segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Parceria de ouro


Escolinha de Campinas protagonizou campanha do Barbarense no Paulista Sub-13


Publicado no Olheiros

Não há como contestar a hegemonia do Santos no sub-13 paulista. Nas três edições da competição realizadas pela FPF, os peixinhos conquistaram todas. A última, de maneira invicta, ao derrotar no último domingo o União Barbarense, em Santa Bárbara d’Oeste, por 1 a 0. A vitória, porém, foi difícil, conquistada apenas num lance de bola parada nos minutos finais. O adversário até então também estava invicto, e chegava à decisão até com campanha superior, precisando apenas de um empate. Sinal de ameaça ao predomínio santista? Sim, se lembrarmos que foi o mesmo da final de 2009. Mas não falamos do União Barbarense, e sim de seu parceiro na disputa do Paulista Sub-13.

Pelo segundo ano consecutivo, os meninos da Chuteira de Ouro enfrentaram o Santos na final do campeonato, deixando para trás equipes tradicionais como Corinthians, Palmeiras, Portuguesa e Ponte Preta. A escolinha de futebol localizada em Campinas, de propriedade do ex-zagueiro da seleção brasileira André Cruz, disputou em 2010 o Paulista Sub-13 pelo segundo ano consecutivo: em 2009, parceria com o Primavera de Indaiatuba levou a equipe também à decisão contra o mesmo Santos, com resultados semelhantes – empate no primeiro jogo, derrota no segundo.

A escolinha foi fundada no início dos anos 90, quando André Cruz ainda atuava na Europa (passou por Standard Liège, Napoli e finalmente Milan, onde ganhou convocação para a disputa da Copa de 98). Ele recebeu um convite de Lígio de Carvalho, que fora seu treinador nas categorias de base da Ponte Preta e com passagens pela base do Guarani e pela antiga seleção paulista de juniores.

Desde sua fundação, a Chuteira de Ouro participa de campeonatos amadores nacionais e internacionais, nas categorias dente de leite, pré-mirim e mirim. A criação do Paulista Sub-13 em 2008 despertou o interesse de André e Lígio, que decidiram então buscar parcerias com equipes do interior do estado para a disputa da competição. “A parceria é simples: o clube, que é profissional e afiliado à federação paulista, se inscreve e pleiteia a vaga. Nós cedemos os jogadores, arcamos os custos de transporte, alimentação e até mesmo de uniformes. O clube não ganha nada financeiramente, apenas em exposição”, conta André.

Como trabalha apenas com categorias totalmente amadoras, em que não é possível nem mesmo o vínculo de atleta em formação (permitido a partir dos 14 anos), a Chuteira de Ouro busca trabalhar em conjunto com clubes grandes do futebol nacional, recebendo indicações para formação de suas equipes e indicando os destaques para seus parceiros.

“Somos uma escola, não temos condição de segurar nenhum atleta. O que fazemos é utilizar nossa rede de contatos, ouvimos um colega dizer que tem um garoto bom aqui ou ali, então entramos em contato com os pais e observamos. Se considerarmos que se encaixa no nosso perfil, convidamos para treinar na escolinha”, acrescenta o ex-jogador, que também atua como empresário e possui atletas em categorias de base de clubes como Internacional, Cruzeiro e São Paulo, os principais parceiros.

“Alguns meninos, temos contatos mais próximos com os pais e responsáveis, e indicamos para fazerem avaliações em alguns clubes que a gente conhece. Outros acabam indo por conta própria e não dá pra ficar com todos eles. Como os garotos, nessa idade do mirim, já buscam ser jogadores profissionais, muitos pais também buscam a escolinha querendo se inscrever”, relata André.

Como não há vínculo formal, a escolinha afirma trabalhar na relação de confiança e no reconhecimento do incentivo quando da assinatura do primeiro contrato profissional ou de eventuais transações. Entretanto, como também é empresário, André Cruz acaba tornando-se o representante de alguns meninos que se destacam.

Não foi assim com Oscar, por exemplo, levado por ele ao São Paulo. Segundo o ex-zagueiro, muita ajuda foi dada à família durante os tempos de treinamento no CT de Cotia, mas após o litígio e a ida para o Internacional, não houve retorno do investimento. “Não ouvimos sequer um muito obrigado pelo suporte. Mas infelizmente é assim, estamos sujeitos a isso”, reflete.

Da equipe que atuou com a camisa do União Barbarense em 2010, o principal destaque foi João Vitor, artilheiro com 14 gols. Natural de Piracicaba, o atacante foi indicado pela rede de colaboradores da escolinha e já foi sondado por clubes maiores. “Ele é cuidado por um de nossos amigos, e deverá estar no sub-15 de um time importante no ano que vem”, revela André. Seu companheiro de ataque, Felipe, marcou dez gols e também chamou a atenção. Nem todos, entretanto, acabam seguindo em busca da carreira profissional.

