sábado, 30 de abril de 2011

Bolinha amiga


Publicado no Olheiros

Todo brasileiro tem um pouco de técnico de futebol, e apesar de não sermos Ney, sejamos francos: é raro o Brasil cair em um grupo da morte em sorteios de Copa do Mundo e também mundiais de base. Tanto é verdade que foi assim que iniciamos nosso texto na análise do sorteio das chaves do Mundial Sub-17 de 2009, na Nigéria. Mas naquele ano a experiência serviu para mostrar o quanto pode ser traiçoeira a primeira impressão em competições desse nível: contra México, Japão e Suíça, o Brasil de Lucho Nizzo acabou dando vexame e eliminado ainda na primeira fase, sendo desclassificado por um surpreendente time suíço que viria a se tornar campeão mundial.

É apenas por estes caprichos do destino futebolístico que não podemos cravar já, tão logo as bolinhas acabaram de ser sorteadas em Cartagena, uma das sedes do Mundial da Colômbia, que o Brasil terá a oportunidade de realizar na primeira fase três partidas com cara de treino para o verdadeiro campeonato, a partir do mata-mata. Os adversários da seleção no Grupo E serão Egito, Áustria e Panamá, configurando quase um sorteio dos sonhos para Ney Franco.

Obviamente o discurso é de respeito aos adversários, mas dentre as demais possibilidades é quase a chave dos sonhos: um grupo, por exemplo, contra a forte seleção de Mali, finalista do Africano da categoria; os chatos australianos, vice-campeões asiáticos; e os franceses, campeões europeus, era possível. Ou ainda, a enorme bucha que terão novamente os argentinos, que terão pela frente dois campeões continentais, México e Coreia do Norte, além da forte Inglaterra. Melhor que isso, dentre as opções disponíveis, só se a Guatemala, estreante em mundiais, também estivesse no grupo.

O mais importante para Ney Franco nesta primeira fase é saber que enfrentará três escolas completamente distintas e que trabalham o jogo de maneira diferente. Enquanto o Egito é um time de muita posse de bola, a Áustria fundamenta seu jogo na defesa e toque de bola e o Panamá aposta na boa e velha velocidade e porte físico de seus atacantes. Testes que colocarão à prova, logo de cara, a capacidade de adaptação destes meninos, especialmente na defesa, que hesitou em alguns momentos durante o Sul-Americano.

Emulando o recente sucesso da seleção principal nas últimas Copas Africanas de Nações, o Egito tem aparecido com mais frequencia entre as melhores equipes sub-20 do continente. Campeão da categoria em 2003 e vice em 2005, os pequenos faraós têm participado de todas as fases finais do Africano, que contam com apenas oito seleções, desde 2001. Eliminados nas oitavas de final há dois anos, quando sediaram o Mundial, os egípcios garantiram a vaga após vitórias de 2 a 0 sobre o Lesotho e 1 a 0 sobre a África do Sul, perdendo para Mali também pelo placar mínimo. Na semifinal do Africano Sub-20, caiu nos pênaltis ante Camarões, após empate sem gols no tempo normal. Com problemas no ataque, o time de Diaa El-Sayed promete uma preparação ostensiva, já que a federação não terá problemas para a liberação dos jogadores. Pode acabar sofrendo um pouco mais com o nervosismo de fazer o jogo de abertura logo com o Brasil, mas tem condições de brigar pela segunda vaga.

Já a Áustria teve de escalar montanhas maiores que as dos Alpes para chegar ao Mundial Sub-20, após a excelente campanha de 2007, quando terminou na quarta colocação e revelou nomes como Sebastian Prödl, zagueiro do Werder Bremen, e Erwin Hoffer, atacante do Kaiserslautern. Após avançar à segunda fase do qualificatório apenas na terceira posição do grupo, graças a uma goleada de 5 a 1 sobre a Armênia, os austríacos contaram com o fator casa, já que sediaram o grupo do Elite Round, para se classificarem à fase final – e ainda assim foi difícil, graças a apenas um gol de saldo. Na estreia, derrota para a vizinha e rival Suíça por 3 a 2, e depois vitórias sobre a Sérvia (2 a 0) e Dinamarca (4 a 3).

Finalmente, a campanha da fase final foi apenas razoável, com derrota para a Inglaterra por 3 a 2 e goleada sofrida para futura campeã França por 5 a 0. Mas como são seis os europeus classificados ao Mundial, os alpinos carimbaram o passaporte para a Colômbia com uma vitória simples sobre a Holanda, mesmo terminando o campeonato com menos cinco gols de saldo. O time tem vários jogadores atuando em ligas maiores, e até alguns conhecidos, como David Alaba, zagueiro/lateral do Bayern de Munich, e o craque da turma, Christoph Knasmüllner, meia que chegou a fazer parte do elenco profissional do Bayern, mas que desde o início do ano está na equipe primavera da Internazionale.

O último degrau da escalada brasileira na primeira fase promete ser o menos complicado – motivação extra para vencer as duas primeiras partidas e quem sabe até poupar titulares, ou ainda entrar com tudo nas oitavas de final com uma goleada. O Panamá se classificou graças à uma vitória surpreendente sobre a favorita Honduras nas quartas de final do Concacaf Sub-20, e deve a classificação ao centroavante Cecílio Waterman, de ótimo porte físico e cabeceio. Ele marcou os três gols da vitória sobre o Suriname na primeira fase e um contra Honduras. O outro foi de autoria de José Diego Álvarez, um dos raros a atuar fora do país – o atacante defende o Slavia Praga, da República Tcheca. Mas a derrota por 4 a 1 para o México nas semifinais mostrou que o time tem deficiências e carece de maior qualidade, especialmente na defesa.

Um grupo com adversários bem diferentes que servirão de ótimo teste para o time de Ney Franco, que já nas oitavas de final deve pegar um classificado do grupo da morte da rival Argentina. Aproveitar as três partidas iniciais, como fez a seleção em 2009 com Rogério Lourenço, será fundamental para que a promissora geração brasileira de 2011 não se perca pelo caminho. Que sirva então de um bom presságio o fato de, mais uma vez, as bolinhas terem sido amigas.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

O voo cansado da águia


Outrora promessa de ameaça aos grandes, futebol nigeriano definha e não revela

Publicado no Olheiros.net

Atlanta, Estados Unidos, 3 de agosto de 1996. Com gols de Babayaro, Amokachi e Amuneke, a Nigéria batia a Argentina por 3 a 2 para chocar o mundo, ganhar a medalha de ouro olímpica e entrar para o mapa do futebol. Seul, Coreia do Sul, 9 de setembro de 2007. Nos pênaltis, as águias batem a Espanha e conquistam seu terceiro título mundial sub-17 em doze edições do torneio, no que pode ter sido a última grande exibição do futebol nigeriano por um bom tempo.

Em um período de pouco mais de dez anos, a Nigéria transformou-se na principal força do continente africano, apontada por muitos como a principal candidata a quebrar o predomínio de sul-americanos e europeus nas competições internacionais. Contudo, sempre decepcionou quando mais se esperava dela, como nas Copas de 1998 e 2002, em que apoiou-se naquela geração campeã olímpica e que também havia vencido a Copa das Nações Africanas em 1994.

O principal motivo da recorrente esperança de um boom do futebol nigeriano vinha de sua base, campeã do primeiro Mundial Sub-17 (à época ainda sub-16) em 1985 e quarta colocada do Mundial Sub-20 em 1989 praticamente com o mesmo grupo de jogadores. Mas aquela geração renderia apenas um destaque: Mutiu Adepoju, meia que disputou as Copas de 94, 98 e 2002 e chegou a ser contratado pelo Real Madrid aos 20 anos, mas que jamais passou da equipe B.

Depois, o segundo título mundial sub-17, em 1993, no Equador, revelaria Nwankakwo Kanu, até hoje o jogador de mais sucesso do país, e destaque daquela medalha olímpica de 96. A seleção ganhou status de potência mundial, mas após chegar a ser quinta colocada no Ranking da FIFA em 1994, ficou na lanterna do grupo da morte da Copa de 2002 e caiu aos poucos no esquecimento.

Na década de 2000, o futebol nigeriano seguiu batendo na trave tanto no amador quanto no profissional, chegando a todas as semifinais de Copas Africanas, mas não mais conseguindo levantar a taça. Nos mundiais de base, foi vice-campeão sub-17 em 2001, quando uma geração ’84 que não rendeu frutos ao time principal perdeu a decisão para a França dos flops Le Tallec e Sinama-Pongole, e também vice do sub-20 em 2005, com nomes como Taiwo, Adeleye, Obi Mikel (talvez a principal estrela do país hoje) e Okoronkwo, que formam a base de uma seleção que apenas passeou na África do Sul e pouco demonstrou na Copa Africana de 2010.

O fator preocupante é que, não apenas a seleção deixou de apresentar aquele futebol empolgante de outras gerações, moldando-se a um estilo muito mais carrancudo e de cara europeia – como muitas seleções africanas, infelizmente –, mas também as seleções de base não têm oferecido safras boas nos últimos anos.


Basta olhar para a equipe campeã mundial sub-17 de 2007 e ver que, aos 20 anos, a maioria luta para conseguir algum espaço, diferente de gerações anteriores que já brilhavam a esta altura. Macauley Chrisantus, estrela daquele mundial, não foi bem no Hamburgo e segue emprestado ao Karlsruher, em seu segundo ano na 2. Bundesliga.

