Quando a Conmebol sorteou os grupos da Copa Libertadores no final de 2007, muitos torcedores santistas, cientes das dificuldades financeiras que não permitiriam ao clube investir pesado em reforços, temeram pela desclassificação já na primeira fase. O problema não era o desconhecido San José, da Bolívia, mas o bom Chivas Guadalajara, do México, e o surpreendente Deportivo Cúcuta, da Colômbia, semifinalista no ano passado.
Mas será que os bolivianos realmente não ameaçam e servirão de sparring? Não é o que pensam, pelo menos, “los Santos”, como são conhecidos os jogadores da equipe de Oruro, cidade de 400 mil habitantes situada a 3.700 metros de altura, 200km ao sul de La Paz. Jogando ao lado da apaixonada torcida e, principalmente, com o auxílio da altitude, os campeões do Clausura 2007 querem a melhor campanha da história.
Santo de casa faz milagre?
Esta será a quarta participação do time azul e branco. Na última, em 96, conseguiu avançar à segunda fase graças às três vitórias no Jesús Bermúdez. Fora, duas derrotas para os colombianos América e Atlético Júnior e uma goleada de 4 a 1 para o rival local Guabirá, que foi eliminado. A queda nas oitavas, diante do Barcelona de Guayaquil, foi nos pênaltis, após vencer em casa por 1 a 0 e perder, no Equador, por 2 a 1.
Em 92 e 93, participações pífias: apenas um empate na temporada de estréia, conseguido curiosamente em pleno Morumbi, contra o São Paulo. Conta a história que, para acompanhar de perto este jogo, considerado um dos mais importantes dos 63 anos do clube, um torcedor vendeu sua casa para pagar passagem de avião, ingresso e hospedagem. Este é um exemplo comumente dado pelos hinchas, que se intitulam os mais fanáticos do país. No ano seguinte, os santos ao menos venceram uma, no clássico regional com o Bolívar.
O time do presidente
Se o San José tem mesmo a torcida mais apaixonada do país, não se pode dizer. Mas que possui, de fato, o torcedor mais importante, não há como negar. O presidente boliviano Evo Morales não só torce para o clube, como também já foi jogador da equipe. No começo da década de 70, quando ainda era adolescente, chegou a disputar algumas partidas nos times inferiores. Recentemente, com a polêmica da proibição da FIFA à realização de jogos na altitude, Morales promoveu uma série de manifestações pedindo a reversão da medida. Em uma delas, participou de uma partida amistosa realizada no estádio Jesús Bermúdez.
Os húngaros de 55
A origem do nome do clube tem duas explicações: a fundação aconteceu em 19 de março, dia de São José, padroeiro dos operários. E os fundadores eram trabalhadores da Mina San José, que se organizaram para disputar o campeonato da Asociación de Fútbol de Oruro, liga amadora local. O mentor da idéia foi Herry A. Keegan, administrador inglês da mina.
As cores permanecem inalteradas desde a fundação: azul e branco. O uniforme é semelhante ao Vélez Sarsfield da Argentina, embora não existam registros da influência fortín no clube boliviano. A equipe disputou a liga amadora orurenha até 1955, quando participou da fundação de uma liga semi-profissional em La Paz. A LFPB (Liga de Fútbol Profesional Boliviano) foi o embrião do profissionalismo no país, que culminou com o surgimento, em 1977, do campeonato nacional.
Logo no primeiro ano da competição, o San José montou o que é considerado até hoje o maior time de sua história. Jogando contra equipes muito mais tradicionais de La Paz e Cochabamba, os santos venceram o campeonato com cinco pontos de vantagem. O título veio em um empate diante do todo-poderoso Bolívar, em La Paz, por 2 a 2. Armando Escobar, um dos maiores ídolos orurenho, marcou os dois gols.
Foi num domingo, 29 de janeiro de 1956, que a torcida lotou o então “Monumental Oruro” (o nome Jesús Bermúdez viria somente depois, em homenagem a um grande goleiro do clube) para a partida final do campeonato, com a taça já assegurada. O adversário seria o Jorge Wilstermann e, segundo reportagem do “La Patria”, o San José expôs seu melhor sistema de jogo para vencer por 3 a 1.
