terça-feira, 28 de julho de 2009

Enfim, de volta!

Após um mês de férias matrimoniais, peço licença aos amigos para um post muito mais pessoal do que verdadeiramente informativo.

Aproveitando o passeio lua-de-melístico, pude realizar um sonho de infância ao conhecer o estádio do Boca Juniors - uma experiência que, mesmo com a arquibancada vazia, não deixa de ser excepcional.

A atmosfera em volta da mítica arena é intimidadora já nas proximidades. O bairro de La Boca, de vizinhança pobre, tem pouco do convidativo ar respirado na parte turística de Buenos Aires, como o revitalizado Puerto Madero ou as charmosas ruas repletas de cafés de Recoleta e Palermo: calçadas sujas, casas abandonadas e pouco movimento de carros ou pedestres, mesmo durante a semana, no horário do almoço. Num dia nublado de inverno, fica ainda um pouco mais feio.


Nota mental: jamais ir a pé à Bombonera como torcida visitante. É difícil escapar ileso.


Chama a atenção a calçada da fama com vários atletas famosos, mas sem a pegada de Diego Maradona. Logo na entrada, uma estátua do baixinho deles com um shorts balonê típico do futebol oitentista. A bilheteria do Museu de la Pasion Boquense confunde-se com o caixa do gift shop, e acabei comprando souvenirs antes do tour (dica boa para salvar alguns pesos, afinal depois de tudo o que se vê, o espírito consumista é inflado por tudo o que leva azul escuro e amarelo-ovo). Pela visita ao museu + splash-and-go no estádio (há a visita completa por vestiários, sala de imprensa e camarotes, mas estava fechada), 25 pesos por cabeça - preço razoável em tempos de câmbio a 2 para 1.


Quadro com todos os campeões da Libertadores por R$ 300 (melhor item do gift shop)


Impressiona a quantidade de estrelas, cada uma com o nome de um jogador que vestiu a camisa do clube. Os painéis com uniformes históricos aguçam a apetite dos colecionadores de camisas com raridades como a primeira utilizada, branca e preta, e a réplica das décadas de 40 e 50 com a polêmica faixa diagonal amarela. Uma maquete do bairro de La Boca tem personagens animados que mostram o dia-a-dia e contam a história do local, antiga sede dos estivadores. Há um espaço dedicado ao elenco atual, e o que deixa a desejar são os objetos históricos: apenas algumas camisas antigas e quadros, com poucos objetos curiosos como há, por exemplo, no museu do Santos. O Peixe, aliás, é representado com o item mais interessante da coleção: uma camisa de Pelé utilizada em 1963.

Camisa de Pelé, fotografada por todos os argentinos enquanto os brasileiros fotografam a de Maradona


O audiovisual é o ponto forte do museu. Diversos monitores mostram cenas de conquistas boquenses, e há dois curta-metragens em exibição constante: um sobre os maiores ídolos do clube e outra que se passa num cinema 360°, com telas em todo o redor e carpete imitando um campo de futebol no chão: no filme 'viviendo la pasión', pode-se vivenciar a experiência de ser um garoto escolhido nas peneiras xeneizes até a consagração do gol do título - mais ou menos como numa campanha publicitária recente da Nike.

Chegando à arquibancada, pode-se perceber o quão único é o estádio. Parece até menor que quando visto na televisão (efeito exatamente contrário do comum, quando tudo parece maior ao vivo - experimente ir ao Maracanã para ter uma idéia da sensação). As arquibancadas são sim incrivelmente altas e mais parecem um prédio - ou as paredes de uma caixa de bombons, como se convencionou dizer. Pode-se até pagar para tirar uma foto segurando a taça do Mundial Interclubes e usando uma faixa de campeão. Legal mesmo é assinar o nome na parede, que serve de recordação para os brasileiros - não identifiquei rabiscos em nenhum outro idioma, o que nos faz pensar se isso é realmente permitido.

Arquibancada visitante: tão alta que é o ponto mais perto do céu e do inferno ao mesmo tempo


Enfim, é de fato uma experiência única. O turismo de futebol, tão comum na Europa, está longe de pegar por aqui. Nossas arenas (?) são mal-cuidadas, pouco atrativas e poucos clubes têm esta visão do estádio como ferramenta de marketing - São Paulo, Palmeiras, Atlético-PR, Botafogo e Internacional são poucos que proporcionam tours dos estádios.

Talvez também por isso a mística boquense impressione tanto aos brasileiros. Afinal, despertar respeito é a melhor forma de se vencer um adversário antes mesmo do jogo começar.