Barra da Tijuca, Rio de Janeiro. Em uma ensolarada tarde carioca, um gaúcho de cabelo estilo militar troca e-mails com seu assistente sobre o desempenho de jogadores brasileiros no exterior quando, de súbito, sente um arrepio que não vem do gélido ar condicionado.
Ao clicar por engano num link para o site da FIFA, Dunga percebe que por lá existe, sim, uma seção dedicada ao futebol nas Olimpíadas, com notícias e até perfil das seleções classificadas para Pequim. “Meu Deus. Eles dão mesmo valor para o torneio olímpico”, suspira.
E qual não é a surpresa de Dunga ao ler a seguinte declaração do presidente da entidade, o suíço Joseph Blatter: “Sou da opinião de que os Jogos Olímpicos são um evento destinado à juventude. Quando o futebol envia seus jogadores de menos de 23 anos, temos um torneio de boa qualidade. A tendência na Fifa é que nos afastemos inclusive dos sub-23 e que participem apenas as seleções juvenis”. Silêncio e consternação. Dunga, em seguida, faz alguns telefonemas.
A cena, obviamente, é fictícia, mas a fala de Blatter não. Ela foi proferida na segunda-feira, durante uma entrevista coletiva na sede da FIFA. Às vésperas do sorteio das chaves para o torneio olímpico de futebol (que acontece no domingo), a possibilidade de mudança do limite de idade dos jogadores pega de surpresa até mesmo gente que acompanha muito mais de perto o futebol olímpico do que Dunga.
Tradicionalmente conservadora quanto às regras do jogo, a postura da FIFA é sintomática do momento de mudança que atravessa o futebol mundial. Afinal, não há dúvida de que rodadas e mais rodadas de discussão foram travadas antes de Blatter revelar uma intenção como essa durante uma entrevista coletiva. Não foi um insight pessoal. Foi fruto de muita conversa e negociação.
Alterar a idade limite de certas competições é uma medida que já foi adotada desde o ano passado na Copa São Paulo pela Federação Paulista, que às vezes acerta nas inovações, por mais que elas não sejam acatadas pela FIFA – spray da barreira que o diga. Perceber que hoje o atleta já é profissional mais cedo não demanda muita observação. O fenômeno é mundial e o Olheiros faz parte disso.
Mas afinal, o que isso muda? O futebol nos Jogos Olímpicos, assim como o Mundial Interclubes, tem fama de ser valorizado apenas por sul-americanos e talvez africanos, mas não pelos europeus. Pode ser. Mas por trás do argumento de que atualmente atletas com 19 anos já são titulares clubes, e que assim o nível seria excelente, existe um interesse muito maior – e nesse a FIFA não é nada conservadora.
O anúncio é uma vitória dos clubes europeus, o que surpreende, já que na maioria das vezes eles são oposição a qualquer idéia da entidade. Mas o que fala mais alto é, como sempre, o bolso. Vale lembrar que as Olimpíadas acontecem em agosto, portanto, início de temporada na Europa. Liberar jogadores de 22 anos que já desempenham papel de liderança nas equipes faz com que os clubes percam dinheiro em excursões internacionais.
Sem contar o antigo discurso aplicado às seleções principais, mas que se aplica aqui com mais veemência: e se o meu atleta se machucar, quem paga a conta? E os jogos que ele ficar de fora durante a temporada, alguém me empresa um substituto de graça, e à altura? E a pré-temporada dele, que vai ser prejudicada com esse torneio em agosto, como é que fica?
Pois bem. Desta vez a FIFA parece ter ouvido o lamurio dos clubes, mesmo que isso signifique praticamente uma nova edição de Mundial Sub-20 – contra o qual eles têm brigado bastante, diga-se de passagem. Ninguém discute que os torneios serão igualmente emocionantes e terão atletas de qualidade, afinal a modernização do trabalho de base tem entregado jogadores praticamente prontos ao técnico de cima com 17, 18 anos. Mas vale também – e como! – a questão mercadológica. Sinal dos tempos.
