Publicado originalmente na coluna Futebol Alpino, da Trivela.
O garotinho ao lado só conhece as conquistas de seu clube através de fotos, vídeos e pelas histórias de seu pai ou avô. O Servette FC, uma das maiores e mais tradicionais equipes do futebol suíço, passa pela mais grave crise de sua história centenária. Segundo maior vencedor da Super League com 17 títulos, os grenás chegaram ao fundo do poço: lutando contra o rebaixamento na segunda divisão suíça, começam a se afundar novamente em dívidas e podem ter de fechar as portas definitivamente.
O clube já vinha mal das pernas desde a última conquista nacional, na temporada 1998/99. A bancarrota veio com o francês Marc Roger, que em um ano de administração, entre 2004 e 2005, acumulou uma dívida de 16 milhões de francos suíços – o equivalente, nos dias atuais, a R$ 33 milhões. Roger foi recentemente condenado a dois anos de prisão por crimes de fraude, falsificação de documentos e administração indevida do dinheiro do clube. Como já havia cumprido 22 meses de prisão preventiva, decretada após sua tumultuada saída de Chatelaine, acabou em liberdade.
Roger havia assumido o clube com uma dívida em torno de dez milhões de francos, remanescentes da construção do Stade de Genève, uma das sedes da Eurocopa. O orçamento inicial de construção da arena era de 68 milhões, e a obra seria financiada exclusivamente pelo setor privado, que lucraria com o centro comercial e o hotel localizados no complexo. Entretanto, o custo total ficou em 148 milhões, dos quais 43 milhões foram custeados por verbas públicas, principalmente do estado e da prefeitura de Genebra.
Sob o argumento de gerir profissionalmente o dinheiro do clube, o presidente fundou a AFI, empresa que ficaria responsável pela administração financeira do Servette e do estádio. A comunidade se envolveu e doou grandes quantias para salvar o clube da falência – somente Lorenzo Sanz, ex-presidente do Real Madrid, teria desembolsado três milhões de euros. Mas o dinheiro sumiu, a dívida só aumentou e, em 2005, a falência foi decretada e o time foi automaticamente rebaixado para a terceira divisão.
Oásis ou miragem?
Quando o clube faliu, havia tantos salários atrasados que alguns jogadores até tiveram de encerrar a carreira. Os credores era até mesmo ex-atletas, como o francês Christian Karembeu, que estava no Servette quando a crise estourou. Todos os profissionais foram para outros times e uma equipe formada pelas categorias de base, em sua maioria atletas sub-21, assumiu o nome e a estrutura existentes e conseguiu o acesso à segunda divisão.
Após duas temporadas em que foi possível baixar a poeira, com campanhas regulares e sem sustos, o fantasma volta a assustar os grenás: na metade do campeonato, o time venceu apenas três jogos em quinze e está em 14º lugar, a primeira posição fora da zona de rebaixamento. Pra piorar, os lanternas FC Locarno e FC Gossau têm um jogo a menos e tudo indica uma iminente queda na classificação após a realização da partida adiada pela neve.
A última tentativa de salvar o centenário clube deu-se em setembro, quando o empresário iraniano Majid Pishyar pagou quatro milhões de francos pelo controle majoritário, tornando-se presidente em substituição a Francisco Viñas, muito elogiado pelo gerenciamento de crise que foi feito. Diretor de uma holding de 32 empresas sediada em Dubai, com atividades em diversos setores, Pishyar não foi bem recebido pela imprensa e pela torcida, que vê no milionário um aproveitador que quer apenas ganhar dinheiro, e não salvar o clube.
Promessas de investimento pesado foram feitas: “vamos gastar o necessário para atingir nossos objetivos”, afirmou o iraniano quando assumiu, deixando claro que pretende voltar à primeira divisão e, dentro do possível, controlar as finanças – o que não é o suficiente para a comunidade de Genebra, que quer o fim do problema de uma vez por todas. Os habitantes, sempre muito ligados ao clube, têm deixado de acompanhar o time e nem mesmo o governo acena com a chance de ajuda financeira, já que no passado todos foram enganados.
