terça-feira, 31 de agosto de 2010

Brasileirão - 40%


Após um pequeno atraso, retornamos com a quarta análise do Brasileirão 2010, chegando ao final do primeiro turno. No post de hoje, relembraremos as rodadas de 13 a 16, que pouco alteraram as posições na tabela, mas foram responsáveis por mais algumas trocas de técnicos.

Destaques: Atuação individual de Elias na vitória do Atlético-GO sobre o Palmeiras, sequência de Emerson e Washington no Fluminense e ascensão do Botafogo

Perebas: Atacantes do Flamengo, sem marcar há seis rodadas, e defesa do Avaí, que tomou oito gols em quatro jogos

Cariocas comandando a festa

A ascensão do Fluminense no pós-Copa se concretizou como a melhor forma do país no momento, transformando o time de Muricy Ramalho no de melhor campanha da história dos pontos corridos. A invencibilidade permanece desde a quarta rodada, um recorde na história do clube. Na última rodada, Emerson e Washington marcaram 3 e 2 gols respectivamente, fazendo o líder abrir cinco pontos de vantagem para o Corinthians, que apesar de manter os 100% de aproveitamento como mandante em um passeio sobre o São Paulo no clássico, segue penando fora de casa, como mostrou nas derrotas para Avaí e Cruzeiro.

Os 10 pontos conquistados pelo líder só não foram a melhor campanha do período porque o irresistível Botafogo de Joel Santana conquistou 100% de aproveitamento e subiu sete posições, com triunfos sobre Ceará, Avaí, Atlético-MG e Atlético-GO, sendo três deles no Engenhão. Jóbson, que retornou em ótima forma, e Maicosuel, que estreou muito bem, deram mais mobilidade a um ataque que sofria com a cadência de Lúcio Flávio, eliminando a dependência de Loco Abreu nas bolas altas. O uruguaio, aliás, ainda não voltou ao time titular, mas a tendência é que Herrera perca a vaga em pouco tempo.

A terceira melhor campanha do período foi de outro carioca, provando o ótimo momento do futebol do estado: o Vasco de PC Gusmão também ainda não perdeu depois da pausa da Copa do Mundo, porém é um time que empata muito - foram 7 até aqui, menos apenas que São Paulo e Palmeiras, que têm 8. O clássico com o Flu foi o melhor jogo do campeonato até aqui, e com o melhor público: 76.205 pagantes, número que dificilmente será alcançado após o fechamento do Maracanã.

O Flamengo, por outro lado, sofre com a falta de pontaria de seus atacantes, sem marcar há seis rodadas, e já possui o segundo pior ataque do campeonato. O Fla somou apenas quatro pontos, caiu para o décimo lugar e é o pior dos cariocas, fato raro na era dos pontos corridos. Para piorar, Rogério Lourenço foi demitido logo quando os reforços Deivid e Diogo chegaram, e Silas será o responsável por tentar reerguer o time, que sofre com o atraso de salários e brigas internas.

A síndrome dos Atléticos e o Ponto G

Se você está sofrendo neste Brasileirão, muito provavelmente torce para algum Atlético ou o nome do seu time começa com G. Coincidência ou não, estes são os times com piores campanhas no momento. De fato, na 14ª rodada os três atléticos chegaram a estar juntos na zona de rebaixamento, mas graças a duas vitórias seguidas (uma delas sobre o Grêmio Prudente), o Atlético-PR conseguiu respirar novamente.

O Atlético-GO, lanterna desde a 5ª rodada, conseguiu uma sobrevida graças a uma inesperada vitória sobre o Palmeiras em São Paulo, somada a um também surpreendente empate com o Inter em pleno Beira-Rio. Contudo, isso só serviu para subir uma posição, deixando a rabeira para o rival Goiás, há nove jogos sem vencer e com cinco derrotas em seis rodadas. Naturalmente, a cabeça de Leão foi colocada a prêmio e o treinador foi demitido após a derrota em casa para o Fluminense, por 3 a 0.

Outro G que não engrena é o Grêmio, que mesmo após a chegada de Renato Gaúcho continua sofrendo. A estreia foi animadora, com vitória sobre o rival direto Goiás, mas duas derrotas seguidas, sendo uma em pleno Olímpico para o Santos com gol nos acréscimos, já acende o sinal amarelo para o tricolor do Sul.

Da mesma forma, o Atlético-MG não consegue se encontrar. Trocando diversas vezes de goleiro e de zagueiros, Luxemburgo não encaixa uma defesa consistente e, com uma das mais vazadas do campeonato (21 gols), somou apenas quatro pontos no período. Por mais que o Galo permaneça na zona de rebaixamento há seis rodadas, não há sinais de que Luxa deixará o clube. O Grêmio Prudente, apesar de ter conquistado uma vitória, foi punido pelo SJTD com a perda de três pontos por escalação irregular na derrota para o Flamengo, e continua rondando a zona de rebaixamento.

Campeões bem, eliminado mal

As conquistas da Copa do Brasil e da Libertadores, que lhes garantiram vaga na Libertadores 2011, poderiam diminuir o ímpeto de Santos e Internacional. Entretanto, os dois campeões seguem bastante interessados no campeonato, apesar das naturais mudanças no elenco. As duas equipes tiveram o confronto direto da 13ª rodada adiado em virtude das decisões, e por isso aparecem com um jogo a menos e, ainda assim, em boas colocações: o Santos é o quarto e o Inter, o quinto.

Por outro lado, o São Paulo, que caiu na semifinal da Libertadores, ainda não se encontrou. Ricardo Gomes saiu, a diretoria efetivou Sérgio Baresi por não encontrar o nome que procura no mercado e o time não engrena: levou um passeio do Corinthians no clássico, empatou sem gols com o Vasco em casa, mostrando o pouco poder ofensivo, e sofreu até mesmo com cobrança de torcedores durante os treinos, algo incomum para o Tricolor, o time a mais cair no período: de 9ºpara 15º. Sem vitórias nas últimas quatro rodadas, a situação já preocupa, estando há três pontos da zona de rebaixamento e, neste momento, muito longe da Libertadores 2011 - ausência que seria a primeira desde 2003.

Confira os números e a comparação com os campeonatos anteriores. Voltaremos com a análise do final do primeiro turno.

