sábado, 30 de abril de 2011

Bolinha amiga


Publicado no Olheiros

Todo brasileiro tem um pouco de técnico de futebol, e apesar de não sermos Ney, sejamos francos: é raro o Brasil cair em um grupo da morte em sorteios de Copa do Mundo e também mundiais de base. Tanto é verdade que foi assim que iniciamos nosso texto na análise do sorteio das chaves do Mundial Sub-17 de 2009, na Nigéria. Mas naquele ano a experiência serviu para mostrar o quanto pode ser traiçoeira a primeira impressão em competições desse nível: contra México, Japão e Suíça, o Brasil de Lucho Nizzo acabou dando vexame e eliminado ainda na primeira fase, sendo desclassificado por um surpreendente time suíço que viria a se tornar campeão mundial.

É apenas por estes caprichos do destino futebolístico que não podemos cravar já, tão logo as bolinhas acabaram de ser sorteadas em Cartagena, uma das sedes do Mundial da Colômbia, que o Brasil terá a oportunidade de realizar na primeira fase três partidas com cara de treino para o verdadeiro campeonato, a partir do mata-mata. Os adversários da seleção no Grupo E serão Egito, Áustria e Panamá, configurando quase um sorteio dos sonhos para Ney Franco.

Obviamente o discurso é de respeito aos adversários, mas dentre as demais possibilidades é quase a chave dos sonhos: um grupo, por exemplo, contra a forte seleção de Mali, finalista do Africano da categoria; os chatos australianos, vice-campeões asiáticos; e os franceses, campeões europeus, era possível. Ou ainda, a enorme bucha que terão novamente os argentinos, que terão pela frente dois campeões continentais, México e Coreia do Norte, além da forte Inglaterra. Melhor que isso, dentre as opções disponíveis, só se a Guatemala, estreante em mundiais, também estivesse no grupo.

O mais importante para Ney Franco nesta primeira fase é saber que enfrentará três escolas completamente distintas e que trabalham o jogo de maneira diferente. Enquanto o Egito é um time de muita posse de bola, a Áustria fundamenta seu jogo na defesa e toque de bola e o Panamá aposta na boa e velha velocidade e porte físico de seus atacantes. Testes que colocarão à prova, logo de cara, a capacidade de adaptação destes meninos, especialmente na defesa, que hesitou em alguns momentos durante o Sul-Americano.

Emulando o recente sucesso da seleção principal nas últimas Copas Africanas de Nações, o Egito tem aparecido com mais frequencia entre as melhores equipes sub-20 do continente. Campeão da categoria em 2003 e vice em 2005, os pequenos faraós têm participado de todas as fases finais do Africano, que contam com apenas oito seleções, desde 2001. Eliminados nas oitavas de final há dois anos, quando sediaram o Mundial, os egípcios garantiram a vaga após vitórias de 2 a 0 sobre o Lesotho e 1 a 0 sobre a África do Sul, perdendo para Mali também pelo placar mínimo. Na semifinal do Africano Sub-20, caiu nos pênaltis ante Camarões, após empate sem gols no tempo normal. Com problemas no ataque, o time de Diaa El-Sayed promete uma preparação ostensiva, já que a federação não terá problemas para a liberação dos jogadores. Pode acabar sofrendo um pouco mais com o nervosismo de fazer o jogo de abertura logo com o Brasil, mas tem condições de brigar pela segunda vaga.

Já a Áustria teve de escalar montanhas maiores que as dos Alpes para chegar ao Mundial Sub-20, após a excelente campanha de 2007, quando terminou na quarta colocação e revelou nomes como Sebastian Prödl, zagueiro do Werder Bremen, e Erwin Hoffer, atacante do Kaiserslautern. Após avançar à segunda fase do qualificatório apenas na terceira posição do grupo, graças a uma goleada de 5 a 1 sobre a Armênia, os austríacos contaram com o fator casa, já que sediaram o grupo do Elite Round, para se classificarem à fase final – e ainda assim foi difícil, graças a apenas um gol de saldo. Na estreia, derrota para a vizinha e rival Suíça por 3 a 2, e depois vitórias sobre a Sérvia (2 a 0) e Dinamarca (4 a 3).

