Publicado originalmente no Olheiros
“Queremos aproveitar os meninos das categorias de base e mesclar com os jogadores do profissional para montarmos um grupo forte e equilibrado”. Levante a mão quem nunca ouviu o dirigente do seu clube falar essa frase ou, no máximo, alguma outra bastante parecida. Nos clubes pequenos, onde o recurso financeiro é drasticamente mais escasso, possuir divisões inferiores é quase um luxo – e visto por muitos como gasto que não dá retorno –, mas ao mesmo tempo a salvação.
Por isso, fazer uma boa campanha na Copa São Paulo, maior vitrine do país, e revelar um ou dois jogadores é, antes mesmo de solução para a formação do elenco, solução para os problemas financeiros dos times menores. É também por isso que, a cada ano, a briga por uma das vagas só aumenta entre os clubes do interior paulista, ainda que as cidades sede sejam responsáveis pelos custos de toda a hospedagem e alimentação das equipes de cada grupo – valor que muitas vezes corresponde ao salário de vários jogadores do profissional e acaba pesando no final do mês.
Na edição de 2010, em que o recorde foi novamente batido e o número de participantes aumentado para 92, 32 eram clubes pequenos do interior ou da capital de São Paulo, excluindo aí Guarani e Ponte Preta, os times da Grande São Paulo (São Caetano, Santo André e Barueri, agora de Presidente Prudente) e também o Juventus. Ou seja, 34%, o suficiente para montarmos oito chaves somente entre eles.
Destes, nove se classificaram para a segunda fase – três deles, Pão de Açúcar, Desportivo Brasil e Primeira Camisa, times novos, respaldados por grande investimento. Às quartas de final, apenas o Paulista avançou, no segundo pior desempenho dos pequenos nos últimos cinco anos – o pior foi exatamente no ano passado, quando apenas o Atlético de Sorocaba chegou às oitavas e não avançou.
Novas “festas do interior”, como aconteceu em 2006, com a final entre América de Rio Preto e Comercial de Ribeirão Preto, parecem menos prováveis desde que a faixa etária da Copinha foi alterada de sub-20 para sub-18 (ainda que no primeiro ano da nova regra o Rio Branco de Americana tenha chegado à final), principalmente pelo fato de que, quanto mais se desce de divisão dentro da base, maior a diferença para o trabalho realizado e a estrutura oferecida pelos grandes.
De fato, ao passo que a maioria dos clubes tenha hoje seu sub-20 e seu sub-17, o número de inscritos nos Paulistas Sub-15 e Sub-13 cai proporcionalmente. Além disso, não são raros os casos de jogadores de 19 e 20 anos emprestados pelos grandes aos pequenos, sendo então utilizados na Copinha quando a idade limite era maior. Foi esse por exemplo o caso do América de Rio Preto, campeão em 2006 com André Zuba, emprestado pelo Palmeiras, no gol, enfrentando o Comercial de Ribeirão, que tinha como destaque o zagueiro Henrique, cedido pelo Corinthians. No restante da temporada, as duas equipes tiveram desempenho apenas regular nas séries A-1 e A-2 do Paulista.
O Rio Branco, dono da última campanha de destaque com o vice de 2008, também pouco aproveitou. Negociou quase toda a equipe, aproveitando apenas Felipe e Danilo, principais nomes, em algumas partidas da A-2, onde falhou em conquistar o acesso. Na verdade, afundado em dívidas, o clube já tinha vários atletas negociados com empresários (especialmente Delcir Sonda) antes mesmo da Copinha. No ano passado, após perder todos os atletas da base devido ao fim da parceria com a empresa que geria o futebol, repatriou Felipe, cedido pelo Palmeiras, para a disputa da Série A-1 – e dá fortes indícios que voltará para a Segundona ao final do campeonato.
Foi assim também com o São Bernardo, semifinalista de 2007, que revelou Rafinha. Vendido ao Cruzeiro, foi emprestado ao Ipatinga e voltou a São Paulo, para defender o Guaratinguetá na Série A-2. Da mesma forma, o Nacional, vice-campeão em 2005, de nada aproveitou e continua oscilando entre as Séries A-2 e A-3.
Dessa forma, e analisando o reflexo das últimas boas campanhas nos clubes do interior, percebe-se que elas foram muito mais fruto de junção de fatores isolados que resultado de um trabalho efetivo na formação dos jogadores. Foram, portanto, como as chuvas de verão tão comuns durante a Copinha: desaparecem tão rapidamente quanto surgiram.
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