Marcelo Lomba; Rafael Galhardo, Fabrício, Welinton e Jorbison; Rômulo, Antônio e Lenon; Guilherme Camacho; Vinícius Pacheco e Diego Maurício. A estranha escalação não seria reconhecida nem mesmo pela maioria dos torcedores do Flamengo, mas ela representa os frutos das categorias de base rubro-negras. São os onze jogadores do elenco atual que foram criados no Ninho do Urubu, curiosamente um em cada posição. Poucos são os clubes brasileiros que se dão ao luxo de dispor de tanto pé-de-obra feito em casa quanto o Fla, mas no complicado momento que vive o time no Brasileirão, a validade desta linha de produção é colocada em xeque.
Não é normal imaginar o Flamengo como o pior dos grandes cariocas em qualquer campeonato. Afinal, por mais que a equipe atual seja apenas uma mera lembrança da que arrancou rumo ao hexa no ano passado, o Fla tem sua mística e a força da torcida, que faz grupos medianos alcançarem o que parece impossível aos adversários.
Contudo, a transformação pela qual passa o time é muito mais profunda. Como é natural em todo campeão brasileiro, a tendência a desmanchar o elenco atingiu a Gávea – pelos mais distintos motivos, dos titulares saíram Bruno, Álvaro, Zé Roberto, Aírton e Adriano.
Repor tanta gente assim de uma vez sem deixar o nível cair é muito difícil, e é aí que a base costuma ser lembrada, para o bem ou para o mal. Marcelo Lomba, por exemplo, que finalmente tem sua grande chance aos 23 anos, sofreu apenas quatro gols em dez jogos neste ano, mas poucas vezes é valorizado. O problema principal reside no ataque, o segundo pior do campeonato, que não marcou em cinco dos dezesseis jogos e só fez mais de um gol na segunda rodada – aí, se Lomba sofre um gol por jogo, é quase derrota certa.
As crias de casa para o ataque realmente não têm dado conta do recado. Vágner Love e Adriano juntos fizeram 38 dos 76 gols marcados até aqui (exatamente a metade), e o terceiro na tábua de artilheiros na temporada era Bruno Mezenga, com quatro, mas que já foi embora. Depois dele, outro rebento rubro-negro: Vinícius Pacheco. Mas o meia-atacante só marcou no Carioca e de lá para cá já perdeu toda a moral que havia reconquistado.
Mais que atacantes, o problema principal do Flamengo é a armação das jogadas, já que Pet não aguentará a maratona de jogos às quartas e domingos que se aproxima. Coincidentemente, é justo na meia que o time está mais carente de revelações, já que Vinícius Pacheco não agradou na posição e Guilherme Camacho ainda parece muito novo. Fala-se em subir Carlyle aos profissionais, mas ainda é cedo demais.
Outro problema é a queda de produção dos laterais, especialmente Juan, que depois de ter sido convocado para a seleção brasileira nunca foi o mesmo. Em que pese a mudança do esquema tático dos tempos de Joel, em que o time atuava com três zagueiros e liberava os avanços da dupla, o Fla de Andrade foi campeão com linha de quatro, portanto a culpa não é de Rogério Lourenço, demitido após outra fraca atuação no meio de semana.
Lourenço, aliás, teve pouca culpa no desempenho ruim da equipe enquanto esteve no comando – foi mais vítima da falta de talento disponível do que de sua incapacidade técnica, sem contar os contracheques do futebol carioca que devem durar noventa dias e desestimulam muitos jogadores. Chama a atenção, entretanto, o fato de ele não ter conseguido extrair mais dos garotos num momento propício para utilizá-los, dado o extenso currículo que o ex-treinador da seleção brasileira sub-20 tem nas bases.
É verdade que ele foi bem no início, eliminando o Corinthians da Libertadores e dando espaço para os garotos – com ele, Rômulo logo virou titular, mas acabou queimado pela péssima exibição diante do Universidad de Chile em casa, que custou a eliminação nas quartas de final do torneio continental. O volante só voltaria a atuar após a Copa do Mundo, e só porque Toró estava machucado e Corrêa ainda não tinha sua estreia liberada.
Lourenço, como conhecedor do trabalho, poderia ter trabalhado melhor a cabeça do menino, ou ainda não deveria ter arriscado tanto ao lançá-lo em jogos tão complicados. É fato que a análise parece mais fácil depois do ocorrido, mas havia um exemplo ainda fresco na memória do torcedor: no ano passado, antes da arrancada de Andrade, o Fla era um mar de desfalques e a garotada teve que assumir a bronca, chegando a perder três jogos seguidos (1x4 Grêmio, 1x2 Cruzeiro e 0x3 Avaí) com Lenon, Jorbison, Rafael Galhardo e Welinton no time.
Welinton, talvez, tenha sido um dos mais injustiçados pelo agora ex-treinador flamenguista. Afinal, de todo o elenco rubro-negro, ele era talvez quem Lourenço conhecesse melhor, por ter trabalhado junto na seleção sub-20. Ainda assim, só virou titular após as saídas de Fabrício e Álvaro, enquanto David não acertava a renovação de seu contrato.
Agora, quando reforços como Diogo e Deivid chegam, Rogério Lourenço sai. O novo treinador, seja quem for, olhará para o elenco e não verá muito a mais para se trabalhar do que seu antecessor. Com o horizonte de uma campanha mais modesta do que a dos últimos anos pela frente, o Fla pode acabar constatando que o trabalho em suas bases não era tão bom quanto se pensava, afinal por duas vezes suas revelações foram exigidas e não corresponderam. Conforme havia prometido, Zico terá realmente muito trabalho para colocar o Ninho do Urubu no galho certo, sob o risco de ser perder tempo, dinheiro e outra ninhada inteira.
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