Dadas as condições de trabalho – “não treinamos, só nos reunimos na hora do jogo, ao passo que o Santos treina, viaja junto, concentra” –, os resultados têm sido mais do que satisfatórios. E a participação em 2011 já é certa: a equipe formada por garotos nascidos em 1998 já disputa amistosos e torneios na região. Só falta saber qual camisa a Chuteira de Ouro vestirá desta vez

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Hora do vestibular

Chegando à reta final, Torneio OPG seleciona garotos que podem brilhar em 2011

No Brasil inteiro, o mês de novembro é marcado pelos vestibulares prestados pelos jovens de 17, 18 e 19 anos. Enquanto o país vive a polêmica das falhas no ENEM, outro vestibular segue firme testando, semana após semana, os garotos que buscam um lugar ao sol em 2011: o Torneio Octávio Pinto Guimarães, segunda principal competição de base do futebol carioca.

Disputado pela primeira vez em 1969, e ininterruptamente desde 1995, o Torneio OPG, como também é conhecido, coloca em ação os juniores cariocas no segundo semestre, após a realização do estadual, que ultimamente tem acontecido sempre no início do ano. O Vasco, atual campeão, também é o maior vencedor da competição, com seis conquistas. No ano passado, a equipe que levantou o caneco formou a base do time que venceria o estadual junior no primeiro semestre desse ano – daí, a importância do torneio.

Nomes como Max, Renato Augusto, Rômulo, Jonathan e Lipe (este último, artilheiro do torneio com 15 gols) ficaram conhecidos da torcida vascaína em 2010, por suas atuações principalmente no campeonato brasileiro. Mas foi no OPG que confirmaram para seu clube que tinham valor e mereciam ser aproveitados no time profissional.

E não foram só eles. Em 2009, Diego Maurício, emprestado ao Tigres para o campeonato, marcou seis gols e ajudou a equipe de Duque de Caxias chegar às quartas de final. Graças a este desempenho, foi titular do Flamengo no Estadual de Juniores nesse ano e, com 18 gols, cavou seu espaço no time de cima, atuando 26 vezes e marcando três gols na temporada.

Bruno Veiga, que fez um bom OPG pelo modesto Fênix (marcou nove gols), comandou o Fluminense na conquista do primeiro turno do estadual sub-20. Após uma certa oscilação entre profissionais e juniores, acabou contratado pelo Náutico para a disputa da Série B. O Flu, campeão em 2008, colheu naquela safra nomes de valor como Dalton, Alan, Fernando Bob e Dieguinho.

2010: pequenos surpreendem, campeão na lanterna

Com a penúltima rodada da terceira fase acontecendo neste sábado, o Torneio OPG 2010 pode ser decidido entre dois pequenos: pelo Grupo F, oTigres lidera com 18 pontos, três a mais que o Volta Redonda. O destaque da equipe é Marcos, que já fez seis gols. Tigres e Voltaço se enfrentam na última rodada em Duque de Caxias, mas poderá nem mesmo ser necessário: como o adversário folga nesta rodada, caso o Tigres vença o América já garantirá a vaga na final.

O problema é que, com 13 pontos, o América ainda tem chances se vencer hoje, e na próxima semana enfrenta o Flamengo, que tem os mesmo 13 pontos e também sonha com a taça, conquistada pela última vez em 2007. No mesmo grupo F, o Vasco decepcionou ao tentar defender o título e aparece na lanterna, com 11 pontos. Mesmo com nomes experientes na base, como Lipe, o time não ganhou nenhum jogo em casa, chegando até a ser goleado pelo América por 5 a 1. Num momento de transição de gerações, a expectativa é que os garotos vindos do juvenil, vice-campeões estaduais no ano passado, recuperem o bom nível.

Se o Grupo F está embolado, o G tem apenas duas equipes ainda na disputa pela vaga na final, mas esta promete ser emocionante. Na liderança com 25 pontos e melhor campanha, o Botafogo enfrenta o Fluminense em Xerém neste sábado. Enquanto isso, o Nova Iguaçu, que vem apenas um ponto atrás, recebe o lanterna Bangu em uma partida que a vitória é obrigação. Na última rodada, o confronto direto pela classificação acontece em Caio Martins. No primeiro turno,o duelo terminou 5 a 1 para o Orgulho da Baixada, com dois gols de Vinícius, vice-artilheiro do time com oito gols, ao lado de Lukian. William, com onze, é o principal marcador do campeonato até aqui.

