sábado, 11 de dezembro de 2010

Filho da globalização

Atuando na França, filho de ídolo camaronês pode defender seleção sub-17 mexicana

Milão, 8 de junho de 1990. Numa das maiores zebras da história das Copas, a ainda pouquíssimo conhecida seleção de Camarões chocava o mundo ao derrotar a Argentina de Maradona no jogo de abertura. O gol da vitória foi marcado por François Oman-Biyik, então atacante do Stade Lavallois, da França. Vinte anos depois, a família Omam-Biyik, originária do subúrbio de Yaoundé, capital camaronesa, volta ao noticiário.

Publicado no Olheiros.net

Isto porque o filho de François, Emilio Omam-Biyik, pode defender a seleção mexicana no Mundial Sub-17 que acontece no país, em junho do ano que vem, mesmo sem ter jamais chutado uma bola naqueles gramados. Mas o que tem a ver com o México o filho de um ex-jogador camaronês que passou a maior parte da carreira em clubes franceses? Para a alegria dos amantes do futebol globalizado, tudo. Emílio nasceu na Cidade do México em 12 de março de 1995, quando seu pai defendia o América - ficou por lá de 1994 a 1997, antes de defender o Atlético Yucatán e o Puebla.

Mexicano de nascimento, o garoto tem a cidadania camaronesa da família e também a francesa, afinal foi para lá que seguiu com o pai quando François encerrou a carreira no Châteauroux, em 2000. E foi exatamente no clube da segunda divisão francesa que o menino de quinze anos começou a seguir a carreira e o exemplo do pai.

O interesse em contar com o jogador para o mundial que sediará em junho foi manifestado pelo técnico da seleção sub-17, Raúl Gutiérrez, em novembro. “É um garoto que temos acompanhado e obviamente precisa ser considerado, porque é mexicano. Já conversamos com seu pai, sabemos que existe a possibilidade de atuar pela nossa seleção, então daremos prosseguimento para ver o que acontece”, disse.

De fato, Emilio não descartou defender a equipe mexicana, mas também afirmou que poderia vestir a camisa francesa ou a camaronesa. “Não sei por qual gostaria de jogar, porque gosto das três. Gosto do México porque foi onde nasci, da França porque tem um futebol de bom nível e de Camarões porque é o país de meus pais. Mas ainda nenhuma seleção me chamou”, disse, em francês, durante entrevista ao portal mexicano Mediotempo – por ter se mudado aos quatro anos, não fala o idioma espanhol.

De excelente porte físico (mede 1,88m aos 15 anos de idade, um monstro perto de seus companheiros), o segundo Omam-Biyik da linhagem possui ótima velocidade e facilidade para finalizações, principalmente de cabeça, puxando o pai. Entretanto, joga um pouco mais recuado, no meio-campo. Até por isso, costuma ele mesmo se comparar a Abou Diaby, do Arsenal.

Contudo, a convocação para a seleção mexicana pode não passar de rumores. A renúncia de Nestor de La Torre da Comissão de Seleções da Federação Mexicana, e a chegada de José Manuel de la Torre (que não é irmão do primeiro) à seleção principal provocou uma onda de incerteza entre os treinadores das seleções de base sobre a continuação de seus trabalhos. Desta forma, caso Gutiérrez seja sacado, o processo de convocação possa ser abortado.

Mas certamente Emílio aguarda também alguma manifestação da federação francesa, cuja equipe sub-17 disputa as eliminatórias europeias para o Mundial. Caso decida-se em breve por uma das três seleções, já se sabe ao menos que não poderá defender no Mundial a mesma camisa camaronesa que seu pai envergou, uma vez que os leõezinhos indomáveis já foram eliminados da classificatória africana. De qualquer forma, Emílio não se diz preocupado com isto no momento. Enquanto sabe que tem o interesse ao menos da seleção mexicana, se diz focado no trabalho nas bases do Châteauroux. E é o que deve fazer, para que possa ser convocado sim por seu futebol, e não por seu sobrenome.

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