16ª rodada

Melhor ataque
2010: Fluminense (28 gols)
2009: Barueri (33)
2008: Vasco (30)
2007: Botafogo (35)
2006: Paraná (30)

Melhor defesa
2010: Ceará (9 gols)
2009: Palmeiras (14)
2008: Grêmio (12)
2007: São Paulo (7)
2006: Santos (14)

Pior ataque
2010: Ceará (12 gols)
2009: Fluminense (13)
2008: Atlético-PR (15)
2007: América-RN e Grêmio (14)
2006: Fortaleza (10)

Pior defesa
2010: Atlético-MG (28 gols)
2009: Náutico (34)
2008: Portuguesa (32)
2007: América-RN (14)
2006: Ponte Preta (31)

Gols e média
2010: 384 (2,41)
2009: 453 (2,86)
2008: 434 (2,71)
2007: 445 (2,87)
2006: 411 (2,56)

Artilheiros
2010: Bruno César (Corinthians) - 8 gols
2009: Val Baiano (Baueri) e Diego Tardelli (Atlético-MG) - 9 gols
2008: Alex Mineiro (Palmeiras) e Kléber Pereira (Santos) - 10 gols
2007: Josiel (Paraná) - 12 gols
2006: Dodô (Botafogo) - 9 gols

Série de vitórias atual: Botafogo (5)
Série invicta atual: Fluminense (13)
Série de derrotas atual: Goiás (3)
Série sem vencer: Goiás (9)

domingo, 29 de agosto de 2010

Vieram, viram e não venceram


Campanha do Fla mostra que ter jogadores da base nem sempre é sinal de sucesso


Marcelo Lomba; Rafael Galhardo, Fabrício, Welinton e Jorbison; Rômulo, Antônio e Lenon; Guilherme Camacho; Vinícius Pacheco e Diego Maurício. A estranha escalação não seria reconhecida nem mesmo pela maioria dos torcedores do Flamengo, mas ela representa os frutos das categorias de base rubro-negras. São os onze jogadores do elenco atual que foram criados no Ninho do Urubu, curiosamente um em cada posição. Poucos são os clubes brasileiros que se dão ao luxo de dispor de tanto pé-de-obra feito em casa quanto o Fla, mas no complicado momento que vive o time no Brasileirão, a validade desta linha de produção é colocada em xeque.

Não é normal imaginar o Flamengo como o pior dos grandes cariocas em qualquer campeonato. Afinal, por mais que a equipe atual seja apenas uma mera lembrança da que arrancou rumo ao hexa no ano passado, o Fla tem sua mística e a força da torcida, que faz grupos medianos alcançarem o que parece impossível aos adversários.

Contudo, a transformação pela qual passa o time é muito mais profunda. Como é natural em todo campeão brasileiro, a tendência a desmanchar o elenco atingiu a Gávea – pelos mais distintos motivos, dos titulares saíram Bruno, Álvaro, Zé Roberto, Aírton e Adriano.

Repor tanta gente assim de uma vez sem deixar o nível cair é muito difícil, e é aí que a base costuma ser lembrada, para o bem ou para o mal. Marcelo Lomba, por exemplo, que finalmente tem sua grande chance aos 23 anos, sofreu apenas quatro gols em dez jogos neste ano, mas poucas vezes é valorizado. O problema principal reside no ataque, o segundo pior do campeonato, que não marcou em cinco dos dezesseis jogos e só fez mais de um gol na segunda rodada – aí, se Lomba sofre um gol por jogo, é quase derrota certa.

As crias de casa para o ataque realmente não têm dado conta do recado. Vágner Love e Adriano juntos fizeram 38 dos 76 gols marcados até aqui (exatamente a metade), e o terceiro na tábua de artilheiros na temporada era Bruno Mezenga, com quatro, mas que já foi embora. Depois dele, outro rebento rubro-negro: Vinícius Pacheco. Mas o meia-atacante só marcou no Carioca e de lá para cá já perdeu toda a moral que havia reconquistado.

Mais que atacantes, o problema principal do Flamengo é a armação das jogadas, já que Pet não aguentará a maratona de jogos às quartas e domingos que se aproxima. Coincidentemente, é justo na meia que o time está mais carente de revelações, já que Vinícius Pacheco não agradou na posição e Guilherme Camacho ainda parece muito novo. Fala-se em subir Carlyle aos profissionais, mas ainda é cedo demais.

Outro problema é a queda de produção dos laterais, especialmente Juan, que depois de ter sido convocado para a seleção brasileira nunca foi o mesmo. Em que pese a mudança do esquema tático dos tempos de Joel, em que o time atuava com três zagueiros e liberava os avanços da dupla, o Fla de Andrade foi campeão com linha de quatro, portanto a culpa não é de Rogério Lourenço, demitido após outra fraca atuação no meio de semana.

Lourenço, aliás, teve pouca culpa no desempenho ruim da equipe enquanto esteve no comando – foi mais vítima da falta de talento disponível do que de sua incapacidade técnica, sem contar os contracheques do futebol carioca que devem durar noventa dias e desestimulam muitos jogadores. Chama a atenção, entretanto, o fato de ele não ter conseguido extrair mais dos garotos num momento propício para utilizá-los, dado o extenso currículo que o ex-treinador da seleção brasileira sub-20 tem nas bases.

É verdade que ele foi bem no início, eliminando o Corinthians da Libertadores e dando espaço para os garotos – com ele, Rômulo logo virou titular, mas acabou queimado pela péssima exibição diante do Universidad de Chile em casa, que custou a eliminação nas quartas de final do torneio continental. O volante só voltaria a atuar após a Copa do Mundo, e só porque Toró estava machucado e Corrêa ainda não tinha sua estreia liberada.

Lourenço, como conhecedor do trabalho, poderia ter trabalhado melhor a cabeça do menino, ou ainda não deveria ter arriscado tanto ao lançá-lo em jogos tão complicados. É fato que a análise parece mais fácil depois do ocorrido, mas havia um exemplo ainda fresco na memória do torcedor: no ano passado, antes da arrancada de Andrade, o Fla era um mar de desfalques e a garotada teve que assumir a bronca, chegando a perder três jogos seguidos (1x4 Grêmio, 1x2 Cruzeiro e 0x3 Avaí) com Lenon, Jorbison, Rafael Galhardo e Welinton no time.

Welinton, talvez, tenha sido um dos mais injustiçados pelo agora ex-treinador flamenguista. Afinal, de todo o elenco rubro-negro, ele era talvez quem Lourenço conhecesse melhor, por ter trabalhado junto na seleção sub-20. Ainda assim, só virou titular após as saídas de Fabrício e Álvaro, enquanto David não acertava a renovação de seu contrato.

Agora, quando reforços como Diogo e Deivid chegam, Rogério Lourenço sai. O novo treinador, seja quem for, olhará para o elenco e não verá muito a mais para se trabalhar do que seu antecessor. Com o horizonte de uma campanha mais modesta do que a dos últimos anos pela frente, o Fla pode acabar constatando que o trabalho em suas bases não era tão bom quanto se pensava, afinal por duas vezes suas revelações foram exigidas e não corresponderam. Conforme havia prometido, Zico terá realmente muito trabalho para colocar o Ninho do Urubu no galho certo, sob o risco de ser perder tempo, dinheiro e outra ninhada inteira.

sábado, 21 de agosto de 2010

Os meninos do Vovô

Com bases reformuladas, Ceará é campeão estadual sub-18 pela primeira vez
Publicado no Olheiros

Ficar atrás do maior rival nunca é bom para o clube e seus torcedores, especialmente em cidades ou estados em que as potências se resumem a apenas duas, como é o caso de Ceará e Fortaleza. Após anos relegado à segunda divisão ao passo que o Tricolor do Pici protagonizava boas campanhas no profissional e na base, o Vovô inverteu a maré: enquanto surpreende na Série A e vê o Leão amargar a terceirona, começa a colher frutos também nas divisões inferiores. No último domingo, o time sub-18 foi campeão estadual em pleno Castelão, justamente em cima do maior adversário.