Ao clicar por engano num link para o site da FIFA, Dunga percebe que por lá existe, sim, uma seção dedicada ao futebol nas Olimpíadas, com notícias e até perfil das seleções classificadas para Pequim. “Meu Deus. Eles dão mesmo valor para o torneio olímpico”, suspira.
E qual não é a surpresa de Dunga ao ler a seguinte declaração do presidente da entidade, o suíço Joseph Blatter: “Sou da opinião de que os Jogos Olímpicos são um evento destinado à juventude. Quando o futebol envia seus jogadores de menos de 23 anos, temos um torneio de boa qualidade. A tendência na Fifa é que nos afastemos inclusive dos sub-23 e que participem apenas as seleções juvenis”. Silêncio e consternação. Dunga, em seguida, faz alguns telefonemas.
A cena, obviamente, é fictícia, mas a fala de Blatter não. Ela foi proferida na segunda-feira, durante uma entrevista coletiva na sede da FIFA. Às vésperas do sorteio das chaves para o torneio olímpico de futebol (que acontece no domingo), a possibilidade de mudança do limite de idade dos jogadores pega de surpresa até mesmo gente que acompanha muito mais de perto o futebol olímpico do que Dunga.
Tradicionalmente conservadora quanto às regras do jogo, a postura da FIFA é sintomática do momento de mudança que atravessa o futebol mundial. Afinal, não há dúvida de que rodadas e mais rodadas de discussão foram travadas antes de Blatter revelar uma intenção como essa durante uma entrevista coletiva. Não foi um insight pessoal. Foi fruto de muita conversa e negociação.
Alterar a idade limite de certas competições é uma medida que já foi adotada desde o ano passado na Copa São Paulo pela Federação Paulista, que às vezes acerta nas inovações, por mais que elas não sejam acatadas pela FIFA – spray da barreira que o diga. Perceber que hoje o atleta já é profissional mais cedo não demanda muita observação. O fenômeno é mundial e o Olheiros faz parte disso.
Mas afinal, o que isso muda? O futebol nos Jogos Olímpicos, assim como o Mundial Interclubes, tem fama de ser valorizado apenas por sul-americanos e talvez africanos, mas não pelos europeus. Pode ser. Mas por trás do argumento de que atualmente atletas com 19 anos já são titulares clubes, e que assim o nível seria excelente, existe um interesse muito maior – e nesse a FIFA não é nada conservadora.
O anúncio é uma vitória dos clubes europeus, o que surpreende, já que na maioria das vezes eles são oposição a qualquer idéia da entidade. Mas o que fala mais alto é, como sempre, o bolso. Vale lembrar que as Olimpíadas acontecem em agosto, portanto, início de temporada na Europa. Liberar jogadores de 22 anos que já desempenham papel de liderança nas equipes faz com que os clubes percam dinheiro em excursões internacionais.
Sem contar o antigo discurso aplicado às seleções principais, mas que se aplica aqui com mais veemência: e se o meu atleta se machucar, quem paga a conta? E os jogos que ele ficar de fora durante a temporada, alguém me empresa um substituto de graça, e à altura? E a pré-temporada dele, que vai ser prejudicada com esse torneio em agosto, como é que fica?
Pois bem. Desta vez a FIFA parece ter ouvido o lamurio dos clubes, mesmo que isso signifique praticamente uma nova edição de Mundial Sub-20 – contra o qual eles têm brigado bastante, diga-se de passagem. Ninguém discute que os torneios serão igualmente emocionantes e terão atletas de qualidade, afinal a modernização do trabalho de base tem entregado jogadores praticamente prontos ao técnico de cima com 17, 18 anos. Mas vale também – e como! – a questão mercadológica. Sinal dos tempos.
Um comentário:
Olá, Maurício. Como vai?
Vc interpreta bem a situação. A liberação de jogadores para servirem suas seleções é um grande problema para os clubes. Mas não apenas para disputar as olimpiadas, como também os amistosos, as eliminatórias e outros torneios de seleção.
É esperar pra ver o que o futuro reserva para as seleções!
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