O Bota, campeão pela última vez em 1997, tem o melhor ataque do OPG, com 25 gols – oito deles marcados por Jairo, que fez três somente na goleada sobre o Bangu por 9 a 0. O Nova Iguaçu, por sua vez, tem uma defesa quase impenetrável: foram apenas oito gols sofridos em dez partidas nesta fase final, graças principalmente às intervenções do goleiro Rafael.

Outros nomes que se destacaram no OPG 2010 foram Luiz Fernando, do Marinho, e Luiz Carlos, do Artsul, que caíram nas fases preliminares. Olho em todos eles, afinal como a história comprova, o futuro do futebol carioca passa por quem passa neste vestibular.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Brasileirão: 90%


Disputas por título, Libertadores e contra o rebaixamento chegam indefinidas à reta final


Chegamos à reta final do Brasileirão 2010, e apesar de um certo sentimento de que o campeonato não "engrenou", como em anos anteriores - talvez pela parada da Copa do Mundo -, já estamos a três rodadas do fim. Com 90% do torneio concluído, é hora de analisar as últimas três rodadas e tentar visualizar o que pode acontecer na acirrada briga pelo título, vaga restante na Libertadores e fuga do rebaixamento.

Título: reviravolta

A briga pelo título está emocionante, e a cada rodada uma equipe aparece com mais chances. Após duas rodadas na ponta, o Cruzeiro foi ultrapassado pelo Fluminense. Mas a liderança só durou quatro rodadas, e após um gol em pênalti polêmico no confronto direto, o Corinthians ultrapassou os mineiros e voltou ao primeiro lugar, que não ocupava desde a 24ª rodada.

A chegada de Tite surtiu efeitos instantâneos e positivos no time, que foi o melhor das últimas semanas: três vitórias e um empate, somando dez pontos. Numa sequência tão equilibrada, em que a média de pontos das equipes foi de 5,25 de 12 possíveis, os resultados contra o Cruzeiro e no clássico contra o São Paulo fazem do Corinthians o favorito do momento. O Fluminense perdeu a grande chance de encaminhar o título ao empatar em casa com o Goiás, mas ainda assim pontuou bem - 8 de 12. Dos três, o Cruzeiro foi o pior, anotando apenas seis pontos e saindo da liderança para ficar três pontos atrás do Corinthians. Os problemas na defesa parecem ser o pricipal senão do time neste momento.

Contudo, a tabela do Fluminense ainda é a mais fácil, já que recebe um provável rebaixado Guarani na última rodada e, nas próximas duas, enfrenta São Paulo e Palmeiras, sem aspirações no campeonato e rivais do Corinthians, fora de casa. Da mesma forma, o Cruzeiro recebe Palmeiras e Vasco e joga fora contra o Flamengo, enquanto o Corinthians tem um jogo complicado contra o Vitória no Barradão. Impossível prever.

Rumo à Libertadores: Atlético-PR em melhor forma

Assim como na disputa do título, a briga pela vaga remanescente na Libertadores envolve três equipes e está equilibrada. Com o segundo melhor desempenho das últimas quatro rodadas (três vitórias, nove pontos), o Atlético-PR assumiu a quarta colocação pela primeira vez no campeonato. Impulsionado por Paulo Baier, que marcou os gols das vitórias sobre o Flamengo (1 a 0) e Grêmio Prudente (2 a 1), o Furacão já empatou com o Cruzeiro na segunda melhor campanha do returno, com 29 pontos. Os jogos fora contra o Ceará e em casa com o Avaí parecem fáceis, mas o duelo mais importante acontece neste final de semana.

No sábado, o Atlético-PR visita o Grêmio, ainda detentor da melhor campanha do segundo turno, com 34 pontos. A derrota para o Fluminense na 32ª rodada impediu a aproximação definitiva do G-4, mas o time depende só de si: se vencer o Furacão no confronto direto, vai a 57 pontos e ultrapassa o rubro-negro paranaense. Depois, visita um desesperado Guarani em uma partida complicada e, finalmente, recebe o Botafogo na última rodada, em outro confronto direto - por isso, depende só de si mesmo.

O Botafogo, por sua vez, tem os mesmos 56 pontos do Atlético, mas fica atrás pelo meno número de vitórias. Neste domingo, tem grande chance de reassumir a quarta posição em que estava há três rodadas, ao receber um Internacional sem aspirações no campeonato e já concentrado no Mundial de Clubes. Depois, visita o já rebaixado Prudente e decide e vida contra o Grêmio no Olímpico - podendo até jogar por um empate. Abreu continua marcando gols importantes e levando o time nas costas.

