segunda-feira, 31 de março de 2008

A hora seria agora*

Renovar faz parte do ciclo da vida. Para os clubes de futebol, então, é o principal elo deste ciclo. Manter o alto nível (ou alcançá-lo) depende da observação diária e prospecção de novas figuras. Entretanto, um certo clube de Milão desafia este paradigma mostrando que é possível permanecer no topo deixando praticamente de lado a substituição de engrenagens fadigadas por outras novas e afiadas.

O Milan campeão europeu tinha em campo, na final contra o Liverpool, seis jogadores acima dos trinta anos de idade. Uma média que sobe ainda mais se considerarmos os suplentes – de fato, Kaká era o mais jovem dos dezoito relacionados. É totalmente possível, sim, ser vitorioso com um time experiente. O Brasil mostrou isso duas vezes, em 62 e 94, e na própria Liga dos Campeões da Europa o Bayern, em 2002, e a Juventus, em 96, usaram deste expediente.

Surpreende, entretanto, o fato de que mesmo com um elenco veterano, o Milan pouco mudou para esta temporada – veio Pato, apareceu Paloschi e Costacurta aposentou-se, mas o time titular permaneceu quase inalterado. Ou melhor, pensando bem, isso não surpreendeu. Conhecendo a filosofia de Ancelotti e a metodologia de trabalho rossonera, pouco se poderia esperar em termos de renovação. Mas a eliminação precoce para o Arsenal (um time cheio de garotos!) na UCL e a ofegante campanha na Serie A já acenderam a luz amarela em San Siro.

Um argumento recorrente para a pouca utilização dos garotos milaneses é que falta qualidade na base. Na última edição do Viareggio, a equipe foi eliminada nas oitavas-de-final pela sempre produtiva base do Vicenza, nos pênaltis. Paloschi e Aubameyang se destacaram, mas é muito pouco para um clube como o Milan. Tamanha é a cegueira de Ancelotti para a base que nem mesmo seu filho, o meio-campista Davide, consegue aspirar grande participação num futuro próximo.

Mas dizer que a base é ruim e que, por isso, não pode ser utilizada, é um argumento no mínimo burro. Com o dinheiro que possui, o Milan poderia - e deve - investir mais não só na formação, como também na captação de talentos. Já que não forma, ao menos que amplie a rede de contatos para alistar mais cedo jogadores com mais potencial. Parece lógico, e é. Mas é uma lógica que não se quer seguir.

A atual geração pode, de fato, até não ser tão boa assim, mas alguns jovens emprestados pelo Milan, por falta de espaço na equipe principal, têm feito boa figura com outras camisas. O lateral-esquerdo Leandro Grimi, argentino com cidadania italiana, foi cedido ao Siena, voltou e agora faz boa temporada no Sporting Lisboa. Comprado junto ao Racing de Avellaneda no início de 2007, pode ficar em definitivo em Portugal mesmo tendo vestido a camisa rossonera poucas vezes.

Outro zagueiro, Lino Marzoratti, temporário no Empoli, é titular absoluto da seleção sub-21 e dificilmente ficará de fora das Olimpíadas. Estes são dois exemplos de jogadores que Ancelotti poderia muito bem ter lançado para ganhar experiência, afinal é no setor defensivo que residem as principais preocupações rossoneras: Maldini (finalmente) se despede ao final da temporada e Cafu, Favalli, e Serginho logo vão fazer o mesmo. Uma das poucas exceções, Matteo Darmian é titular da equipe sub-19 e aos poucos vai sendo lançado. É pouco.

Para atestar a falta de valorização da base, basta ver que a supracitada equipe sub-21 italiana não possui nenhum jogador rossonero. Pelo contrário: o clube tenta comprar jogadores que fazem parte dela. Já surgem especulações de que Gilardino poderia ser trocado por Montolivo, da Fiorentina, ao final da temporada. Será esta a estratégia correta? Diz o ditado que em time que está ganhando não se mexe. Mas... Até quando? A hora de mudar seria agora.


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* Coluna publicada originalmente no Olheiros.

quarta-feira, 26 de março de 2008

Que jogo!