Daquela geração, até agora apenas um conseguiu ser convocado para a seleção principal: o meia Lukman Haruna, do Monaco, capitão da conquista do mundial e que até foi para a Copa do Mundo, sendo titular nas duas primeiras partidas. A própria geração 92, vice-campeã sub-17 em 2009 em casa, ainda não inspira nenhuma certeza de mudança do panorama.

Para piorar – e é aí que reside o argumento de que o futebol do país começa a afundar em uma descendente – a seleção não se classificou para o Mundial Sub-17, sequer chegando à fase final, sendo eliminada pelo Congo. Já no sub-20, a Nigéria está disputando a fase decisiva na África do Sul e pode se classificar com um empate diante de Gâmbia na última rodada, no domingo, mas o time pode sequer entrar em campo.

Isto porque os jogadores ameaçam boicotar a partida final da fase de grupos por não terem recebido a premiação prometida pela Federação Nigeriana pela participação no campeonato. Segundo informações da comissão técnica, os garotos foram convencidos a enfrentarem Camarões na segunda rodada, mas acabaram perdendo por 1 a 0. Caso a ameaça se concretize, o time ficará de fora do Mundial Sub-20, fazendo com que o país se ausente dos dois mundiais pela primeira vez desde 1997.

O problema de pagamento de premiação é comum em seleções africanas, mas em se tratando de Federação Nigeriana, não é o primeiro caso. A NFA chegou a ser suspensa pela FIFA no ano passado devido a interferência do governo dentro da entidade. Com denúncias de corrupção e disputas internas, o trabalho de formação tem sido prejudicado.

Aproveitando-se dessa brecha, outros países têm começado a recrutar garotos para levá-los à Europa sem a necessidade de pagamento de indenizações ou transferências. Na França, mesmo, há até uma empresa responsável por fazer peneiras na Nigéria, a NIGDUF (Nigeria Development Union France, em inglês), que atravessa as regiões do país em busca de jovens talentos entre 12 e 18 anos – em 2011, o objetivo é recrutar 20 talentos e espalhá-los pelos clubes franceses.

Com tudo isso, a Nigéria perde espaço no cenário internacional e até continental, com cada vez menos perspectivas de evolução ou mesmo retomada do patamar que possuía na década de 90. Afinal, sem investimento não há retorno. E assim, o voo da águia começa a ficar cansado.

sábado, 16 de abril de 2011

Duelo de supernovas

Real Madrid e Barcelona iniciam série histórica enquanto brigam também pela melhor cantera


Tem início neste sábado, no Santiago Bernabeu, um fenômeno tão raro quanto a recente super lua cheia, mas que irá atrair ainda mais a atenção de todos para as estrelas que estarão visíveis a olho nu: uma série de quatro jogos entre Real Madrid e Barcelona que prometem mudar o eixo da Terra, valendo dois títulos e uma vaga na decisão da Liga dos Campeões da Europa.

>>> Conheça La Masia, a fábrica de craques do Barcelona
>>> Logo quando chegou ao Bernabéu, Mourinho já abriu espaço às promessas

Chamada por muitos de “clássicos do século”, a sequência de partidas em pouco mais de duas semanas coloca frente a frente os astros Messi e Cristiano Ronaldo e, principalmente, reúne os grandes rivais num momento em que as duas equipes estão no auge, sendo consideradas por muitos as melhores do planeta. O momento é oportuno, portanto, para voltarmos os olhos ao que está além deste verdadeiro duelo de titãs, procurando identificar as estrelas ascendentes destas duas verdadeiras fábricas de astros.

Como as competições de base na Espanha são regionalizadas, há poucos confrontos entre Barça e Real nas divisões inferiores, a não ser em torneios como a “Copa dos Campeões da Liga Juvenil”, que reúne os vencedores das sete regiões do Juvenil A, a última categoria antes do profissionalismo. Campeões dos grupos 3 e 5, Barça e Real estão escalados para o torneio que acontece em maio, e uma decisão entre os gigantes é algo raro – de fato, só ocorreu na temporada 1999/2000, com o Real, maior vencedor do torneio com oito títulos, sagrando-se campeão.

Com campanhas avassaladoras em suas chaves, os rivais têm jogadores que já chamam muito a atenção, como Rafael Alcântara, irmão de Thiago e filho de Mazinho, e Gerard Deuloufeu, já alçado ao Barcelona B e com grande atuação pela seleção nas eliminatórias do Europeu Sub-17, considerado a maior promessa atual pelos lados do Camp Nou.

Já no Bernabeu, a próxima grande aposta é Pablo Sarabia, já da geração /92 com grande histórico pelas seleções de base. Integrante do Castilla, o Real B, é figurinha carimbada na Espanha sub-19 e deverá estar em campo no Mundial Sub-20, em julho, na Colômbia. Isso sem falar de Enzo, o filho de Zidane que já recebe enormes holofotes mesmo estando ainda no Cadete A, equivalente ao primeiro ano do sub-17.

Falando em seleções de base, é possível traçar um panorama do trabalho das bases da dupla também pelo que cada um produz para o país. No time sub-20 que deverá ir ao Mundial, a presença é maior de azul-grenás: o goleiro Álex Sanchez, os defensores Martín Montoya, Carles Planas, Marc Bartra e Jorge Pulido, o volante Oriol Romeu e o meia Thiago Alcântara (TODOS titulares no Europeu Sub-19, que assegurou a classificação). Além deles, há as caras novas, os meias Sergi e Cristian Tello e o atacante Rúben Rochina. Do lado do Real vêm Sérgio Canales (na verdade, revelado pelo Racing Santander) e, provavelmente, Sarabia.

Contudo, na atual safra da sub-19 a divisão é mais igual. O técnico Julen Lopetegui convocou a equipe para o Torneio Internacional da Cidade do Porto e o placar é de cinco a quatro para os merengues: Daniel Carvajal, Alex Fernandez, Pablo Sarabia, Álvaro Morata e Fernando Pacheco foram os madridistas convocados, enquanto Sergi, Marc Muniesa, Rafael Alcântara e Deuloufeu foram os lembrados pelos lados do Camp Nou. Perceba que há muitos jogadores atuando pela sub-19 agora, mas que no Mundial farão parte da sub-20, já que a “troca” de categoria normalmente se dá ao final da temporada europeia.

E não é só para saber quem revela o próximo craque espanhol que Real e Barça degladiam. A briga é grande também para seduzir promessas de outras canteiras. A última queda de braço se deu pelo meia Denís Suárez, do Celta de Vigo. O garoto já atua no time B, entre os profissionais, faz parte da seleção sub-17 e, após duas temporadas sofrendo forte assédio do Real, parece estar próximo de ser contratado pelo Barcelona para a disputa da segunda divisão espanhola com o Barça B.

E não para por aí. Como nas grandes rivalidades daqui, tudo o que envolve Barcelona e Real Madrid ganha proporções muito maiores do que o necessário. O grande burburinho dos bastidores é a possibilidade de José Ramón Alexanko, ex-jogador do Barcelona, assumir a direção das categorias de base merengues. Alexanko era o mandachuva das canteras catalãs desde 2005, mas deixou o clube no ano passado com o término do mandato de Laporta. Elogiado por sua postura firme e olhar clínico, o ex-zagueiro está muito próximo de fechar com o Real, em uma clara tentativa de repetir o sucesso recente de La Masia.

Uma história de rivalidade centenária que vive agora um de seus momentos mais especiais. Acompanhando de perto o desenvolvimento das principais promessas, basta aguardar pelos próximos capítulos deste clássico tão apaixonante quanto imprevisível.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Conversa para norte-americano ver


Cruzeiro estuda criar escolinha nos EUA, mas deveria investir na base por aqui

Publicado no Olheiros Os Estados Unidos não são chamados de “terra das oportunidades” por acaso. Lá, uma ideia na cabeça e um perfil empreendedor fizeram os maiores milionários do mundo, e transformaram o esporte em um lucrativo entretenimento que lota estádios e movimenta bilhões de dólares anualmente seja com a venda de produtos licenciados ou as quantias mais altas do planeta para um anúncio de televisão – no Superbowl deste ano, um comercial de 30 segundos custava US$ 3 milhões.

Mas o que isso tem a ver com o universo da base? Tudo. Ao menos é o que pensa a diretoria do Cruzeiro. O clube mineiro tem negociações adiantadas para montar um complexo futebolístico na terra do Tio Sam, com investimentos pesados para a construção de escolinhas de futebol e centros de formação de jogadores.

Na última semana, o gerente de futebol da raposa, Valdir Barbosa, viajou aos States para reuniões em Dallas e Atlanta, cidades que se candidataram a receber a primeira filial norte-americana de um clube brasileiro – o Cruzeiro USA, uma espécie de escritório que trabalha na divulgação da marca celeste em solo yankee, já opera há algum tempo por lá. Entretanto, tudo indica que a base cruzeirense deverá ser instalada na região de Atlanta, sede das Olimpíadas de 1996.

