sábado, 22 de janeiro de 2011

Mama África

Burkina Faso conquista Africano Sub-17, mas precisa conviver com suspeitas de gatos

Publicado no Olheiros

Enquanto as atenções permanecem voltadas para a reta final da Copa São Paulo e a boa campanha brasileira no Sul-Americano Sub-20, o continente africano mobilizou-se na disputa do continental sub-17, em Ruanda. Classificatório para o mundial da categoria, o campeonato foi recheado de surpresas, como é comum nesta faixa etária. Em uma atuação heróica, Burkina Faso, treinada pelo português Rui Vieira, derrotou na decisão deste sábado os donos da casa por 2 a 1, mesmo com um homem a menos.

O estádio nacional de Amahoro estava lotado para a partida, e após um primeiro tempo parelho, com chances criadas para ambos os lados, Zaniou Sana aproveitou um descuido da defesa, interceptando um passe fraco, e abriu o placar aos onze da segunda etapa. Dez minutos depois, Charles Tibingana recebeu um passe fora da área e empatou com um belo chute, indefensável, levando a torcida à loucura.

O jogo seguia tenso, e a arbitragem em nada ajudava: foram seis cartões amarelos, todos para os atletas de Burkina Faso, um vermelho para Basiru, já no segundo tempo, em uma falta que gerou discussão dentro de campo. Ainda assim, a equipe visitante conseguiu voltar à liderança no placar com Kabore Abdoul Aziz, a nove minutos do fim. É o primeiro título do país na competição, após derrotas nas decisões de 1999 e 2001.

A final foi uma revanche da partida de abertura, em que os anfitriões saíram vitoriosos também por 2 a 1. Escolas de futebol mais tradicionais no continente, Egito e Senegal ficaram para trás na mesma chave, enquanto Costa do Marfim e Congo, que haviam eliminado Gâmbia e Mali, equipes de bom retrospecto na base, acabaram caindo nas semifinais. Camarões, Tunísia, África do Sul, Gana, Nigéria, Argélia e Marrocos sequem passaram da fase eliminatória.

Olhando para a história recente da categoria, tem sido comum notar a presença de seleções de segundo ou terceiro escalão nos Mundiais Sub-17 – Malaui, Serra Leoa, Gâmbia e a própria Burkina Faso são alguns destes exemplos. Os jovens garanhões, como a equipe é conhecida, têm alcançado resultados surpreendentes na última década, como o terceiro lugar em 2001, que revelou nomes como Sanou, Ouedraogo e Coulibaby. além disso, participaram também do último mundial, conseguindo passar à segunda fase e caindo diante da Espanha.

Dentre os atletas burquinenses, os principais holofotes voltaram-se, desde o início da competição, a Bertrand Traore, jovem meia de apenas 15 anos, titular entre diversos jogadores de 16 e 17. Autor de dois gols na goleada por 4 a 0 sobre o Egito e do gol do empate contra Congo nas semifinais, que garantiu a disputa de pênaltis, o garoto era o mais novo relacionado no Mundial Sub-17 de 2009, na Nigéria – e ainda foi titular, até mesmo deixando o seu na goleada por 4 a 1 sobre a Costa Rica, na primeira fase. Um golaço, em que conduziu, enganou três zagueiros e chutou no canto do goleiro.

Um ano e meio depois, o menino já foi seguido de perto por muitos clubes, como Manchester United e Olympique Marseille, mas escolheu o Chelsea para dar o grande passo rumo à Europa. “Gosto do Chelsea porque eles têm africanos lá, como Drogba, Essien e Obi”, diz um ingênuo Traore. Mas como há restrições aos clubes europeus na contratação de jovens desta idade, ele ainda espera o contato oficial.

Entretanto, a evolução do futebol de base do país vive sob a sombra da adulteração de idade de suas estrelas ascendentes. Após a classificação para o Mundial Sub-17 de 2009, inúmeros casos de “gatos” dentro da equipe foram descobertos (oito dos 30 jogadores que faziam excursão pela Europa não passaram no teste de ressonância magnética óssea) e o time perdeu seus principais destaques. Ainda assim, fez boa campanha.

Até o momento não há suspeitas de que Traore, ou algum outro jogador do elenco campeão sub-17, tenha a idade adulterada. Mas como todo garoto que se destaca nesta faixa etária, especialmente em um país com condições sociais tão graves como é Burkina Faso, haverá sempre uma pequena pulga atrás da orelha. Daqui ao Mundial, serão alguns meses para novos testes e comentários. É esperar para aguardar o desfecho.

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