Conciliar a formação e revelação de talentos com as exigências de competitividade cada vez maiores dos torneios da base é um desafio constante para os clubes, e também a dicotomia que permeia o trabalho das divisões inferiores – a recorrente polêmica sobre o Ranking Olheiros, ao avaliar os resultados obtidos, é o maior exemplo disto. Portanto, quando se consegue atingir os dois objetivos, o trabalho merece reconhecimento.
Dentro da categoria sub-17, uma das equipes que mais tem se destacado em 2010 é o Desportivo Brasil. Comandado desde o início do ano por Rodrigo Leitão, que assumiu o boné depois que Waldemar Privati foi chamado para treinar o profissional, o time fez uma das melhores campanhas na primeira fase do paulista da categoria e chamou a atenção na Milk Cup, disputada recentemente na Irlanda do Norte.
“O Desportivo Brasil tem uma estrutura física e organizacional muito bem desenhada. Tudo é planejado. Isso nos permite antecipar possíveis problemas e lacunas dentro do processo. Quando assumi a equipe, bastou entender como funcionava esse processo e contribuir para sua evolução”, afirma o técnico.
Bem diferente do grupo que caiu nas oitavas de final na Copa São Paulo ante o Palmeiras – alguns foram alçados ao time sub-20 e outros, como o volante Ewerthon, o meia Serginho e o atacante Jonathan Cafu, direto ao profissional que disputa a Segundona estadual –, o elenco foi formado com promovidos do sub-15 e recém-chegados que foram pinçados pela vasta rede de observadores através do país, coordenados por Pita, ex-camisa 10 do Santos que participa do projeto desde a fundação do Desportivo, em 2005.
“Aqui rastreamos, detectamos, recebemos e desenvolvemos talentos. Então sempre temos espaço para bons jogadores, estejam eles no primeiro ou segundo ano de uma categoria. Quando todo o processo funciona bem, não há muitas perdas de uma categoria para outra. As equipes estão sempre, e ao mesmo tempo, formadas e em formação”, acrescenta Leitão.
No Paulista Sub-17, os meninos da Traffic fizeram uma das melhores campanhas da primeira fase, acumulando oito vitórias, quatro empates e duas derrotas – foram 37 gols marcados e apenas 13 sofridos em 14 partidas, contra equipes tradicionais do interior como Guarani, Ponte Preta, Rio Branco e XV de Piracicaba. Destaque para as duas goleadas nas rodadas iniciais: 9 a 1 sobre o Primavera e 8 a 0 sobre o XV.
O artilheiro do time é Lucas Silva, atacante de 1,81m e 83kg nascido em Bauru, que já marcou oito gols. Depois dele, os meias Alexandre e Gustavo têm quatro cada. No início da segunda fase, vitória tranquila sobre o José Bonifácio por 3 a 0 e empate sem gols com a Francana. Na manhã deste sábado, o principal desafio da equipe até aqui: duelo contra o Santos, ainda invicto na competição. O objetivo é ir ainda mais longe que em 2009, quando caiu na terceira fase.
Sucesso no exterior
A participação na segunda fase do Paulista teve de ser adiada por uma boa causa: o clube participou, pelo segundo ano consecutivo, da Milk Cup, um dos principais torneios internacionais da categoria, realizado desde 1983 e que teve em 2007 o Fluminense como campeão.
Na estreia, vitoria convincente sobre o Cruz Azul, do México, por 4 a 0. Depois, outra demonstração de força, ao fazer 2 a 0 sobre o County Down, time da casa. A primeira fase terminou com a melhor campanha dentre as 24 equipes, e no primeiro jogo eliminatório, virada de 2 a 1 sobre o Aspire, que havia surpreendido ao eliminar o Manchester United. Finalmente, na semifinal, jogo muito disputado contra o Bolton, dono da segunda melhor campanha, e em uma partida marcada pelo alto número de faltas, os ingleses prevaleceram, vencendo por 1 a 0.
Ao bater o Donegal por 3 a 0 na disputa do terceiro lugar, a equipe do Desportivo Brasil ganhou não apenas a medalha de bronze, mas terminou com o melhor retrospecto geral do torneio, melhor ataque, melhor defesa e muitos elogios gringos. Rodrigo Leitão baseou sua equipe em um 4-1-4-1, oscilando para um interessante 5-1-3-1 com o placar favorável e um 3-4-3 contra o Bolton, no segundo tempo – só nesta etapa, foram 17 finalizações contra três do adversário.
Mais do que o resultado, a experiência adquirida pelos jogadores é única, garante o treinador. “Ter contato com diferentes culturas e modelos de jogo contribui para o desenvolvimento pessoal e profissional dos jogadores, estejam eles em formação ou no primeiro time. Em uma competição internacional, as diferenças são mais acentuadas – os desafios, os conflitos e os problemas a serem resolvidos no jogo são bem diferentes daqueles normalmente enfrentados”, diz. É esperar para ver o que este time ainda pode alcançar, tanto no Paulista como na Copa São Paulo do ano que vem.
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