sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Para não fechar*


O que têm em comum Mineiro, Flávio Conceição, Marcos Assunção, Marcelinho Paraíba, Macedo e Anaílson? Todos, entre muitos outros, foram revelados pelo Rio Branco de Americana. Tradicional clube do interior de São Paulo, o Tigre era o pequeno há mais tempo na primeira divisão do futebol paulista – o rebaixamento em 2007, com uma campanha melancólica, interrompeu um período de 17 anos na série A-1.

Como em todo descenso, uma combinação de fatores resultou na queda da equipe. O principal deles, sem dúvida, foi a lapidação sofrida nas últimas administrações, que tinham milhões em caixa graças à venda de jogadores e transformaram este capital em dívidas. Não obstante, hoje o Rio Branco tem fama de mau pagador – basta perguntar a qualquer empresário ou jogador do interior do estado.

Mas nem sempre foi assim. Com grandes campanhas na década de 90, o Tigre lotava o estádio Décio Vitta e era conhecido como um grande celeiro de craques. Quem montou toda a estrutura das bases foi Cilinho, o mesmo que anos antes havia apresentado ao Brasil os ‘menudos’ do Morumbi. Receita de sucesso, mas também chave do problema: nada, ou muito pouco, foi atualizado e o clube parou no tempo, chorando a dura realidade profissional da Lei Pelé.

Ainda assim, as bases do Rio Branco conseguiram render alguns frutos recentes, nas boas campanhas da Copinha: o atacante Thiago Ribeiro e o goleiro Fabiano, ambos negociados com o São Paulo, são a prova de que o talento resiste até em solos pouco férteis. O time sub-20 foi vice-campeão paulista no ano passado e a equipe da Copa São Paulo 2008 é considerada uma das mais fortes já montadas na cidade. E é bom que seja, pois o presente – e não mais o futuro – do clube depende desses garotos.

Tigrinhos na cova dos leões

Sem dinheiro para contratar, o Rio Branco pode acabar disputando a série A-2 com um time formado apenas pelos garotos da base reforçados de, no máximo, quatro ou cinco atletas profissionais que ainda possuem vínculo com o clube. A chance é grande, depois que propostas de investidores não foram concretizadas, mas não é nova: em abril, logo ao final do Paulistão, a diretoria já admitia que não teria condições de seguir com o futebol por conta própria.

De lá para cá, oito meses se passaram e nada foi feito. Para piorar, 2007 foi ano de eleição e o departamento de futebol não se mexeu, sob a alegação de que o trabalho teria que começar com a nova presidência. Ninguém se candidatou e nove conselheiros formaram um colegiado para assumir a bomba.

Falou-se em não disputar o campeonato, o que decretaria o rebaixamento automático para a quarta divisão. Há pouco mais de um mês para a estréia, nem técnico – e muito menos time – o clube tem. A solução, ao que parece, será mesmo confiar tudo aos garotos, que correm um sério risco de se queimarem com um rebaixamento para a A-3.

Não que não possuam qualidade, mas nem mesmo o time do Cruzeiro campeão brasileiro sub-20 agüentaria a pressão e a dificuldade de se jogar uma segunda divisão no meio de profissionais. Sinal do tempo, afinal no futebol brasileiro atual, carente de craques, a garotada tem sido cada vez mais importante. E caminha para virar a salvação da pátria.


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* Coluna publicada originalmente no Olheiros.

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