>>> Desmandos da diretoria fazem Fortaleza perder safra promissora

A campanha foi irrepreensível: dez vitórias e três empates, com incríveis 49 gols marcados e apenas 10 sofridos, que valeram a vantagem de atuar por um empate no jogo único da decisão. O gol de Samuel aos 28 minutos do primeiro tempo chegou a assustar, mas Juninho de pênalti, na segunda etapa, garantiu o 1 a 1 e o caneco merecido. A semifinal foi ainda mais emocionante: após estar perdendo por 2 a 0 para o Ferroviário até os 45 do segundo tempo, Alanzinho marcou duas vezes nos acréscimos para garantir a classificação graças à melhor campanha na primeira fase.

Outros destaques foram o meia Paulinho, artilheiro do time com nove gols e já cotado a subir aos profissionais, e o goleiro Gustavo, de apenas 16 anos, mas que teve oportunidade como titular do time após a ida de Elvis e Gian Lucas ao time principal. O caçula da equipe foi tão bem que, ao chegar às finais, a comissão técnica chegou a liberar Elvis, titular inicial, mas Gustavo já estava firme na posição.

O título não foi comemorado apenas por ser conquistado sobre o rival. Surpreendentemente, este é o primeiro cearense sub-18 do alvinegro, que nos últimos anos sequer chegou à decisão do campeonato. A forma como veio o triunfo, invicta e com campanha irrepreensível, foi resultado sim da qualidade dos jogadores, mas principalmente da reformulação pela qual passaram as categorias amadoras da agremiação.

No passado recente, o domínio das bases no estado foi dividido entre Fortaleza, Ferroviário, Uniclinic e Estação, clube que não atua no profissional, somente com garotos. A quase inexistência do Ceará na disputa real por títulos nos últimos anos coincidiu com a política de terceirização da base imposta pelo antigo presidente, Eugênio Rabelo. Em parcerias com alguns empresários, o mandatário praticamente arrendou as categorias inferiores, abrindo espaço aos jogadores destes agentes, que utilizavam a estrutura para lançar os atletas sem reverter dinheiro aos cofres do clube.

As atitudes de Rabelo à frente da presidência do Ceará foram muito contestadas. Eleito deputado federal em 2006, foi acusado de fazer parte do escândalo de passagens aéreas do Congresso, acusado juntamente com o deputado federal Paulo Roberto de reter parte dos salários de seus assessores. No entanto, o parlamentar e presidente do clube foi inocentado após a corregedoria da Câmara descobrir que as fraudes eram cometidas por uma ex-funcionária.

Adversário político de Rabelo dentro e fora do clube, Evandro Leitão assumiu a presidência no início de 2008 e prometeu uma série de mudanças, tentando sanar dívidas e aumentar o programa sócio-torcedor. Para as bases, convidouEdmundo Silveira, técnico famoso no meio por ter trabalhado com nomes como Jardel e Iarley, quando ainda no Ferroviário, e Cristian e Rever, no Paulista de Jundiaí, além de reformular completamente o trabalho de formação.

Partindo do zero, o Vovô montou novas equipes através de inúmeras peneiras através do estado – nesta semana mesmo, foi anunciada nova seleção de garotos nascidos em 1996 para a categoria sub-14 –, aceitando também a indicação de empresários, mas segundo a diretoria, agora com participação do clube em possíveis transferências. Com isso, o Ceará conta atualmente com equipes amadoras desde o sub-14 até o sub-20, fato raro no Nordeste.

A conquista do estadual foi o primeiro fruto deste novo trabalho. A equipe deverá formar a base da disputa da Copa São Paulo de 2011 com boas perspectivas para finalmente passar da primeira fase, já que em 2009 o Vovô retornou à competição após 31 anos de ausência. Além disso, o time júnior vive a expectativa de disputar o Brasileiro Sub-20, em dezembro, também sob o comando de Silveira – sem contar a equipe sub-16, que tem novo técnico: o veterano Sérgio Alves, que pendurou as chuteiras e agora tentará passar sua experiência aos meninos. Após muito tempo apenas contando histórias, parece mesmo ser o momento de o Vovô colher frutos com seus garotos.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Finalmente, o novo Vasco

Chegada de PC Gusmão e reforços afastam o clube da zona de rebaixamento

O frio de julho e agosto parece estar fazendo bem aos cariocas, acostumados com praia e altas temperaturas. Afinal, após a pausa da Copa do Mundo, as duas melhores campanhas vêm da cidade maravilhosa. A primeira, do Fluminense, apenas confirma o fator Muricy, que encaixou em um elenco já entrosado e agora recheado de ótimos jogadores.

Mas a segunda melhor campanha das últimas sete rodadas surpreende à maioria - e salta aos olhos em um primeiro momento. O Vasco de PC Gusmão conquistou 15 dos 21 pontos disputados até agora, e ainda não perdeu no pós-Copa: foram quatro vitórias e três empates.

Curiosamente, PC é o único técnico invicto deste Brasileirão. Enquanto no Ceará, não foi derrotado e chegou a ser líder. Agora em São Januário, onde começou a carreira, conseguiu tirar o time da vice-lanterna para colocá-lo na nona colocação, começando a sonhar com uma antes improvável vaga na Libertadores.

O sonho ainda é quase uma utopia, considerando as limitações financeiras e até mesmo técnicas da equipe - que ainda ressente demais a falta de zagueiros de maior qualidade. Contudo, com uma das maiores movimentações da janela de transferências, o Vasco revigorou seu setor ofensivo com diversas opções interessantes, que dão a PC a famosa "dor de cabeça boa".


A chegada de Felipe, Nunes, Zé Roberto e Éder Luís diminuiu a dependência de Carlos Alberto, que se viu às voltas com lesões no primeiro semestre - e tão logo voltou, já recebeu seu primeiro vermelho. Entretanto, nas primeiras rodadas pós-Copa os reforços vindos do exterior não puderam atuar, e os garotos recém-campeões estaduais da categoria júnior deram conta do recado: foram cinco estreias desde junho, com Carlinhos, Max, Rômulo, Jonathan e Nilson. De todos, Rômulo foi quem demonstrou maior personalidade e, devido à ausência de outras opções no setor, conquistou a titularidade.

