sábado, 7 de agosto de 2010

Para ganhar asas

Publicado no Olheiros

A negociação de jovens promessas do futebol brasileiro com a Europa já é tão corriqueira que muitas destas transferências passam desapercebidas pelo torcedor. Entretanto, quando um jogador, em sua entrevista coletiva final, se despede aos prantos dizendo que deixa o clube querendo ficar, como foi o caso de Alan, vendido esta semana pelo Fluminense ao Red Bull Salzburg, volta à tona a discussão do amor à camisa que se perdeu com o tempo.

“É difícil me despedir, pois você convive muito tempo com as pessoas e pega um carinho até um certo amor por todos aqui dentro. Nunca esquecerei de tudo que vivi no Fluminense. Estou indo, mas meu coração fica. Espero que não seja um adeus, mas um até logo. É o clube que amo e espero um dia voltar, pois aprendi a amar tudo que tem relação com o Fluminense”, disse o atacante de 21 anos antes de acabar-se em prantos e a entrevista ser interrompida.

O apego de Alan pelo Fluminense não é à toa: trazido do Londrina para a base de Xerém, estreou nos profissionais ainda em 2007, com 18 anos, e até hoje ostenta a boa marca de 26 gols em 87 partidas. Foi fundamental na recuperação tricolor que livrou o clube do rebaixamento, marcando sempre em momentos importantes, como no triunfo sobre o Vitória nas últimas rodadas e na semifinal da Copa Sul-Americana contra o Cerro Porteño. Neste ano, era o vice-artilheiro do Flu com dez gols, e marcou quatro no Brasileirão, inclusive o da vitória sobre o Santos.

Sua negociação pouco tem a ver com o Fluminense, mas muito com a Traffic: em um momento de baixa de Alan e de seu companheiro Maicon, ambos tiveram porcentagens de seus direitos federativos ao grupo de J. Hawilla. No momento da venda ao Red Bull Salzburg, a Traffic possuía 75% destes direitos, tendo portanto voz de decisão sobre qualquer proposta que aparecesse.

Mas Alan não precisa chorar. O futebol austríaco não possui, de fato, uma das ligas mais fortes da Europa – e talvez este tenha sido outro motivo pelo qual a transferência chamou a atenção: dentre tantas negociações absurdas, Alan tem potencial para atuar em campeonatos maiores. Mas em Salzburgo, cidade pequena e longe da agitação e distração que o Rio oferece, o atacante terá a oportunidade de se desenvolver em um ambiente propício a jogadores com suas características.

Atual bicampeão nacional, o Red Bull, do bilionário empresário de bebidas energéticas Dietrich Mateschitz, surgiu em 2005 após a aquisição do antigo SV Salzburg, tradicional clube que passava por profunda crise financeira. Seu moderníssimo estádio foi inaugurado na Euro 2008 e possui a maior média de público da liga local, superando os tradicionais Rapid e Austria Viena. Mais do que isso, tem a melhor estrutura do país e oferece todo o suporte aos atletas, algo fundamental na difícil adaptação de Alan a lugar e idioma totalmente diferentes.

Dependendo de como chegar ao clube, poderá logo de cara disputar a última fase preliminar da Liga dos Campeões, em duelo com o Hapoel Tel-Aviv, de Israel – experiência fundamental para sua evolução. Mesmo que a equipe seja eliminada novamente neste estágio, disputará a fase de grupos da Liga Europa, outra ótima oportunidade para Alan mostrar seu potencial.

E por que ele deve ter chances assim que chegar? O Red Bull acaba de negociar Marc Janko, destaque da equipe, titular da seleção austríaca e segundo maior artilheiro da Europa na temporada 2008/09. Até aqui, nem Roman Wallner, contratado em janeiro, nem o já veterano de casa Robin Nelisse agradaram totalmente a Huub Stevens, um técnico que gosta muito de dar espaço aos garotos – foi com ele que Podolski estourou de vez no Colônia, campeão da 2. Bundesliga em 2004/05.

Stevens tem em mãos um elenco talentoso para o padrão local e que busca afirmação continental, com outros jovens como Jakob Jantscher, revelação que chegou recentemente à seleção principal. O Red Bull é quase uma seleção do resto do mundo – são ao todo 17 nacionalidades diferentes, e nesta Torre de Babel Alan poderá se aproximar dos conterrâneos sul-americanos Joaquín Boghossian, uruguaio que se destacou no Newell’s Old Boys, e Gonzalo Zárate, argentino que saiu cedo de casa rumo aos Alpes.

Com o alcance midiático, a vasta rede de clubes parceiros e a ambiciosa meta de se tornar figurinha carimbada na Liga dos Campeões em pouco tempo, o Red Bull Salzburg possui todas as características necessárias para oferecer a Alan a chance de criar asas e se transformar em um jogador de futebol até melhor do que muitos apostavam que ele poderia ser. Basta agarrar a oportunidade e ir sem pensar tanto em voltar.

Um comentário:

Braccini disse...

Tem interesse em parceria (troca de link)?
Futebol – Paixão e Profissão
Abraços!