Tinha tudo o Santos x Corinthians desta quarta para ser um jogo insosso: defesas bem postadas, meios-de-campo pouco criativos e ataques improdutivos em um campo pequeno.

Mas tinha tudo também para ser um jogaço: clássico de uma equipe que se encontrou cedo no campeonato contra outra que vem se encontrando a cada jogo, ambas brigando pela classificação.

E que jogo!

As defesas oscilaram, os meios-de-campo produziram e os ataques marcaram, mas também desperdiçaram chances inacreditáveis, como a de André Santos no primeiro tempo. Houve de tudo que precisa um clássico para ser um clássico: briga, expulsão, arbitragem polêmica (e com erros, mas sempre os há), entrega e muita vontade, como há muito não via.

Não há, em nenhum dos dois times, craques. Mas há bons jogadores capazes de momentos de craque, como a jogada de Molina no primeiro gol, e há bons jogadores capazes de momentos de bagre, como a pisada na bola de Perdigão no mesmo lance. Um jogo como há muito tempo não via, e que, como há muito tempo não acontecia, torcia para que o fim não chegasse.

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Para ficar por dentro dos resultados desta quarta-feira de eliminatórias para a Copa de 2010, acesse o Febre Mundialista.

terça-feira, 25 de março de 2008

Cem, dez, zero

Ficam hoje os parabéns ao Galo pelo centenário. O Atlético que, dos grandes, é o que há mais tempo não conquista títulos de expressão. Quando dirigentes brigam em pleno dia de comemorações, entende-se melhor porquê. Contratações como as de Marques e Petkovic colocam ainda mais dúvida no sucesso da equipe, que após a queda à série B parecia ter entendido que a resposta está na base. Que os próximos cem anos sejam melhor que os últimos dez.

Vale também a lembrança dos dez anos da Lei Pelé, que não é tão culpada pela situação atual dos clubes brasileiros como se quer fazer crer. Falta profissionalismo para romper com estruturas deficitárias e inchadas, acabar com vícios administrativos e pensar no clube mais como uma marca - afinal o futebol-negócio de hoje demanda muito mais marketing, já que o que manda é o dinheiro. Só assim os clubes terão como brigar com os gringos pela permanência dos jogadores. Em tempo: como essa mudança de mentalidade é um processo demorado, são necessárias e bem-vindas as revisões que a lei deverá sofrer. Medidas protecionistas são tomadas na Europa - por que aqui não?

Finalmente, promete marcar ainda mais, por mexer com a segunda maior torcida do país, as decisões da reunião de ontem do Conselho corintiano. Não só os sócios com mais de cinco anos poderão votar para presidente do clube, como também foi vetada a reeleição - prática já adotada no São Paulo e fundamental para a transparência e sucesso dos trabalhos. É um marco zero para o Corinthians, há muito envolto em espessas nuvens no que tange sua administração.

quinta-feira, 20 de março de 2008

O grito das eternas promessas

Neste dia 20, o título mundial sub-20 conquistado pelo Brasil na Austrália completa quinze anos. Em um especial para o Olheiros, apresentei o time, a campanha, as revelações daquele Mundial e que fim levou cada um dos campeões.

O resultado você confere aqui.

quarta-feira, 19 de março de 2008

A mina de ouro do PPV

A mina de ouro para os clubes brasileiros é a TV. São as transmissões que pagam contratações, salários e quase tudo que envolve o futebol brasileiro. No momento em que se discute a venda dos direitos para 2009, 2010 e 2011, vale lembrar que o segredo não é diversificar os canais que irão transmitir o campeonato, mas sim diversificar os pacotes negociados. Na Europa, cada país negocia de um jeito: pacotes completos, pacotes separados...depende do que a pesquisa de mercado aponta como mais viável.

No Brasil, a TV aberta corresponde a uma fatia ainda grande do faturamento, pois a venda de PPV ainda não se compara aos europeus. Mais de uma emissora transmitindo significaria, a princípio, mais dinheiro entrando, mas é a lei da oferta e da procura: mais gente comprando muito do mesmo produto, o preço abaixa. É por isso que a exclusividade aumenta os valores.