A verdade é que este é, de fato, um novo Vasco, finalmente livre das amarras da Série B. Jogadores que pouco acrescentavam, como Rodrigo Pimpão, Jéferson e Robinho foram dispensados, dando lugar a novas caras que transformaram a equipe.

Do time do ano passado, PC manteve apenas o essencial: Fernando Prass, que vive excelente fase (sofreu apenas três gols no período e foi responsável direto por dois empates em 0 a 0), Nilton, que faz importantíssimo papel na cabeça de área, tanto compondo a zaga para o avanço dos laterais como subindo ao ataque, e o esquema tático que deu certo com Dorival Júnior: um 4-3-1-2 com atacantes de movimentação, apoio dos laterais e muita pegada no meio-campo. Outros remanescentes, como o zagueiro Fernando e o lateral Ramon, ainda não se firmaram devido a lesões.

Com o time atual, PC consegue bloquear os adversários no meio, utilizando um Rafael Carioca muito mais preso à marcação do que o volante estava acostumado nos tempos de Grêmio. Felipe, que naturalmente cai para a esquerda, tem opções de jogo porque tanto Carlinhos quanto Max, laterais jovens, têm fôlego para avançar a todo instante. E sem atacante fixo, as alternativas são muito maiores, confundido a zaga adversária.

Se um dia o Departamento Médico vascaíno conseguir se esvaziar, pensa-se em um time titular com Fernando e Titi na zaga, Fágner e Ramon nas laterais. A grande dúvida é se PC escalaria Felipe, Carlos Alberto, Zé Roberto e Nunes juntos, abrindo mão de um volante no meio - que hoje teria de ser Rômulo. Inicialmente, talvez seria melhor manter o padrão atual, já que Carlos Alberto e Felipe podem precisar revezar, quando as rodadas de meio de semana voltarem. Assim, os outros jogadores também participam, permanecem motivados e ajudam a equipe.

De qualquer forma, o novo Vasco que se apresenta parece muito mais com os Vascos de antigamente, que davam alegrias ao torcedor, do que os times recentes - ainda que esteja longe da equipe vencedora que foi nas décadas passadas.

sábado, 14 de agosto de 2010

Revelar, mas também vencer

Sub-17 do Desportivo Brasil conquista terceiro lugar na Milk Cup e vai bem no Paulista

Publicado no Olheiros

Conciliar a formação e revelação de talentos com as exigências de competitividade cada vez maiores dos torneios da base é um desafio constante para os clubes, e também a dicotomia que permeia o trabalho das divisões inferiores – a recorrente polêmica sobre o Ranking Olheiros, ao avaliar os resultados obtidos, é o maior exemplo disto. Portanto, quando se consegue atingir os dois objetivos, o trabalho merece reconhecimento.

Dentro da categoria sub-17, uma das equipes que mais tem se destacado em 2010 é o Desportivo Brasil. Comandado desde o início do ano por Rodrigo Leitão, que assumiu o boné depois que Waldemar Privati foi chamado para treinar o profissional, o time fez uma das melhores campanhas na primeira fase do paulista da categoria e chamou a atenção na Milk Cup, disputada recentemente na Irlanda do Norte.

“O Desportivo Brasil tem uma estrutura física e organizacional muito bem desenhada. Tudo é planejado. Isso nos permite antecipar possíveis problemas e lacunas dentro do processo. Quando assumi a equipe, bastou entender como funcionava esse processo e contribuir para sua evolução”, afirma o técnico.

Bem diferente do grupo que caiu nas oitavas de final na Copa São Paulo ante o Palmeiras – alguns foram alçados ao time sub-20 e outros, como o volante Ewerthon, o meia Serginho e o atacante Jonathan Cafu, direto ao profissional que disputa a Segundona estadual –, o elenco foi formado com promovidos do sub-15 e recém-chegados que foram pinçados pela vasta rede de observadores através do país, coordenados por Pita, ex-camisa 10 do Santos que participa do projeto desde a fundação do Desportivo, em 2005.

“Aqui rastreamos, detectamos, recebemos e desenvolvemos talentos. Então sempre temos espaço para bons jogadores, estejam eles no primeiro ou segundo ano de uma categoria. Quando todo o processo funciona bem, não há muitas perdas de uma categoria para outra. As equipes estão sempre, e ao mesmo tempo, formadas e em formação”, acrescenta Leitão.

No Paulista Sub-17, os meninos da Traffic fizeram uma das melhores campanhas da primeira fase, acumulando oito vitórias, quatro empates e duas derrotas – foram 37 gols marcados e apenas 13 sofridos em 14 partidas, contra equipes tradicionais do interior como Guarani, Ponte Preta, Rio Branco e XV de Piracicaba. Destaque para as duas goleadas nas rodadas iniciais: 9 a 1 sobre o Primavera e 8 a 0 sobre o XV.

O artilheiro do time é Lucas Silva, atacante de 1,81m e 83kg nascido em Bauru, que já marcou oito gols. Depois dele, os meias Alexandre e Gustavo têm quatro cada. No início da segunda fase, vitória tranquila sobre o José Bonifácio por 3 a 0 e empate sem gols com a Francana. Na manhã deste sábado, o principal desafio da equipe até aqui: duelo contra o Santos, ainda invicto na competição. O objetivo é ir ainda mais longe que em 2009, quando caiu na terceira fase.

Sucesso no exterior

A participação na segunda fase do Paulista teve de ser adiada por uma boa causa: o clube participou, pelo segundo ano consecutivo, da Milk Cup, um dos principais torneios internacionais da categoria, realizado desde 1983 e que teve em 2007 o Fluminense como campeão.

Na estreia, vitoria convincente sobre o Cruz Azul, do México, por 4 a 0. Depois, outra demonstração de força, ao fazer 2 a 0 sobre o County Down, time da casa. A primeira fase terminou com a melhor campanha dentre as 24 equipes, e no primeiro jogo eliminatório, virada de 2 a 1 sobre o Aspire, que havia surpreendido ao eliminar o Manchester United. Finalmente, na semifinal, jogo muito disputado contra o Bolton, dono da segunda melhor campanha, e em uma partida marcada pelo alto número de faltas, os ingleses prevaleceram, vencendo por 1 a 0.

Ao bater o Donegal por 3 a 0 na disputa do terceiro lugar, a equipe do Desportivo Brasil ganhou não apenas a medalha de bronze, mas terminou com o melhor retrospecto geral do torneio, melhor ataque, melhor defesa e muitos elogios gringos. Rodrigo Leitão baseou sua equipe em um 4-1-4-1, oscilando para um interessante 5-1-3-1 com o placar favorável e um 3-4-3 contra o Bolton, no segundo tempo – só nesta etapa, foram 17 finalizações contra três do adversário.

