sábado, 15 de janeiro de 2011

Onde os fracos não têm vez

Copinha 2011 escancara abismo entre grandes pequenos na base


Publicado no Olheiros.net

Foi um número que chamou muito a atenção ao final da primeira fase da Copa São Paulo: dos 32 classificados ao mata-mata, 22 também havia ultrapassado a etapa de grupos em 2010. O baixo índice de renovação de um ano para o outro (31%) é ainda menor que o de 2009 para 2010, quando 19 clubes repetiram a dose. Equipes do interior paulista como Rio Preto, Barueri (ex-Campinas), Desportivo Brasil e Primeira Camisa, que inicialmente podem parecer zebras, mostraram que já conhecem o caminho das pedras na Copinha.

Por mais paradoxal que possa parecer, a experiência fala mesmo mais alto na competição sub-18 mais importante do país – no caso, experiência dos clubes, adquirida após seguidas participações. Com isso, o número de surpresas tem caído ao longo do tempo, e finais como a entre América-SP e Comercial-SP, em 2006, parecem cada vez mais improváveis.

Desde a mudança no regulamento, de sub-20 para sub-18, a Copa São Paulo teve uma queda considerável do número de grandes clubes eliminados logo na primeira fase. No ano passado, tivemos a dupla Gren-Nal e o Atlético-MG; neste ano, somente o Botafogo, e por aí vai.

É certo que o inchaço da competição, tão criticado pela maioria, contribuiu para a participação de equipes mais fracas, e a consequente transformação da primeira fase, muitas vezes, em uma etapa puramente pró-forma, com dificuldade bastante reduzida. O aumento da média de gols, fruto da maior frequência de goleadas, é um dado inegável. Mas quando resultados como o empate do Botafogo com o Paulínia, ou do Internacional com o Primeira Camisa acontecem, é preciso lembrar que há sim qualidade entre os menos tradicionais.

Contudo, esta qualidade não é suficiente para suplantar todas as desvantagens em relação aos grandes, seja em estrutura, preparação, apoio ou mesmo captação de talentos. Por mais que os torneios de tiro curto, com partidas eliminatórias, ofereçam maior margem para o surgimento de zebras do que campeonatos de pontos corridos, uma breve análise do histórico recente demonstra que tal acontecimento é uma exceção na Copinha.

Basta lembrar os inúmeros casos de cãibras e fadigas musculares, pouco comuns a garotos, normalmente relacionados a longas viagens de ônibus, noites mal dormidas e alimentação deficitária. O abismo social existente no futebol cresce na base e se agiganta na Copa São Paulo, momento único em que mais rico e mais pobre encontram-se frente a frente. Equipes modestas, mas tradicionais em suas regiões de origem buscam competir fora de seus estados, trocar experiências, ganhar projeção nacional enquanto instituição e, também, promover seus jogadores para os grandes clubes. Por sua vez, os grandes, que já pularam essas etapas, concentram-se na formação do atleta completo e na conquista de títulos.

Finalmente, este abismo fica claro quando observado que são raras as participações na segunda fase por equipes pequenas fora do eixo Sul-Sudeste – nos últimos três anos, apenas o Confiança-SE conseguiu tal feito, caindo logo na primeira partida eliminatória. As constantes classificações de clubes do interior paulista podem ser vista como demonstração de força do estado, mas devem ser relevadas pelo fator campo, já que a maioria não chega longe.

Por tudo isso, a Copa São Paulo tem se transformado em um torneio que, além de revelar jogadores e movimentar o início de ano, escancara o abismo entre grandes e pequenos na base - abismo este que só tende a aumentar.

Um comentário:

Rodrigo Gutuzo disse...

Olá Maurício, td certo?

Estou de volta com o Pitacos. Passa lá!

www.pitacosdabola.blogspot.com

abraço!