Contudo, vale lembrar que nada disso terá importado se Palmeiras ou Goiás vencerem a Sul-Americana, já que em caso de conquista brasileira, o quarto colocado perderá a vaga na pré-Libertadores. Mas como a final da competição acontece só depois da última rodada do Brasileirão, a torcida eleita poderá comemorar, pelo menos por alguns dias.

Rebaixamento: um G já foi, faltam 2

A briga contra o rebaixamento parece menos quente neste ano, por praticamente não envolver mais grandes. Com outro desempenho ruim, o Grêmio Prudente só somou 3 de 12 pontos possíveis e teve seu rebaixamento concretizado na 35ª rodada, ficando com 27 pontos. A campanha pode ser a segunda pior da história dos pontos corridos com 20 times, superando apenas os 17 pontos do América de Natal em 2007.

Curiosamente, o único triunfo recente foi justamente no confronto direto, e em grande estilo: 4 a 1 no Goiás, resultado que praticamente sepultou as chances de salvamento do esmeraldino. Com isso, o time goiano recebeu do Prudente a lanterna do segundo turno - 13 pontos - e fechou o pior desempenho das últimas quatro rodadas, somando apenas um ponto (exatamente contra o então líder Fluminense, fora de casa). Estes casos mostram como as equipes que lutam contra o rebaixamento tentam se superar nas rodadas finais, fazendo com que resultados considerados garantidos sejam verdadeiras zebras.

Com 32 pontos, a sete do 16º colocado com nove ainda por disputar, o Goiás precisa de uma combinação de resultados e ainda vencer Atlético-MG fora, Corinthians e Santos em casa. Tudo isso enquanto ainda precisa dar atenção às semifinais da Sul-Americana. Mesmo com Rafael Moura inspirado, parece que não vai dar.

Nas outras duas indesejadas vagas, a briga é mais acirrada. Avaí e Guarani aparecem empatados com 37 pontos, e a fase de ambos é horrível: o Bugre somou apenas dois pontos nas últimas quatro rodadas, e foi quem mais caiu no período - três posições, afundando na zona de rebaixamento. No confronto direto com o Vitória em casa, empate em 1 a 1 que pode custar caro, já que a equipe enfrenta o Grêmio, na busca pela Libertadores, no Brinco e a dupla Fla-Flu fora.

O Avaí foi um pouco melhor no retrospecto recente, somando sete pontos, mas a tabela é igualmente complicada: visita o Atlético-PR, também na briga pela Libertadores, e o Santos, e pode decidir o descenso em casa, contra o Atlético-GO. O Dragão, aliás, protagonizou a maior recuperação da parte de baixo da tabela: após amargar 27 rodadas na zona de rebaixamento, engrenou uma série de bons resultados (apenas uma derrota em sete jogos) e está três pontos à frente do Avaí. O jogo no Serra Dourada contra o desinteressado São Paulo pode garantir a permanência, se conseguir roubar pontos de Vitória e Avaí nos confrontos diretos fora de casa.

Com 39 pontos, Vitória e Atlético-MG ainda fazem muitas contas. O Galo vem bem com Dorival Júnior, que já igualou a pontuação alcançada com Luxemburgo na metade das rodadas. O Galo joga em casa contra o Goiás, provavelmente já rebaixado, e visita São Paulo e Palmeiras, em partidas que pode muito bem vencer e dizer adeus à degola. Já o Vitória tem que se preocupar mais: sem vencer há três rodadas, tem um jogo dificílimo no Barradão contra o Corinthians, e pode entrar pela segunda vez no Z-4 a duas rodadas do fim.

Ainda preocupado, o Flamengo de Luxemburgo tem oscilado muitos altos e baixos, e a goleada sofrida para o Atlético-MG no último final de semana acendeu o sinal amarelo na Gávea. O Fla está três pontos à frente de Avaí e Guarani, mas devido ao alto número de empates, caso iguale-se em pontos ficará atrás dos adversários na classificação. A tabela tem um jogo difícil contra o Cruzeiro e um confronto direto contra o Guarani, ambos em casa, e um jogo menos complicado na Vila Belmiro diante do Santos. Pelos inúmeros confrontos diretos, pode escapar com apenas mais uma vitória.