“Em Atlanta nós temos algumas propostas interessantes para montar uma grande escola de futebol, em parceria com grandes empresas. É uma coisa que está caminhando muito bem”, disse Barbosa, que se reuniu com o prefeito de Alpharetta, cidade-satélite de Atlanta, imobiliárias, o Secretário de Turismo, o Senador da República da Geórgia e o representante do Atlanta Falcons, equipe de futebol americano. Atualmente, a cidade não possui equipe de futebol profissional na Major League Soccer, ao contrário de Dallas, que já tem o FC Dallas, um dos times mais antigos da liga, fundado em 1996.

Segundo a imprensa local, a construção estaria orçada entre 30 e 40 milhões de dólares, ocupando uma área de aproximadamente 400 mil metros quadrados, comportando até dezoito campos de futebol. O dinheiro estaria sendo levantado com empresários e investidores norte-americanos.

A relação com os Estados Unidos e Atlanta não é recente na administração Perrella. Em 2008, o Cruzeiro realizou clínicas na cidade de Atlanta e, no ano passado, jogou amistosos com o New England Revolution e o New York Red Bulls, da MLS. O projeto teria escolinhas de futebol, intercâmbio com universidades (que são quem leva os garotos para os times profissionais, através dos drafts) e até mesmo, no futuro, a criação de um time para a disputa da liga profissional.

Entretanto, a possibilidade soa como mais um de muitos projetos de clubes brasileiros que jamais saem do papel. Estádios e mais estádios do Corinthians, centro de treinamento de primeiro mundo para as bases do Vasco em Duque de Caxias, programas de sócio torcedor que não recebem adesão... Em vez de se preocupar com sua dívida - segundo dados do final de 2009, o Cruzeiro tem uma dívida acumulada de R$ 130 milhões, o clube fala em ampliar mercados, focando um país que já foi sim a terra da oportunidade, mas que ainda tem rejeição considerável ao futebol, prefere outros esportes e dificilmente dará retorno ao clube ou a sua base.

Basta ver projetos como as escolinhas do Ajax espalhadas pelo mundo, que de jogadores descobertos para o clube pouco ou nada renderam. Muito melhor seria, sem dúvida, ampliar a rede de observadores no Brasil, investir na captação e formação e colher frutos seguros – e no pomar perto de seu quintal. O Cruzeiro tem boa estrutura, revela com frequência e vende bem suas crias, mas poderia reverter melhor estes investimentos para a própria base caseira. Do contrário, será apenas conversa para norte-americano ver.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Amizade a que preço?

Dinamite busca saída mais fácil para alojar as bases e Vasco pode pagar caro

Publicado no Olheiros


Não é novidade para os leitores do Olheiros: noticiamos em nosso blog recentemente uma visita feita pelo presidente do Vasco, Roberto Dinamite, à cidade de Maricá, na região metropolitana do Rio. O objetivo do encontro com o prefeito Washington Siqueira foi discutir a construção de um centro de treinamento para as bases do clube na cidade, e que faria parte de um ousado projeto maricaense de tornar-se subsede olímpica em 2016.

Durante palestra dos dirigentes dos quatro grandes do Rio na Casa do Saber nesta semana, Dinamite afirmou estar em negociações avançadas para assinatura do contrato com a prefeitura. Contudo, entre a rubrica no papel e a inauguração dos campos – caso venham a sair da planta de fato –, há muito a esperar.

Enquanto isso, a base vascaína, que por muito tempo treinou no Vasco Barra e até mesmo em São Januário, utiliza gramados “emprestados” mediante parcerias firmadas pelo mandatário cruzmaltino. Até aí, nada de mais, apesar de o clube ter sempre se orgulhado de seu extenso patrimônio e agora utilizar estrutura alheia. O problema é a forma como essas parcerias têm sido firmadas – ou mesmo com quem.

Atualmente, as divisões inferiores vascaínas utilizam campos do Centro de Integração Almirante Graça Aranha, da Marinha, e o Centro de Treinamento VRP, em Itaguaí, próximo a Seropédica, também na Região Metropolitana do Rio. O VRP é de propriedade de Pedrinho Vicençote, ex-lateral que jogou com Dinamite no Vasco na década de 80.

O curioso é que, apesar das bases estarem treinando por lá desde novembro, Dinamite disse durante a palestra que iria “conhecer um espaço que já existe em Seropédica, com cinco campos” – exatamente o CT de Vicençote. Percebe-se, pelas declarações, que o presidente do clube ainda não conhecia o local em que seus atletas amadores vinham treinando. Esta não é a primeira vez que Dinamite dá preferência a ex-companheiros de equipe em questões importantes para o clube, como quando decidiu bancar a efetivação de Gaúcho como treinador.

É essa dificuldade em separar amizade dos negócios que parece ter borrado a visão do presidente vascaíno, que possivelmente também não deva ter visto que o clube perdeu várias de suas promessas para rivais durante sua administração. Segundo informações, a parceria com Vicençote estaria sendo trabalhada por Alexandre, filho do presidente, e Humberto Rocha, gerente do futebol amador. Mais detalhes ainda não há, principalmente aos termos de custos para o Vasco – “quase zero”, disse Dinamite. “Isso vai nos ajudar a revelar mais jovens valores para, eventualmente, negociar um ou outro. Assim equilibramos as nossas finanças e aumentamos o pagamento de dívidas”, acrescentou.

A questão é que Pedrinho é agente de jogadores credenciado pela FIFA, possui atualmente cerca de cem garotos treinando em seu CT e negocia diversos atletas abaixo dos 20 anos para clubes médios e pequenos da Europa. De fato, em seu site oficial a VRP cita alguns atletas revelados e outros de potencial em sua carteira atual, sendo dois deles vascaínos: Roni, zagueiro 92, e Ítalo, zagueiro 96, ambos já com propostas de clubes italianos, principal mercado do empresário. Além disso, o coordenador da categoria infantil do Vasco foi funcionário de Vicençote por muitos anos antes de chegar a São Januário.

Uma parceria assim, se não bem feita, pode ser como entregar as galinhas para a raposa cuidar. Roni e Ítalo são alguns dos atletas de Pedrinho que já estão inseridos na base do Vasco, e tal acordo pode acabar transformando as divisões inferiores do clube em uma “base de aluguel”, como acontece em muitos clubes pequenos, que emprestam a camisa para empresários colocarem seus garotos.

Como saber se a avaliação de um jogador vindo de fora e de outro vindo do parceiro será justa e equilibrada? Oferecer prioridades em troca de favores, ou no caso, da utilização da estrutura, é algo por demais provinciano e desprovido de inteligência, pois não gera dividendos futuros ao clube, que vira mera vitrine de “produtos” terceirizados. De grife, o Vasco passa a ser revendedor autorizado.

No show de horrores que normalmente cerca as declarações de Dinamite, o presidente finalizou a fala sobre a base dizendo que hoje, para se ter um centro de treinamento, são necessárias parcerias. Sim, de fato. Mas parcerias estratégicas, captação de recursos e prospecção de investidores para a construção de algo próprio, como fizeram São Paulo, Atlético-PR, Fluminense, Cruzeiro e Atlético-MG, entre outros. Apequenar-se desta forma apenas para reduzir custos – caso essa seja de fato a motivação principal, e não favorecer amigos - é uma atitude arriscada, tomada sabe-se lá a que preço.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

O novo Fábregas

Arsenal repete com Toral, promessa espanhola, história que já deu bastante certo com Césc


Emirates Stadium, 16 de fevereiro. Enquanto o Arsenal lutava para conseguir uma virada sensacional sobre o Barcelona no jogo de ida das oitavas de final da Uefa Champions League, a torcida cantava nas arquibancadas algo como “Fábregas é nosso e vocês não irão roubá-lo”. A música improvisada tinha como alvo a diretoria do Barcelona, que tem tentado exaustivamente a contratação do meia. Desnecessário lembrar, entretanto, que se o coro tenta fazer do Barça o vilão da história, foi o Arsenal que, em 2003, levou Cesc para Londres, aos 16 anos de idade.

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O assunto volta à tona porque o raio parece ter caído pela segunda vez no mesmo lugar. Com grande participação de Arsène Wenger na indicação à diretoria de futebol amador dos Gunners e também durante toda a negociação, o Arsenal acaba de acertar a ida de Jon Toral para sua academia. Segundo informações da imprensa britânica, foram pagos 350 mil euros pelo garoto, que estava livre para assinar com qualquer clube.

As coincidências com o caso de Fábregas existem não apenas por envolver as mesmas equipes, mas porque Jon Toral também é meia, deixa La Masia com os mesmos 16 anos de Cesc e, principalmente, porque o menino era bastante elogiado e até mesmo comparado com o compatriota. Considerado por muitos o melhor jogador da categoria Cadete A (sub-16) e até mesmo de todas as canteras barcelonistas atualmente, é um meia esquerdo habilidoso e com ótima visão de jogo – características mais exigidas nas bases espanholas e que fazem muitos apostarem que, em duas temporadas, o menino já estará atuando entre os profissionais.

Para a concretização da transferência, pesou o fato de Toral ter mãe inglesa e carregar o sobrenome dela – seu nome completo é Jon Miquel Toral Harper, o que facilitará e muito os trâmites para que possa atuar pelos Gunners e até mesmo, no futuro, adquirir cidadania britânica, não sendo considerado um jogador estrangeiro dentro do elenco.