Mais do que o resultado, a experiência adquirida pelos jogadores é única, garante o treinador. “Ter contato com diferentes culturas e modelos de jogo contribui para o desenvolvimento pessoal e profissional dos jogadores, estejam eles em formação ou no primeiro time. Em uma competição internacional, as diferenças são mais acentuadas – os desafios, os conflitos e os problemas a serem resolvidos no jogo são bem diferentes daqueles normalmente enfrentados”, diz. É esperar para ver o que este time ainda pode alcançar, tanto no Paulista como na Copa São Paulo do ano que vem.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Brasil de Mano joga como gente grande, vence EUA e inicia resgate do bom futebol


Com uma exibição que, além de sorrisos, despertou um enorme "SE" na cabeça do torcedor, a seleção brasileira venceu os Estados Unidos por 2 a 0, em New Jersey, na estreia de Mano Menezes como técnico. Afinal, quantos não pensaram, após o futebol bem apresentado, que a história do Brasil na Copa de 2010 poderia ser muito diferente se jogadores como estes estivessem no grupo?

Primeiro tempo

Brasil no 4-2-3-1 quase 4-3-3; EUA no 4-4-2 da Copa

Como esperado, o time brasileiro começou a partida ansioso e nervoso - natural para uma equipe que tinha quatro estreantes. Entrosados por conterem no elenco 15 participantes da boa campanha na Copa do Mundo, os Estados Unidos começaram pressionando, com Donovan atuando mais à frente, como atacante (diferente do meia aberto pela direita que foi na África do Sul), e em um momento de hesitação de David Luiz, por pouco não abriu o placar nos minutos iniciais.

Aos poucos, o Brasil se acalmou na partida e a troca de passes, pedida constantemente por Mano Menezes, começou a fluir. Lucas e Ramires acertaram a marcação no meio e os Estados Unidos passaram a ter mais dificuldades em criar jogadas. Outro ponto que parece ser característica deste time do ex-técnico do Corinthians é a constante troca de posições: inicialmente mal, David Luiz foi para a direita, enquanto Thiago Silva passou para a esquerda.

A dupla inverteu bastante durante a primeira etapa, assim como Neymar e Robinho, abertos pelos lados. E foi pelos lados que saiu o primeiro gol, aos 27, em boa assistência de André Santos, que cruzou na medida para Neymar - na direita, exatamente após troca com Robinho. Mais emblemático para a "era Mano Menezes", impossível.

Após o gol, o Brasil passou a dominar e só não ampliou com Pato quatro minutos depois porque o atacante do Milan empurrou Howard na dividida final. Contudo, o gol viria mais tarde: Já nos acréscimos, Ganso toca para Ramires, que lança na medida para o ex-marido de Stephany Brito driblar Howard e tocar para o fundo das redes. Vitória parcial mais que merecida.

Segundo tempo

Na volta do intervalo, os Estados Unidos promoveram três mudanças (inclusive no gol), mas o jogo pouco se alterou nos primeiros quinze minutos: domínio brasileiro, com ainda mais velocidade nas trocas de passes, e até mesmo aumento na dificuldade da seleção norte-americana de chegar à área brasileira.

Aos 14, Ramires, que pareceu sentir alguma pequena lesão, deu lugar a Hernanes. O Brasil tirou um pouco o pé e tocou mais a bola, e Hernanes avançou mais que Ramires fazia. Em determinado momento, a seleção brasileira trocava passes com oito jogadores no campo de ataque, e todo o time estadunidense marcava atrás da linha da bola.

Com muitas mudanças, o Brasil passou a cadenciar o jogo, e por pouco não ampliou em chutes de Ganso e Robinho na trave, além de chance incrível perdida por Carlos Eduardo. A nota triste ficou pela contusão de Ederson, que jogou apenas trinta segundos e saiu. Daniel Alves, muito mal tanto defensiva quanto ofensivamente, era o único a destoar do restante.

Ao final, fica um saldo imensamente positivo da vontade de vencer da equipe, do resgate do bom futebol e, principalmente, da certeza de que este time ainda pode evoluir muito, por ser um time extremamente jovem e que ainda sequer entrosou completamente.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Candidato número 1

Com a cara de Muricy, Fluminense desponta como favorito do momento ao título brasileiro

Treze rodadas podem parecer pouco, mas após os jogos do final de semana já chegamos a um terço do Brasileirão 2010. E após mais uma vitória convincente e outra rodada na liderança, o Fluminense de Muricy Ramalho desponta como o primeiro candidato, de fato, ao título nacional da temporada.

A cada ano, Muricy parece se especializar ainda mais em pontos corridos. Ao chegar aos 29 pontos em 13 rodadas, o Flu (o único a não ter mudado de técnico entre os seis primeiros colocados, contrariando a tendência de que, na largada do campeonato, quem começa bem não troca o comando) igualou a melhor marca da competição de 2003 até aqui: em 2006, o São Paulo (adivinha de quem?) atingiu desempenho semelhante - 9 vitórias, 2 empates e 2 derrotas - e sagrou-se campeão ao final do ano.

Outro dado importante: oito pontos à frente do Ceará, esta é também a maior vantagem para o terceiro colocado da era dos pontos corridos, superando em muito a melhor marca anterior, de quatro pontos em 2004 e 2009.

Mais do que isso, o Flu mostra neste ano a força fora de casa que Muricy não conseguiu emplacar no Palmeiras, e que foi a principal responsável pelo tricampeonato conquistado no Morumbi: já foram vitórias sobre Atlético-MG, Santos, Avaí e Grêmio até aqui, que conferem ao Tricolor a melhor campanha como visitante (4 vitórias, 1 empate e 2 derrotas, logo quando Muricy assumiu e antes da pausa para a Copa do Mundo).

Em três meses de trabalho, o treinador parece já ter o time na mão e na cabeça: manteve o 3-4-1-2 de Cuca e que ele sempre gostou de utilizar no São Paulo, aproveitando-se da excelente fase de Mariano, um dos líderes de assistências do país no ano (13 no total), e do meia que, em Darío Conca, nunca teve nos tempos de Morumbi. Dá-se ao luxo, entre outras coisas, de dispôr de volantes bem menos elogiados do que Jean, Hernanes ou Richarlyson, e seja com Diguinho, Diogo ou Fernando Silva, tem dado conta do recado. Nome por nome, a zaga também não é lá grande coisa: Gum é ídolo desde sua primeira partida, mas Leandro Euzébio e, principalmente, André Luís, estão longe de serem unanimidades.

O Flu contra o Grêmio: velocidade com Mariano, sustentação ao trabalho de Conca e movimentação de Emerson (imagem do Blog de Mauro Beting)

O Fluminense de Muricy Ramalho tem muito dessas consistências de conjunto, time que dá liga e ganha títulos: outrora perseguido e quase negociado, Fernando Henrique reconquistou a posição de titular e não mais cometeu falhas, comandando a segunda melhor defesa do campeonato, que sofreu só nove gols até aqui - outra característica dos times do professor. Some-se a isso a incrível forma de Emerson, que saiu do Flamengo deixando saudades e retornou ao Rio mostrando porque: foram três gols em três jogos.