Confira os números do campeonato até aqui:

35ª rodada

Melhor ataque
2010 - Corinthians (61)
2009 - Grêmio (60)
2008 - Flamengo e São Paulo (62)
2007 - Cruzeiro (71)

Melhor defesa
2010 - Fluminense (34)
2009 - São Paulo (35)
2008 - Grêmio (30)
2007 - São Paulo (15)

Pior ataque
2010 - Guarani (32)
2009 - Santo André (36)
2008 - Ipatinga (35)
2007 - América-RN (24)

Pior defesa
2010 - Goiás (60)
2009 - Náutico e Sport (62)
2008 - Figueirense e Vasco (68)
2007 - América-RN (71)

Artilheiros
2010 - Jonas (GRE): 21 gols
2009 - ADriano (FLA): 19
2008 - Kléber Pereira (SAN): 21
2007 - Josiel (PAR) e Acosta (NAU): 19

Série invicta: Botafogo (13)
Série de vitórias: Atlético-PR, Corinthians (3)
Série sem vencer: Guarani (10)
Série de derrotas: Flamengo (2)

sábado, 13 de novembro de 2010

Físico de David, potência de Golias


Estreia perfeita faz de Isco substituto natural de David Silva no Valencia

Publicado no Olheiros

Os inúmeros problemas administrativos fizeram com que o Valencia deixasse de bater de frente com Barcelona e Real Madrid nas últimas temporadas da Liga. Apoiada inteiramente na sua dupla de Davids, a equipe de Mestalla finalmente cedeu aos assédios e negociou Villa e Silva, ainda mais valorizados após a conquista da Copa do Mundo, aliviando um pouco os cofres, combalidos pelo projeto do novo estádio. Entretanto, sem seus dois pilares, a torcida Che teme pelo futuro. A resposta, porém, pode vir da própria cantera valenciana: comparado a David Silva, Isco é uma estrela pronta para brilhar.

Nesta quinta, o meia estreou pela equipe profissional em jogos oficiais, na partida de volta da segunda fase da Copa do Rei, contra o Logroñés. Os visitantes assustaram ao abrir o placar nos minutos iniciais, mas com uma primeira etapa iluminada, Isco marcou dois golaços e comandou a vitória por 4 a 1: primeiro, dominou na área, girou em cima do zagueiro e chutou forte; depois, uma pintura, driblando quatro defensores enquanto entrava na área e finalizava rasteiro. Quando substituído, foi aplaudido de pé pela torcida.

Francisco Román Alarcón Suarez nasceu em 21 de abril de 1992 em Málaga, e após jogar em equipes da região e na seleção da Andaluzia, desembarcou em Valencia em 2006. Após um período de adaptação complicado, em que chegou a ser escalado até na lateral direita e por pouco não abandonou o clube para voltar pra casa, tem se destacado nas categorias de base até chegar ao time B, o Valencia Mestalla, que disputa a quarta divisão espanhola.

Já relativamente conhecido internacionalmente, Isco apresentou-se no Mundial Sub-17 do ano passado, na Nigéria, em que envergou a camisa 10, marcou três gols e liderou o time de Gines Melendez ao terceiro lugar. Na atual campanha das eliminatórias do Europeu Sub-19, também é um dos artilheiros, com quatro gols em três partidas – a Espanha teve a melhor campanha da primeira fase, e aguarda o sorteio dos grupos do Elite Round. Também em 2009, Isco foi eleito o melhor jogador na conquista do COTIF – Torneio Internacional Sub-20 de L’Alcudia pelo Valencia.

Tamanho faro de gol, mesmo sendo meia e não atacante, mostra as qualidades e características do garoto: com enorme talento individual, é o típico jogador espanhol que conduz a bola sempre procurando passá-la e fazê-la rodar, aparecendo constantemente na área adversária. Some-se a isso seu porte físico peculiar – estatura abaixo da média, pernas levemente arqueadas e de forte musculatura, conferindo-lhe um centro de gravidade mais baixo – e terá um atleta que pode jogar tanto ditando o ritmo da partida quanto arrancando com velocidade e explosão.

Obviamente, por ter apenas 18 anos ainda tem muito a melhorar, como por exemplo a finalização à curta distância e a potência de seu chute, mas a diferença para muitos garotos de sua idade é que ele demonstra claramente possuir potencial para isso. A forma como se porta em campo já rendeu muitas comparações com o próprio David Silva, às quais responde com lisonja, mas admite ainda estar muito longe.

Por tudo isso, e pela grande prestação em sua estreia, Isco já demonstrou que se encontra mais do que preparado para fazer parte de vez do elenco principal – e, porque não, ganhar muitos minutos de experiência com a equipe. O ambiente é bastante favorável: os resultados não têm aparecido a contento e Unai Emery não encontrou o titular para a meia em seu 4-2-3-1, exatamente a posição de Isco (Mata não rendeu fora da ponta e “Chori” Dominguez não convence).

A julgar pelo desempenho contra o Logroñés, o garoto andaluz pode até ter, em breve, a companhia de Paco Alcácer, atacante com histórico proeminente nas seleções de base espanholas e que também estreou entre os profissionais na Copa do Rei. Aduriz e Soldado não têm tido jornadas muito esperadas na linha de frente e a temporada tem cara de transição para os morcegos laranjas.