Ainda de acordo com a imprensa inglesa, os planos que Wenger declarou ter para o garoto fizeram a cabeça dele e de seus pais, e a confiança que o treinador sempre demonstra ter nos jovens jogadores pesou na hora de decidir seu destino (Manchester City, Chelsea e Liverpool também haviam feito ofertas).

O sentimento de traição com que o Barcelona se deparou foi maior neste caso do que com Fábregas, Fran Mérida ou Ignasi Miquel porque o agente de Jon Toral é Pere Guardiola, irmão do técnico do Barça. Entretanto, segundo a própria imprensa espanhola, Pere insistiu para que Jon permanecesse no Barcelona, assim como Albert Puig, coordenador das bases do clube e responsável por levar o menino a La Masia, ainda no pré-mirim, após vê-lo treinar no Barri Santes Creus, pequeno clube da Catalunha.

A indignação dos dirigentes blaugranas pode resultar até mesmo em sanções que vão desde o rompimento definitivo das relações com os ingleses (que já demonstraram interesse em Samper e Ballesté, da mesma faixa etária) até ao afastamento de Pere de suas atividades em La Masia. Isto poderia ter efeito contrário ao desejado, contudo, já que o agente poderia iniciar uma saída em massa de jovens jogadores.

Até que a transferência se concretize, Jon foi afastado das partidas oficiais de sua categoria e não deverá voltar a vestir a camisa azul grená. De qualquer forma, chegará à academia bastante pressionado por andar com o estigma de “novo Fábregas”, não só no estilo de jogo como pela maneira que chegou ao Arsenal.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Oitavas de final da UCL: curiosidades de Lyon x Real Madri e Copenhagen x Chelsea



Lyon x Real Madrid

Lyon e Real Madrid se enfrentam na partida de ida das oitavas de final da UEFA Champions League. Enquanto os franceses tentam repetir a proeza da temporada passada, quando eliminaram os espanhóis exatamente nesta fase, o time de José Mourinho quer acabar com a sina que perdura já há alguns anos de cair sempre no primeiro mata-mata.

• A temporada passada foi especial para o Lyon, que após eliminar o Real Madrid chegou às semi-finais, sua melhor participação até hoje. O Real foi derrotado nas três vezes em que pôs os pés no Gerland, mas com José Mourinho à frente, espera conseguir um resultado diferente que ajude a equipe a atingir as quartas-de-final da competição pela primeira vez desde 2003/04.

• Mourinho, por sua vez, levou a melhor sobre o Lyon na temporada em que conduziu o Porto ao título da UCL, em 2002. Com a melhor campanha da fase de grupos entre todos os classificados (foram cinco vitórias e um empate, e 16 pontos somados), os merengues chegam como favoritos.

Encontros anteriores
• Os dois clubes mediram forças pela primeira vez na fase de grupos da UEFA Champions League em 2005/06, com vitória do Lyon na França por 3 a 0 (gols de John Carew, Juninho Pernambucano e Sylvain Wiltord). Na Espanha, empate em 1 a 1 (Carew e Guti anotaram).

• O Lyon voltou a se dar bem quando as equipes se encontraram na mesma fase de grupos da temporada seguinte. Com gols de Fred e Tiago, vitória por 2 a 0 em casa, e novo empate em madri, desta vez por 2 a 2 (Diarra, que havia se transferido do Lyon para o Real, marcou e ajudou os espanhóis, que perdiam por 2 a 0).

• Finalmente, nas oitavas de final da temporada passada, um gol solitário de Jean Makoun aos 47 minutos valeu a vitória ao Lyon no jogo de ida e, embora Cristiano Ronaldo tenha aberto o placar no Bernabéu logo aos seis minutos na volta, Miralem Pjanić empatou aos 30 da segunda etapa, carimbando o passaporte para a fase seguinte.

Retrospecto
• O Lyon atravessa uma excelente sequência de resultados em jogos em casa na UEFA Champions League, com sete vitórias e apenas uma derrota nos últimos 11 jogos. O único revés foi doíso: 3 a0 para o Bayern de Munique, no jogo de volta da semifinal, na temporada passada.

• Esta será a quarta vez que o Lyon enfrenta equipes espanholas nas oitavas-de-final da UEFA Champions League: foi eliminado pelo Barcelona em 2008/09, mas bateu a Real Sociedad em 2003/04.

• No total, o Lyon tem quatro vitórias, dois empates e duas derrotas contra equipes espanholas nesta fase da UCL.

• Fora de casa, contra franceses, o Real Madrid tem quatro vitórias, um empate e seis derrotas.

• O Real já sentiu o sabor de derrotar times franceses nesta temporada da UCL: venceu o Auxerre dentro e fora de casa, na fase de grupos.

• Entretanto, os espanhois foram eliminados nas quatro últimas vezes que enfrentaram equipes francesas no mata-mata de competições europeias: além do Lyon no ano passado, o Monaco nas quartas de 2003/04; e, antes disso, duas derrotas seguidas para o PSG nas quartas de final: na Copa da UEFA de 1992/93 e na antiga Copa dos Vencedores das Copas de 1993/94.

• Se serve de consolo, o Real conquistou o primeiro dos seus nove títulos da UCL frente aos franceses do Stade de Reims, em 1955/56.

Curiosidades
• Como treinador do Porto, José Mourinho bateu o Lyon nas quartas-de-final da UEFA Champions League em 2003/04, num mata-mata em que o português Ricardo Carvalho, atual jogador do Real Madri, defendia os "dragões". Antes disso, os comandados do português já tinham batido o Olympique de Marseille na fase de grupos e acabaram por derrotar o Monaco por 3 a 0 na final. Ao todo, Mourinho venceu oito e perdeu apenas um dos onze jogos em que teve contra franceses.

• A visita do Real a Lyon marca o retorno de Karim Benzema ao Stade Gerland pela segunda vez desde que o atacante francês se mudou para Madrid, em 2009, por 35 milhões de euros. Artilheiro da Ligue 1 2007/08 com 20 gols, Benzema disputou 112 jogos na primeira divisão francesa ao longo das cinco temporadas em que representou o Lyon e assinou 43 gols, conquistando quatro títulos.

• Kaká defendia o Milan quando a equipe italiana bateu o Lyon nas quartas de final da UEFA Champions League 2005/06, enquanto Cristiano Ronaldo marcou o único gol da partida em que o Manchester United FC derrotou o Lyon, em casa, nas oitavas-de-final da edição 2007/08.

• Sami Khedira estava em campo defendendo o Stuttgart quando os alemães foram derrotados, em casa e fora, pelo Lyon na fase de grupos da edição de 2007/08.


Copenhagen x Chelsea


Após ser eliminado precocemente nas oitavas de final na temporada passada para a futuro campeã Internazionale, o Chelsea foi presenteado com um adversário muito menos complicado desta vez: o Copenhagen, que quer seguir surpreendendo na Uefa Champions League.

• O campeão dinamarquês nunca tinha chegado a esta fase, enquanto o time de Londres chega pelo oitavo ano consecutivo. O Chelsea conseguiu atingir a semifinal em cinco das últimas sete temporadas e a uma decisão, mas em 2009/10 perdeu as duas para a Inter do seu ex-técnico José Mourinho.

Encontros anteriores
• Os times só se enfrentaram uma vez em competições europeias: foi na segunda fase eliminatória da antiga Copa dos Vencedores das Copas de 1998/99, em que o Chelsea venceu o decisivo encontro de volta, fora de casa, graças a um gol de Brian Laudrup. Foi o único tento do atacante dinamarquês pelos Blues, anotado no último jogo de sua breve passagem pelo Stamford Bridge antes de retornar ao seu país em 1999.

• A partida de ida daquele confronto terminou empatada em 1 a 1, com Marcel Desailly empatando o jogo para os ingleses a um minuto do final. Bjarne Goldbæk havia aberto o placar oito minutos antes. Aquela atuação rendeu a ele um contrato com o Chelsea, onde marcou cinco gols em 29 jogos na Premier League, antes de sair para o Fulham em 2000.

Retrospecto
• O Chelsea jamais enfrentou outras equipes dinamarquesas em competições européias. Enquanto isso, o Copenhagen conseguiu uma vitória, um empate e duas derrotas nos quatro jogos contra ingleses: bateu o Manchester United por 1 a 0 em casa na fase de grupos da UCL 2006/07 e empatou por 2 a 2 com o Manchester City na segunda fase da Copa da UEFA 2008/09; como visitante, perdeu por 3 a 0 no reduto no Old Trafford e por 2 a 1 no City of Manchester.

• A campanha do Copenhagen na fase de grupos desta temporada mudou radicalmente em relação à participação anterior: enquanto em 2006/07 ficou no último lugar, desta vez o campeão dinamarquês começou bem, vencendo o Rubin Kazan em casa por 1 a 0 e o Panathinaikos fora de casa por 2 a 0.

• O Copenhagen não perde em casa há cinco jogos por competições europeias, desde que foi batido por 3 a 2 pelo Olympique de Marseille no primeiro mata-mata da Europa League da temporada passada. Na série atual, foram quatro vitórias e um empate.

• Já o Chelsea por pouco não foi o quinto clube a vencer os seis jogos da fase de grupos da UCL: na última rodada, perdeu por 1 a 0 em Marselha e perdeu a oportunidade de ficar com a melhor campanha.

