sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Tigrinhos em extinção*

Há exatos dois meses, abordei neste espaço a grave crise financeira do Rio Branco, de Americana. Rebaixado à segunda divisão do campeonato paulista após 17 anos na elite, o Tigre se via na iminente obrigação de, sem dinheiro, usar os garotos da base para disputar o estadual.

De lá para cá, uma empresa apareceu para administrar o futebol, uma parceria foi feita e hoje o time briga por vaga na segunda fase. Neste ínterim, os meninos realizaram a melhor campanha da história do clube na Copa São Paulo, chegando à final graças a ótimos valores como Felipe, Denis e Danilo, todos destacados pelo Olheiros em sua extensiva cobertura da Copinha.

Pois bem. Para um clube pequeno como o Rio Branco, chegar à final da Copa São Paulo, principal competição de base no país, é motivo de comemoração. Não só isso, é hora de buscar investidores, ampliar a infra-estrutura e trabalhar para repetir o feito. É hora, também, de “fazer caixa” com a venda de alguns desses valores, afinal a realidade da maioria dos clubes é a mesma.

Tanto é verdade que, em muitas agremiações do interior paulista, a saída não só para o futebol profissional, como também para as categorias de base, tem sido a mão – nem sempre tão amiga – de empresas e parcerias. Passado um mês da final da Copinha, o Rio Branco não negociou nenhum dos destaques da campanha do vice-campeonato. Pode, agora, ter que abrir mão desses garotos para não encerrar as atividades de uma das categorias de base mais frutíferas do futebol paulista – quiçá brasileiro.

A justificativa é a mesma: não existe dinheiro para gerir as bases do clube, que custam em torno de R$60 mil mensais. A esperança era conseguir vender algum dos comandados de Marquinhos Sartore, mas até agora não surgiram nada além de especulações, como a ida de Felipe para o Palmeiras ou a contratação de Danilo pelo Sporting Lisboa.

Assim, criou-se um impasse: a cada dia, a chance de uma negociação diminui. E ao mesmo tempo em que não há dinheiro para mantê-los na base, aproveitá-los no profissional significaria perder uma porcentagem dos direitos federativos para a empresa gestora, como consta no contrato da parceria.

A solução encontrada pelos dirigentes do clube foi terceirizar a base. Oferecer à parceira a administração também dos meninos, arcando com todos os custos. Em troca, a empresa leva uma porcentagem na venda, como acontece no profissional. A estratégia é diferente de outras equipes, que apenas “emprestam” as cores para empresários utilizarem seus jogadores. Uma saída muito arriscada para resolver os problemas, pois pode diminuir a já única e mirrada fonte de renda do clube.

Boca limpa

Federações regionais de Portugal tentam implementar o cartão azul nas categorias de base do país. A advertência seria aplicada quando os garotos utilizassem palavrões durante as partidas e a cada dois azuis, o jogador receberia um cartão amarelo. Boa idéia, mas prato cheio para os anciãos da International Board vetarem.


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*coluna publicada originalmente no Olheiros

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Pitacos sobre o final de semana


Maldições do Parque Antarctica à parte, o Palmeiras mais uma vez não foi bem porque Diego Souza continua devendo e Valdívia acaba sobrecarregado. Alex Mineiro poderia ser mais utilizado como pivô, pois ele faz bem essa função. Denílson entrou e também pouco rendeu. O time mudou bastante, especialmente na frente. É necessário se adaptar às novas peças, mas ao mesmo tempo um técnico como Luxemburgo já teria que estar fazendo essa equipe render mais. Talvez o excesso de opções de qualidade (pelo menos no nome) esteja atrapalhando.

Mano Menezes foi mais cauteloso do que na última partida, escalando Carlão no lugar de Everton Ribeiro. Ainda assim, o Corinthians conseguiu uma excelente vitória sobre a Ponte - mais pelo resultado que pelo futebol. O time tem jogado mais pelos lados, já que falta um articulador de ofício no meio. As cobranças de falta do canhoto André Santos pela direita são interessantes e têm criado bons momentos. Na defesa, os problemas de posicionamento persistem.