Com isso, o novo estádio virou um elefante branco. Com capacidade para 30 mil torcedores, a média de público não passa dos dez mil. Até hoje, só ficou lotado nas três partidas da Euro que sediou. O centro comercial anexo é rentável, mas a administração o estádio é insolvente porque os custos de manutenção são maiores que as receitas. Só em 2008, o déficit foi estimado em 2 milhões de francos suíços. Para os dirigentes da Fundação que gere o Stade de Genève, a solução para a rentabilidade é ter o Servette na primeira divisão sempre com casa cheia, alguns jogos internacionais e ainda eventos culturais.
Entretanto, a crise financeira esbarra em um problema de planejamento estratégico: no desenho da construção, a arena não foi projetada para ser multiuso em seu interior e, portanto, não pode receber eventos de outros esportes ou até mesmo shows musicais com muita freqüência. Com isso, a dívida volta a aumentar. E sem receita para contratar, o retorno à elite fica mais distante. Pishyar tem dinheiro de sobra, mas não parece tão disposto assim a investir pesado em época de crise financeira internacional. Para piorar, sua experiência anterior não ajuda em nada: assumiu anos atrás o austríaco Admira Wacker, que em sua gestão faliu e foi rebaixado.
Para uma camisa que já foi envergada por Karl-Heinz Rummenigge e Sonny Anderson, entre outros, o destino parece cruel demais. Uma última alternativa seria voltar-se novamente às divisões de base, que deram conta do recado há pouco tempo e revelaram, nos últimos anos, nomes domo Senderos e Djourou. A rica cidade de Genebra queria um estádio moderno e um clube com ambições européias. Seis anos depois da inauguração do Estádio de Genebra, ela não tem uma coisa nem outra. Quem irá salvar o Servette?
O garotinho ao lado só conhece as conquistas de seu clube através de fotos, vídeos e pelas histórias de seu pai ou avô. O Servette FC, uma das maiores e mais tradicionais equipes do futebol suíço, passa pela mais grave crise de sua história centenária. Segundo maior vencedor da Super League com 17 títulos, os grenás chegaram ao fundo do poço: lutando contra o rebaixamento na segunda divisão suíça, começam a se afundar novamente em dívidas e podem ter de fechar as portas definitivamente.
O clube já vinha mal das pernas desde a última conquista nacional, na temporada 1998/99. A bancarrota veio com o francês Marc Roger, que em um ano de administração, entre 2004 e 2005, acumulou uma dívida de 16 milhões de francos suíços – o equivalente, nos dias atuais, a R$ 33 milhões. Roger foi recentemente condenado a dois anos de prisão por crimes de fraude, falsificação de documentos e administração indevida do dinheiro do clube. Como já havia cumprido 22 meses de prisão preventiva, decretada após sua tumultuada saída de Chatelaine, acabou em liberdade.
Roger havia assumido o clube com uma dívida em torno de dez milhões de francos, remanescentes da construção do Stade de Genève, uma das sedes da Eurocopa. O orçamento inicial de construção da arena era de 68 milhões, e a obra seria financiada exclusivamente pelo setor privado, que lucraria com o centro comercial e o hotel localizados no complexo. Entretanto, o custo total ficou em 148 milhões, dos quais 43 milhões foram custeados por verbas públicas, principalmente do estado e da prefeitura de Genebra.
Sob o argumento de gerir profissionalmente o dinheiro do clube, o presidente fundou a AFI, empresa que ficaria responsável pela administração financeira do Servette e do estádio. A comunidade se envolveu e doou grandes quantias para salvar o clube da falência – somente Lorenzo Sanz, ex-presidente do Real Madrid, teria desembolsado três milhões de euros. Mas o dinheiro sumiu, a dívida só aumentou e, em 2005, a falência foi decretada e o time foi automaticamente rebaixado para a terceira divisão.
Oásis ou miragem?