• Após a goleada por 4 a 1 fora de casa sobre o Žilina na estreia, os Blues venceram o Spartak Moscou por 2 a 0 também como visitantes. Os londrinos ganharam os três jogos em Stamford Bridge, terminando como vencedores do grupo pela sexta vez em oito temporadas.

• A eliminação para a Internazionale na temporada passada marcou a terceira vez consecutiva em que o Chelsea foi eliminado pelo futuro campeão da Uefa Champions League.

Curiosidades
• Atualmente no Copenhagen, Jesper Grønkjær defendeu o Chelsea entre 2000 e 2004, marcando um dos gols na derrota para o Monaco nas semifinais da UCL 2003/04. O dinamarquês fez sete gols em 87 jogos na Premier League.

• Grønkjær e Ashley Cole enfrentaram-se nas oitavas de final da Copa de 2002, quando a Inglaterra venceu a Dinamarca por 3-0 em Niigata.

• Hoje rivais, Zdeněk Pospěch e Petr Čech são colegas na seleção da República Tcheca.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Não é outro jogador de Youtube

Iturbe mostra porque foi disputado por paraguaios e argentinos e é amado por ambos

* Publicado no Olheiros.net

Foi só o árbitro brasileiro Héber Roberto Lopes apitar o final da partida entre Cerro Porteño e Colo Colo na última quinta-feira, na estreia das duas equipes na Taça Libertadores, que toda a inflamada torcida ciclone, encantada com os 5 a 2 aplicados pelos anfitriões, explodiu em cantos e alegria saudando um jovem de 17 anos que havia entrado no segundo tempo para marcar duas vezes. Um roteiro aparentemente normal e repetido de promessa que desponta e se candidata a próximo craque, não fosse essa promessa Juan Manuel Iturbe, que há poucos meses deixou o Cerro brigado com diretoria e torcida, rumo ao futebol argentino.


Pouco tempo e muitos acontecimentos depois, ele regressou ao clube que o projetou para um breve empréstimo junto ao Porto, que o contratou mas só poderá utilizá-lo na próxima temporada, quando completar 18 anos. Apesar de ter forçado sua saída para o Quilmes e aceitado a convocação para defender a seleção argentina sub-20, preterindo sua origem paraguaia, Iturbe já conseguiu ser perdoado por todos que magoou em 45 minutos de atuação soberba. Goste ou não, o leitor há de concordar que tal história jamais teria o mesmo desfecho no Brasil, onde o garoto seria criticado duramente pela imprensa por “renegar seu país” e execrado pela torcida, que entoaria cantos de “mercenário” e “traidor”.

Aos 17 anos, Iturbe já passou por mais em sua carreira do que muitos ex-jogadores. Das primeiras brincadeiras com a bola em Assunção (ele nasceu em Buenos Aires, mas logo voltou para o Paraguai, terra de seus pais) até o protagonismo em uma Argentina sub-20 carente de talento, o baixinho de 1,69m já foi seguido de perto por clubes como Real Madri, Roma, Tottenham e Manchester United, brigou com a direção do Cerro quando não aceitou assinar um contrato de formação (já que antes, por sua idade, não poderia fazê-lo), forçou sua saída para o Quilmes, onde logo mostrou seu talento e foi até chamado para a seleção sub-20 que foi à África do Sul participar dos treinamentos da equipe principal antes da Copa.

Habilidoso e veloz, tem sido nomeado por todos os cantos como “novo Messi”, rótulo que já afirmou não gostar e do qual foge. Entretanto, não há como não lembrar de La Pulga ao ver, por exemplo, o golaço que marcou contra o Brasil no Sul-Americano Sub-20, arrancando em velocidade, driblando vários adversários e chutando na saída do goleiro. Na reestreia pelo Cerro, marcou fazendo linda tabela e ganhando dos defensores na área, e depois recebendo livre para fuzilara o goleiro.

Suas credenciais de playmaker, bem como o que já demonstrou até aqui, deixam pouca dúvida sobre seu verdadeiro potencial. Com o passar das rodadas, o garoto deverá conquistar naturalmente um papel de protagonista no sempre irregular elenco ciclone, que espera finalmente ir mais além na Libertadores. A expectativa sobre ele, de fato, não é à toa, tanto que os paraguaios, percebendo que perderão um grande jogador para o rival vizinho, já lançaram uma campanha no Facebook que diz “Iturbe é paraguaio”, tendo angariado dois mil seguidores apenas nas primeiras 24 horas.

A se imaginar tudo o que poderá fazer até o meio do ano, quando rumará em definitivo para Portugal, Iturbe tem tudo para chegar ao Porto pronto para entrar no time de cima e não sair mais, podendo até quem sabe fazer parceria com Kelvin, que também se juntará aos dragões no meio do ano. Com futebol de sobra e um pouco de cabeça, Iturbe terá tudo para ser a próxima estrela argentina, paraguaia ou mundial, e não apenas um craque de Youtube.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Copa Santander Libertadores - Vamos torcer Juntos?

Represente seu clube na maior competição de futebol do continente!

Quem tem fome de bola vai ter bons motivos para gritar em todos os jogos do seu time na Copa Libertadores da América de 2011. Internacional, Corinthians, Santos, Fluminense, Cruzeiro e Grêmio buscam a glória maior do futebol sul-americano, e você pode fazer parte desta história!

O Santander realiza até o dia 7 de fevereiro o concurso “Juntos pela Copa Santander Libertadores”. Cada clube terá seu representante e este representante pode ser você!

Participar do concurso é fácil. Os interessados devem enviar um vídeo de até um minuto (ou indicar algum outro postado na internet) através do hotsite (http://bit.ly/eEXNi4). Os autores dos vídeos mais criativos serão responsáveis por produzir conteúdo para o Twitter e Blogs, relatando o dia-a-dia deles como fanáticos pelo futebol.

Esses torcedores vão ser entrevistados por celebridades, aparecer na televisão e podem ter os seus posts publicados em uma coluna do Lance. No ano passado, os vencedores chegaram até a conhecer o Rei Pelé.

O resultado sai no dia 10 de fevereiro. Depois disso, é só encher o peito de orgulho e torcer pelo seu time do coração! Os demais leitores poderão acompanhar todas as notícias da competição, informações sobre o desempenho de seus clubes, além de poderem interagir e se informar sobre tudo o que os torcedores escolhidos forem fazer.

Participe! Quem sabe a sua força não seja o que o seu time precisa para ser campeão!

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Virada do São Paulo passou pelas mudanças táticas de Carpegiani


Uma das chaves para o sucesso apontadas pelos "motivational speakers", os famosos palestrantes motivacionais norte-americanos, é a frase "know your audience": significa conhecer sua plateia antes de começar a falar. Adaptando a ideia ao futebol, é preciso "to know your players", ou conhecer seus jogadores antes de pensar na melhor forma de dispô-los em campo e aproveitar suas principais características.

Profundo estudioso do futebol e muitas vezes apelidado, injustamente, de "Professor Pardal" por seu conhecimento tático acima da média, Paulo César Carpegiani mostrou ter grande compreensão das possibilidades de cada jogador do São Paulo. Graças a isso, identificou rapidamente os problemas da equipe e corrigiu os problemas para alcançar a vitória de virada sobre o Americana, nesta quarta-feira, pela quarta rodada do Campeonato Paulista.

Ainda com muitos atletas visivelmente fora do ritmo ideal e sentindo a pesada pré-temporada, o São Paulo foi envolvido no primeiro tempo pelo rápido toque de bola do time americanense, que chegava à partida como líder da competição, ao lado do Santos, com 100% de aproveitamento. A equipe do interior iniciou a preparação antes e, com boa parte do elenco que terminou 2010 em Guaratinguetá, o entrosamento e a "perna mais solta" fizeram com que o time da casa dominasse as ações.

Repetindo o 4-3-2-1 das primeiras partidas, mas com a saída de Cléber Santana para a escalação de Jean no setor, e a entrada de Xandão, improvisado na lateral direita, o Tricolor entrou em campo quase num 4-2-2-2 torto, com Jean insistindo no posicionamento de lateral, avançando muito; Fernandinho muito aberto pela esquerda, colado em Dagoberto; e Marlos, com isso, distante dos companheiros, sem ter com quem tocar a bola.

Como Xandão não avançava, Juan tinha liberdade para apoiar, mas nem sempre voltava com rapidez. Percebendo o espaço, o Americana concentrou as ações ofensivas por aquele setor, onde Luís Felipe avançou, puxando a marcação de Miranda. O ala americanense conseguiu cruzar e Marcinho, sem marcação, já que Alex Silva dava cobertura, abriu o placar.


O 4-3-2-1 torto isolou defesa e ataque e fez o time perder o meio-campo para o Americana

Após o gol, e percebendo o defeito de sua equipe, Carpegiani imediatamente modificou o posicionamento, efetivando Jean na ala direita, formando a zaga com Xandão, Alex Silva e Miranda e liberando Juan para apoiar. Rodrigo Souto e Carlinhos Paraíba ficaram mais presos, oferecendo suporte a Marlos e Fernandinho, e o time melhorou. Não demorou até que Fernandinho, aproveitando bobeira de Jorge Luiz, ex-Vasco, invadisse a área e cruzasse para trás, encontrando o volante Gercimar para marcar, contra.


