sábado, 24 de julho de 2010

Trampolim sem culpa

Genoa abre portas para garotos, mas precisará cumprir o que promete


Uma das transferências mais comentadas do futebol europeu na semana que passou foi a contratação de Sokratis Papastathopoulos pelo Milan. O zagueiro de 22 anos defendeu a Grécia na Copa do Mundo e encerrou sua segunda temporada pelo Genoa como titular absoluto, após ser revelado pelo AEK Atenas. Sokratis é o exemplo da política recente do primeiro grande clube italiano, campeão de seis das sete primeiras edições da Serie A, mas que bateu recentemente na terceira divisão.

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Desde o retorno, na temporada 2007/08, os azuis e vermelhos da capital da Ligúria têm alcançado relativo sucesso no Calcio, incomodando os bichos papões e até beliscando uma vaga na Liga Europa para a temporada que acabou de se encerrar. A aposta inicial foi em jogadores que surgiram com expectativa mas falharam em corresponder ao cartaz, e que buscavam um recomeço num time mediano. Deu certo, com Rubinho, Diego Milito, Thiago Motta, Palladino e Vanden Borre.

Após um campeonato relativamente decepcionante devido à série de lesões de seus principais jogadores, em que foram eliminados na fase de grupos da Liga Europa e terminaram a Serie A em nono, os rossoblu foram novamente ao mercado e já anunciaram três contratações: o zagueiro Andrea Ranocchia, 22, o volante Franco Zuculini e o atacante Mattia Destro, ambos de 19 anos.

Mas há mais semelhanças entre os três jogadores que a aparente preferência genovesa por jovens promessas. O Genoa é talvez, hoje, o clube de maior expressão na Itália que aceite fazer algo muito comum no futebol do país: receber hot prospects dos grandes, oferecer a eles oportunidades que não teriam por lá de jogar em nível competitivo e servir de trampolim para suas carreiras.

Destro, artilheiro azzurini nas eliminatórias do Europeu Sub-19 com oito gols, foi emprestado para a temporada pela Internazionale. Considerado o melhor italiano da geração /91, dificilmente teria chance de atuar em frequência desejável com o time de Benitez tentando defender a tríplice coroa.

Zuculini, revelado por um problemático Racing aos 17 anos, não conseguiu causar impacto no Hoffenheim e foi emprestado, após queda de braço com o Napoli. Ranocchia, por sua vez, foi adquirido em sistema de copropriedade com a Inter, um método muito comum na Europa, e atuará neste primeiro campeonato pelo time de Gian Piero Gasperini.

O problema é que os três chegaram por um motivo bem claro que pode, afinal, sequer se concretizar. Com a pressão por resultados melhores que os da temporada anterior, Gasperini não poderá falhar e pode acabar dando espaço para jogadores mais rodados. De início, Ranocchia terá de brigar por uma posição na zaga com Chico, defensor espanhol de 23 anos recém-chegado do Almería.

O curioso é que o italiano de 1,95m já era do Genoa: comprou metade de seus direitos junto ao Arezzo e emprestou-o ao Bari, campeão da Serie B 2008/09. Permaneceu emprestado, mas sofreu uma grave lesão no joelho em janeiro e não mais jogou. A Inter se interessou por ele e decidiu comprá-lo, em parceria com o Genoa, que aceitou, mediante sua permanência para a temporada e o empréstimo de Destro.

Para os nerazzurri, tudo bem, afinal são dois problemas resolvidos de uma vez só. Contudo, Destro não terá tanta facilidade assim para se firmar na primeira equipe, ao menos se Gasperini insistir no 3-4-3 que utiliza no últimos anos. Como finalizador, Destro ou teria de se adaptar aos flancos (e para isso ainda teria que brigar com os titularíssimos Palacio e Sculli), ou então travaria uma briga desleal com Luca Toni, maior contratação genovesa desta janela e que chega para vestir a nove sem se falar mais nisso.

Da mesma forma, Zuculini tem em Marco Rossi (capitão do time) e Milanetto grande concorrência para a “volância” da equipe, e terá que provar novamente seu valor. São disputas duras para quem está precisando de apoio e oportunidade de se firmar – espaço que teriam, talvez, em clubes menores. Assim, assumindo sem culpa a posição de mero trampolim para jovens promessas, o Genoa pode muito bem acertar como fez em 2008/09, mas pode também frear o desenvolvimento de garotos de futuro, bem como prejudicar o desempenho do próprio time.

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