O leitor tricolor não deve se desesperar ao ler este texto e não ver a menção aos quatro principais jogadores do elenco. Pois é, além de tudo isso, o Flu tem quatro jogadores que, juntos, transformam o time no mais forte do país no papel: Belletti, que estreou com uma certa dificuldade para se readaptar mas que tem vaga garantida; Fred, que apesar das contusões, sempre comparece quando está em campo; Washington, que deve aproveitar as ausências do 9 titular e marcar os gols que a equipe precisa; e Deco, que para o futebol brasileiro atual é um extra-classe de de quem muito se espera.

O que dizer de um time com Fernando Henrique; Gum, Leandro Euzébio e André Luís; Mariano, Belletti, Deco e Júlio César; Darío Conca; Emerson e Fred?

O empolgado torcedor tricolor que o diga.

sábado, 7 de agosto de 2010

Para ganhar asas

Publicado no Olheiros

A negociação de jovens promessas do futebol brasileiro com a Europa já é tão corriqueira que muitas destas transferências passam desapercebidas pelo torcedor. Entretanto, quando um jogador, em sua entrevista coletiva final, se despede aos prantos dizendo que deixa o clube querendo ficar, como foi o caso de Alan, vendido esta semana pelo Fluminense ao Red Bull Salzburg, volta à tona a discussão do amor à camisa que se perdeu com o tempo.

“É difícil me despedir, pois você convive muito tempo com as pessoas e pega um carinho até um certo amor por todos aqui dentro. Nunca esquecerei de tudo que vivi no Fluminense. Estou indo, mas meu coração fica. Espero que não seja um adeus, mas um até logo. É o clube que amo e espero um dia voltar, pois aprendi a amar tudo que tem relação com o Fluminense”, disse o atacante de 21 anos antes de acabar-se em prantos e a entrevista ser interrompida.

O apego de Alan pelo Fluminense não é à toa: trazido do Londrina para a base de Xerém, estreou nos profissionais ainda em 2007, com 18 anos, e até hoje ostenta a boa marca de 26 gols em 87 partidas. Foi fundamental na recuperação tricolor que livrou o clube do rebaixamento, marcando sempre em momentos importantes, como no triunfo sobre o Vitória nas últimas rodadas e na semifinal da Copa Sul-Americana contra o Cerro Porteño. Neste ano, era o vice-artilheiro do Flu com dez gols, e marcou quatro no Brasileirão, inclusive o da vitória sobre o Santos.

Sua negociação pouco tem a ver com o Fluminense, mas muito com a Traffic: em um momento de baixa de Alan e de seu companheiro Maicon, ambos tiveram porcentagens de seus direitos federativos ao grupo de J. Hawilla. No momento da venda ao Red Bull Salzburg, a Traffic possuía 75% destes direitos, tendo portanto voz de decisão sobre qualquer proposta que aparecesse.

Mas Alan não precisa chorar. O futebol austríaco não possui, de fato, uma das ligas mais fortes da Europa – e talvez este tenha sido outro motivo pelo qual a transferência chamou a atenção: dentre tantas negociações absurdas, Alan tem potencial para atuar em campeonatos maiores. Mas em Salzburgo, cidade pequena e longe da agitação e distração que o Rio oferece, o atacante terá a oportunidade de se desenvolver em um ambiente propício a jogadores com suas características.

Atual bicampeão nacional, o Red Bull, do bilionário empresário de bebidas energéticas Dietrich Mateschitz, surgiu em 2005 após a aquisição do antigo SV Salzburg, tradicional clube que passava por profunda crise financeira. Seu moderníssimo estádio foi inaugurado na Euro 2008 e possui a maior média de público da liga local, superando os tradicionais Rapid e Austria Viena. Mais do que isso, tem a melhor estrutura do país e oferece todo o suporte aos atletas, algo fundamental na difícil adaptação de Alan a lugar e idioma totalmente diferentes.

Dependendo de como chegar ao clube, poderá logo de cara disputar a última fase preliminar da Liga dos Campeões, em duelo com o Hapoel Tel-Aviv, de Israel – experiência fundamental para sua evolução. Mesmo que a equipe seja eliminada novamente neste estágio, disputará a fase de grupos da Liga Europa, outra ótima oportunidade para Alan mostrar seu potencial.

E por que ele deve ter chances assim que chegar? O Red Bull acaba de negociar Marc Janko, destaque da equipe, titular da seleção austríaca e segundo maior artilheiro da Europa na temporada 2008/09. Até aqui, nem Roman Wallner, contratado em janeiro, nem o já veterano de casa Robin Nelisse agradaram totalmente a Huub Stevens, um técnico que gosta muito de dar espaço aos garotos – foi com ele que Podolski estourou de vez no Colônia, campeão da 2. Bundesliga em 2004/05.

Stevens tem em mãos um elenco talentoso para o padrão local e que busca afirmação continental, com outros jovens como Jakob Jantscher, revelação que chegou recentemente à seleção principal. O Red Bull é quase uma seleção do resto do mundo – são ao todo 17 nacionalidades diferentes, e nesta Torre de Babel Alan poderá se aproximar dos conterrâneos sul-americanos Joaquín Boghossian, uruguaio que se destacou no Newell’s Old Boys, e Gonzalo Zárate, argentino que saiu cedo de casa rumo aos Alpes.

Com o alcance midiático, a vasta rede de clubes parceiros e a ambiciosa meta de se tornar figurinha carimbada na Liga dos Campeões em pouco tempo, o Red Bull Salzburg possui todas as características necessárias para oferecer a Alan a chance de criar asas e se transformar em um jogador de futebol até melhor do que muitos apostavam que ele poderia ser. Basta agarrar a oportunidade e ir sem pensar tanto em voltar.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Análise: em duelo de guerreiros, Inter avança à final da Libertadores

O Internacional foi valente como de costume para garantir uma classificação à final da Libertadores e ao Mundial de Clubes no critério do gol fora, ao perder para um São Paulo poucas vezes tão aguerrido. Um jogo maravilhoso, que deixa no ar a questão: por que o futebol brasileiro tem tanto sucesso internacionalmente com seus clubes, mas não consegue repetir o feito com a seleção?

Como esperado, no início do jogo o São Paulo tentou abafar o Inter na defesa, mas o time gaúcho estava bem fechado e postado em campo, fazendo marcação dupla que dificultava a troca de passes. Entretanto, a saída colorada era dificultada porque o Tricolor avançava a marcação no campo adversário.

