Publicado no Olheiros
Maracanã, 25 de maio de 2010. O Fluminense vencia o Atlético Goianiense por 1 a 0, gol de Marquinho, pela segunda rodada do campeonato brasileiro. O torcedor tricolor pode não se lembrar de um detalhe desta data, mas foi a última vez que Wellington Silva entrou em campo – e foi apenas aos 42 minutos do segundo tempo, substituindo o estreante Rodriguinho. Lá se vão cinco meses sem que a principal revelação recente do clube dispute uma partida oficial. O motivo? Opção técnica do treinador da equipe, Muricy Ramalho.
Era a quarta partida de Muricy à frente do Flu, e a primeira vitória. Antes, foram três derrotas – duas para o Grêmio, pelas quartas de final da Copa do Brasil, e uma para o Ceará, na estreia do Brasileirão. Quando o técnico chegou às Laranjeiras, Wellington Silva era reserva atuante de Fred e Alan, dupla de ataque principal com Cuca, que contava com participações de Maicon e André Lima. De lá para cá, os jovens revelados em Xerém tiveram pouca chance de mostrar seu valor – atitude comum de Muricy nos clubes por onde passou.
Ao pegar o boné, o treinador não pôde contar com Fred e Alan, lesionados, para os confrontos contra o Grêmio. Apostou em Wellington Silva e André Lima, e perdeu por 3 a 2 no Maracanã (gols de André Lima e Equi González) e 2 a 0 no Olímpico. Na estreia do nacional contra o Ceará, Wellington Silva já havia virado reserva e André Lima era o único atacante. A equipe foi dominada por um organizado time cearense e, para a segunda rodada, contra o Atlético-GO, a linha de três zagueiros foi esquecida definitivamente – assim como os garotos vindos da base.
Alan, fundamental na incrível recuperação que livrou o time do rebaixamento (foram cinco gols na reta final, entre eles os que definiram as vitórias sobre Avaí e Santo André), foi titular em apenas mais uma partida até ser negociado em agosto. Mesmo saindo do banco, marcou quatro gols (um deles, o da vitória sobre o Santos na Vila Belmiro), ao passo que o titular Rodriguinho marcou apenas um durante todo o primeiro turno.
Mesmo jogando o garoto para escanteio, Muricy criticou a negociação com o Red Bull Salzburg, da Áustria. “É um jogador que ainda deveria ficar mais um tempo para ser melhor formado”, disse à época. O treinador só esqueceu-se de mencionar o fato de que, aos 21 anos, Alan não precisava mais ser formado: era um jogador pronto para colaborar, e muito, com a equipe.
Com as seguidas lesões de Fred, Muricy tinha o momento ideal para colocar Wellington Silva de novo no time. Mas após o período de um mês que o garoto ficou na Inglaterra, treinando com os futuros companheiros do Arsenal, muita coisa mudou nas Laranjeiras: Emerson e Washington foram contratados e aparentemente resolveram os problemas ofensivos do Flu. O xeque marcou sete gols em nove rodadas, e o Coração Valente anotou oito em período semelhante. O tricolor chegou a abrir cinco pontos de vantagem na liderança do Brasileirão e o trabalho de Muricy era cantado em versa e prosa pelos comentaristas e torcedores.
Entretanto, veio o segundo turno. Emerson se contundiu, Washington deixou de ser o atacante do Fluminense para voltar a ser o do São Paulo e o ataque emperrou, marcando apenas dois gols nas últimas cinco rodadas. Enquanto Muricy insistia em Rodriguinho e Washington, Wellington Silva permanecia esquecido no banco de reservas ou em casa, sem sequer ser relacionado para as partidas. Finalmente, foi afastado do elenco profissional, treinando sozinho em Xerém enquanto aguarda nova viagem a Londres, para o terceiro período de adaptação. Não à toa, escancarou publicamente o descaso do treinador, que declarou não aproveitar o garoto por considerar que ele não estaria com a cabeça focada no clube. “O Muricy nem conversa, só fala o básico, o ‘bom dia’, ‘boa tarde’”, revelou.
Por outro lado, as infelizes declarações de Alcides Antunes, vice-presidente de futebol do Fluminense, demonstram o amadorismo que toma conta dos dirigentes brasileiros. Ao afirmar que Wellington Silva não demonstrou vontade de jogar e que ninguém iria “dar mamadeira” para o menino, o cartola assume exatamente a postura que quer condenar: enquanto o garoto é do clube, relevam-se os erros e exaltam-se os feitos em busca de uma negociação; depois que os dólares ou euros já estão na conta, pouco importa.
Muricy, por sua vez, declarou que o jogador já estava vendido e com a cabeça na Inglaterra. Nesta sexta, jogou tudo no ventilador ao criticar publicamente Wellington Silva, dizendo que "precisa ser jogador, porque ainda não é". Difícil saber se o fato de Wellington Silva não ter sido aproveitado tem a ver com alguma influência de dirigentes como Antunes. Entretanto, ao notar que garotos como Ryan, Neves e Dielton, lançados por Cuca, também não tiveram chances com o técnico, a resposta óbvia é que foi mesmo o treinador que não quis dar espaço a eles, repetindo o que fez no São Paulo ou no Palmeiras.
Observando outro exemplo clássico de conduta de ojeriza à base e comparando com o processo de renovação que Mano Menezes aplica, talvez o “não” do Fluminense já tenha se provado ser a melhor coisa que poderia ter acontecido para a seleção brasileira e, consequentemente, para o futuro do futebol do país.
A palavra para se defender, Muricy já teve e não convenceu. Agora, resta-lhe o resultado de suas ações para comprovar se estava mesmo certo ou não. Novamente, o tempo irá mostrar quem tinha razão.
Um comentário:
oi Maurício
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