Finalmente, a campanha da fase final foi apenas razoável, com derrota para a Inglaterra por 3 a 2 e goleada sofrida para futura campeã França por 5 a 0. Mas como são seis os europeus classificados ao Mundial, os alpinos carimbaram o passaporte para a Colômbia com uma vitória simples sobre a Holanda, mesmo terminando o campeonato com menos cinco gols de saldo. O time tem vários jogadores atuando em ligas maiores, e até alguns conhecidos, como David Alaba, zagueiro/lateral do Bayern de Munich, e o craque da turma, Christoph Knasmüllner, meia que chegou a fazer parte do elenco profissional do Bayern, mas que desde o início do ano está na equipe primavera da Internazionale.

O último degrau da escalada brasileira na primeira fase promete ser o menos complicado – motivação extra para vencer as duas primeiras partidas e quem sabe até poupar titulares, ou ainda entrar com tudo nas oitavas de final com uma goleada. O Panamá se classificou graças à uma vitória surpreendente sobre a favorita Honduras nas quartas de final do Concacaf Sub-20, e deve a classificação ao centroavante Cecílio Waterman, de ótimo porte físico e cabeceio. Ele marcou os três gols da vitória sobre o Suriname na primeira fase e um contra Honduras. O outro foi de autoria de José Diego Álvarez, um dos raros a atuar fora do país – o atacante defende o Slavia Praga, da República Tcheca. Mas a derrota por 4 a 1 para o México nas semifinais mostrou que o time tem deficiências e carece de maior qualidade, especialmente na defesa.

Um grupo com adversários bem diferentes que servirão de ótimo teste para o time de Ney Franco, que já nas oitavas de final deve pegar um classificado do grupo da morte da rival Argentina. Aproveitar as três partidas iniciais, como fez a seleção em 2009 com Rogério Lourenço, será fundamental para que a promissora geração brasileira de 2011 não se perca pelo caminho. Que sirva então de um bom presságio o fato de, mais uma vez, as bolinhas terem sido amigas.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

O voo cansado da águia


Outrora promessa de ameaça aos grandes, futebol nigeriano definha e não revela

Publicado no Olheiros.net

Atlanta, Estados Unidos, 3 de agosto de 1996. Com gols de Babayaro, Amokachi e Amuneke, a Nigéria batia a Argentina por 3 a 2 para chocar o mundo, ganhar a medalha de ouro olímpica e entrar para o mapa do futebol. Seul, Coreia do Sul, 9 de setembro de 2007. Nos pênaltis, as águias batem a Espanha e conquistam seu terceiro título mundial sub-17 em doze edições do torneio, no que pode ter sido a última grande exibição do futebol nigeriano por um bom tempo.

Em um período de pouco mais de dez anos, a Nigéria transformou-se na principal força do continente africano, apontada por muitos como a principal candidata a quebrar o predomínio de sul-americanos e europeus nas competições internacionais. Contudo, sempre decepcionou quando mais se esperava dela, como nas Copas de 1998 e 2002, em que apoiou-se naquela geração campeã olímpica e que também havia vencido a Copa das Nações Africanas em 1994.

O principal motivo da recorrente esperança de um boom do futebol nigeriano vinha de sua base, campeã do primeiro Mundial Sub-17 (à época ainda sub-16) em 1985 e quarta colocada do Mundial Sub-20 em 1989 praticamente com o mesmo grupo de jogadores. Mas aquela geração renderia apenas um destaque: Mutiu Adepoju, meia que disputou as Copas de 94, 98 e 2002 e chegou a ser contratado pelo Real Madrid aos 20 anos, mas que jamais passou da equipe B.

Depois, o segundo título mundial sub-17, em 1993, no Equador, revelaria Nwankakwo Kanu, até hoje o jogador de mais sucesso do país, e destaque daquela medalha olímpica de 96. A seleção ganhou status de potência mundial, mas após chegar a ser quinta colocada no Ranking da FIFA em 1994, ficou na lanterna do grupo da morte da Copa de 2002 e caiu aos poucos no esquecimento.

Na década de 2000, o futebol nigeriano seguiu batendo na trave tanto no amador quanto no profissional, chegando a todas as semifinais de Copas Africanas, mas não mais conseguindo levantar a taça. Nos mundiais de base, foi vice-campeão sub-17 em 2001, quando uma geração ’84 que não rendeu frutos ao time principal perdeu a decisão para a França dos flops Le Tallec e Sinama-Pongole, e também vice do sub-20 em 2005, com nomes como Taiwo, Adeleye, Obi Mikel (talvez a principal estrela do país hoje) e Okoronkwo, que formam a base de uma seleção que apenas passeou na África do Sul e pouco demonstrou na Copa Africana de 2010.

