quarta-feira, 6 de abril de 2011

Conversa para norte-americano ver


Cruzeiro estuda criar escolinha nos EUA, mas deveria investir na base por aqui

Publicado no Olheiros Os Estados Unidos não são chamados de “terra das oportunidades” por acaso. Lá, uma ideia na cabeça e um perfil empreendedor fizeram os maiores milionários do mundo, e transformaram o esporte em um lucrativo entretenimento que lota estádios e movimenta bilhões de dólares anualmente seja com a venda de produtos licenciados ou as quantias mais altas do planeta para um anúncio de televisão – no Superbowl deste ano, um comercial de 30 segundos custava US$ 3 milhões.

Mas o que isso tem a ver com o universo da base? Tudo. Ao menos é o que pensa a diretoria do Cruzeiro. O clube mineiro tem negociações adiantadas para montar um complexo futebolístico na terra do Tio Sam, com investimentos pesados para a construção de escolinhas de futebol e centros de formação de jogadores.

Na última semana, o gerente de futebol da raposa, Valdir Barbosa, viajou aos States para reuniões em Dallas e Atlanta, cidades que se candidataram a receber a primeira filial norte-americana de um clube brasileiro – o Cruzeiro USA, uma espécie de escritório que trabalha na divulgação da marca celeste em solo yankee, já opera há algum tempo por lá. Entretanto, tudo indica que a base cruzeirense deverá ser instalada na região de Atlanta, sede das Olimpíadas de 1996.

“Em Atlanta nós temos algumas propostas interessantes para montar uma grande escola de futebol, em parceria com grandes empresas. É uma coisa que está caminhando muito bem”, disse Barbosa, que se reuniu com o prefeito de Alpharetta, cidade-satélite de Atlanta, imobiliárias, o Secretário de Turismo, o Senador da República da Geórgia e o representante do Atlanta Falcons, equipe de futebol americano. Atualmente, a cidade não possui equipe de futebol profissional na Major League Soccer, ao contrário de Dallas, que já tem o FC Dallas, um dos times mais antigos da liga, fundado em 1996.

Segundo a imprensa local, a construção estaria orçada entre 30 e 40 milhões de dólares, ocupando uma área de aproximadamente 400 mil metros quadrados, comportando até dezoito campos de futebol. O dinheiro estaria sendo levantado com empresários e investidores norte-americanos.

A relação com os Estados Unidos e Atlanta não é recente na administração Perrella. Em 2008, o Cruzeiro realizou clínicas na cidade de Atlanta e, no ano passado, jogou amistosos com o New England Revolution e o New York Red Bulls, da MLS. O projeto teria escolinhas de futebol, intercâmbio com universidades (que são quem leva os garotos para os times profissionais, através dos drafts) e até mesmo, no futuro, a criação de um time para a disputa da liga profissional.

Entretanto, a possibilidade soa como mais um de muitos projetos de clubes brasileiros que jamais saem do papel. Estádios e mais estádios do Corinthians, centro de treinamento de primeiro mundo para as bases do Vasco em Duque de Caxias, programas de sócio torcedor que não recebem adesão... Em vez de se preocupar com sua dívida - segundo dados do final de 2009, o Cruzeiro tem uma dívida acumulada de R$ 130 milhões, o clube fala em ampliar mercados, focando um país que já foi sim a terra da oportunidade, mas que ainda tem rejeição considerável ao futebol, prefere outros esportes e dificilmente dará retorno ao clube ou a sua base.

Basta ver projetos como as escolinhas do Ajax espalhadas pelo mundo, que de jogadores descobertos para o clube pouco ou nada renderam. Muito melhor seria, sem dúvida, ampliar a rede de observadores no Brasil, investir na captação e formação e colher frutos seguros – e no pomar perto de seu quintal. O Cruzeiro tem boa estrutura, revela com frequência e vende bem suas crias, mas poderia reverter melhor estes investimentos para a própria base caseira. Do contrário, será apenas conversa para norte-americano ver.