Atrás no placar, a primeira mudança: 3-4-2-1, povoando o meio-campo e dando mais opções para o ataque

Tudo corria bem até que, num cochilo da defesa, o Americana marcou o segundo gol no último lance da primeira etapa. A conversa no vestiário, acompanhada de nova mudança de Carpegiani, que não se acomodou e decidiu fazer uma substituição naquele momento, mostraria seu efeito logo nos primeiros minutos: com a entrada de Fernandão, o Tricolor passou a jogar num 4-3-3, em que o camisa 15 ficou centralizado, Marlos fazia a ligação e Dagoberto e Fernandinho tinham liberdade para se movimentar pelos lados do campo.

Agora livre para percorrer os dois lados, Dagoberto apareceu pela esquerda pressionando Jorge Luiz, que novamente falhou ao recuar mal a bola, dando a oportunidade ao camisa 25 de empatar o placar e minar o efeito do gol sofrido antes do intervalo, dando um banho de água fria na torcida e na própria equipe adversária.


No 4-3-3, Carpegiani espalhou o São Paulo em campo, dificultando a marcação adversária e abrindo espaços

Desta forma, o volume de jogo são-paulino cresceu e o Americana não conseguia respirar. Pouco tempo depois, jogada pela direita, cruzamento na área e Dagoberto apareceu para virar o placar. Era o sinal claro de que, jogando fixo, o atacante não rende tanto quanto vindo de trás.

Absoluto em campo, o São Paulo ampliou com um golaço de Jean, que contou com a sorte ao ter o belo chute desviado pelo goleiro. Com o placar praticamente garantido, Carpegiani voltou à formação inicial com a entrada de Zé Vitor, compondo o meio, e fechando de vez as portas para os ataques do Americana, que finalmente se entregou.


Com o jogo ganho, Carpegiani voltou ao 4-3-2-1 , mais definido, para assegurar o placar

Vitória merecida de um time cujo técnico teve a capacidade e a inteligência de idenfiticar rapidamente os problemas e corrigi-los a tempo. O São Paulo ainda tem muito a melhorar e corrigir, mas mostra com esta vitória que pode sim bater de frente com equipes como o Santos, principal favorito deste início de temporada.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Mama África

Burkina Faso conquista Africano Sub-17, mas precisa conviver com suspeitas de gatos

Publicado no Olheiros

Enquanto as atenções permanecem voltadas para a reta final da Copa São Paulo e a boa campanha brasileira no Sul-Americano Sub-20, o continente africano mobilizou-se na disputa do continental sub-17, em Ruanda. Classificatório para o mundial da categoria, o campeonato foi recheado de surpresas, como é comum nesta faixa etária. Em uma atuação heróica, Burkina Faso, treinada pelo português Rui Vieira, derrotou na decisão deste sábado os donos da casa por 2 a 1, mesmo com um homem a menos.

O estádio nacional de Amahoro estava lotado para a partida, e após um primeiro tempo parelho, com chances criadas para ambos os lados, Zaniou Sana aproveitou um descuido da defesa, interceptando um passe fraco, e abriu o placar aos onze da segunda etapa. Dez minutos depois, Charles Tibingana recebeu um passe fora da área e empatou com um belo chute, indefensável, levando a torcida à loucura.

O jogo seguia tenso, e a arbitragem em nada ajudava: foram seis cartões amarelos, todos para os atletas de Burkina Faso, um vermelho para Basiru, já no segundo tempo, em uma falta que gerou discussão dentro de campo. Ainda assim, a equipe visitante conseguiu voltar à liderança no placar com Kabore Abdoul Aziz, a nove minutos do fim. É o primeiro título do país na competição, após derrotas nas decisões de 1999 e 2001.

A final foi uma revanche da partida de abertura, em que os anfitriões saíram vitoriosos também por 2 a 1. Escolas de futebol mais tradicionais no continente, Egito e Senegal ficaram para trás na mesma chave, enquanto Costa do Marfim e Congo, que haviam eliminado Gâmbia e Mali, equipes de bom retrospecto na base, acabaram caindo nas semifinais. Camarões, Tunísia, África do Sul, Gana, Nigéria, Argélia e Marrocos sequem passaram da fase eliminatória.

Olhando para a história recente da categoria, tem sido comum notar a presença de seleções de segundo ou terceiro escalão nos Mundiais Sub-17 – Malaui, Serra Leoa, Gâmbia e a própria Burkina Faso são alguns destes exemplos. Os jovens garanhões, como a equipe é conhecida, têm alcançado resultados surpreendentes na última década, como o terceiro lugar em 2001, que revelou nomes como Sanou, Ouedraogo e Coulibaby. além disso, participaram também do último mundial, conseguindo passar à segunda fase e caindo diante da Espanha.

Dentre os atletas burquinenses, os principais holofotes voltaram-se, desde o início da competição, a Bertrand Traore, jovem meia de apenas 15 anos, titular entre diversos jogadores de 16 e 17. Autor de dois gols na goleada por 4 a 0 sobre o Egito e do gol do empate contra Congo nas semifinais, que garantiu a disputa de pênaltis, o garoto era o mais novo relacionado no Mundial Sub-17 de 2009, na Nigéria – e ainda foi titular, até mesmo deixando o seu na goleada por 4 a 1 sobre a Costa Rica, na primeira fase. Um golaço, em que conduziu, enganou três zagueiros e chutou no canto do goleiro.

Um ano e meio depois, o menino já foi seguido de perto por muitos clubes, como Manchester United e Olympique Marseille, mas escolheu o Chelsea para dar o grande passo rumo à Europa. “Gosto do Chelsea porque eles têm africanos lá, como Drogba, Essien e Obi”, diz um ingênuo Traore. Mas como há restrições aos clubes europeus na contratação de jovens desta idade, ele ainda espera o contato oficial.

Entretanto, a evolução do futebol de base do país vive sob a sombra da adulteração de idade de suas estrelas ascendentes. Após a classificação para o Mundial Sub-17 de 2009, inúmeros casos de “gatos” dentro da equipe foram descobertos (oito dos 30 jogadores que faziam excursão pela Europa não passaram no teste de ressonância magnética óssea) e o time perdeu seus principais destaques. Ainda assim, fez boa campanha.

Até o momento não há suspeitas de que Traore, ou algum outro jogador do elenco campeão sub-17, tenha a idade adulterada. Mas como todo garoto que se destaca nesta faixa etária, especialmente em um país com condições sociais tão graves como é Burkina Faso, haverá sempre uma pequena pulga atrás da orelha. Daqui ao Mundial, serão alguns meses para novos testes e comentários. É esperar para aguardar o desfecho.

sábado, 15 de janeiro de 2011

Onde os fracos não têm vez

Copinha 2011 escancara abismo entre grandes pequenos na base


Publicado no Olheiros.net

Foi um número que chamou muito a atenção ao final da primeira fase da Copa São Paulo: dos 32 classificados ao mata-mata, 22 também havia ultrapassado a etapa de grupos em 2010. O baixo índice de renovação de um ano para o outro (31%) é ainda menor que o de 2009 para 2010, quando 19 clubes repetiram a dose. Equipes do interior paulista como Rio Preto, Barueri (ex-Campinas), Desportivo Brasil e Primeira Camisa, que inicialmente podem parecer zebras, mostraram que já conhecem o caminho das pedras na Copinha.

Por mais paradoxal que possa parecer, a experiência fala mesmo mais alto na competição sub-18 mais importante do país – no caso, experiência dos clubes, adquirida após seguidas participações. Com isso, o número de surpresas tem caído ao longo do tempo, e finais como a entre América-SP e Comercial-SP, em 2006, parecem cada vez mais improváveis.

Desde a mudança no regulamento, de sub-20 para sub-18, a Copa São Paulo teve uma queda considerável do número de grandes clubes eliminados logo na primeira fase. No ano passado, tivemos a dupla Gren-Nal e o Atlético-MG; neste ano, somente o Botafogo, e por aí vai.

É certo que o inchaço da competição, tão criticado pela maioria, contribuiu para a participação de equipes mais fracas, e a consequente transformação da primeira fase, muitas vezes, em uma etapa puramente pró-forma, com dificuldade bastante reduzida. O aumento da média de gols, fruto da maior frequência de goleadas, é um dado inegável. Mas quando resultados como o empate do Botafogo com o Paulínia, ou do Internacional com o Primeira Camisa acontecem, é preciso lembrar que há sim qualidade entre os menos tradicionais.

Contudo, esta qualidade não é suficiente para suplantar todas as desvantagens em relação aos grandes, seja em estrutura, preparação, apoio ou mesmo captação de talentos. Por mais que os torneios de tiro curto, com partidas eliminatórias, ofereçam maior margem para o surgimento de zebras do que campeonatos de pontos corridos, uma breve análise do histórico recente demonstra que tal acontecimento é uma exceção na Copinha.