Já com interesse declarado em fazer história no clube – “estou aqui há quatro anos, me identifico com Valencia e me sinto flho da cidade”, Isco tem tudo para se firmar como um ídolo da torcida. Mais que isso, é aposta sólida para substituir à altura, e para já, a dupla David Silva e Villa, e dar sequência ao legado.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Goiás – o fiel da balança do Brasileirão

Nos últimos anos, tabela fez equipe decidir campeões e rebaixados


Serra Dourada: palco de festas pelo título e desespero por rebaixamentos

Lutando contra o rebaixamento em uma temporada turbulenta desde o seu início, o Goiás pode ser, pelo quinto ano consecutivo, um fator determinante na luta pelo título ou descenso do Campeonato Brasileiro. A quatro rodadas do fim, o esmeraldino precisa de um pequeno milagre para escapar da queda, que não ocorre desde 1998. No caminho, enfrenta dois postulantes diretos ao título – e como nos últimos anos, pode ajudar a definir o campeão.

Na próxima rodada, o time goiano viaja até o Rio de Janeiro para enfrentar o Fluminense, atual líder e favorito pela tabela: joga fora de casa contra os descompromissados São Paulo e Palmeiras, que não se importariam de perder para prejudicar o rival Corinthians, como já declarado até mesmo por membros das duas equipes, e recebe o Guarani, possivelmente já rebaixado, na última rodada. Não à toa, o jogo deste final de semana é considerado por muitos nas Laranjeiras como o mais difícil para o Flu na reta final, já que o Goiás precisa reagir neste exato momento para ainda sonhar com a permanência.

Finalmente, o jogo que pode decidir tudo: Goiás x Corinthians, no Serra Dourada, na 38ª rodada. Se chegar ainda com chances de escapar do descenso, o time goiano certamente dificultará a vida do Corinthians, que não tem tabela fácil: confronto direto contra o Cruzeiro na próxima rodada, viagem até a Bahia para pegar o Vitória, que também luta para não cair, e um jogo em casa menos complicado com o Vasco.

Para chegar à ultima rodada com chances de se livrar do rebaixamento, o Goiás precisa necessariamente pontuar contra o Fluminense, o que deixaria Corinthians e Cruzeiro ainda na disputa – e colocaria o Timão na liderança, caso vença ou empate no jogo do próximo sábado.

Nesta etapa do campeonato, já começam a surgir os boatos de mala branca ou mala preta, de times oferecendo um incentivo financeiro a outros descompromissados no campeonato. Contudo, o Goiás tem sim muito interesse, e exatamente por isso deve fazer jogos emocionantes contra Flu e Corinthians.

E tem sido assim nos últimos anos, com o Goiás sempre aparecendo no caminho dos postulantes ao título nas rodadas finais. Para os supersticiosos, melhor para Flu e Corinthians, que ainda enfrentam o time goiano, já que nos últimos anos o campeão sempre pegou o esmeraldino na reta decisiva. Confira como foi nos campeonatos anteriores:

2009

Nas últimas sete rodadas, sem aspirações no campeonato (terminou em nono), o Goiás enfrentou quatro candidatos ao título: perdeu para o Palmeiras por 4 a 0 na 32ª rodada e para o Atlético-MG por 3 a 2 na 33ª, deixando as duas equipes ainda com esperanças.

Na 36ª rodada, arrancou um empate no Rio com o Flamengo, que poderia ter colocado o São Paulo com a mão na taça – mas o tricolor perdeu para o Botafogo, que lutava contra o rebaixamento, por 3 a 2.

Finalmente, enfrentou o São Paulo, àquela altura com 62 pontos contra 61 do Flamengo, na rodada seguinte. Venceu por 4 a 2 num jogo emocionante e, com a vitória sobre o Corinthians por 2 a 0, o Flamengo assumiu a ponta para ser campeão.

2008

Em 2008, Goiás também terminou numa posição intermediária – oitavo – e já não brigava por nada nas rodadas finais. Na 33ª, o Cruzeiro ainda estava na disputa, um ponto atrás dos líderes Grêmio e São Paulo. Mas o Goiás venceu por 3 a 0 no Serra Dourada, com dois gols de Paulo Baier, e tirou o time mineiro da disputa. Na última rodada, recebeu o São Paulo sob suspeita de manipulação de resultado, já que se vencesse o tricolor paulista, bastava ao gaúcho uma vitória para ser campeão. Com isso, o árbitro Wagner Tardelli foi substituído por Jaílson Macedo de Freitas. Resultado: o Grêmio venceu o Atlético-MG, mas o Goiás perdeu por 1 a 0 no jogo do título são-paulino.