Humberto Murillo, habilidoso avançado, abriu o placar com um gol olímpico logo a dois minutos de jogo. Após empate dos visitantes, a fulminante troca de passes entre Marcilla, Murillo, Escobar e Benjamin Maldonado culminou com o segundo gol. Jorge Orellana, de pênalti, decretou o placar final para delírio dos mais de 20 mil orurenses presentes.
Francisco Bonifacio, Silvano Valdivia, Juan Pedro Valdivia, René Torrico, Jorge Marcilla, Luis Peláez, Luis Castro, Armando Escóbar, Jorge Orellana, Humberto Murillo e Benjamín Maldonado receberam da imprensa e da torcida o apelido de “húngaros”, dada a consistência de seu jogo e a velocidade com que atacavam. À época, a seleção de Puskas, Kocsis, Czibor e Hidegkuti, ainda que derrotada na final da Copa da Suíça, era considerada a melhor equipe do planeta.
Começar de novo
Mesmo com o sucesso nacional, o San José decidiu voltar a disputar a liga municipal de Oruro, que conquistou por seis vezes entre 1954 e 1972. Foi somente em 77 que o clube voltou ao cenário boliviano, com o surgimento do verdadeiro campeonato nacional, existente até hoje. Depois de seguidas campanhas sem destaque, o duplo vice-campeonato em 1991 e 92 (ambos para o Bolívar) levou o time à disputa da Libertadores da América.
O primeiro título verdadeiramente nacional viria em 1995, numa decisão surpreendente com o também pouco tradicional Guabirá. Derrota fora de casa por 3 a 1 no primeiro jogo, vitória no Jesús Bermúdez por 3 a 0 e empate em 1 a 1 no jogo extra. O título veio graças ao saldo de gols.
Após anos dourados, veio o descenso em 1999. Os dois anos na segunda divisão quase significaram o fechamento do clube, mas a volta por cima veio a tempo e o time foi campeão da Copa Simón Bolívar, garantindo o retorno. O título do Clausura 2007 devolveu a Oruro os dias de glória, impulsionados por dois brasileiros: Alex da Rosa, naturalizado, e Sandro Coelho, ambos meias. Para esta temporada, contratou o habilidoso Darwin Peña, que se destacou pelo Real Potosí no ano passado. Uma tentativa de alçar vôos em outras terras e respirar ares não tão rarefeitos quanto os de Oruro.
Mas será que os bolivianos realmente não ameaçam e servirão de sparring? Não é o que pensam, pelo menos, “los Santos”, como são conhecidos os jogadores da equipe de Oruro, cidade de 400 mil habitantes situada a 3.700 metros de altura, 200km ao sul de La Paz. Jogando ao lado da apaixonada torcida e, principalmente, com o auxílio da altitude, os campeões do Clausura 2007 querem a melhor campanha da história.
Santo de casa faz milagre?
Esta será a quarta participação do time azul e branco. Na última, em 96, conseguiu avançar à segunda fase graças às três vitórias no Jesús Bermúdez. Fora, duas derrotas para os colombianos América e Atlético Júnior e uma goleada de 4 a 1 para o rival local Guabirá, que foi eliminado. A queda nas oitavas, diante do Barcelona de Guayaquil, foi nos pênaltis, após vencer em casa por 1 a 0 e perder, no Equador, por 2 a 1.
Em 92 e 93, participações pífias: apenas um empate na temporada de estréia, conseguido curiosamente em pleno Morumbi, contra o São Paulo. Conta a história que, para acompanhar de perto este jogo, considerado um dos mais importantes dos 63 anos do clube, um torcedor vendeu sua casa para pagar passagem de avião, ingresso e hospedagem. Este é um exemplo comumente dado pelos hinchas, que se intitulam os mais fanáticos do país. No ano seguinte, os santos ao menos venceram uma, no clássico regional com o Bolívar.
O time do presidente
Se o San José tem mesmo a torcida mais apaixonada do país, não se pode dizer. Mas que possui, de fato, o torcedor mais importante, não há como negar. O presidente boliviano Evo Morales não só torce para o clube, como também já foi jogador da equipe. No começo da década de 70, quando ainda era adolescente, chegou a disputar algumas partidas nos times inferiores. Recentemente, com a polêmica da proibição da FIFA à realização de jogos na altitude, Morales promoveu uma série de manifestações pedindo a reversão da medida. Em uma delas, participou de uma partida amistosa realizada no estádio Jesús Bermúdez.