Quando o clube faliu, havia tantos salários atrasados que alguns jogadores até tiveram de encerrar a carreira. Os credores era até mesmo ex-atletas, como o francês Christian Karembeu, que estava no Servette quando a crise estourou. Todos os profissionais foram para outros times e uma equipe formada pelas categorias de base, em sua maioria atletas sub-21, assumiu o nome e a estrutura existentes e conseguiu o acesso à segunda divisão.
Após duas temporadas em que foi possível baixar a poeira, com campanhas regulares e sem sustos, o fantasma volta a assustar os grenás: na metade do campeonato, o time venceu apenas três jogos em quinze e está em 14º lugar, a primeira posição fora da zona de rebaixamento. Pra piorar, os lanternas FC Locarno e FC Gossau têm um jogo a menos e tudo indica uma iminente queda na classificação após a realização da partida adiada pela neve.
A última tentativa de salvar o centenário clube deu-se em setembro, quando o empresário iraniano Majid Pishyar pagou quatro milhões de francos pelo controle majoritário, tornando-se presidente em substituição a Francisco Viñas, muito elogiado pelo gerenciamento de crise que foi feito. Diretor de uma holding de 32 empresas sediada em Dubai, com atividades em diversos setores, Pishyar não foi bem recebido pela imprensa e pela torcida, que vê no milionário um aproveitador que quer apenas ganhar dinheiro, e não salvar o clube.
Promessas de investimento pesado foram feitas: “vamos gastar o necessário para atingir nossos objetivos”, afirmou o iraniano quando assumiu, deixando claro que pretende voltar à primeira divisão e, dentro do possível, controlar as finanças – o que não é o suficiente para a comunidade de Genebra, que quer o fim do problema de uma vez por todas. Os habitantes, sempre muito ligados ao clube, têm deixado de acompanhar o time e nem mesmo o governo acena com a chance de ajuda financeira, já que no passado todos foram enganados.
Com isso, o novo estádio virou um elefante branco. Com capacidade para 30 mil torcedores, a média de público não passa dos dez mil. Até hoje, só ficou lotado nas três partidas da Euro que sediou. O centro comercial anexo é rentável, mas a administração o estádio é insolvente porque os custos de manutenção são maiores que as receitas. Só em 2008, o déficit foi estimado em 2 milhões de francos suíços. Para os dirigentes da Fundação que gere o Stade de Genève, a solução para a rentabilidade é ter o Servette na primeira divisão sempre com casa cheia, alguns jogos internacionais e ainda eventos culturais.
Entretanto, a crise financeira esbarra em um problema de planejamento estratégico: no desenho da construção, a arena não foi projetada para ser multiuso em seu interior e, portanto, não pode receber eventos de outros esportes ou até mesmo shows musicais com muita freqüência. Com isso, a dívida volta a aumentar. E sem receita para contratar, o retorno à elite fica mais distante. Pishyar tem dinheiro de sobra, mas não parece tão disposto assim a investir pesado em época de crise financeira internacional. Para piorar, sua experiência anterior não ajuda em nada: assumiu anos atrás o austríaco Admira Wacker, que em sua gestão faliu e foi rebaixado.
Para uma camisa que já foi envergada por Karl-Heinz Rummenigge e Sonny Anderson, entre outros, o destino parece cruel demais. Uma última alternativa seria voltar-se novamente às divisões de base, que deram conta do recado há pouco tempo e revelaram, nos últimos anos, nomes domo Senderos e Djourou. A rica cidade de Genebra queria um estádio moderno e um clube com ambições européias. Seis anos depois da inauguração do Estádio de Genebra, ela não tem uma coisa nem outra. Quem irá salvar o Servette?
Um comentário:
A coisa ta feia pra todo lado, no Fla os esportes olimpicos dependentes do Fla estão chegando ao fim.Abração
Galera a primeira mesa redonda virtual, estará no ar amanhã dia 25/01/09 ás 20:00hrs, se você ainda não faz parte do chat,
adicionem no seu msn group38099@groupsim.com . É o chat de msn criado só para blogueiros, para que a gente possa promover nossas mesas redondas virtuais. Participem!
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