Falta oferecer ao torcedor o que ele quer: pacotes individuais de clubes. Se alguem quiser comprar o campeonato todo, paga um valor. Mas se quiser comprar os jogos só do seu time, paga outro. Isso agrega receita, porque o valor vai ser menor e as vendas vão aumentar. Existem até pacotes só para os jogos fora de casa, para aquele torcedor que não perde uma partida do seu time no estádio.

E mais: foi até bom para os clubes a desistência da Record, que recentemente vinha fazendo propostas astronômicas que seriam extremamente prejudiciais: criaria-se uma bolha de investimentos, afinal quem paga a conta da TV são os patrocinadores. Uma hora eles não iriam aguentar, porque ficaria muito caro anunciar no futebol, tornando-se inviável. Assim, as propostas despencariam de um dia para o outro e os clubes, já apertados com o orçamento atual, teriam que se virarm com cotas minúsculas de TV.

segunda-feira, 17 de março de 2008

É pênalti!

Sete pênaltis foram marcados em três jogos neste final de semana.

Os dois do clássico carioca foram bem marcados por Marcelo de Souza Pinto, que apesar de ter ido bem tecnicamente, deixou a desejar na hora de conter os ânimos de um jogo que acabou violento.

Outros dois também foram assinalados no Rio, mas em São Januário. Físicos já demonstraram interesse em analisar o campo magnético do gramado, afinal a gravidade parece atuar de maneira mais intensa na equipe da Colina, especialmente sobre Wagner Diniz: foram doze pênaltis no campeonato estadual e um na Copa do Brasil. Cinco nos últimos três jogos. A atitude exagerada do lateral-direito faz os árbitros duvidarem da existência da falta, e acaba valendo a lei da compensação: muitos pênaltis inexistentes foram marcados, mas outros tantos que deveriam acabaram por não ser assinalados. Dos últimos quatro, teria marcado apenas o primeiro do jogo de ontem. O segundo até falta foi, mas fora da área.

Surpreendente mesmo foi a coragem de Flávio Rodrigues Guerra, apitando três penalidades para o Palmeiras. Confesso que, em clássicos, não me lembro de nada parecido. E mais: a única vez que me recordo de três penalidades na mesma partida foi na fatídica atuação de Palermo pela Argentina, contra a Colômbia, na Copa América de 99 (ele perdeu todos). O Palmeiras converteu todos e, curiosamente, o primeiro pênalti foi o único discutível (ainda que efetivamente tenha sido falta). Talvez fosse ele o terceiro lance, Guerra não teria apitado. Mas vale ressaltar o destempero são-paulino, demonstrado principalmente por Adriano e RIcharlyson, que deveriam ter sido expulsos.

Retratos de um final de semana a 9,15m do gol.

segunda-feira, 10 de março de 2008

O novo Cruzeiro e a seleção das Filipinas

Convido a todos a acessarem duas colunas de minha autoria, publicadas recentemente no Olheiros e na Trivela. Deixo aqui o início de cada um dos textos e o convite para acompanharem o restante.

Celeste Olímpica

O Cruzeiro é hoje, ao lado do Internacional, a equipe que joga o melhor futebol do Brasil. Só não arrisco dizer que é o melhor time por ter visto pouquíssimo do ótimo Colorado de Abelão até agora. Fato é que a Raposa acumula 100% de aproveitamento em cinco rodadas no Campeonato Mineiro e faz, até aqui, campanha irrepreensível na Libertadores.

Disponível em: http://www.olheiros.net/artigo.aspx?id=294

Filipinas: de pioneiros a desconhecidos

“Dirijo-me às ilhas filipinas”, respondia o almirante Ruy López de Villalobos a quem o perguntasse, em suas expedições. Era assim que ele chamava as ilhas localizadas ao sul do Pacífico que, no século 16, eram colonizadas por ordem do Rei Felipe II de Espanha. Reafirmando a autoridade do monarca em suas cartas, Villalobos acabou por dar nome ao arquipélago.