O fator preocupante é que, não apenas a seleção deixou de apresentar aquele futebol empolgante de outras gerações, moldando-se a um estilo muito mais carrancudo e de cara europeia – como muitas seleções africanas, infelizmente –, mas também as seleções de base não têm oferecido safras boas nos últimos anos.


Basta olhar para a equipe campeã mundial sub-17 de 2007 e ver que, aos 20 anos, a maioria luta para conseguir algum espaço, diferente de gerações anteriores que já brilhavam a esta altura. Macauley Chrisantus, estrela daquele mundial, não foi bem no Hamburgo e segue emprestado ao Karlsruher, em seu segundo ano na 2. Bundesliga.

Daquela geração, até agora apenas um conseguiu ser convocado para a seleção principal: o meia Lukman Haruna, do Monaco, capitão da conquista do mundial e que até foi para a Copa do Mundo, sendo titular nas duas primeiras partidas. A própria geração 92, vice-campeã sub-17 em 2009 em casa, ainda não inspira nenhuma certeza de mudança do panorama.

Para piorar – e é aí que reside o argumento de que o futebol do país começa a afundar em uma descendente – a seleção não se classificou para o Mundial Sub-17, sequer chegando à fase final, sendo eliminada pelo Congo. Já no sub-20, a Nigéria está disputando a fase decisiva na África do Sul e pode se classificar com um empate diante de Gâmbia na última rodada, no domingo, mas o time pode sequer entrar em campo.

Isto porque os jogadores ameaçam boicotar a partida final da fase de grupos por não terem recebido a premiação prometida pela Federação Nigeriana pela participação no campeonato. Segundo informações da comissão técnica, os garotos foram convencidos a enfrentarem Camarões na segunda rodada, mas acabaram perdendo por 1 a 0. Caso a ameaça se concretize, o time ficará de fora do Mundial Sub-20, fazendo com que o país se ausente dos dois mundiais pela primeira vez desde 1997.

O problema de pagamento de premiação é comum em seleções africanas, mas em se tratando de Federação Nigeriana, não é o primeiro caso. A NFA chegou a ser suspensa pela FIFA no ano passado devido a interferência do governo dentro da entidade. Com denúncias de corrupção e disputas internas, o trabalho de formação tem sido prejudicado.

Aproveitando-se dessa brecha, outros países têm começado a recrutar garotos para levá-los à Europa sem a necessidade de pagamento de indenizações ou transferências. Na França, mesmo, há até uma empresa responsável por fazer peneiras na Nigéria, a NIGDUF (Nigeria Development Union France, em inglês), que atravessa as regiões do país em busca de jovens talentos entre 12 e 18 anos – em 2011, o objetivo é recrutar 20 talentos e espalhá-los pelos clubes franceses.

Com tudo isso, a Nigéria perde espaço no cenário internacional e até continental, com cada vez menos perspectivas de evolução ou mesmo retomada do patamar que possuía na década de 90. Afinal, sem investimento não há retorno. E assim, o voo da águia começa a ficar cansado.

sábado, 16 de abril de 2011

Duelo de supernovas

Real Madrid e Barcelona iniciam série histórica enquanto brigam também pela melhor cantera


Tem início neste sábado, no Santiago Bernabeu, um fenômeno tão raro quanto a recente super lua cheia, mas que irá atrair ainda mais a atenção de todos para as estrelas que estarão visíveis a olho nu: uma série de quatro jogos entre Real Madrid e Barcelona que prometem mudar o eixo da Terra, valendo dois títulos e uma vaga na decisão da Liga dos Campeões da Europa.

>>> Conheça La Masia, a fábrica de craques do Barcelona
>>> Logo quando chegou ao Bernabéu, Mourinho já abriu espaço às promessas

Chamada por muitos de “clássicos do século”, a sequência de partidas em pouco mais de duas semanas coloca frente a frente os astros Messi e Cristiano Ronaldo e, principalmente, reúne os grandes rivais num momento em que as duas equipes estão no auge, sendo consideradas por muitos as melhores do planeta. O momento é oportuno, portanto, para voltarmos os olhos ao que está além deste verdadeiro duelo de titãs, procurando identificar as estrelas ascendentes destas duas verdadeiras fábricas de astros.

