Publicado na coluna Ponto Futuro do Olheiros:
Não é de hoje que o Botafogo tem deixado de lado o protagonismo e se relegado ao papel de coadjuvante, seja nos campeonatos estaduais ou nacionais. Na década que passou, o máximo que fez foi vencer o Carioca de 2005 e perder três decisões de Estadual consecutivas para o Flamengo, sem contar a malfadada experiência pela Série B, quando ela ainda era um território desconhecido. Muito do insucesso do Glorioso foi creditado à quase inexistência de um trabalho de base, fato que Maurício Assumpção prometeu mudar ao assumir a presidência no início de 2009.
Até por isso, não chega a estranhar o fato de que o alvinegro não tenha participado das três últimas edições da Copa São Paulo. Com a base diretamente atingida pelo conturbado fim de mandato de Bebeto de Freitas, o clube – único dos quatro grandes cariocas a jamais ter vencido o torneio – abriu mão da participação, o que refletiu diretamente no Ranking Olheiros das categorias de base, que em sua última atualização apontava o Fogão como 66º lugar, muito aquém de sua tradição. Além disso, privou de uma importante experiência no processo de formação jogadores promissores como o goleiro Renan, o lateral esquerdo Gabriel e os meiocampistas Wellington Júnior e Rodrigo Dantas.
Se por um lado todos estes nomes mostram que, ainda que deixada de lado, a base botafoguense possui uma pequena centelha da outrora brilhante estrela que se orgulha de ser a que mais cedeu jogadores para a seleção brasileira, por outro reafirmam a necessidade urgente de mais atenção às divisões inferiores. Até por isso, o clube tem buscado a regularização do terreno de Marechal Hermes, cujo centro de treinamento será reformado e ampliado apenas para atender aos garotos.
“Demos maiores condições de treino aos juniores e juvenis, que trabalham e jogam no Estádio Caio Martins. Além disso, ganhamos em qualidade técnica quando contratamos fisiologista e psicólogo que estão integrados à comissão técnica profissional. Hoje os meninos sentem-se mais estimulados porque treinam com frequência com nosso elenco principal”, afirmou Assumpção.
Um passo atrás, porém, foi dado nos últimos dias de 2009 quando a diretoria, alegando falta de resultados perante o investimento realizado, mandou embora toda a comissão técnica dos juniores: o técnico Luisinho Rangel, o preparador físico Luiz Verdini e o preparador de goleiros Rommel. O curioso é que, para uma base que não fazia cócegas nos adversários, o ano botafoguense foi estupendo em sua reestruturação, terminando como vice-campeão da Taça OPG e do Estadual Juvenil, além de semifinalista da Taça Belo Horizonte.
Por tudo isso, as possibilidades na Copa São Paulo da equipe assumida na última hora por Douglas Oliveira, treinador do juvenil, eram consideradas pequenas. Mas talvez exatamente por conhecer bem o elenco sub-17 é que o técnico fez do Botafogo, com a vitória nos pênaltis sobre o São Carlos e as eliminações de Vasco, Flamengo e Fluminense, o melhor carioca na edição 2010 da Copinha.
Vitória nos pênaltis que veio graças ao goleiro que, inicialmente, seria reserva. Sem o titular Milton Raphael, convocado para a seleção sub-19 que disputou o torneio de Punta del Este, Oliveira colocou Luís Guilherme no gol e não se decepcionou: a segurança demonstrada pelo arqueiro de 17 anos (e, principalmente, as falhas de Alisson, do Internacional, na primeira fase) deixaram claro que se fosse ele, e não o guarda-metas colorado, o titular no Mundial Sub-17 da Nigéria, a história brasileira poderia ter sido bastante diferente.
E em uma Copa São Paulo que tem se notabilizado pelas ótimas revelações de laterais esquerdos, Guilherme é outro que tem se destacado – foi dele o gol no empate com o São Carlos, aproveitando com categoria, de voleio, o rebote da trave após chute de Willian. Além dele, Luiz Otávio, que já marcou três gols, também tem chamado a atenção e pode até mesmo ser aproveitado durante a temporada por Estevam Soares.
O treinador, que já subiu o lateral direito Flávio Pará, o volante Felipe Lima e o atacante Alex para treinarem com os profissionais durante a pré-temporada já afirmou, aliás, que pretende contar tanto com Milton Raphael quanto com Luís Guilherme para 2010, juntando-se a Renan e fazendo com três dos quatro arqueiros do plantel sejam oriundos das bases.
Mesmo que seja eliminado pela Portuguesa neste domingo, o time de Douglas Oliveira já fez bonito na Copinha e reacendeu a esperança dos torcedores, que ainda não se esqueceram de grandes perdas do clube para os rivais nos últimos anos, como Philippe Coutinho e os gêmeos Fábio e Rafael. Fato positivo é que, após longa ausência, o Fogão tem voltado a ser lembrado nas convocações das seleções de base. E por mais que esta realidade ainda esteja um pouco distante, a nova geração espera fazer com que o Botafogo volte a ser a estrela solitária nas bases cariocas, assim como foi nesta Copinha.
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