Renovar faz parte do ciclo da vida. Para os clubes de futebol, então, é o principal elo deste ciclo. Manter o alto nível (ou alcançá-lo) depende da observação diária e prospecção de novas figuras. Entretanto, um certo clube de Milão desafia este paradigma mostrando que é possível permanecer no topo deixando praticamente de lado a substituição de engrenagens fadigadas por outras novas e afiadas.
O Milan campeão europeu tinha em campo, na final contra o Liverpool, seis jogadores acima dos trinta anos de idade. Uma média que sobe ainda mais se considerarmos os suplentes – de fato, Kaká era o mais jovem dos dezoito relacionados. É totalmente possível, sim, ser vitorioso com um time experiente. O Brasil mostrou isso duas vezes, em 62 e 94, e na própria Liga dos Campeões da Europa o Bayern, em 2002, e a Juventus, em 96, usaram deste expediente.
Surpreende, entretanto, o fato de que mesmo com um elenco veterano, o Milan pouco mudou para esta temporada – veio Pato, apareceu Paloschi e Costacurta aposentou-se, mas o time titular permaneceu quase inalterado. Ou melhor, pensando bem, isso não surpreendeu. Conhecendo a filosofia de Ancelotti e a metodologia de trabalho rossonera, pouco se poderia esperar em termos de renovação. Mas a eliminação precoce para o Arsenal (um time cheio de garotos!) na UCL e a ofegante campanha na Serie A já acenderam a luz amarela em San Siro.
Um argumento recorrente para a pouca utilização dos garotos milaneses é que falta qualidade na base. Na última edição do Viareggio, a equipe foi eliminada nas oitavas-de-final pela sempre produtiva base do Vicenza, nos pênaltis. Paloschi e Aubameyang se destacaram, mas é muito pouco para um clube como o Milan. Tamanha é a cegueira de Ancelotti para a base que nem mesmo seu filho, o meio-campista Davide, consegue aspirar grande participação num futuro próximo.
Mas dizer que a base é ruim e que, por isso, não pode ser utilizada, é um argumento no mínimo burro. Com o dinheiro que possui, o Milan poderia - e deve - investir mais não só na formação, como também na captação de talentos. Já que não forma, ao menos que amplie a rede de contatos para alistar mais cedo jogadores com mais potencial. Parece lógico, e é. Mas é uma lógica que não se quer seguir.
A atual geração pode, de fato, até não ser tão boa assim, mas alguns jovens emprestados pelo Milan, por falta de espaço na equipe principal, têm feito boa figura com outras camisas. O lateral-esquerdo Leandro Grimi, argentino com cidadania italiana, foi cedido ao Siena, voltou e agora faz boa temporada no Sporting Lisboa. Comprado junto ao Racing de Avellaneda no início de 2007, pode ficar em definitivo em Portugal mesmo tendo vestido a camisa rossonera poucas vezes.
Outro zagueiro, Lino Marzoratti, temporário no Empoli, é titular absoluto da seleção sub-21 e dificilmente ficará de fora das Olimpíadas. Estes são dois exemplos de jogadores que Ancelotti poderia muito bem ter lançado para ganhar experiência, afinal é no setor defensivo que residem as principais preocupações rossoneras: Maldini (finalmente) se despede ao final da temporada e Cafu, Favalli, e Serginho logo vão fazer o mesmo. Uma das poucas exceções, Matteo Darmian é titular da equipe sub-19 e aos poucos vai sendo lançado. É pouco.
Para atestar a falta de valorização da base, basta ver que a supracitada equipe sub-21 italiana não possui nenhum jogador rossonero. Pelo contrário: o clube tenta comprar jogadores que fazem parte dela. Já surgem especulações de que Gilardino poderia ser trocado por Montolivo, da Fiorentina, ao final da temporada. Será esta a estratégia correta? Diz o ditado que em time que está ganhando não se mexe. Mas... Até quando? A hora de mudar seria agora.
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* Coluna publicada originalmente no Olheiros.
O Milan campeão europeu tinha em campo, na final contra o Liverpool, seis jogadores acima dos trinta anos de idade. Uma média que sobe ainda mais se considerarmos os suplentes – de fato, Kaká era o mais jovem dos dezoito relacionados. É totalmente possível, sim, ser vitorioso com um time experiente. O Brasil mostrou isso duas vezes, em 62 e 94, e na própria Liga dos Campeões da Europa o Bayern, em 2002, e a Juventus, em 96, usaram deste expediente.