Como as competições de base na Espanha são regionalizadas, há poucos confrontos entre Barça e Real nas divisões inferiores, a não ser em torneios como a “Copa dos Campeões da Liga Juvenil”, que reúne os vencedores das sete regiões do Juvenil A, a última categoria antes do profissionalismo. Campeões dos grupos 3 e 5, Barça e Real estão escalados para o torneio que acontece em maio, e uma decisão entre os gigantes é algo raro – de fato, só ocorreu na temporada 1999/2000, com o Real, maior vencedor do torneio com oito títulos, sagrando-se campeão.

Com campanhas avassaladoras em suas chaves, os rivais têm jogadores que já chamam muito a atenção, como Rafael Alcântara, irmão de Thiago e filho de Mazinho, e Gerard Deuloufeu, já alçado ao Barcelona B e com grande atuação pela seleção nas eliminatórias do Europeu Sub-17, considerado a maior promessa atual pelos lados do Camp Nou.

Já no Bernabeu, a próxima grande aposta é Pablo Sarabia, já da geração /92 com grande histórico pelas seleções de base. Integrante do Castilla, o Real B, é figurinha carimbada na Espanha sub-19 e deverá estar em campo no Mundial Sub-20, em julho, na Colômbia. Isso sem falar de Enzo, o filho de Zidane que já recebe enormes holofotes mesmo estando ainda no Cadete A, equivalente ao primeiro ano do sub-17.

Falando em seleções de base, é possível traçar um panorama do trabalho das bases da dupla também pelo que cada um produz para o país. No time sub-20 que deverá ir ao Mundial, a presença é maior de azul-grenás: o goleiro Álex Sanchez, os defensores Martín Montoya, Carles Planas, Marc Bartra e Jorge Pulido, o volante Oriol Romeu e o meia Thiago Alcântara (TODOS titulares no Europeu Sub-19, que assegurou a classificação). Além deles, há as caras novas, os meias Sergi e Cristian Tello e o atacante Rúben Rochina. Do lado do Real vêm Sérgio Canales (na verdade, revelado pelo Racing Santander) e, provavelmente, Sarabia.

Contudo, na atual safra da sub-19 a divisão é mais igual. O técnico Julen Lopetegui convocou a equipe para o Torneio Internacional da Cidade do Porto e o placar é de cinco a quatro para os merengues: Daniel Carvajal, Alex Fernandez, Pablo Sarabia, Álvaro Morata e Fernando Pacheco foram os madridistas convocados, enquanto Sergi, Marc Muniesa, Rafael Alcântara e Deuloufeu foram os lembrados pelos lados do Camp Nou. Perceba que há muitos jogadores atuando pela sub-19 agora, mas que no Mundial farão parte da sub-20, já que a “troca” de categoria normalmente se dá ao final da temporada europeia.

E não é só para saber quem revela o próximo craque espanhol que Real e Barça degladiam. A briga é grande também para seduzir promessas de outras canteiras. A última queda de braço se deu pelo meia Denís Suárez, do Celta de Vigo. O garoto já atua no time B, entre os profissionais, faz parte da seleção sub-17 e, após duas temporadas sofrendo forte assédio do Real, parece estar próximo de ser contratado pelo Barcelona para a disputa da segunda divisão espanhola com o Barça B.

E não para por aí. Como nas grandes rivalidades daqui, tudo o que envolve Barcelona e Real Madrid ganha proporções muito maiores do que o necessário. O grande burburinho dos bastidores é a possibilidade de José Ramón Alexanko, ex-jogador do Barcelona, assumir a direção das categorias de base merengues. Alexanko era o mandachuva das canteras catalãs desde 2005, mas deixou o clube no ano passado com o término do mandato de Laporta. Elogiado por sua postura firme e olhar clínico, o ex-zagueiro está muito próximo de fechar com o Real, em uma clara tentativa de repetir o sucesso recente de La Masia.

