terça-feira, 12 de maio de 2009

Baila comigo*


*Coluna desta terça-feira na Trivela.

Foi em meados de 1989 que Velloso estreou no gol do Palmeiras, substituindo o titular Zetti, lesionado. Desde então, uma amizade muito forte uniu os dois goleiros, que se enfrentaram diversas vezes. Entre 1994 e 1995, Velloso, então titular alviverde, foi procurado por Valdir de Moraes, treinador de goleiros do São Paulo, e convidado a trocar de CT na Barra Funda. Estava tudo certo para que a transferência ocorresse, até que numa conversa casual Zetti revelasse que não estava sendo valorizado pela diretoria Tricolor, que dificultava a renovação para contratar o palmeirense. Quando soube disso, Velloso encerrou as negociações e cada um ficou no seu clube.

Na semana passada, Velloso aguardava uma reunião com o presidente do Paraná Clube, Aurival Corrêa, para discutir a renovação do elenco para a disputa da Série B. Em vez disso, foi surpreendido com o anúncio de que ele não seria mais o treinador, já que um grupo de empresários iria investir no clube, levando alguns jogadores, mas exigia a contratação de um técnico de confiança. O nome escolhido foi exatamente o de Zetti.

“Foi a primeira vez que fui demitido na minha vida. Já entendi que para trabalhar como treinador eu vou ter de mudar. E principalmente estar preparado para coisas que eu nem sonhava. E também não vou acreditar na palavra das pessoas”, disse um magoado Velloso ao Bandsports. A forma como a troca de comando foi tratada não mostrou apenas como, pela segunda vez, os dirigentes “azedaram” a amizade dos dois ex-goleiros. Velloso parece ter descoberto, da pior maneira, a forma como atuam os donos da bola no país do futebol.

A palavra “planejamento” é uma das mais utilizadas no vocabulário futebolístico brasileiro, mas é usada na prática, como define seu conceito, em apenas, vá lá, 1% dos clubes. A sensação que se tem é que o emprego da palavra acontece em razão inversamente proporcional à efetiva realização do dito cujo planejamento. Mais um caso clássico do “faça o que eu digo, não faça o que eu faço” que impera em gramados tupiniquins.

Tamanha é a instabilidade com que lida o técnico de futebol no Brasil – lição número dois a ser aprendida por Velloso e quaisquer outros aspirantes a “homem do boné” –, que apenas uma hora depois da segunda parte de nosso Guia da Série B ter entrado no ar, ele já estava defasado. Conforme indicamos, a possibilidade de que Velloso saísse já era latente, mas como a bola da vez era Vagner Benazzi, fora dos padrões financeiros do clube no momento, a impressão era de que o time se viraria nas primeiras rodadas com o que sobrou do Estadual.

Velloso não possui ainda, de fato, tanta experiência como técnico a ponto de brigar por um acesso à primeira divisão – ainda mais com o elenco que possui o Tricolor. Entretanto, considerá-lo o único culpado pela queda de produção no octogonal do Paranaense e pela eliminação na Copa do Brasil é não querer enxergar a realidade. Sem alguns titulares contundidos, a equipe sentiu a falta de peças de reposição à altura e foi logo eliminada da disputa pelo título estadual.

Sem tempo para qualquer trabalho mais aprofundado, Zetti montou um onze com o que tinha em mãos e foi sufocado pelo Bahia, sofrendo dois gols nos vinte primeiros minutos de jogo. Depois do estrago, Marcelo e Aderaldo foram expulsos e o time só se defendeu até o final. Para quem venceu a primeira apenas na sétima rodada no ano passado e escapou do rebaixamento nas últimas partidas, o enredo atual pode ser ainda mais sinistro. Bem diferente do time que Zetti encontrou em sua passagem anterior, quando foi vice estadual e disputou a Libertadores. Os vôos da Gralha Azul poderão ser bem mais curtos neste ano.

Eu voltei

No Atlético Goianiense, a mudança deve ser vista sob outro prisma. “Tenho certeza que você voltará ao Atlético”, disse o presidente Valdivino José de Oliveira quando Mauro Fernandes foi contratado pelo Vitória para substituir Vagner Mancini. Ele só não sabia que seria tão cedo – apenas três meses depois.

Fernandes chegou a Salvador com a responsabilidade de manter a equipe na mesma toada que vinha desde o ano passado, quando fez boa campanha no Brasileirão. Entretanto, a classificação suada na Copa do Brasil, eliminando o ASA de Arapiraca somente nos pênaltis, somada a um empate com o Bahia e uma derrota para o Fluminense de Feira de Santana – todos na mesma semana – resultou numa pressão exagerada sobre o técnico, cujo time liderava o Baianão.

Sendo assim, o treiandor ficou disponível no mercado e Valdivino sentiu desde então uma enorme coceira para trazê-lo de volta. Com PC Gusmão, chegou às finais do Goianão e venceu o primeiro jogo, mas a derrota na segunda partida e a consequente perda do título eram a oportunidade que o dirigente precisava para trazer o técnico campeão da Série C de volta. A desculpa foi, além da derrota na decisão, o salário de PC e de sua comissão técnica, considerado alto para os padrões do clube.

Conhecedor do elenco que montou, o técnico devolveu a confiança a equipe e aproveitou um remendado América para vencer em Natal e começar a Série B com vitória. Com um retrospecto invejável em Goiânia – no ano passado, foram 21 vitórias e dois empates –, a torcida já começa a sonhar alto.

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