

Com qual idade uma pessoa alcança a maturidade emocional, psicológica, profissional? Depende muito das características, de seu histórico de vida, sua formação e educação, certo? Quantas “burradas” não se faz aos 20 anos? Elas significam, afinal, que não se possui cabeça ou será despreparado para o resto de sua vida? Qualquer estudante de psicologia de primeiro período responderá que não. Seguindo este pensamento, como condenar um jovem de infância pobre, de quem toda uma família depende financeiramente e que vê, sob sua perspectiva, suas chances de um futuro melhor minguarem, decidir “sumir para o mundo”? É assim, antes de qualquer coisa, que deve ser analisada toda a polêmica envolvendo o jovem atacante Walter, do Internacional.

Criticado duramente por Jorge Fossati mesmo após ter resolvido a vida do Inter na estreia da Libertadores, diante do Emelec, Walter decidiu trancar-se em seu apartamento no bairro Menino de Deus, em Porto Alegre. Não compareceu aos treinos, não falou com a imprensa e nem mesmo membros da comissão técnica quis atender. Só se sabia que estava vivo graças à palavra de Teo Constantin, representante do empresário de Walter, Juan Figger, e que acompanha o jogador todo o tempo. Nesta semana e meia, muito se falou sobre o garoto – quase tudo com afobação, visão simplista e falta de noção da realidade.

A primeira versão dava conta que o retorno da mãe Edith a Recife, somado às críticas de Fossati – com quem, segundo consta, Walter não se relaciona bem desde o início do ano –, teriam causado o sobressalto de indignação do atacante. Depois, falou-se em uma possível situação forçada para aumento de salário ou que o jogador fosse negociado, e que até mesmo um clube grande do exterior já havia manifestado interesse.

Entre críticas pelo excesso de peso e até mesmo alegações de que ele estaria gastando o salário mensal de R$ 15 mil consigo e com a namorada, deixando a família sem dinheiro, a cabeça do atacante (e até mesmo a do torcedor, que ficou sem entender mais nada) girou bem mais que 180 graus.

Pouca gente parece se lembrar, entretanto, que se trata, antes de tudo, de um ser humano. Uma pessoa com anseios, medos, incertezas e dúvidas próprias da idade. Quantos não abandonaram a faculdade aos 20 para seguirem carreira completamente diferente? Walter tem, como todo garoto, o direito de errar – ainda mais quando se vem de uma família carente, caso da maioria dos jogadores de futebol. Precisa, mais que punições, reprimendas ou críticas públicas, de aconselhamento.

Lucho Nizzo falou com propriedade, em entrevista publicada esta semana aqui no Olheiros, que sugam demais dos garotos, tratam-nos como adultos e exigem o mesmo que se espera de um profissional de trinta anos. Walter é, neste contexto, o exemplo mais claro desta realidade. Quantos de nós não nos trancamos no quarto após brigarmos com o pai, a namorada ou ouvimos uma bronca do chefe em nosso primeiro emprego? Se Walter pensou, naquele momento, que de nada adiantaria jogar quão bem fosse que jamais seria elogiado, é porque a carga de pressão em cima do jovem já ultrapassou o limite suportável por ele.

Não se pode, obviamente, passar a mão sobre a cabeça em todos os erros, e vale lembrar que seus problemas com a balança não são novos, e até mesmo supostos problemas de comportamento irritadiço e desobediência às ordens são, sim, passíveis de repreensão. O caso da partida contra o Guarani, na Copa do Brasil do ano passado, é exemplar: por ter sido relacionado para o banco de reservas, e não para o time titular, Walter pediu para ser devolvido ao time B. Em 2008, suspeitas de adulteração de idade afetaram o desempenho do atacante. Entretanto, ao passo que muito se fala sobre uma alimentação nada ortodoxa, pouco se lembra da dedicação exemplar que demonstrou em sua recuperação do joelho operado.

Por isso, palavras como as de Fernando Carvalho, de que “este jogador, pela atitude que tem, não tem mais valor de mercado”, são dignas de lamentação e retratam a pequenez do pensamento do dirigente brasileiro, que nivela todos os atletas sob a mesma linha pobre, exigindo deles 101% de aplicação nos deveres e negando-lhes 1% de seus direitos. É a palavra de alguém que parece nunca ter lidado com as dificuldades da vida ou ter aprendido a trabalhar com garotos em formação.

Há de se aplaudir, sob esta perspectiva, a intervenção do presidente da Federação Gaúcha, Francisco Novelletto. O bom relacionamento entre os dois vem do tempo de Walter nas bases do São José, time do dirigente. O telefonema dele foi o único do círculo da bola que o garoto atendeu, e Novelletto o convenceu a receber os representantes de seu empresário. Desde então, Walter saiu do confinamento, assistiu ao jogo do São José e, segundo consta, está mais calmo e voltará aos treinos na próxima semana.

Se o que muitos dizem a respeito da relação ruim de Fossati com outros garotos do elenco for verdade, Walter pode acabar não conseguindo se recuperar do baque, e um empréstimo, como o que já foi ventilado para o São Paulo, poderá ser a melhor solução para respirar novos ares e ver que ele não é mais perseguido que os outros, apenas sofre cobranças como os demais. É certo que, a esta altura, Juan Figger já se arrependeu absurdamente de ter rejeitado a proposta de R$ 10 milhões de um clube espanhol que até mesmo o Inter havia aceitado.

E como muito bem pontou Diogo Olivier, do Zero Hora – que fez o diagnóstico cirurgicamente mais preciso até aqui –, Walter é, antes de culpado, vítima de suas condições precárias, da falta de conhecimento e preparo psicológico e de algumas escolhas erradas. Mais do que qualquer cifra, o que vale agora é a recuperação do homem. Assim que esta etapa for cumprida, ele finalmente poderá ser o jogador que todos esperam (e sabem) que pode ser.