Uma história de rivalidade centenária que vive agora um de seus momentos mais especiais. Acompanhando de perto o desenvolvimento das principais promessas, basta aguardar pelos próximos capítulos deste clássico tão apaixonante quanto imprevisível.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Conversa para norte-americano ver


Cruzeiro estuda criar escolinha nos EUA, mas deveria investir na base por aqui

Publicado no Olheiros Os Estados Unidos não são chamados de “terra das oportunidades” por acaso. Lá, uma ideia na cabeça e um perfil empreendedor fizeram os maiores milionários do mundo, e transformaram o esporte em um lucrativo entretenimento que lota estádios e movimenta bilhões de dólares anualmente seja com a venda de produtos licenciados ou as quantias mais altas do planeta para um anúncio de televisão – no Superbowl deste ano, um comercial de 30 segundos custava US$ 3 milhões.

Mas o que isso tem a ver com o universo da base? Tudo. Ao menos é o que pensa a diretoria do Cruzeiro. O clube mineiro tem negociações adiantadas para montar um complexo futebolístico na terra do Tio Sam, com investimentos pesados para a construção de escolinhas de futebol e centros de formação de jogadores.

Na última semana, o gerente de futebol da raposa, Valdir Barbosa, viajou aos States para reuniões em Dallas e Atlanta, cidades que se candidataram a receber a primeira filial norte-americana de um clube brasileiro – o Cruzeiro USA, uma espécie de escritório que trabalha na divulgação da marca celeste em solo yankee, já opera há algum tempo por lá. Entretanto, tudo indica que a base cruzeirense deverá ser instalada na região de Atlanta, sede das Olimpíadas de 1996.

“Em Atlanta nós temos algumas propostas interessantes para montar uma grande escola de futebol, em parceria com grandes empresas. É uma coisa que está caminhando muito bem”, disse Barbosa, que se reuniu com o prefeito de Alpharetta, cidade-satélite de Atlanta, imobiliárias, o Secretário de Turismo, o Senador da República da Geórgia e o representante do Atlanta Falcons, equipe de futebol americano. Atualmente, a cidade não possui equipe de futebol profissional na Major League Soccer, ao contrário de Dallas, que já tem o FC Dallas, um dos times mais antigos da liga, fundado em 1996.

Segundo a imprensa local, a construção estaria orçada entre 30 e 40 milhões de dólares, ocupando uma área de aproximadamente 400 mil metros quadrados, comportando até dezoito campos de futebol. O dinheiro estaria sendo levantado com empresários e investidores norte-americanos.

A relação com os Estados Unidos e Atlanta não é recente na administração Perrella. Em 2008, o Cruzeiro realizou clínicas na cidade de Atlanta e, no ano passado, jogou amistosos com o New England Revolution e o New York Red Bulls, da MLS. O projeto teria escolinhas de futebol, intercâmbio com universidades (que são quem leva os garotos para os times profissionais, através dos drafts) e até mesmo, no futuro, a criação de um time para a disputa da liga profissional.

Entretanto, a possibilidade soa como mais um de muitos projetos de clubes brasileiros que jamais saem do papel. Estádios e mais estádios do Corinthians, centro de treinamento de primeiro mundo para as bases do Vasco em Duque de Caxias, programas de sócio torcedor que não recebem adesão... Em vez de se preocupar com sua dívida - segundo dados do final de 2009, o Cruzeiro tem uma dívida acumulada de R$ 130 milhões, o clube fala em ampliar mercados, focando um país que já foi sim a terra da oportunidade, mas que ainda tem rejeição considerável ao futebol, prefere outros esportes e dificilmente dará retorno ao clube ou a sua base.

Basta ver projetos como as escolinhas do Ajax espalhadas pelo mundo, que de jogadores descobertos para o clube pouco ou nada renderam. Muito melhor seria, sem dúvida, ampliar a rede de observadores no Brasil, investir na captação e formação e colher frutos seguros – e no pomar perto de seu quintal. O Cruzeiro tem boa estrutura, revela com frequência e vende bem suas crias, mas poderia reverter melhor estes investimentos para a própria base caseira. Do contrário, será apenas conversa para norte-americano ver.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Amizade a que preço?

Dinamite busca saída mais fácil para alojar as bases e Vasco pode pagar caro

Publicado no Olheiros


Não é novidade para os leitores do Olheiros: noticiamos em nosso blog recentemente uma visita feita pelo presidente do Vasco, Roberto Dinamite, à cidade de Maricá, na região metropolitana do Rio. O objetivo do encontro com o prefeito Washington Siqueira foi discutir a construção de um centro de treinamento para as bases do clube na cidade, e que faria parte de um ousado projeto maricaense de tornar-se subsede olímpica em 2016.