Surpreende, entretanto, o fato de que mesmo com um elenco veterano, o Milan pouco mudou para esta temporada – veio Pato, apareceu Paloschi e Costacurta aposentou-se, mas o time titular permaneceu quase inalterado. Ou melhor, pensando bem, isso não surpreendeu. Conhecendo a filosofia de Ancelotti e a metodologia de trabalho rossonera, pouco se poderia esperar em termos de renovação. Mas a eliminação precoce para o Arsenal (um time cheio de garotos!) na UCL e a ofegante campanha na Serie A já acenderam a luz amarela em San Siro.
Um argumento recorrente para a pouca utilização dos garotos milaneses é que falta qualidade na base. Na última edição do Viareggio, a equipe foi eliminada nas oitavas-de-final pela sempre produtiva base do Vicenza, nos pênaltis. Paloschi e Aubameyang se destacaram, mas é muito pouco para um clube como o Milan. Tamanha é a cegueira de Ancelotti para a base que nem mesmo seu filho, o meio-campista Davide, consegue aspirar grande participação num futuro próximo.
Mas dizer que a base é ruim e que, por isso, não pode ser utilizada, é um argumento no mínimo burro. Com o dinheiro que possui, o Milan poderia - e deve - investir mais não só na formação, como também na captação de talentos. Já que não forma, ao menos que amplie a rede de contatos para alistar mais cedo jogadores com mais potencial. Parece lógico, e é. Mas é uma lógica que não se quer seguir.
A atual geração pode, de fato, até não ser tão boa assim, mas alguns jovens emprestados pelo Milan, por falta de espaço na equipe principal, têm feito boa figura com outras camisas. O lateral-esquerdo Leandro Grimi, argentino com cidadania italiana, foi cedido ao Siena, voltou e agora faz boa temporada no Sporting Lisboa. Comprado junto ao Racing de Avellaneda no início de 2007, pode ficar em definitivo em Portugal mesmo tendo vestido a camisa rossonera poucas vezes.
Outro zagueiro, Lino Marzoratti, temporário no Empoli, é titular absoluto da seleção sub-21 e dificilmente ficará de fora das Olimpíadas. Estes são dois exemplos de jogadores que Ancelotti poderia muito bem ter lançado para ganhar experiência, afinal é no setor defensivo que residem as principais preocupações rossoneras: Maldini (finalmente) se despede ao final da temporada e Cafu, Favalli, e Serginho logo vão fazer o mesmo. Uma das poucas exceções, Matteo Darmian é titular da equipe sub-19 e aos poucos vai sendo lançado. É pouco.
Para atestar a falta de valorização da base, basta ver que a supracitada equipe sub-21 italiana não possui nenhum jogador rossonero. Pelo contrário: o clube tenta comprar jogadores que fazem parte dela. Já surgem especulações de que Gilardino poderia ser trocado por Montolivo, da Fiorentina, ao final da temporada. Será esta a estratégia correta? Diz o ditado que em time que está ganhando não se mexe. Mas... Até quando? A hora de mudar seria agora.
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* Coluna publicada originalmente no Olheiros.
3 comentários:
Isso é tudo muito relativo.
Hoje no Brasil, por exemplo renovar não é opção é necessidade de mercado porque bons jogadores logo viram produto de exportação.
Com certeza se pudéssemos mantê-los nos nossos times a renovação seria bem menor e com certeza seria mais positiva, como no Milan.
Agora qualificar e depois valorizar e explorar a BASE é instrumento de extrema inteligência e pra nós no Brasil tem sido a saída pra manter bons times.
Saudações Celestes
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ENTREM E SINTAM-SE A VONTADE
Seja com Ancelotti ou com Lippi, o Milan tem tudo para fazer uma boa e necessária reestruturação no elenco, que foi adiada na última temporada pelo título da Champions League.
Há, pelo mundo, diversos jogadores de várias posições que podem manter o bom nível técnico da equipe, adicionando em juventude.
Como dito acima acho isso relativo também.
No Brasil é essencial, pois se tornou uma das poucas fontes de renda e de talentos o investimento na base.
Jogador quando volta da europa, ou se deu mal, e usa o velho ditado da "falta do feijão", ou está em fim de carreira.
Já nos clubes do velho continente, acho válido algumas peças se perpetuarem.
Casos de Zanneti na Inter, Dedê no Borussia, que, mesmo estrangeiros, conquistaram a braçadeira de capitão, que é dada para aqueles que disputaram mais jogos pelo clube.
Renovar é preciso, mas experiência é fundamental em algumas horas.
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