O São Paulo fez uma partida muito irregular diante do Noroeste. Eficiente no primeiro tempo, o time sofreu um apagão e deixou o time de Bauru empatar - não se pode ignorar o mérito do adversário, mas as falhas defensivas da equipe foram bisonhas. Muricy errou ao tirar Borges para a entrada de Hugo. As constantes variações, dentro do jogo, do 3-5-2 para o 4-4-2, confundem André Dias e Alex Bruno, e confundiram Juninho a ponto de ele ficar na reserva. Serve a desculpa de que Muricy continua testando seu novo elenco.

Quanto ao Santos, Molina começa a dar mostras de que é o organizador que faltava à equipe. Carleto mostrou sua importância nos cruzamentos precisos e Evaldo mostrou sua deficiência técnica nas pataquadas. É preciso acertar a saída de bola, mas já se vê uma evolução.

E na final da Taça Guanabara, considero parcialmente justas as reclamações botafoguenses. Jorge Henrique realmente sofreu falta no lance que originou a expulsão de Lúcio Flávio, e Zé Carlos também não merecia ter sido expulso pela confusão - Castillo teve participação muito maior. Mas que foi pênalti, foi. O problema é que em apenas um de cada 50 desses lances, o árbitro marca. De qualquer forma, o Flamengo é - e foi - mais time. Hora dos alvinegros pararem de chorar e de culpar o destino, pois têm condições de vencerem a Taça Rio. Essa história de 'jogamos como nunca, perdemos como sempre' já saiu de moda.

domingo, 24 de fevereiro de 2008

San José - Os santos no caminho do Santos*


Quando a Conmebol sorteou os grupos da Copa Libertadores no final de 2007, muitos torcedores santistas, cientes das dificuldades financeiras que não permitiriam ao clube investir pesado em reforços, temeram pela desclassificação já na primeira fase. O problema não era o desconhecido San José, da Bolívia, mas o bom Chivas Guadalajara, do México, e o surpreendente Deportivo Cúcuta, da Colômbia, semifinalista no ano passado.

Mas será que os bolivianos realmente não ameaçam e servirão de sparring? Não é o que pensam, pelo menos, “los Santos”, como são conhecidos os jogadores da equipe de Oruro, cidade de 400 mil habitantes situada a 3.700 metros de altura, 200km ao sul de La Paz. Jogando ao lado da apaixonada torcida e, principalmente, com o auxílio da altitude, os campeões do Clausura 2007 querem a melhor campanha da história.

Santo de casa faz milagre?

Esta será a quarta participação do time azul e branco. Na última, em 96, conseguiu avançar à segunda fase graças às três vitórias no Jesús Bermúdez. Fora, duas derrotas para os colombianos América e Atlético Júnior e uma goleada de 4 a 1 para o rival local Guabirá, que foi eliminado. A queda nas oitavas, diante do Barcelona de Guayaquil, foi nos pênaltis, após vencer em casa por 1 a 0 e perder, no Equador, por 2 a 1.

Em 92 e 93, participações pífias: apenas um empate na temporada de estréia, conseguido curiosamente em pleno Morumbi, contra o São Paulo. Conta a história que, para acompanhar de perto este jogo, considerado um dos mais importantes dos 63 anos do clube, um torcedor vendeu sua casa para pagar passagem de avião, ingresso e hospedagem. Este é um exemplo comumente dado pelos hinchas, que se intitulam os mais fanáticos do país. No ano seguinte, os santos ao menos venceram uma, no clássico regional com o Bolívar.

O time do presidente

Se o San José tem mesmo a torcida mais apaixonada do país, não se pode dizer. Mas que possui, de fato, o torcedor mais importante, não há como negar. O presidente boliviano Evo Morales não só torce para o clube, como também já foi jogador da equipe. No começo da década de 70, quando ainda era adolescente, chegou a disputar algumas partidas nos times inferiores. Recentemente, com a polêmica da proibição da FIFA à realização de jogos na altitude, Morales promoveu uma série de manifestações pedindo a reversão da medida. Em uma delas, participou de uma partida amistosa realizada no estádio Jesús Bermúdez.

