Por mais que a balança comercial de pé-de-obra brasileira tenha adotado uma tendência inversa em 2010, repatriando mais que exportando, ainda é incrível o numero de jogadores que atuam foram do país. A maioria, até, completos desconhecidos, tentando a sorte em ligas menores e bem longe dos holofotes de um Camp Nou ou um San Siro. Um deles é Nathan Júnior Soares de Carvalho, jovem carioca que foi ainda cedo para o Velho Continente e atualmente é a coqueluche da modesta Virsliga, a primeira divisão da Letônia, graças a uma história bastante peculiar.
Nascido em 10 de março de 1989, Nathan Júnior, como é conhecido, iniciou sua carreira nas bases do CFZ de Zico em 2004, já aos quinze anos. Lá, ficou até 2006, quando chamou a atenção do então ainda incógnito Anorthosis Famagusta, do Chipre – o clube só ficaria conhecido no Brasil em 2008, quando foi o primeiro de seu país a atingir a fase de grupos da Liga dos Campeões da Europa.
Na pequena ilha do Mediterrâneo, Nathan ficou menos de uma temporada, e aos 19 anos desembarcou finalmente na fria e distante Letônia para colocar seu 1,84m e 79kg à disposição do FK Skonto Riga, maior campeão do país, mas que desde 2004 não levantava a taça. Forte e de bom porte físico, chegava bem credenciado como zagueiro ou volante, posições em que atuou durante o empréstimo ao Olimps, da capital Riga, e na volta em definitivo ao Skonto.
Até então, o garoto ainda brigava por um espaço na equipe, já que Fertovs e Smirnovs, a dupla titular, é presença constante nas convocações de Aleksandrs Starkovs, técnico da seleção desde 2007. Entretanto, foi na metade da temporada passada, quando outra dupla – a de ataque – foi desfeita, Nathan finalmente teve uma grande chance.
A venda de Vladimir Dvalishvili e Ivans Lukjanovs colocou um enorme ponto de interrogação na cabeça de Paul Ashworth, que estava sem opções para o deficitário setor ofensivo do time, um dos piores do campeonato. Foi então que o treinador decidiu inovar e apostou em Nathan, graças ao porte físico. Em sua primeira partida na posição inédita, o brasileiro marcou dois gols na vitória sobre o FK Jurmala e, desde então, é o centroavante titular da equipe.
A mudança só fez bem ao garoto, que encerrou o campeonato de 2009 (na Letônia, o calendário é similar ao brasileiro devido ao rigoroso inverno) com cinco gols em sua conta. No momento em que a atual temporada chega à metade, o Skonto finalmente voltou a liderar a tabela, com 44 pontos contra os 41 do rival Ventspils, e muito graças aos gols de Nathan: em 17 jogos, já marcou incríveis 14 gols, demonstrando uma habilidade rara no país. Não à toa, o time vermelho da capital tem o melhor ataque com 57 gols, treze a mais que o segundo colocado.
O porte físico, sua principal característica, realmente lhe confere condições de atuar como finalizador mesmo tendo saído da zaga, mas Nathan não é apenas um botinudo que desvia a bola para o gol. Ao longo do ano, tem demonstrado capacidade de criar chances e ótimo senso de posicionamento, além de não ser nada egoísta e oferecer oportunidades aos companheiros – abre muitos espaços e sabe carregar o marcador.
Talvez ainda graças ao instinto de zagueiro, arrisca muitos chutes (é o líder do quesito na liga) até mesmo com o pé esquerdo, que não é tão bom, mas compensa a falta de potência com um remate consideravelmente preciso. Pela observação dos vídeos que chegam até aqui, atua especialmente como pivô, e relatos da imprensa local dão conta de uma clara evolução na posição a cada partida – afinal, trata-se de um garoto que está aprendendo uma nova forma de jogar.
Apesar disso, Nathan não conseguiu ajudar sua equipe a ir além do primeiro qualifying da Liga Europa, após derrota em casa para o modestíssimo Portadown, da Irlanda do Norte. Com o único grande momento do futebol letão sendo uma participação da seleção na Eurocopa de 2004, o país pode não ser o terreno ideal para o desenvolvimento de um talento que acabou de descobrir sua verdadeira vocação. Ainda que não tenha perfil para se tornar um world class, Nathan tem sim condições de receber propostas de ligas maiores ao final da temporada e, ao menos, se tornar um brasileiro a mais na lista dos jogadores que atuam na Europa – mas não mais um desconhecido.
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