Basta lembrar os inúmeros casos de cãibras e fadigas musculares, pouco comuns a garotos, normalmente relacionados a longas viagens de ônibus, noites mal dormidas e alimentação deficitária. O abismo social existente no futebol cresce na base e se agiganta na Copa São Paulo, momento único em que mais rico e mais pobre encontram-se frente a frente. Equipes modestas, mas tradicionais em suas regiões de origem buscam competir fora de seus estados, trocar experiências, ganhar projeção nacional enquanto instituição e, também, promover seus jogadores para os grandes clubes. Por sua vez, os grandes, que já pularam essas etapas, concentram-se na formação do atleta completo e na conquista de títulos.

Finalmente, este abismo fica claro quando observado que são raras as participações na segunda fase por equipes pequenas fora do eixo Sul-Sudeste – nos últimos três anos, apenas o Confiança-SE conseguiu tal feito, caindo logo na primeira partida eliminatória. As constantes classificações de clubes do interior paulista podem ser vista como demonstração de força do estado, mas devem ser relevadas pelo fator campo, já que a maioria não chega longe.

Por tudo isso, a Copa São Paulo tem se transformado em um torneio que, além de revelar jogadores e movimentar o início de ano, escancara o abismo entre grandes e pequenos na base - abismo este que só tende a aumentar.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Ranking Olheiros - Dezembro 2010

Campeão brasileiro sub-20, Cruzeiro é maior pontuador do ano e diminui vantagem do Inter

Publicado no Olheiros.net

A conquista do bicampeonato do Brasileiro Sub-20 fez o Cruzeiro diminuir a vantagem do líder Internacional e se consolidar na segunda posição do Ranking Olheiros das categorias de base. Na última e mais completa atualização do ano, o tradicional ranking só não teve uma redução maior na margem colorada devido ao título conquistado pelo Inter na Copa Sub-23, uma das novidades desta edição, que conta também com doze campeonatos estaduais, a inclusão da SC Cup Sub-16 e mudanças profundas no Top 10.


>>> Veja como está o Ranking após a nova atualização




Cruzeiro: o melhor de 2010

Com o encerramento de todas as competições nacionais de base no ano, é possível contabilizar também os maiores pontuadores de 2010. Neste quesito, o Cruzeiro sai como o grande vencedor do ano, somando 173 pontos no total graças às conquistas do Brasileiro Sub-20, da Copa Promissão e da Dallas Cup, além do vice-campeonato mineiro júnior e das boas campanhas na Copa São Paulo e na Taça Belo Horizonte. A Raposa foi a única equipe, além do Palmeiras, a pontuar nas três principais competições de base do ano (Copa SP, Taça BH e Brasileiro Sub-20).

Vendo sua vantagem ligeiramente diminuída (de 145 para 126 pontos), o Internacional continua alcançando ótimos resultados. Em 2010, foram mais 130 pontos somados, graças aos títulos na Copa Sub-23, Copa Brasil Sub-17 e Copa Santiago.

Em seguida, uma dupla alviverde que se recuperou e deu o que falar: Coritiba (108) e Palmeiras (107) acumularam diversos resultados expressivos e entraram de vez no Top 10. O Coxa foi campeão da Taça BH e vice estadual, enquanto o Verdão ficou com o vice do Brasileiro Sub-20 e do Paulista Sub-20, além de ter caído nas semifinais da Copa São Paulo. Vasco, Vitória (ambos com 95), Grêmio (91), Juventude (90), Corinthians (87) e Atlético-MG (75) fecham a lista dos dez maiores pontuadores no ano.

Vale lembrar que os pontos consideram apenas os que foram acumulados em 2010, e não os de anos anteriores, que sofreram depreciação em virtude de novas edições realizadas.

Mudanças no Top 10

Com tantas competições acontecendo no fechamento do ano, era esperado que houvesse uma movimentação intensa de posições no Top 10 do Ranking Olheiros das categorias de base, o que acabou se comprovando: nada de novo nos quatro primeiros, mas a partir daí as novidades são muitas. Com a conquista do estadual júnior e as idas à semifinal da Copa Sub-23 e às quartas do Brasileiro Sub-20, o Atlético-MG voltou à quinta colocação, ultrapassando o Fluminense que ficou para trás: o tricolor teve um ano ruim nas principais categorias e caiu para o oitavo lugar.

Quem se aproveitou disso foi o Corinthians, vice-campeão da Copa Sub-23, que também subiu uma posição. O Vitória, que aparecia em novo, chegou ao sétimo lugar graças à boa campanha no Brasileiro Sub-20. O Coritiba permaneceu na décima colocação, mas o Palmeiras aparece como o novo integrante da lista, chegando à nona colocação. Foram 49 pontos acumulados desde a última atualização, em setembro.

Por outro lado, quem mais perdeu com a atualização foi o Santos, que teve depreciados os pontos do título paulista sub-20 do ano passado. Apesar do vice da Copa São Paulo, o Peixe foi mal na Taça BH, no Brasileiro Sub-20 e na Copa Sub-23, caindo sete posições e perdendo espaço.

Novidades: Copa Sub-23 e SC Cup Sub-16

Mais duas competições se juntam ao Ranking Olheiros das categorias de base a partir desta atualização de dezembro. A recém-inaugurada Copa Sub-23 já é incluída em sua primeira edição, dada a relevância dos clubes participantes e a renovação da atenção dada pelos clubes à categoria, até pouco tempo esquecida, e a SC Cup Sub-16, disputada desde 1998, entra no Ranking por ser uma das principais competições da categoria no país.

Quem mais lucrou com essas inclusões foi o Inter, campeão da Copa Sub-23 e semifinalista da SC Cup. O Colorado também somou pontos pelo vice do ano passado no torneio sub-16, que tem as pontuações desde 2008 computadas para o geral. Grêmio, campeão deste ano, e Atlético-PR, duas vezes semifinalista, também acresceram pontos preciosos. Corinthians, Atlético-MG e Vasco, outros semifinalistas da Copa Sub-23, não pontuaram na SC.

Estaduais: estreantes e sobe e desce

Como acontece em todas as atualizações, os campeonatos estaduais são a principal fonte de novidades e mudanças no Ranking Olheiros das categorias de base. O encerramento de nada menos que doze deles (quase a metade de todo o país) promove muitas alterações. A maior delas foi a escalada da Ponte Preta, que graças à boa participação no Paulista Sub-20, em que parou nas semifinais, somou 20 pontos, galgou incríveis 74 postos e chegou ao 47º lugar.

Quem também subiu bem graças ao Paulista foi a Portuguesa, campeã de 2010, que somou 40 pontos e subiu 22 posições, ficando exatamente em 22ª. Outros a subirem bastante graças aos estaduais foram o Joinville (terceiro colocado no Catarinense Junior, 20 pontos, 34 posições até o 41º lugar) e o Botafogo-PB (campeão paraibano junior, 20 pontos, 37 posições até o 57º lugar).

Por outro lado, houve quem não repetiu em 2010 os feitos recentes e acabou ultrapassado. Além de alguns clubes que deixaram de figurar no Ranking por não pontuarem desde 2007 (ano a partir do qual os pontos são zerados), outros caíram vertiginosamente, como o Marília, do Maranhão, que perdeu os pontos do título maranhense de 2007, ficou com apenas 7 no total e despencou 54 posições, aparecendo em 112º lugar. Também caíram bastante Paraná Clube (35 posições, até o 67º lugar), Piauí (35 posições, até o 112º lugar) e Engenheiro Beltrão-PR (19 posições, até o 65º lugar).

Os estaduais proporcionaram ainda dez estreias no Ranking: os campeões Izabelense (PA), Guarany (PB), Buriti (TO), Fluminense (PI), Ji-Paraná (RO), Juventude (MA), Roraima (RR) e Sete de Setembro (MS), além de Cascavel, semifinalista no Paranaense Junior, e Contagem, quarto colocado no Mineiro da categoria.

Sempre vale o lembrete: trata-se de um levantamento estatístico realizado para analisar exclusivamente o desempenho recente dos clubes nas principais competições amadoras do país, sem a pretensão de avaliar qual tem de fato a melhor infraestrutura ou capacidade de revelar talentos em sua base. Ainda assim, acreditamos que o Ranking fornece um panorama bastante preciso da realidade sub-15 a sub-20 no Brasil.

Para outras explicações, como o critério utilizado para chegarmos ao resultado final e a relação completa dos pontos acumulados por equipe a cada competição, visite nossas páginas adicionais do Ranking.

sábado, 11 de dezembro de 2010

Filho da globalização

Atuando na França, filho de ídolo camaronês pode defender seleção sub-17 mexicana

Milão, 8 de junho de 1990. Numa das maiores zebras da história das Copas, a ainda pouquíssimo conhecida seleção de Camarões chocava o mundo ao derrotar a Argentina de Maradona no jogo de abertura. O gol da vitória foi marcado por François Oman-Biyik, então atacante do Stade Lavallois, da França. Vinte anos depois, a família Omam-Biyik, originária do subúrbio de Yaoundé, capital camaronesa, volta ao noticiário.

Publicado no Olheiros.net

Isto porque o filho de François, Emilio Omam-Biyik, pode defender a seleção mexicana no Mundial Sub-17 que acontece no país, em junho do ano que vem, mesmo sem ter jamais chutado uma bola naqueles gramados. Mas o que tem a ver com o México o filho de um ex-jogador camaronês que passou a maior parte da carreira em clubes franceses? Para a alegria dos amantes do futebol globalizado, tudo. Emílio nasceu na Cidade do México em 12 de março de 1995, quando seu pai defendia o América - ficou por lá de 1994 a 1997, antes de defender o Atlético Yucatán e o Puebla.