Inter no 4-2-3-1 esperado; SP cauteloso, apesar de precisar do resultado

Com Dagoberto aberto pela esquerda e Hernanes muito marcado no meio, o São Paulo concentrava as ações apenas por um lado, apostando na fragilidade defensiva de Nei. Ricardo Oliveira se posicionava colado em Índio, pior no jogo aéreo que Bolívar, mas não houve bolas alçadas até os 22 minutos - e quando houve, foi em cobranças de falta.

Pressionado, o Inter buscava socorro nos chutões para a frente, especialmente de Renan, mas que não encontravam receptor para prender a bola na frente - Alecsandro não fazia o pivô e Tinga estava muito disperso. Os primeiros lances de perigo foram em chutes de fora da área, aos 14, com Tinga, e aos 15, com Hernanes. Taison, sumido pela esquerda no 4-2-3-1 de Roth, pegou na bola a primeira vez aos 20 minutos, para arriscar rasteiro de fora da área que acabou se configurando na mais real chance de gol gaúcha da primeira etapa.

O São Paulo não chegava porque era um time mais preso em seu 4-3-1-2 que o Inter, mais versátil, com inversões constantes entre Sandro e Guiñazu, privilegiando a saída de bola pelo lado mais favorável, e com trocas constantes entre Tinga, D'Alessandro e Taison, que confundiam a marcação. O gol saiu da única maneira que poderia: em bola parada e no detalhe, a infelicidade do goleiro Renan que falhou bisonhamente e soltou a bola na cabeça de Alex Silva. A bola ainda bateu na trave e por pouco não entrou.

Após o gol, as equipes não mudaram seus posicionamentos, mas o Sâo Paulo, embalado pelo bom momento, foi mais para cima. Contudo, o ritmo não se alterou até o final da primeira etapa.

Segundo tempo


Roth aproxima trio de meias; SP não muda

Para o segundo tempo, Roth inverteu Taison com D'Alessandro e aproximou a linha de meias, travando a saída de bola são-paulina. Deu certo de início: Taison sofreu falta na direita. D'Alessandro cobrou, a bola desviou em Alecsandro e pegou Rogério Ceni no contrapé. Porém, o empate durou apenas um minuto: em nova bola alçada na área, a defesa cortou mal, Ricardo Oliveira recebeu em condição legal graças à desatenção de Nei na saída e chutou na saída de Renan.

A partir daí, o São Paulo partiu de vez para cima, forçando ainda mais na bola aérea. O jogo ficou dramático e o Tricolor tentou mais na base da raça que na técnica ou tática. Tinga foi expulso, o jogo tomou ares de drama, mas o Inter comemorou novamente em cima dos paulistas - e voltará ao Mundial de Clubes.

Nos minutos finais, pressão total: SP num 4-1-4-1, Inter no 4-3-2 sem Tinga

Merecidamente, pois é mais time. Mas o São Paulo foi mais time do que tem sido até aqui durante o ano. E fica a pergunta, talvez na saída de Ricardo Gomes: por que não jogar assim no Beira Rio? Ou em outros gramados.

A resposta ainda será dada.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Brasileirão: 30%

O Brasileirão ainda nem engrenou e já chegamos praticamente a um terço do campeonato. Por isso, nada melhor que analisar o desempenho das equipes nas últimas rodadas e traçar um panorama do que pode acontecer na virada de turno. Com muitas novidades nos elencos após a pausa da Copa do Mundo e a abertura da janela de transferências internacionais, os times vêm bastante alterados e o equilíbrio de forças pode mudar.

A nota negativa é a escassez de gols: temos, a esta altura, a pior média desde 2006, com apenas 300 gols e 2,5 por partida. Os artilheiros estão modestos, e com seis gols, é o menor índice de artilharia também dos últimos cinco anos. Apenas como comparação, enquanto Avaí e Corinthians têm os melhores ataques do certame com 21 tentos anotados, os mesmos 21 gols confeririram a eles apenas a sexta colocação entre os ataques mais produtivos no ano passado.

Como de costume desde 2007, nossa análise se baseia no período de quatro rodadas. Entretanto, como o calendário ficou dividido, faremos uma revisão excepcional de cinco rodadas desta vez, da 8ª à 12ª. Quem aparece com força é o Fluminense de Muricy Ramalho, que não parece ter sentido o peso de dizer "não" à seleção e manteve seu sólido trabalho no Tricolor. O Flu é hoje um time coeso, que possui uma estrutura definida, de velocidade e forte marcação. Ainda que Muricy precise corrigir a enorme dependência de Conca e atentar às limitações do lento André Luís, a equipe assume a liderança com 26 pontos, a melhor pontuação dos últimos cinco anos (empatado com o São Paulo'06 e o Fla'08), já abre sete pontos para o primeiro time fora da zona de classificação para a Libertadores e vai acumulando gordura.

Com campanha similar, mas em queda de produção nos últimos jogos, o Corinthians vem logo um ponto atrás. O time que vinha vencendo mesmo sem jogar bem não teve tanta sorte em Goiânia, e foi o último invicto a cair, na 10ªrodada. Com a saída de Mano para a seleção e a chegada de Adílson Batista, o grupo que já era muito entrosado precisará de algum tempo para se adaptar ao estilo do novo comandante, que já alterou levemente o sistema de jogo, do 4-2-3-1 para o 4-3-1-2.

Outra equipe que aproveitou muito bem a pausa da Copa do Mundo foi o Inter: a chegada de Celso Roth levantou muitas dúvidas no Beira Rio, mas o rei do primeiro turno venceu quatro partidas e empatou um Gre-Nal em que o foco estava na Libertadores, conquistando 13 de 15 pontos possívels no período e a melhor campanha do retorno. O Inter subiu da 16ª posição antes da Copa para um consolidado terceiro lugar, num momento importante em que outras equipes abdicaram do campeonato, em anos recentes.

Grandes preocupações

Por outro lado, a pausa do Mundial não foi benéfica a algumas equipes: o Guarani, que vinha em quinto lugar, viu o artilheiro Roger ser negociado e não mais venceu desde então, caindo para 12º lugar. Da mesma forma, o Goiás sofreu com os problemas psicológicos de seu elenco e seu instável treinador, acumulou duas derrotas seguidas nas últimas rodadas e despencou do 7º para o 17º lugar.

Pior mesmo, só o Grêmio, que segue com a maior série de jogos sem vitória do campeonato até aqui: já são seis, desde o triunfo sobre o Atlético-MG na 6ª rodada. O time de Silas, que segue muito pressionado, caiu da 13ª para a 18ª posição e já não tem mais o mesmo desempenho da Copa do Brasil, em que construiu resultados sólidos dentro de casa e até se aventurou a vencer como visitante, como fez contra o Fluminense - Flu que será o adversário da próxima rodada.

Outra equipe que preocupa é o Atlético-MG: assim como no período pré-Copa, o Galo não consegue emplacar boas atuações, sofre com os problemas defensivos e já amarga a vice-lanterna. Mesmo com um dos elencos mais interessantes do país no papel, Luxemburgo não consegue resultados e a torcida já cobra, após novo revés em clássico.