Os húngaros de 55
A origem do nome do clube tem duas explicações: a fundação aconteceu em 19 de março, dia de São José, padroeiro dos operários. E os fundadores eram trabalhadores da Mina San José, que se organizaram para disputar o campeonato da Asociación de Fútbol de Oruro, liga amadora local. O mentor da idéia foi Herry A. Keegan, administrador inglês da mina.
As cores permanecem inalteradas desde a fundação: azul e branco. O uniforme é semelhante ao Vélez Sarsfield da Argentina, embora não existam registros da influência fortín no clube boliviano. A equipe disputou a liga amadora orurenha até 1955, quando participou da fundação de uma liga semi-profissional em La Paz. A LFPB (Liga de Fútbol Profesional Boliviano) foi o embrião do profissionalismo no país, que culminou com o surgimento, em 1977, do campeonato nacional.
Logo no primeiro ano da competição, o San José montou o que é considerado até hoje o maior time de sua história. Jogando contra equipes muito mais tradicionais de La Paz e Cochabamba, os santos venceram o campeonato com cinco pontos de vantagem. O título veio em um empate diante do todo-poderoso Bolívar, em La Paz, por 2 a 2. Armando Escobar, um dos maiores ídolos orurenho, marcou os dois gols.
Foi num domingo, 29 de janeiro de 1956, que a torcida lotou o então “Monumental Oruro” (o nome Jesús Bermúdez viria somente depois, em homenagem a um grande goleiro do clube) para a partida final do campeonato, com a taça já assegurada. O adversário seria o Jorge Wilstermann e, segundo reportagem do “La Patria”, o San José expôs seu melhor sistema de jogo para vencer por 3 a 1.
Humberto Murillo, habilidoso avançado, abriu o placar com um gol olímpico logo a dois minutos de jogo. Após empate dos visitantes, a fulminante troca de passes entre Marcilla, Murillo, Escobar e Benjamin Maldonado culminou com o segundo gol. Jorge Orellana, de pênalti, decretou o placar final para delírio dos mais de 20 mil orurenses presentes.
Francisco Bonifacio, Silvano Valdivia, Juan Pedro Valdivia, René Torrico, Jorge Marcilla, Luis Peláez, Luis Castro, Armando Escóbar, Jorge Orellana, Humberto Murillo e Benjamín Maldonado receberam da imprensa e da torcida o apelido de “húngaros”, dada a consistência de seu jogo e a velocidade com que atacavam. À época, a seleção de Puskas, Kocsis, Czibor e Hidegkuti, ainda que derrotada na final da Copa da Suíça, era considerada a melhor equipe do planeta.
Começar de novo
Mesmo com o sucesso nacional, o San José decidiu voltar a disputar a liga municipal de Oruro, que conquistou por seis vezes entre 1954 e 1972. Foi somente em 77 que o clube voltou ao cenário boliviano, com o surgimento do verdadeiro campeonato nacional, existente até hoje. Depois de seguidas campanhas sem destaque, o duplo vice-campeonato em 1991 e 92 (ambos para o Bolívar) levou o time à disputa da Libertadores da América.
O primeiro título verdadeiramente nacional viria em 1995, numa decisão surpreendente com o também pouco tradicional Guabirá. Derrota fora de casa por 3 a 1 no primeiro jogo, vitória no Jesús Bermúdez por 3 a 0 e empate em 1 a 1 no jogo extra. O título veio graças ao saldo de gols.
Após anos dourados, veio o descenso em 1999. Os dois anos na segunda divisão quase significaram o fechamento do clube, mas a volta por cima veio a tempo e o time foi campeão da Copa Simón Bolívar, garantindo o retorno. O título do Clausura 2007 devolveu a Oruro os dias de glória, impulsionados por dois brasileiros: Alex da Rosa, naturalizado, e Sandro Coelho, ambos meias. Para esta temporada, contratou o habilidoso Darwin Peña, que se destacou pelo Real Potosí no ano passado. Uma tentativa de alçar vôos em outras terras e respirar ares não tão rarefeitos quanto os de Oruro.
----------------------
*Publicado originalmente na seção "Conheça o clube", da Trivela: http://www.trivela.com/index.asp?Fuseaction=Extra&id_secao=28
Nenhum comentário:
Postar um comentário