sábado, 30 de janeiro de 2010

As torres gêmeas belgas


Vertonghen e Alderweireld formam a jovem e potente dupla de zaga do renascido Ajax

Enaltecer os feitos das décadas de 70 e 90 ao citar a busca do Ajax pela recuperação de seus dias de glória é tão lugar comum quanto elogiar suas categorias de base, tidas como uma das melhores do mundo. O clube que revelou Johan Cruyff e apresentou o encantador e ofensivo futebol da época parece ter de esperar mais um ano para encerrar a seca de títulos internacionais e interromper o reinado do PSV, bem como a ascensão de novos grandes, como Twente e AZ.

Bem a seu estilo, é através do ataque que os Godenzonen destacam-se na atual temporada, com incríveis 55 gols em 19 partidas, gande parte graças à incrível temporada que faz Luís Suarez. O uruguaio de 23 anos tem 18 gols até aqui mesmo atuando como segundo atacante, no suporte a Pantelic, e foi elevado ao posto de capitão quando da chegada de Martin Jol ao clube.

Para fazer companhia a Suarez, foi anunciada na semana passada a contratação de Nicolas Lodeiro, meia destaque do Uruguai no Mundial Sub-20 de 2009 e que chegou a atuar algumas vezes junto ao atacante nas categorias de base do Nacional de Montevidéu, segundo o próprio Suarez. Além disso, o também meia dinamarquês Christian Eriksen, de 17 anos, estreou recentemente entre os profissionais após uma série de performances impressionantes no Jong AFC.

Mas apesar de todo esse poderio ofensivo, o time de Amsterdã aparece em terceiro na Eredivisie, nove pontos atrás do PSV e sete do Twente – se o título parece longe, ao menos a batalha pelo retorno à Liga dos Campeões ainda é travada. E a despeito do que possa parecer, a culpa pela distância dos líderes não recai sobremaneira à defesa. Pelo contrário: é neste setor que residem grandes esperanças para o tão aguardado renascimento dos Ajacieden. Em 19 jogos, foram 16 gols sofridos – a terceira melhor marca da liga, atrás apenas dos primeiros colocados.

O nome é Germinal Beerschot. Não, não se trata de nenhuma marca de fertilizante ou ainda cerveja holandesa, como pode parecer. O clube belga totalmente desconhecido no Brasil parece ser uma fonte dourada de zagueiros, e foi o lugar em que o Ajax, seu parceiro, buscou três nos últimos anos. O primeiro foi Vermaelen, já levado pelo Arsenal e bastante conhecido. Os outros dois são mais jovens e menos famosos, mas receberam nesta temporada a oportunidade de atuarem juntos no miolo de zaga e têm se saído absurdamente bem.

Jan Vertonghen, o mais velho da dupla (tem 22 anos), já é recorrente no time titular há dois anos. Canhoto, atua também na lateral e jogou por um bom tempo como zagueiro pela esquerda na linha de três defensores de Adrie Koster, na temporada 2007/08. participou com sucesso da campanha belga na Olimpíada de Pequim, e no decorrer das Eliminatórias para a Copa de 2010 firmou-se como titular ao lado de Vermaelen na seleção principal.

Do alto de seus 1,89m, Vertonghen tem demonstrado ótimo posicionamento e excelente desempenho no jogo aéreo, características que compartilha com seu companheiro de zaga: Tobias Alderweireld é a bola da vez e, exatamente um ano depois de fazer sua estreia no campeonato holandês (debutou na vitória sobre o NEC por 4 a 2, em 19 de janeiro de 2009), já é titular absoluto desde o início da atual temporada.

Toby, como é conhecido, foi titular da Bélgica na fase final do Europeu Sub-17 de 2006, enquanto Vertonghen disputava os qualificatórios do Sub-21 (com sucesso, pois chegou também à fase decisiva e parou apenas na semifinal, carimbando o passaporte para os Jogos Olímpicos). Assim como seus antecessores no clube holandês, foi buscado em 2004 no Germinal Beerschot, de Antuérpia, aos 15 anos. Por pouco não acabou voltando à terra natal, por dificuldades de adaptação. Destro, Alderweireld também é bom no jogo aéreo apesar de três centímetros mais baixo, de muito vigor físico e bastante seguro para a idade. Também já estreou na seleção principal, tendo sido titular em dois amistosos.

Além deles, vale lembrar que os laterais que completam a linha de zaga também são jovens promissores: Gregory Van der Wiel, no Ajax desde os oito anos, é titular absoluto da lateral direita e, aos 21, tem recebido convocações constantes para a seleção holandesa. E Vurnon Anita, o caçula do quarteto defensivo (faz 21 em abril), é um veloz lateral e meia esquerdo de 1,66m com histórico em todas as equipes de base laranjas.

No primeiro grande desafio destes jogadores, a derrota para o PSV fora de casa por 4 a 3 foi doída. Mas, na sequência, uma goleada por 6 a 0 sobre o NAC Breda – com um belo gol de falta de Vertonghen – e a incrível vitória por 5 a 1 sobre o Feyenoord no Klassieker – com os quatro de titular mostraram o valor da jovem linha defensiva. A chance definitiva de provar o potencial para o final desta temporada e o início da próxima será neste domingo, quando o Ajax visita os maiores rivais em Roterdã. Hora de mostrar que estas torres belgas são, sim, muito resistentes.

* Publicado no Olheiros

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