Dança das cadeiras

A pausa para a Copa do Mundo rendeu quatro trocas de técnicos, e mais duas foram realizadas desde então: Celso Roth aceitou o convite de substituir Jorge Fossatti, demitido na quarta rodada, e deixou o Vasco sem treinador. O time da Colina buscou PC GUsmão no Ceará, que por sua vez assinou com Estevam Soares. Contratado pelo Al-Arabi, do Catar, Péricles Chamusca deixou o Avaí, que manteve sua boa campanha mesmo com a chegada de Antônio Lopes. E o lanterna Atlético-GO mudou de novo: Geninho havia pedido o boné e veio Roberto Fernandes, que após quatro rodadas e uma vitória sobre o Corinthians foi mandado embora, já que René Simões aceitou o convite da diretoria. No total, já foram onze trocas até agora.

Destaques: Fernando Prass, que garantiu empates vascaínos com Goiás e Flamengo; Alecsandro, que alcançou a artilharia; e Bruno César, que também chegou aos seis gols.

Perebas: Jéfferson, goleiro botafoguense convocado para a seleção, mas que entregou um gol para o Fluminense; zaga do Goiás, que sofreu nove gols em cinco partidas.

12ª rodada

Melhor ataque
2010: Avaí, Corinthians (21)
2009: Barueri (28)
2008: Flamengo (25)
2007: Cruzeiro (27)
2006: Paraná (27)

Melhor defesa
2010: Ceará (6)
2009: Atlético-MG, Palmeiras (12)
2008: Grêmio (10)
2007: São Paulo (4)
2006: Cruzeiro (8)

Pior ataque
2010: Ceará (10)
2009: Cruzeiro, Fluminense, Náutico (11)
2008: Santos (9)
2007: América-RN e São Paulo (9)
2006: Fortaleza (8)

Pior defesa
2010: Atlético-PR (23)
2009: Náutico, Santos (26)
2008: Ipatinga (25)
2007: Náutico (26)
2006: Ponte Preta (27)

Gols e média
2010: 300 (2,5)
2009: 346 (2,88)
2008: 313 (2,6)
2007: 324 (2,79 em 116 jogos)
2006: 312 (2,6)

Artilheiros
2010: Roger (GUA), Alecsandro (INT), Bruno César (COR): 6 gols
2009: Felipe (GOI), Roger (VIT), Val Baiano (BAR): 8
2008: Alex Mineiro (PAL), Cleiton Xavier (FIG), Marcinho (FLA): 7
2007: Josiel (PAR): 12
2006: Dodô (BOT): 9

Séries
Série de vitórias atual: Santos (2)
Série invicta atual: Fluminense (6)
Série de derrotas atual: Goiás (2)
Série sem vencer: Grêmio (6)

domingo, 1 de agosto de 2010

Clube dos cinco


Inter, Cruzeiro, Grêmio, SP e Flu dominam Ranking Olheiros desde sua primeira edição

Publicado no Olheiros

Todo ranking é polêmico e sujeito a discordâncias, interpretações e questionamentos dos mais variados. Entretanto, em um aspecto o Ranking Olheiros das categorias de base é unânime: por mais constante que seja a troca de posições e as variações nas pontuações, existe um seleto grupo que se mantém incólume aos fatores externos, bem acima do restante na confortável liderança do levantamento.

>>> Confira a edição de julho do Ranking Olheiros das categorias de base
>>> Croácia faz bonito no Europeu Sub-19

Internacional, Cruzeiro, Grêmio, São Paulo e Fluminense gozam de reputação diferenciada no que tange os resultados nos campeonatos de base e formam o clube dos cinco do Ranking Olheiros. São as equipes que dividem a ponta desde nossa primeira edição, ainda que com uma ou outra mudança dentro do próprio grupo, como a que aconteceu agora, com o Cruzeiro reassumindo a vice-liderança às custas de Grêmio e São Paulo. Há até outros grandes que sempre permeiam as posições inferiores, como o Santos, que já foi sexto, sétimo e agora ocupa o oitavo lugar, mas o que chama a atenção é a diferença de pontuação entre os cinco primeiros.

Somados, os ponteiros acumulam 1.326,6 pontos, quase o mesmo que a soma de todos os 97 clubes que aparecem a partir da 39ª posição: 1.317,5. Não se pode querer comparar, obviamente, a estrutura de um São Paulo com a de um Atlético-RO ou um Jaguaré-RS, mas quando olhamos para outros grandes do futebol nacional, como Palmeiras, Bahia e Botafogo, a diferença salta aos olhos – principalmente pelo sistema de pontuação do Ranking, que premia praticamente apenas os campeões ou quem for bastante à frente nas competições.

É talvez aí que residam as principais críticas a este (e qualquer outro) ranking: o fato de analisar friamente resultados, sem se importar com o contexto das equipes e competições. Argumento agravado pelo fato de estarmos falando de futebol de base, onde nem sempre ser campeão, mas revelar, é que mais importa.

Contudo, excetuando-se hoje, talvez, exatamente o São Paulo, que pouco espaço tem dado aos seus garotos em comparação com os rivais e se levarmos em conta os resultados que seus meninos alcançam, todos os outros integrantes deste clube aproveitam e muito bem, obrigado, os frutos que a base lhes dá. Alguma dúvida? Basta ver quem foi o autor do gol do Inter na primeira partida semifinal da Libertadores, contra o mesmo São Paulo: Giuliano, uma autêntica cria colorada.

O que dizer então do Fluminense, atualmente talvez o que mais possua, no elenco principal, garotos revelados em casa: são 13, sem contar Dalton, que deixou as Laranjeiras em litígio, e Wellington Silva, que já se adapta ao Arsenal. E tudo isso ganhando título, que é o mais importante, pois aumenta a experiência em jogos decisivos e de nível elevado, logo cedo na vida dos meninos.

Aliás, falando em Libertadores, uma pergunta rápida: nos últimos quatro anos, quais equipes brasileiras disputaram a final da Libertadores? Exatamente Inter, São Paulo, Grêmio, Fluminense e Cruzeiro. Outra constatação da veracidade do ranking. E alguém critica ou questiona, hoje, a força e a infraestrutura destes cinco clubes? E mais: nos últimos três anos, todos os cinco já apareceram, ao menos uma vez, entre os quatro primeiros no Campeonato Brasileiro.

Por isso, mais do que avaliar o desempenho das equipes amadoras nas competições, o Ranking Olheiros ajuda a traçar um panorama tanto da base, quanto do próprio futebol brasileiro, servindo de guia para dirigentes, treinadores, empresários e torcedores analisarem o que está certo ou errado no trabalho de seus clubes. É conferir e mãos à obra.