domingo, 18 de julho de 2010

Campeões. E agora?

Vasco precisa de sabedoria para aproveitar da melhor forma geração promissora que surge


Após um jejum de nove anos (o maior do clube desde a década de 70), o Vasco sagrou-se no último final de semana campeão carioca de Juniores com uma vitória de 2 a 0 sobre o Fluminense. Mais do que atestar a qualidade de nomes em ascensão como Jonathan, autor do golaço que abriu o caminho da vitória, o título cruzmaltino chega em excelente hora, tanto para apaziguar a falta de conquistas na Colina como também para oferecer uma alternativa ao delicado momento do time profissional, que luta para escapar da zona de rebaixamento.

>>> Fique de Olho: conheça mais sobre Jonathan

A campanha foi irrepreensível: 22 vitórias, três empates e cinco derrotas, com 77 gols marcados e 41 sofridos – números suficientes para garantir o título com larga vantagem caso o campeonato fosse disputado em pontos corridos. No total, o técnico Gaúcho utilizou 44 atletas, sendo que a metade deles foi campeão da Taça Otávio Pinto Guimarães (a popular OPG) em 2009, e 12 foram alçados do Juvenil com sucesso. O trabalho de garimpagem também foi intenso, com 16 atletas se juntando ao elenco em 2009 e mais seis neste ano: Genílson, Nilson (que já atuou pelo profissional), Diogo Rangel, Alan Junior, Elivélton (recentemente convocado para a seleção sub-19) e Daniel Fernandes.

Essa contratação em massa, aliás, é novidade em São Januário, e reflexo direto do trabalho de Rodrigo Cateano. “Esse foi um trabalho de resgate, e até é uma metodologia que nós utilizamos no Grêmio”, afirmou o diretor executivo em entrevista após o título. De fato, a campanha ruim na Copa São Paulo, que fez com que muitos torcedores esperassem menos do que deveriam deste elenco, serviu para aparar algumas arestas: alguns garotos foram dispensados e outros contratados após se destacarem na competição por outros clubes, prática antes rara no Vasco.

Tais caras novas foram enxertadas ao que sobrou da equipe vice-campeã em 2009, formando uma geração que atrai muita atenção por quem vive o dia-a-dia vascaíno. O departamento amador aumentou a rede de parceiros e observadores, ampliando a área de atuação e captação de novos talentos. A ideia, agora, é não esperar o atleta se destacar em clubes menores com 16 ou 17 anos, e sim buscá-lo antes, para participar mais ativamente – e por mais tempo – do processo de formação.

Com isso, foi possível conferir maior qualidade geral ao grupo: 16 jogadores marcaram pelo menos um gol (o artilheiro foi Lipe, com 20 em 22 partidas, atrás apenas de Renato, do Olaria, com 25); 17 participaram da campanha na Taça BH; e 16 terão idade para disputar a Copa São Paulo 2011.

Entretanto, o elenco conta com 14 garotos nascidos em 1990, que estourarão a idade de júnior no ano que vem e, no Vasco ou não, serão profissionais. Os principais, o lateral esquerdo Carlinhos, o atacante Lipe, o goleiro Cestaro, o lateral direito Max e o volante Rômulo. Enquanto Carlinhos e Rômulo estrearam no time de cima no empate sem gols com o Goiás no meio de semana, Cestaro, Max e Lipe já treinaram com os profissionais em diversas oportunidades desde o início do ano – além de Jonathan, apresentado à torcida na Copa São Paulo, mas que já havia sido campeão do OPG e, agora, é efetivamente parte do elenco do Brasileirão.

Eles foram os primeiros jogadores da base vascaína a serem lançados nesta temporada, muito mais até por desfalques de lesão do que por reais oportunidades concedidas. PC Gusmão, que também acaba de estrear no comando do time, já declarou que não considera este o momento ideal para lançar os garotos. “O importante é equilibrar, mesclar juventude e experiência. É em cima disso que estamos trabalhando com estes jovens, trazendo a responsabilidade para lançá-los. Não é a hora ideal, mas se fez necessário. Temos algumas contusões, alguns jogadores que não podem atuar”, disse antes do confronto com o Goiás, deixando claro que tentará evitar ao máximo depender dos meninos para resolver algum jogo.

E PC está certo. Na última vez que foi campeão estadual sub-20, em 2001, o Vasco passava por um momento complicado, de transição da época de vacas gordas para a realidade financeira em que se afunda até hoje. Com isso, garotos como Botti, Léo Macaé, Ely Thadeu e Siston foram lançados na fogueira, mesmo sem que todos tivessem a bagagem e a qualidade necessárias para segurar o rojão. Daquela leva, os que tiveram melhor sorte foram Léo Lima e Ricardo Bóvio, o que mostra que nem sempre um time campeão na base forma apenas jogadores excelentes – pode ser, apenas, reflexo de um bom conjunto formado por atletas medianos, como acontece muitas vezes nos profissionais, com clubes pequenos.

De qualquer forma, a base vascaína já rendeu ótimos frutos nos últimos anos, como Alex Teixeira, Alan Kardec, Philippe Coutinho e Souza, todos com participação importante no time de cima e que foram vendidos por bons valores, modificando a antiga aposta na quantidade para primar pela qualidade. E é isto que se espera novamente, para que o trabalho realizado e o título conquistado não tenham sido em vão, pois qualidade esses meninos já demonstraram ter.

* Agradecimento especial ao amigo Annibal Canizio, do Blog de Base.

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