2006

Em 2006, o São Paulo conquistou o título com tranquilidade, nove pontos à frente do Internacional. Mas nas rodadas finais, lá estava o Goiás no caminho do futuro campeão: na 35ª rodada, o time goiano ainda sonhava com a Libertadores, e recebia o São Paulo, enquanto o Inter jogava no Beira-Rio contra o quase rebaixado Fortaleza. Era a chance de ouro para reduzir a vantagem são-paulina a quatro pontos.

O Inter ganhou, mas o São Paulo também, com gols de Mineiro e Fabão, e ficou a apenas uma vitória do título, que viria na rodada seguinte. Ironicamente, o Goiás era o adversário exatamente do Colorado na última rodada, no Beira-Rio: com o campeonato decidido, vitória goiana por 4 a 1, sobre um Internacional reserva, já que os titulares se preparavam para o Mundial Interclubes. Se os resultados tivessem se invertido – vitória do Goiás sobre o São Paulo e do Inter sobre o Goiás, a diferença teria ficado em apenas três pontos.

2005

No turbulento campeonato dos jogos anulados e remarcados por conta do escândalo do apito, o Goiás recebeu o Corinthians no Serra Dourada na última rodada, com uma vantagem corintiana de três pontos sobre o vice-líder Internacional. As duas equipes tinham jogos difíceis: o Goiás precisava assegurar a terceira colocação e a vaga na Libertadores, e o Inter visitava o Coritiba, que lutava contra o rebaixamento.

Para ser campeão, bastava ao Corinthians um empate, mas em um belo jogo o Goiás venceu por 3 a 2. Restava então ao Internacional vencer o Coritiba de goleada para tirar a diferença de saldo, mas acabou derrotado por 1 a 0. O Coxa acabou caindo mesmo assim, o Corinthians sagrou-se tetracampeão e o Inter reclamou demais do pênalti marcado no confronto direto, a duas rodadas do fim.

Goiás, Corinthians e rebaixamento: uma história em capítulos

Além de ajudar a definir os campeões, em duas oportunidades o Goiás esteve no caminho do Corinthians quando o Timão lutava contra o rebaixamento. Em cada uma delas, o final foi diferente para o torcedor alvinegro:

1997

Num dos jogos mais marcados pelas acusações de mala preta (torcedores do esmeraldino chegaram a protestar, pedindo o dinheiro do ingresso de volta ao final do jogo), o Goiás, que com 48 pontos apenas cumpriria tabela na última rodada, recebia um Corinthians desesperado pela vitória. Era a primeira vez que o Timão sofria ameaça real de rebaixamento, e as chances eram reais: se perdesse o jogo e Cricíuma ou Bahia, que jogavam em casa, vencessem, o descenso estaria concretizado.

No final, deu tudo certo: Célio Silva e Mirandinha marcaram os gols da vitória corintiana, que nem teve tanto drama assim: Criciúma e Bahia empataram seus jogos e acabaram rebaixados. Melhor para o Timão, que montou a base da equipe bicampeã brasileira de 1998 e 1999.

2007

A três rodadas do fim, Goiás e Corinthians brigavam ponto a ponto contra o rebaixamento e se enfrentariam no Serra Dourada num jogo de vida ou morte. A partida terminou empatada em 1 a 1, mas somente graças ao goleiro Felipe, que defendeu um pênalti de Paulo Baier. Com o empate, as duas equipes permaneceram próximas, o Corinthians com 43 pontos, ainda fora do Z-4, e o Goiás com 42.

Na rodada seguinte, o Corinthians jogava em casa contra um Vasco sem pretensões. Foi um jogo nervoso, em que a equipe errou demais e pagou o preço, perdendo por 1 a 0. Mas o Goiás também havia perdido, de 4 a 1 para o Atlético-MG, e a esperança continuava viva. Mas na rodada decisiva, o Corinthians empatou fora de casa com o Grêmio e o Goiás venceu o Internacional, rebaixando o Timão.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

O despertar do Tigre


De volta à Série B, Criciúma fecha ano perfeito e fatura estaduais juvenil e junior

Publicado no Olheiros

Na última década, o futebol catarinense foi representado nacionalmente por Figueirense e Avaí. Mas nos anos 90, quem levava o nome do estado até mesmo além das fronteiras era o Criciúma, campeão da Copa do Brasil em 91 com Felipão no comando. Contudo, após o rebaixamento na Série A de 2004, o clube parecia fadado ao fim, rebaixado para a Série C e à beira da falência.