Os húngaros de 55

A origem do nome do clube tem duas explicações: a fundação aconteceu em 19 de março, dia de São José, padroeiro dos operários. E os fundadores eram trabalhadores da Mina San José, que se organizaram para disputar o campeonato da Asociación de Fútbol de Oruro, liga amadora local. O mentor da idéia foi Herry A. Keegan, administrador inglês da mina.

As cores permanecem inalteradas desde a fundação: azul e branco. O uniforme é semelhante ao Vélez Sarsfield da Argentina, embora não existam registros da influência fortín no clube boliviano. A equipe disputou a liga amadora orurenha até 1955, quando participou da fundação de uma liga semi-profissional em La Paz. A LFPB (Liga de Fútbol Profesional Boliviano) foi o embrião do profissionalismo no país, que culminou com o surgimento, em 1977, do campeonato nacional.

Logo no primeiro ano da competição, o San José montou o que é considerado até hoje o maior time de sua história. Jogando contra equipes muito mais tradicionais de La Paz e Cochabamba, os santos venceram o campeonato com cinco pontos de vantagem. O título veio em um empate diante do todo-poderoso Bolívar, em La Paz, por 2 a 2. Armando Escobar, um dos maiores ídolos orurenho, marcou os dois gols.

Foi num domingo, 29 de janeiro de 1956, que a torcida lotou o então “Monumental Oruro” (o nome Jesús Bermúdez viria somente depois, em homenagem a um grande goleiro do clube) para a partida final do campeonato, com a taça já assegurada. O adversário seria o Jorge Wilstermann e, segundo reportagem do “La Patria”, o San José expôs seu melhor sistema de jogo para vencer por 3 a 1.

Humberto Murillo, habilidoso avançado, abriu o placar com um gol olímpico logo a dois minutos de jogo. Após empate dos visitantes, a fulminante troca de passes entre Marcilla, Murillo, Escobar e Benjamin Maldonado culminou com o segundo gol. Jorge Orellana, de pênalti, decretou o placar final para delírio dos mais de 20 mil orurenses presentes.

Francisco Bonifacio, Silvano Valdivia, Juan Pedro Valdivia, René Torrico, Jorge Marcilla, Luis Peláez, Luis Castro, Armando Escóbar, Jorge Orellana, Humberto Murillo e Benjamín Maldonado receberam da imprensa e da torcida o apelido de “húngaros”, dada a consistência de seu jogo e a velocidade com que atacavam. À época, a seleção de Puskas, Kocsis, Czibor e Hidegkuti, ainda que derrotada na final da Copa da Suíça, era considerada a melhor equipe do planeta.

Começar de novo

Mesmo com o sucesso nacional, o San José decidiu voltar a disputar a liga municipal de Oruro, que conquistou por seis vezes entre 1954 e 1972. Foi somente em 77 que o clube voltou ao cenário boliviano, com o surgimento do verdadeiro campeonato nacional, existente até hoje. Depois de seguidas campanhas sem destaque, o duplo vice-campeonato em 1991 e 92 (ambos para o Bolívar) levou o time à disputa da Libertadores da América.

O primeiro título verdadeiramente nacional viria em 1995, numa decisão surpreendente com o também pouco tradicional Guabirá. Derrota fora de casa por 3 a 1 no primeiro jogo, vitória no Jesús Bermúdez por 3 a 0 e empate em 1 a 1 no jogo extra. O título veio graças ao saldo de gols.

Após anos dourados, veio o descenso em 1999. Os dois anos na segunda divisão quase significaram o fechamento do clube, mas a volta por cima veio a tempo e o time foi campeão da Copa Simón Bolívar, garantindo o retorno. O título do Clausura 2007 devolveu a Oruro os dias de glória, impulsionados por dois brasileiros: Alex da Rosa, naturalizado, e Sandro Coelho, ambos meias. Para esta temporada, contratou o habilidoso Darwin Peña, que se destacou pelo Real Potosí no ano passado. Uma tentativa de alçar vôos em outras terras e respirar ares não tão rarefeitos quanto os de Oruro.


