Os meninos de Lucho Nizzo aprenderam, da pior forma, umas das primeiras lições do futebol: não se ganha jogo na véspera. Por mais precipitado que possa parecer uma crítica apenas depois da primeira derrota, é num momento como este que observações mais profundas podem e devem ser feitas, afinal o brilho da vitória cega um pouco a visão para as arestas a serem aparadas.
Percebe-se claramente, neste Sulamericano, que o Brasil é, de longe, a melhor seleção. Possui os melhores talentos individuais – mais no ataque que na defesa, é verdade – e mais nomes de possível destaque no futuro do que muitas das outras seleções combinadas. Entretanto, por mais natural que seja qualquer tropeço de um time favorito, especialmente contra uma forte seleção colombiana, o revés brasileiro da última quinta serve para exemplificar muitas situações que acontecem corriqueiramente na base nacional.
A primeira delas é a supervalorização imediata do craque. É costume dizer que os campeonatos de base possuem um nome de destaque antes da competição e outro depois, já que normalmente o atleta que gera mais expectativa não corresponde. Já tem sido assim com Philippe Coutinho, criticado aqui e ali por sua deficiência nas finalizações e preciosismo nos dribles. O prodígio vascaíno (é bom que se lembre, já negociado com a Internazionale) tem, sim, pontos a serem aprimorados, mas quem não os tem nessa idade?
É fato que, em muitos casos, quando olhamos para trás em seleções brasileiras de base, grandes nomes da época não vingaram tanto quanto outros, haja visto Adriano, Geovanni e Bismarck, por exemplo – os dois últimos então jogadores do Vasco, aliás. Mas é muito arriscado imputar a estes meninos responsabilidades comuns a profissionais, como disciplina tática feroz ou a concentração total durante os noventa minutos. São coisas que vêm com o tempo, e Nizzo tem demonstrado saber trabalhar com estas variáveis.
Apesar dessas ponderações, é inegável que a produtividade brasileira vem caindo da estreia até aqui. Pelo pouco que se conhecia da seleção paraguaia, a goleada inicial ficou fora de contexto, assoberbada por ter acontecido contra um rival de peso do continente. Mas bastaram as rodadas subsequentes para mostrar que o Paraguai, apesar da vitória sobre o surpreendente Peru, é talvez o time mais fraco da chave.
Contra os peruanos, aliás, os brasileiros já não começaram tão ligados quanto no primeiro jogo, e sofreram um bocado, especialmente com Arroe, que já havia mostrado sua qualidade no Sulamericano Sub-15 de 2007. A vitória só veio após a expulsão de Centeno. Na partida desta quarta, ficou evidente a desatenção da equipe, que marcou mal no lance do primeiro gol e, com o passar do tempo, lançou-se desesperadamente ao ataque, sofrendo o segundo pelos méritos do ótimo Cuero.
Ficam claras, também, as deficiências de posicionamento de Sidimar, que, amarelado, foi deslocado para a lateral-direita na etapa complementar. Para quem viu seu desempenho na Copa São Paulo deste ano, quando o Atlético-MG foi eliminado ainda na primeira fase, fica difícil entender não só sua escalação como titular, mas também sua própria convocação. Elivélton, peça-chave no esquema de Nizzo por segurar mais o lado direito enquanto Wellington avança, também tem demonstrado um pouco de incerteza.
O Brasil estará no Mundial da Nigéria. Muito provavelmente, acabará até sendo campeão continental – nos últimos dois Sub-20, enfrentou dificuldades maiores e saiu vencedor. Erros como os que foram cometidos na quarta são comuns para uma garotada cheia de vontade de aparecer e com muito futebol para mostrar, mas é bom que a pedra se apresente no caminho agora, quando ainda é possível corrigir, do que depois, em pleno Mundial, como aconteceu em 2007 com as duas seleções. Faz bem para a torcida, que pode sonhar com uma campanha à altura do Brasil, e bem para os próprios garotos, que ficarão mais próximos de desenvolver suas carreiras da forma que o futebol que eles possuem, hoje, promete.
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