Mexicano de nascimento, o garoto tem a cidadania camaronesa da família e também a francesa, afinal foi para lá que seguiu com o pai quando François encerrou a carreira no Châteauroux, em 2000. E foi exatamente no clube da segunda divisão francesa que o menino de quinze anos começou a seguir a carreira e o exemplo do pai.

O interesse em contar com o jogador para o mundial que sediará em junho foi manifestado pelo técnico da seleção sub-17, Raúl Gutiérrez, em novembro. “É um garoto que temos acompanhado e obviamente precisa ser considerado, porque é mexicano. Já conversamos com seu pai, sabemos que existe a possibilidade de atuar pela nossa seleção, então daremos prosseguimento para ver o que acontece”, disse.

De fato, Emilio não descartou defender a equipe mexicana, mas também afirmou que poderia vestir a camisa francesa ou a camaronesa. “Não sei por qual gostaria de jogar, porque gosto das três. Gosto do México porque foi onde nasci, da França porque tem um futebol de bom nível e de Camarões porque é o país de meus pais. Mas ainda nenhuma seleção me chamou”, disse, em francês, durante entrevista ao portal mexicano Mediotempo – por ter se mudado aos quatro anos, não fala o idioma espanhol.

De excelente porte físico (mede 1,88m aos 15 anos de idade, um monstro perto de seus companheiros), o segundo Omam-Biyik da linhagem possui ótima velocidade e facilidade para finalizações, principalmente de cabeça, puxando o pai. Entretanto, joga um pouco mais recuado, no meio-campo. Até por isso, costuma ele mesmo se comparar a Abou Diaby, do Arsenal.

Contudo, a convocação para a seleção mexicana pode não passar de rumores. A renúncia de Nestor de La Torre da Comissão de Seleções da Federação Mexicana, e a chegada de José Manuel de la Torre (que não é irmão do primeiro) à seleção principal provocou uma onda de incerteza entre os treinadores das seleções de base sobre a continuação de seus trabalhos. Desta forma, caso Gutiérrez seja sacado, o processo de convocação possa ser abortado.

Mas certamente Emílio aguarda também alguma manifestação da federação francesa, cuja equipe sub-17 disputa as eliminatórias europeias para o Mundial. Caso decida-se em breve por uma das três seleções, já se sabe ao menos que não poderá defender no Mundial a mesma camisa camaronesa que seu pai envergou, uma vez que os leõezinhos indomáveis já foram eliminados da classificatória africana. De qualquer forma, Emílio não se diz preocupado com isto no momento. Enquanto sabe que tem o interesse ao menos da seleção mexicana, se diz focado no trabalho nas bases do Châteauroux. E é o que deve fazer, para que possa ser convocado sim por seu futebol, e não por seu sobrenome.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

E se o Brasileirão 2010 fosse decidido no mata-mata?

Como seria? Confira: repetimos a brincadeira feita nos últimos anos e simulamos os jogos entre os oito primeiros colocados. A regra é simples: pega-se a classificação final do campeonato e arranja-se os oito primeiros na chave, da mesma forma que acontecia até 2002: 1º x 8º, 2º x 7º e assim por diante. Para sabermos os resultados, basta pegar os placares do primeiro e do segundo turno. Em caso de empate, prevalece a melhor campanha.

Quartas de final

Fluminense (1º) x Santos (8º)

Santos 0x1 Fluminense
Fluminense 0x3 Santos

O primeiro confronto já resulta em uma baita surpresa. Campeão nos pontos corridos com a melhor defesa e menor número de derrotas, o Fluminense seria eliminado pelo oitavo colocado Santos já de cara. Com grande campanha na primeira fase e jogando por dois resultados iguais, o Flu parecia virtualmente classificado ao vencer por 1 a 0 em plena Vila Belmiro, graças ao gol de Alan. Mas, em noite inspirada de Zé Eduardo, que marcou três, o Peixe venceu em pleno Engenhão e repetia o feito de 2002, quando eliminou o São Paulo nas quartas de final após se classificar em oitavo.

Cruzeiro (2º) x Internacional (7º)

Internacional 1x2 Cruzeiro
Cruzeiro 1x0 Internacional

Focado na disputa da Libertadores e do Mundial de Clubes, o Inter daria-se ao luxo de mandar um time misto para a partida de ida no Beira Rio, acabando derrotado por 2 a 1, com gols de Kleber, que depois acabaria indo para o Palmeiras. Podendo até perder por um gol de diferença, a Raposa administraria a vantagem no jogo de volta, vencendo por 1 a 0, gol de Éverton.

Corinthians (3º) x Botafogo (6º)

Botafogo 2x2 Corinthians
Corinthians 1x1 Botafogo

Na busca pelo título nacional no ano do centenário, o Corinthians contaria com a estrela de Bruno César e com uma pitada de sorte para passar pelo Botafogo. Na primeira partida, no Engenhão, o camisa 10 corintiano abrira o placar, mas a equipe sofreria a virada no segundo tempo, graças a Renato Cajá e Lúcio Flávio. O empate viria no último lance, numa jogada improvável: escanteio de Defederico, cabeçada de Paulo André. Na volta, Pacaembu lotado para testenhumar a classificação, que aconteceria mesmo com um empate. A festa parecia garantida com o golaço de Bruno César logo a três minutos, mas graças ao gol de cabeça de Loco Abreu, aos 26, o jogo ganhou contornos dramáticos. O Corinthians foi para cima tentando assegurar a vantagem, mas o Botafogo se fechava na retranca e apostava nos contra ataques. Ao final, classificação suada, no melhor estilo corintiano.

Grêmio (4º) x Atlético-PR (5º)

Atlético-PR 1x1 Grêmio
Grêmio 3x1 Atlético-PR

Duas equipes que terminaram a etapa de pontos corridos em grande fase, Atlético-PR e Grêmio protagonizaram dois jogos distintos. Na Arena da Baixada, cada equipe dominou um tempo e o empate foi consequência natural: 1 a 1, com gols de Maikon Leite e Vilson. Na volta, o Grêmio, empurrado pela torcida, nem precisou dos gols do artilheiro Jonas para vencer por 3 a 1 numa partida nervosa, com pênaltis para os dois lados. Neuton abriria o placar, mas Paulo Baier empataria logo em seguida, de pênalti, para desespero da torcida gremista. No segundo tempo, entretanto, Douglas e Diego concretizariam a classificação às semifinais.

Semifinais

Grêmio (4º) x Santos (8º)

Grêmio 1x2 Santos
Santos 0x0 Grêmio

O Santos continuaria surpreendendo a todos ao eliminar o Grêmio com uma vitória em pleno estádio Olímpico. Liderado por Neymar, que marcou um gol e perdeu pênalti, o Peixe venceria por 2 a 1 graças a um gol de Rodriguinho aos 48 do segundo tempo. Até então herói da campanha, Jonas tornaria-se vilão com a expulsão no jogo de volta, minando as chances de virada gremista, que por causa da atuação de Victor não deixou a Vila Belmiro com uma goleada.

Cruzeiro (2º) x Corinthians (3º)

Cruzeiro 1x0 Corinthians
Corinthians 1x0 Cruzeiro

Muita polêmica, reclamações dos dois lados, protestos contra a arbitragem e cruel eliminação corintiana. A semifinal teve emoção do início ao fim: em Uberlândia, a Raposa abriria o placar logo aos três minutos, com um chute de Montillo que Júlio Céar não alcançaria. Três minutos depois, pênalti polêmico marcado para o Corinthians, mas Fábio defenderia a cobrança de Bruno César. No segundo tempo, foi a vez dos corintianos reclamarem suposto pênalti não marcado no meia. No jogo de volta, com Ronaldo em campo e a Fiel lotando o Pacaembu, o Cruzeiro surpreendeu no início jogando no ataque, ao contrário do que se imaginava, pela vantagem de poder até mesmo perder por um gol de diferença. A partida seguiu nervosa, com as duas equipes criando chances, até que aos 43 minutos do segundo tempo o árbitro Sandro Meira Ricci, curiosamente o mesmo do jogo de ida, marcou pênalti de Gil em Ronaldo, para desespero de Cuca. O Fenômeno converteu a cobrança, mas era tarde demais. O Cruzeiro faria a final contra o Santos.

A decisão

Cruzeiro (2º) x Santos (8º)

Cruzeiro 0x0 Santos
Santos 4x1 Cruzeiro

A final envolvia os dois primeiros campeões da era dos pontos corridos, e teria duas partidas bastante distintas: no Mineirão, mesmo jogando em casa, o Cruzeiro seria bombardeado pelo ataque santista, o melhor da temporada, tendo de se esforçar para segurar o empate. Na Vila, entretanto, a tática não daria resultado e a vantagem da melhor campanha seria pulverizada. Com um segundo tempo perfeito, o Santos marcaria quatro gols com Edu Dracena, Alex Sandro, Marcel e Neymar, coroando um ano perfeito e conquistando a tríplice coroa, feito alcançado até então somente pelo Cruzeiro. Festa para Neymar, o melhor do Brasil em 2010.