
Tricampeão da liga de reservas do Sul da Inglaterra, Aston Villa mostra boa safra
Publicado no OlheirosNa semana passada, a coluna abordou neste espaço a necessidade do outrora emergente Portsmouth, falido e rebaixado, de escorar-se nos frutos de sua base para recomeçar do zero. Ainda em território inglês, vemos hoje um exemplo exatamente do oposto: um dos clubes mais tradicionais do país, o Aston Villa segue firme em seu processo de reestruturação e volta a ocupar, mesmo que ainda timidamente, as primeiras posições da Premier League. Tudo isso graças, principalmente, ao pesado investimento em suas divisões inferiores, reconhecidamente dentre as melhores do país e que acaba de oferecer mais uma prova de sua força: a conquista, pelo terceiro ano consecutivo, do campeonato de reservas do sul da Inglaterra, a Premier Reserve League South.
A vitória de virada sobre os reservas do Fulham veio com gols de Barry Bannan e Ciaran Clark, assegurando o título com duas rodadas de antecedência e coroando uma campanha perfeita de onze vitórias e quatro empates, com 33 gols marcados e apenas nove sofridos. Clark, capitão da equipe, foi fundamental na campanha (sólido na defesa, marcou duas vezes na goleada sobre o Chelsea por 4 a 0, fora de casa) e mostrou o espírito do time na declaração pós-jogo. “Estamos todos contentes em ganhar a liga, afinal é o que queríamos. Agora, lanço um desafio para meus colegas: que permaneçamos invictos nas duas partidas finais”, disse. Contra o Stoke City, empate sem gols. Resta ainda a partida diante do Portsmouth.
Espírito, aliás, é a palavra considerada chave por Kevin MacDonald, técnico dos garotos, para explicar o terceiro triunfo seguido no campeonato que tem equipes fortes na categoria, como Arsenal, Chelsea e West Ham. “A camaradagem deste grupo foi gigantesca. Mesmo com um ou dois meninos tendo sido emprestados, eles ainda se falam e até vêm acompanhar os jogos. São, acima de tudo, amigos”, afirmou.
O segredo vem de mais longe: de todo o elenco dos reservas (composto por jogadores de 19 a 22 anos, já que na Inglaterra a última categoria nas academies é o sub-19, e garotos acima dessa idade passam a integrar esta espécie de “time B”), apenas um não traçou todo o caminho nos alojamentos de Villa Park – o holandês Arsenio Halfhuid, zagueiro da seleção sub 18 holandesa oriundo do Excelsior Rotterdam. O garoto, natural de Voorburg, é o mais jovem do elenco campeão, nascido em novembro de 91.
Também da geração 91, o austríaco Andreas Weimann foi a coqueluche da liga sul: artilheiro com nove gols, marcou em jogos importantes, como no clássico contra o arquirrival Birmingham, na vitória por 1 a 0 sobre o West Ham e no grande triunfo sobre o Chelsea por 3 a 1. Oriundo do Rapid Viena, é um dos muitos jogadores da base do Villa com convocações regulares para suas seleções, tendo iniciado na Áustria sub 16 e protagonizando no momento a boa campanha das eliminatórias do Europeu Sub 21. Rápido mas também com ótimo senso de posicionamento e faro de gol, já renovou seu contrato até 2012 com o clube azul celeste e bordô.

Weimann foi um dos garotos que esteve em campo no início da temporada pela Peace Cup, torneio amistoso disputado na Espanha que culminou o título do Villa nos pênaltis sobre a Juventus. O austríaco foi, aliás, titular na decisão, ainda que não tenha conseguido marcar. Antes, já havia anotado em amistoso contra o Peterborough United, da terceira divisão. Vale lembrar que ele não é o único alpino na equipe: Thomas Dau, goleiro companheiro de equipe, também é compatriota de Mozart, Schüber e Strauss, e o incrível Benjamin Siegrist, campeão mundial sub 17, veio da vizinha Suíça.
Outros que também jogaram o torneio de verão e foram fundamentais na campanha do tri foram Barry Bannan e Marc Albrighton. Bannan, emprestado durante a temporada para o Blackpool, era um dos mais experientes do elenco de reservas, já tendo jogado pelo Derby County em 2009. O meia escocês de 20 anos marcou 13 gols em 32 jogos durante sua primeira temporada na academia, quando o Villa faturou o título de 2007/08. Apesar das boas performances, incluindo participações na Europa League, acabou envolvido em polêmica aparição em uma casa noturna ao lado de dois colegas de Blackpool, mesmo estando machucado e com o time brigando contra o rebaixamento na Championship. Na decisão da Peace Cup, converteu o primeiro pênalti, provando-se decisivo, ainda que de temperamento instável.
Albrighton, por sua vez, também já estreou pela equipe profissional, na primeira partida da temporada 2009/10 da Premier League. Ala direito de ritmo e habilidade interessantes, marcou um dos gols da vitória de 3 a 1 sobre o Atlante, do México, na Peace Cup, e também anotou tentos importantes durante a campanha da Premier Reserve League. Elogiado por Martin O’Neill, parece ser um dos mais prontos a afirmar-se de vez no elenco profissional na próxima temporada.
Com mais um título, o Villa mostra a força que possui nas bases – afinal, basta lembrar que foi de lá que vieram nomes notáveis da equipe principal, como Gabriel Agbonlahor e Nathan Delfouneso, além de outras revelações como Darius Vassell, Craig Gardner e Steven Davis. A experiência de atuar em nível internacional, contra equipes de peso como Porto e Juventus, é única para garotos que já atuam com alta exigência na liga doméstica – afinal, jogar contra os rivais de Londres e ser campeão por três anos seguidos não é pouco. O último desafio será a final da Liga de Reservas, contra o campeão do norte, ninguém menos que o Manchester United. Com tantos obstáculos difíceis ultrapassados com tamanha propriedade, não há como não esperar nada além de boas notícias vindas do Villa Park, com sua nova safra de meninos.