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*Publicado originalmente na seção "Conheça o clube", da Trivela: http://www.trivela.com/index.asp?Fuseaction=Extra&id_secao=28

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Os pênaltis de Edmundo


Não é justo dizer que Edmundo "pipoca" em pênaltis decisivos. Pelo Vasco, em 97, e até antes, pelo Palmeiras, marcou vários gols importantes - inclusive de falta. Mas nos últimos anos não tem tido, de fato, a mesma eficiência.

A final do Mundial de Clubes de 2000; o pênalti pelo Cruzeiro, contra o Vasco, em 2001; contra o mesmo Vasco, pelo Palmeiras, em 2006; e no ano passado, contra o Ipatinga, na Copa do Brasil. São estes os exemplos, vivos na memória, de que Edmundo, ainda que tenha uma bela história, não deva mais cobrar pênaltis.

Porque o Vasco tinha Morais, que cobrou três até agora no campeonato e marcou. Tem Tiago, que apesar da má sorte no segundo gol, foi muito bem durante toda a partida e bate com primasia. E principalmente, porque o Vasco tem a necessidade de vencer logo o Flamengo em um jogo decisivo para acabar com a fama.

Mas se disse, ao final do jogo, que não tinha condições de atuar os 90 minutos, Edmundo poderia, ao menos, ter deixado a cobrança para outro. Pelo bem dele e do Vasco.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Fidelidade

Domingo à tarde, São Paulo e Santos entram em campo pela oitava rodada do Campeonato Paulista. 17.595 pessoas acompanham, no Morumbi, a emocionante vitória são-paulina por 3 a 2. O jogo valia classificação entre os quatro, para o São Paulo, e reabilitação, para o Santos.

Domingo chuvoso, Flamengo e Fluminense jogam pela última rodada da Taça Guanabara. 39.056 espectadores vêem Thiago Neves e o mistão do Flu golearem os reservas do Fla por 4 a 1. O jogo não valia nada: o Rubro-Negro já estava garantido em primeiro lugar no grupo e o Tricolor, em segundo.

E a pergunta que fica é: por quê?

Por que o clássico carioca, mesmo já sabido que Joel pouparia até o goleiro Bruno, teve mais público que o paulista? Será que os cariocas realmente gostam mais de ir ao estádio que os paulistas?

Importante ressaltar que não havia diferença de preço nos ingressos: o valor mais em conta era de R$20 nos dois estádios. A diferença – que pode ter afetado um pouco o número final de presentes no Morumbi – é que no Rio houve venda na bilheteria no dia do jogo. Em São Paulo, não.

Digno de nota, também, a campanha irregular do Santos, que afastou o torcedor do clássico. No Brasileirão do ano passado, com os ingressos ao mesmo valor, 33.865 pessoas viram o mesmo jogo, quando o Peixe aparecia em terceiro. Considerando que, por maior que seja a torcida na capital, o time do Santos não é da cidade. Temos, portanto, outro fator que pode ser apontado: o Fla-Flu tem duas equipes da capital.

Mas, afinal, tais dados explicam essa diferença? Acredito que não. Afinal, o Santos foi quem liderou a média de audiência dos quatro grandes paulistas nos jogos transmitidos pela TV aberta no BR-07. Acredito ser, acima de tudo, uma questão cultural.

Parece a mim que o carioca possui uma ligação muito mais próxima com o futebol. Não digo que goste mais. Mas sinto que o futebol faz mais parte da vida do carioca que do paulista. É um público, enfim, mais assíduo. Não que um Corinthians x Palmeiras não possa ter mais público que um Vasco x Botafogo. Pode. Mas a festa nas arquibancadas talvez não seja a mesma.


Publicado também no Blag do Mauro Beting.

Jogos no exterior pela Premier League

Seria sensacional descer a Anhanguera pra ver um Manchester x Arsenal. Quisera eu um dia poder assistir ao Milan, pessoalmente.

Mas sinceramente, isso não passa de uma utopia. MAIS uma jogada de marketing dos fenomenais marketeiros ingleses. Mas não dá. Tudo bem, o futebol hoje é um negócio e o menos importante, de fato, é o jogo. Mas algo assim seria assinar de uma vez por todas o atestado de colônia futebolística. Penso que voltamos à época colonial sim, onde a metrópole só retira as riquezas daqui (os jogadores) e faz o que quer.