Durante palestra dos dirigentes dos quatro grandes do Rio na Casa do Saber nesta semana, Dinamite afirmou estar em negociações avançadas para assinatura do contrato com a prefeitura. Contudo, entre a rubrica no papel e a inauguração dos campos – caso venham a sair da planta de fato –, há muito a esperar.

Enquanto isso, a base vascaína, que por muito tempo treinou no Vasco Barra e até mesmo em São Januário, utiliza gramados “emprestados” mediante parcerias firmadas pelo mandatário cruzmaltino. Até aí, nada de mais, apesar de o clube ter sempre se orgulhado de seu extenso patrimônio e agora utilizar estrutura alheia. O problema é a forma como essas parcerias têm sido firmadas – ou mesmo com quem.

Atualmente, as divisões inferiores vascaínas utilizam campos do Centro de Integração Almirante Graça Aranha, da Marinha, e o Centro de Treinamento VRP, em Itaguaí, próximo a Seropédica, também na Região Metropolitana do Rio. O VRP é de propriedade de Pedrinho Vicençote, ex-lateral que jogou com Dinamite no Vasco na década de 80.

O curioso é que, apesar das bases estarem treinando por lá desde novembro, Dinamite disse durante a palestra que iria “conhecer um espaço que já existe em Seropédica, com cinco campos” – exatamente o CT de Vicençote. Percebe-se, pelas declarações, que o presidente do clube ainda não conhecia o local em que seus atletas amadores vinham treinando. Esta não é a primeira vez que Dinamite dá preferência a ex-companheiros de equipe em questões importantes para o clube, como quando decidiu bancar a efetivação de Gaúcho como treinador.

É essa dificuldade em separar amizade dos negócios que parece ter borrado a visão do presidente vascaíno, que possivelmente também não deva ter visto que o clube perdeu várias de suas promessas para rivais durante sua administração. Segundo informações, a parceria com Vicençote estaria sendo trabalhada por Alexandre, filho do presidente, e Humberto Rocha, gerente do futebol amador. Mais detalhes ainda não há, principalmente aos termos de custos para o Vasco – “quase zero”, disse Dinamite. “Isso vai nos ajudar a revelar mais jovens valores para, eventualmente, negociar um ou outro. Assim equilibramos as nossas finanças e aumentamos o pagamento de dívidas”, acrescentou.

A questão é que Pedrinho é agente de jogadores credenciado pela FIFA, possui atualmente cerca de cem garotos treinando em seu CT e negocia diversos atletas abaixo dos 20 anos para clubes médios e pequenos da Europa. De fato, em seu site oficial a VRP cita alguns atletas revelados e outros de potencial em sua carteira atual, sendo dois deles vascaínos: Roni, zagueiro 92, e Ítalo, zagueiro 96, ambos já com propostas de clubes italianos, principal mercado do empresário. Além disso, o coordenador da categoria infantil do Vasco foi funcionário de Vicençote por muitos anos antes de chegar a São Januário.

Uma parceria assim, se não bem feita, pode ser como entregar as galinhas para a raposa cuidar. Roni e Ítalo são alguns dos atletas de Pedrinho que já estão inseridos na base do Vasco, e tal acordo pode acabar transformando as divisões inferiores do clube em uma “base de aluguel”, como acontece em muitos clubes pequenos, que emprestam a camisa para empresários colocarem seus garotos.

Como saber se a avaliação de um jogador vindo de fora e de outro vindo do parceiro será justa e equilibrada? Oferecer prioridades em troca de favores, ou no caso, da utilização da estrutura, é algo por demais provinciano e desprovido de inteligência, pois não gera dividendos futuros ao clube, que vira mera vitrine de “produtos” terceirizados. De grife, o Vasco passa a ser revendedor autorizado.

No show de horrores que normalmente cerca as declarações de Dinamite, o presidente finalizou a fala sobre a base dizendo que hoje, para se ter um centro de treinamento, são necessárias parcerias. Sim, de fato. Mas parcerias estratégicas, captação de recursos e prospecção de investidores para a construção de algo próprio, como fizeram São Paulo, Atlético-PR, Fluminense, Cruzeiro e Atlético-MG, entre outros. Apequenar-se desta forma apenas para reduzir custos – caso essa seja de fato a motivação principal, e não favorecer amigos - é uma atitude arriscada, tomada sabe-se lá a que preço.