sábado, 7 de março de 2009

Vou, não vou*

*Publicado originalmente no Olheiros.

É difícil afirmar precisamente, mas neste sábado três jogadores brasileiros deverão ser negociados com o futebol internacional. Parece pouco? Esta é a média diária de transferências para fora do país. O número não surpreende, mas se dissermos que em 2008 foram 1.176 negociações para o exterior, os três por dia já não parecem tão pouco assim – na teoria, dá para formar 106 equipes completas e ainda sobra um time com um a menos.

E quem ainda não se convenceu da vocação exportadora de pé-de-obra adquirida pelo Brasil nos últimos anos, basta lembrar que, em 2006, foram negociados 851 atletas. O boom aconteceu em 2007, com 1085 transações – um aumento de 27,5%. São muitos números, cuja frieza muitas vezes não nos permite analisar as circunstâncias deste fenômeno. 

Mais difícil de afirmar, ainda, é qual o percentual de garotos, ou ainda de jogadores de no máximo 21, 22 anos, incutido nessas centenas de transferências – seria necessário analisar ficha por ficha no emaranhado site de registros da CBF. Fato é que se pudesse chutar, diria sem medo que perto de metade deste número envolveu jovens atletas que despontaram – ou não – nos gramados brasilis. 

Não são novidade os fatores que fizeram a procura aumentar: novos mercados com grana para contratar, clubes enfraquecidos sem recursos para bancar a permanência dos astros (e coadjuvantes, ou até mesmo reservas) e, principalmente, o vislumbramento com propostas do exterior, oriundo quase sempre da falta de conhecimento dos garotos sobre a realidade da vida longe de casa. O fato é que o menino de oito anos já joga pelada na rua com camisa do Ronaldo que não é o gaúcho ou o carioca, mas o português. 

Fruto da globalização? Sem dúvida. Mas é nestas horas que entra o papel fundamental do técnico, o “professor”, o exemplo que o garoto não tem em casa e que deve ajudá-lo a discernir realidade de utopia. O problema é que o mais comum é que os próprios treinadores aconselhem os meninos a buscarem sempre a transferência para o exterior, não importa para onde, sob quais condições ou por quanto tempo – só importa o valor. O motivo é claro: os “professores” são, muitas vezes, procuradores, empresários ou donos de parte dos “direitos federativos” de pré-adolescentes em idade de formação de personalidade e caráter. 

Para piorar, o jogador que começa a perceber um pouco de sucesso que seja já projeta a independência financeira que sempre prometeu aos pais ou a si mesmo – a vitória na vida através da bola. Tal vitória vem traduzida em dólares, petrodólares, euros, rublos ou ienes. O idioma local não importa, afinal a linguagem do dinheiro é universal. 

Até por isso, é louvável quando se vê um jovem como Keirrison, excelente jogador, de potencial absurdo e uma aposta quase certa para o futuro em um meio onde se é preciso provar seu valor a cada dia. K9 já declarou mais de uma vez que não tem vontade alguma de deixar o futebol brasileiro tão cedo. Propostas do Leste Europeu e do Oriente Médio já chegaram, mas não o seduziram. Um futebolista consciente e estudado, que sabe cuidar de sua própria carreira, é ainda, infelizmente, uma exceção. 

São muitos os exemplos dos garotos que arrumaram as malas no momento errado. E o destino nem precisa ser Moscou ou Dubai. Basta ver a sequencia das carreiras de Carlos Alberto e Roger, frutos do Fluminense, desde quando foram para Portugal e voltaram. O problema aí pode até ser mais o perfil do próprio jogador dentro de campo, inclusive, do que a hora em que a transferência se concretizou. Mas mesmo assim, não custa imaginar como poderia ter sido se, desde cedo, tivesse recebido orientação decente. 

E a idade já não é limite, pois vemos hoje garotos de quinze, dezesseis anos – ou até nove, como foi o caso de Caio na Roma – delineando suas carreiras bem longe. A questão, aqui, não é como impedir os clubes de fora de tirarem os jogadores cedo demais do Brasil. É, na verdade, como podemos convencê-los de que fiquem por aqui, joguem um pouco mais por estas bandas, se valorizem e aí sim sigam outros rumos. 

Com um assédio tão grande, condições tão ruins em nossos clubes e falta de ídolos no futebol local, atingir este objetivo parece mais difícil que a conta proposta no início da coluna. Por tudo isso, é muito importante saber escolher a hora certa de ir, para não acabar voltando logo em seguida, com saudade do arroz e feijão ou das temperaturas mais amenas. 

Bye, bye, Brasil 

Confira o número de transferências realizadas para o exterior nos últimos anos: 

2008 – 1176 
2007 – 1085 
2006 – 851 
2005 – 804 
2004 – 857 
2003 – 858 

Fonte: site oficial da CBF

3 comentários:

Rafael Zito disse...

Neste final de semana, o Blog Jornalismo Esportivo inaugura um novo quadro que se chamará Opinião. O primeiro assunto é o retorno do atacante Ronaldo aos gramados e já deve ser lançado como titular contra o Palmeiras ou se deve entrar apenas durante o confronto.

Vejam as opiniões dos integrantes sobre o tema da semana.

www.esportejornalismo.blogspot.com

Brasileirão disse...

Oi Mauricio, amigo torcedor
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Tasso disse...

Maurício, sobre seu artigo no Olheiros (A nova Lei Bosman), queria fazer um comentário apenas: O "Acórdão Bosman" não é uma lei, é uma decisão do Tribunal de Justiça da União Europeia. E, na verdade, a proposta de Platini de proibir a transferência de menores não pode se comparar com o caso Bosman, até porque têm ideias totalmente diferentes. A prposta de Platini é restringir ainda mais a liberdade dos atletas, enquanto o Acórdão Bosman liberou os atletas das restrições que tinha sobre sua liberdade de trabalho. No fim, a proposta tem que vir com um algo a mais, já que a transferência internacional de menores já é proibida. E pode, inclusive, contrariar o acórdão Bosman, que não permite restrição à liberdade de locomoção de trabalhadores dentro da UE. Para mais, acesse www.extracampo.com