2010, porém, tem tudo para ficar marcado na memória do torcedor como o ano do despertar do Tigre. O início claudicante no estadual, com goleadas nas duas primeiras partidas, causou a renúncia do presidente Edson Búrigo e o poço parecia sem fundo. Mas as mudanças administrativas surtiram efeito e o time se recuperou – terminou em sétimo no catarinense e sofreu grande reformulação para a disputa da Série C, em que conquistou o retorno para a Série B em 2011. Além disso, obteve um feito raro nas divisões de base de todo o país: sagrou-se campeão estadual junior e juvenil, as duas principais categorias, e tudo na mesma semana.

Um dos reforços trazidos pela nova diretoria foi o goleiro Agenor, emprestado pelo Internacional. Após conquistar a Copa FGF em 2009 como capitão do Inter B, o jovem de 20 anos atuou pela Copa Santa Catarina antes do início da Série C para não perder ritmo de jogo. Em forma no nacional, foi considerado pela torcida um dos grandes responsáveis pelo acesso, fazendo grandes defesas e tendo atuações de destaque fora de casa.

Durante a campanha, o técnico Argel Fucks também utilizou alguns jogadores oriundos das próprias categorias de base do Tigre, como o zagueiro Rodrigo (19 anos), o volante Henik (20), e o atacantel Marcel, mais jovem do elenco, com 18 anos.

Dentre os garotos que já despontam entre os profissionais, um deles chama a atenção: é George Minatto Paulino, o Georginho. Camisa 10 da equipe campeã estadual junior, o menino de 19 anos foi co-artilheiro do Tigrinho com oito gols, e chamou a atenção do técnico do rival Avaí, Luiz Verdini, quando este acumulava a função de técnico da seleção brasileira sub-19. Resultado: Georginho foi convocado para o Torneio Internacional Sub-20, disputado em agosto, e foi sondado pelo Vasco.

Apesar do desempenho aquém do esperado da seleção no Paraguai, Georginho seguiu liderando o time de Luiz Milioli rumo ao título estadual incontestável: 13 vitórias, 3 empates e 4 derrotas, e o melhor ataque, com 45 gols marcados em 20 jogos. Na decisão, 4 a 1 sobre o Figueirense na primeira partida, no Heriberto Hulse, com dois gols de Lucca, um de Maicon e outro de Diego Oliveira. No jogo de volta, no campo do adversário, o empate sem gols garantiu a conquista.

Companheiro de Georginho a criação das jogadas, o meia direita Roni também marcou oito gols no estadual junior, e na campanha da Série C foi ainda mais decisivo: foi dele, aos 37 minutos do segundo tempo, o gol que selou a vitória por 2 a 0 sobre o Macaé, nas quartas de final, revertendo a vantagem do adversário e recolocando o Tigre na segunda divisão. Mesmo tendo sido expulso no final do jogo, Roni mostrou que tem qualidades para se firmar no elenco profissional em 2011, ou mesmo rumar para centros maiores.

Três dias depois da conquista no junior, os torcedores gritaram “é campeão” novamente: o sub-17 derrotou o Joinville em casa por 2 a 0 e ergueu o caneco, após empate sem gols no jogo de ida. Os autores do gol do título só poderiam ter sido os artilheiros da equipe na competição: Baiano, segundo maior goleador do campeonato com 13 gols (e que só não marcou em cinco das quinze partidas que disputou), e Jean Moser, que no total anotou 9.

Quem também se destacou foi o goleiro Fernando, goleiro menos vazado do estadual. Assumindo a titularidade na reta final do segundo turno, sofreu apenas dois gols em sete jogos e foi fundamental na conquista do título, deixando Elder e Simão, mais velhos que ele, no banco de reservas.

Após as conquistas, os garotos receberam dez dias de folga e já retornaram aos trabalhos nesta semana, como preparação para a SC Cup Sub-16, em dezembro, e para a Copa São Paulo, em janeiro. Fora da Copinha nos últimos dois anos, a última boa campanha do Tigre no torneio foi em 2005, quanto caiu nas oitavas de final e teve em Éder, com seis gols, um dos artilheiros. Após se destacar no Empoli na Série B italiana da última temporada, hoje o atacante é titular do Brescia na primeira divisão.

Participar da Copa São Paulo será essencial para o desenvolvimento desta safra, que já mostrou ter seu valor ao bater os fortes adversários do estado – vale lembrar que o Figueirense foi campeão da Copinha em 2008 e o Avaí, semifinalista em 2009. Será, mais do que endividamento duvidoso com a contratação de medalhões (fórmula que resultou no rebaixamento para a Série C), a solução para o Tigre despertar e tentar voltar a ser o mais forte de Santa Catarina.