DIsponível em: http://www.trivela.com.br/index.asp?Fuseaction=Extra&id_secao=54

quinta-feira, 6 de março de 2008

Os brazucas na Libertadores

Supera as expectativas, até o momento, a campanha dos clubes brasileiros na Copa Libertadores. Até aqui, sem exceções, todas as cinco equipes empataram fora de casa e venceram seus compromissos diante da torcida.

O Cruzeiro mantém a seqüência a mais tempo, por ter disputado a fase preliminar. E fez mais: venceu também fora de casa o Cerro Porteño. As duas vitórias por 3 a 0 fazem do clube mineiro o mais forte do futebol brasileiro no início de 2008 (falo mais sobre a Raposa amanhã, no Olheiros).

A goleada do Fluminense, maior de um brasileiro sobre argentinos em Libertadores, queiram ou não, faz com que a equipe passe de desacreditada para candidata a, no mínimo, surpresa. A saída de Leandro Amaral deixou Renato à vontade para montar o time como gosta e fez no Vasco, num 4-2-2-2 bastante dinâmico. O grupo que parecia difícil começa a clarear.

O Flamengo, que coloca o retrospecto brasileiro à prova ainda hoje, contra o Nacional, aparecia como time com mais condições, ao lado do São Paulo, de brigar pelo título. Mas o insosso empate diante do Bolognesi e as inesperadas dificuldades para bater o Cienciano em casa colocaram em dúvida a real capacidade do time de Joel Santana.

Se a Libertadores é a cara do São Paulo, hoje o torcedor tem feito caretas. Tanto o empate na estréia diante do Nacional de Medelin quanto a vitória de ontem aconteceram de forma muito mais dramática do que se poderia imaginar. É fato que a equipe tem problemas - e muitos -, mas quando se encontrar novamente deve continuar forte. Não é mais, ao menos por ora, favorita ao título.

E por último, mas não menos importante, o Santos é quem mais surpreendeu, por jogar bem na competição continental, quando se esperava o contrário. O problema é que no Paulista, quando se imagina que o time engrene, acaba empacando. Mas o Cúcuta, semifinalista em 2007, dá mostras de estar muito enfraquecido (empatou os dois jogos em casa) e o Chivas também não apresentou ainda o futebol ofensivo de costume.

Chegamos ainda à metade da fase de grupos e, nos mata-matas, o estilo de jogo muda muito e a experiência da cancha pode fazer a diferença. Mas a considerarmos o início, os brazucas vão muito bem, obrigado.

segunda-feira, 3 de março de 2008

Chatos de plantão

Impressiona os pormenores que têm recebido importância desnecessária, ultimamente, em mesas redondas ou até mesmo nas transmissões esportivas. É o fênomeno que já abordei neste espaço: a impressão que se tem é que faz-se de tudo para deixar o futebol mais chato. Tudo é mais importante que a bola rolando.

Uma hora são os puristas e saudosistas que reclamam que "tudo na minha época era melhor e o nível era outro" e, por isso, não se sentem motivados a acompanhar mais o futebol. Solução: deixem o espaço para quem quer ver os jogos e, principalmente, sabe analisar melhor.

Outra turma é a que reclama ininterruptamente da arbitragem. Todos os jogos foram decididos por erros do juiz! Nenhum árbitro presta! Profissionalismo já! Mas os mesmos acreditam que o futebol não pode depender da televisão para decidir os lances polêmicos, como faz o tênis, pois isso "acabaria com a graça do futebol". Baita coerência no discurso.

Há também os que acham que o futebol está violento demais, que está corrido demais, que a bola é muito redonda e que os jogadores falam sempre as mesmas coisas. Mas estes são exatamente aqueles que levantam o dedo quando se faz uma comemoração diferente ou quando se dá uma declaração mais polêmica. Novamente, a atitude difere do discurso.

É fato que os grandes jogadores não ficam mais nos clubes brasileiros e que, hoje, jogadores que estão nas principais equipes não teriam espaço se os craques cá estivessem. Mas ao invés de lamentar apenas, que sejam apresentadas soluções. Ou corre-se o risco de virarem todos chatos de plantão.