Tá certo, não adianta querer se fechar numa redoma e virar protecionista. Mas se isso acontecer, as chances dos clubes brasileiros conseguirem se desenvolver serão menores ainda.

Até a Austrália tem uma liga mais negociável que o Brasil. De que adianta querer vender pacote de jogos para o exterior, se não tem ninguém decente jogando aqui? Já já o campeonato vai virar um brasileiro sub-20.

Sou positivista: o futebol é nosso.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Penso, logo jogo*

Quando enfileirava nos juvenis do Barcelona e era, ainda, pouco conhecido, Lionel Messi sofreu uma fratura no rosto. Dias depois, disputou uma final contra o Espanyol com uma máscara protetora emprestada por Puyol. Incômoda, a máscara não durou dez minutos. Messi a tirou e permaneceu em campo durante todo o jogo.

Mas o que isto significa? Jogador diferenciado? Comprometimento, personalidade de um gigante? Sim, claro. Mas também, demonstra o preparo mental que Messi recebeu durante toda a sua carreira. O argentino teve, aliado à sua excepcional qualidade, apoio irrestrito da família, que mudou-se com ele para a Europa, e acompanhamento contínuo dos técnicos que teve em “La Masía”, local de treinamento do clube catalão.

Messi teve, antes de tudo, uma preparação psicológica perfeita para poder desenvolver suas habilidades e amadurecer para se tornar um craque. É um exemplo de que, além de predisposições genéticas, treinamento intensivo e incentivos financeiros, o trabalho psicológico também é fundamental na formação de um jogador de sucesso.

Infelizmente, esta é uma visão pouco difundida no futebol brasileiro. São raríssimos os casos de clubes que possuem acompanhamento psicológico em sua estrutura profissional –nas categorias de base então, algo digno de registro. De fato, pesquisa recente apontou que 77,9% dos atletas consideram importante a presença de um psicólogo dentro da comissão técnica, ao passo que 75,3% afirmam nunca ter trabalhado com um profissional deste tipo.

A Psicologia do Esporte é uma nova área das chamadas ciências do esporte, que englobam também a preparação física, técnica e tática. Analisar as condições psicológicas dos atletas tem-se mostrado fundamental para alcançar melhores resultados, especialmente no futebol, onde as relações interpessoais acontecem o tempo todo e podem definir o rumo de uma jogada. Por exemplo, uma briga entre dois jogadores durante um treino pode fazer com que um deles não toque a bola ao outro durante a partida, diminuindo as chances de vitória.

Os ‘paizões’

Considerando o atual contexto do futebol brasileiro, em que há a necessidade de se formar atletas mais completos mais cedo, a preparação psicológica é fundamental para que o garoto possa se desenvolver de maneira plena. Ambientes fechados de alojamento, a distância dos familiares e outras dificuldades de adaptação em um novo local, totalmente normais para meninos de quinze anos que estão aprendendo a ter responsabilidade e a resolver seus próprios problemas, podem ser equacionadas com a ajuda de um psicólogo.

Entretanto, é ainda prática comum a do famoso técnico “paizão” nas categorias de base. O perfil destes treinadores, na maioria dos clubes, é o do profissional experiente, que sabe conversar com os garotos na linguagem utilizada por eles e que conversa, ouve reclamações, tira dúvidas e dá conselhos. Tal atitude é positiva e apresenta bons resultados, mas a presença de alguém qualificado a realizar um trabalho mais aprofundado pode, em longo prazo, otimizar a produtividade.

Um dos momentos mais críticos na carreira de um atleta é quando ele se vê escolhido para treinar ou atuar com o time profissional. Hora de alegria, mas também de ansiedade e insegurança. Afinal, o melhor de um elenco juvenil passa a ser o juvenil de um time adulto, o que pode afetar diretamente a auto-estima do garoto. Não é raro ver jovens que aprendem condutas agressivas e anti-desportivas dentro de campo ao observar o comportamento dos “adultos”. É aí que o trabalho psicológico se torna importante, afinal muitos jogadores se perdem nesse processo. É preciso, portanto, maior divulgação e reconhecimento da psicologia do esporte como parte integrante da estrutura dos clubes.


*Coluna publicada originalmente no Olheiros.