sábado, 2 de outubro de 2010

Quanto vale um time B?

Com modelos distintos de equipes reservas, Inter e Palmeiras obtêm resultados opostos

Publicado no Olheiros

Se você tem mais de 20 anos, certamente irá se lembrar, mas se tiver menos, pergunte ao seu pai, tio ou avô o motivo de, antigamente, eles irem ao estádio cerca de duas, até três horas antes do jogo. As preliminares em que os times de aspirantes se enfrentavam eram uma atração à parte e serviam como apresentação inicial à torcida de craques do futuro – grande parte da mística do Maracanã vem daquela época, em que gente como Bellini, Vavá e Garrincha era ainda desconhecida.

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De lá para cá, muita coisa mudou, e talvez o principal motivo do fim dessas equipes seja o assédio de observadores de outros clubes e empresários, que teriam trabalho facilitado com a realização de tais competições – atualmente, os campeonatos de base acontecem em horários alternativos e o controle no acesso a esses jogos é bastante restrito em muitos lugares.

Desde o expressinho tricolor de Muricy Ramalho, campeão da Copa Conmebol em 1994, os times B foram sendo desativados até praticamente desaparecerem. Um dos motivos, talvez o principal, é até compreensível: a incorporação cada vez mais cedo dos jovens ao time profissional fez um garoto de 19 anos, quase sempre, já ser um profissional, e não mais trabalhado pelas categorias de base do clube.

Atualmente, duas equipes da primeira divisão mantêm ininterruptamente um time B: Internacional e Palmeiras. A forma como cada um encara esta equipe dentro da equipe, entretanto, tem sido bastante diferente. Primeiro, na forma como trabalha: o Colorado tem utilizado os “aspirantes” no início do ano, para as rodadas iniciais do Gauchão enquanto oferece uma pré-temporada mais completa. Desta forma, redescobriu Leandro Damião, que viria a ser autor de um dos gols do título da Libertadores.

Já o Verdão tem um time completamente separado, como as equipes B de clubes europeus, disputando até mesmo um campeonato paralelo – em 2010, o Palmeiras B conquistou o acesso no Paulista da Série A-3, com destaque para o atacante Patrik, que depois acabou promovido aos profissionais.

A proposta é sempre parecida: dar rodagem a jogadores que estouraram a idade do júnior e a outros que se destacaram nas categorias inferiores, bem como manter em atividade atletas não aproveitados no profissional – e quem se destacar pode ser chamado a qualquer momento pelo treinador.

Contudo, a segunda e principal diferença entre gaúchos e paulistas está no planejamento para este time B: enquanto o Inter já anunciou que irá utilizar uma equipe sub-23 no primeiro turno do estadual de 2011, o presidente em exercício do Palmeiras, Salvador Hugo Palaia, disse que pretende acabar com o time B. Com dívidas aumentando, gastos acima da receita no departamento de futebol e elenco inchado, o Palmeiras B pode estar com os dias contados. Vale lembrar que, ao mesmo tempo que prega economia, a diretoria alviverde paga alguns dos maiores salários do futebol brasileiro a Felipão e Kleber.

Diferente do exemplo europeu, o Palmeiras B – fundado em 2000 por Mustafá Contursi – jamais rendeu algo ao clube. Não há promessas reveladas pelo time reserva, que só disputa competições estaduais inferiores por não poder atuar na mesma divisão da equipe “oficial”, perdendo assim a experiência mais importante e qualificada que ganham, por exemplo, os aspirantes colorados.

Neste ponto, é de fundamental importância o lançamento da Copa Sub-23. Além de movimentar os jogadores e utilizar um regulamento interessante, igual ao do futebol olímpico, a competição atrai novamente os torcedores por ser realizada antes das partidas do Brasileirão. Pode não atrair por si só, como provou o incrível Vasco x Santos para dois pagantes, mas se mantido nos próximos anos recriará a cultura do jogo preliminar.

No pouco tempo de vida, a Copa Sub-23 já é responsável por recuperar Renan Ribeiro, alçado à titularidade no gol atleticano por Dorival Junior, e por dar visibilidade a nomes pouco conhecidos pelo público geral, mas já bastante seguidos por quem acompanha o dia-a-dia da base, como Eduardo Sasha (justamente do Inter) e Lipe (Vasco).

Sem fim definido para seu time B, o Palmeiras poderia aproveitar a Copa Sub-23 para modificar a forma como administra seus reservas. Faltam, entretanto, mais competições para movimentar a categoria, já que na maioria dos estados já nem existe mais o estadual sub-20, mas somente o sub-18.

Há quem prefira, como o São Paulo, nem mesmo participar da Copa Sub-23 e focar totalmente o Paulista Sub-20. Mas as seguidas recusas em disputar campeonatos como o Brasileiro Sub-20 cobram seu preço agora, quando Sérgio Baresi aposta no trabalho da base para reformular a equipe. No momento em que a faixa etária das competições vai ficando mais precoce, reativar os times sub-23 pode ser uma alternativa bastante viável para os clubes brasileiros. Afinal, mais vale um time B na mão do que vários jovens jogadores voando, sem adquirir experiência alguma.

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