sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Poderia ser pior?

Anúncio de Alberto Zaccheroni como novo técnico da Juventus escancara crise de identidade do clube

Podem ser vários os sintomas de decadência de um clube. Acúmulo de dívidas, queda no desempenho dentro de campo, desentendimentos entre dirigentes, atrasos de salários e negativas de jogadores de um certo nível em defenderem aquela camisa.

Outro ainda pode ser o erro nas contratações, especialmente de técnicos. E foi esse erro que a diretoria da Juventus cometeu ao anunciar que Alberto Zaccheroni será o substituto de Ciro Ferrara no comando da equipe até o final da temporada.

Um clube tradicionalíssimo, maior campeão italiano, bicampeão europeu e mundial e tricampeão da Copa da Uefa, iniciou sua queda com o escândalo do Calciocaos, e desde o retorno não consegue fazer frente à Inter na Série A e aos principais clubes do continente, como Barcelona e Manchester United, na Liga dos Campeões.

Os erros que cercam a contratação de Zaccheroni não são apenas pelo fato de ele ter trabalhado como técnico pela última vez durante cinco meses da temporada 2006/07, com o Torino. Nem pelo fato de sua única empreitada de sucesso ter sido o scudetto conquistado pelo Milan em 1998/99 (portanto há mais de dez anos), em uma temporada repleta de erros estranhos de arbitragem para os rossoneros.

O problema principal talvez resida no fato de que Zaccheroni é um entusiasta teimoso e irredutível do 3-4-3 - e a Juve simplesmente não tem jogadores para atuar sob esta formação. Não há "pontas", jogadores velozes para atuar pelos lados do campo no trio ofensivo de que ele tanto gosta. Giovinco e Camoranesi até poderiam ocupar o espaço, mas estão machucados - e Camoranesi tem mais funções no meio-campo que apenas atacar. Dentre os atacantes de ofício, Iaquinta seria uma opção, mas da qual se poderia esperar pouco resultado.

A zaga é outro ponto preocupante, já que um trio de defensores exige muito mais atenção e velocidade - característica inexistente em Cannavaro, Legrottaglie e Chiellini. Os papéis de Fabio Grosso, Zebina e De Ceglie, também, ficariam minimizados.

Tudo isso sem falar em Diego. O trequartista não funciona em um 3-4-3 e, a não ser que Zaccheroni invente um antiquado (ao menos sob a ótica europeia) 3-4-1-2, em que o ex-santista atue no mesmo papel que Boban e Leonardo desempenhavam no Milan no final daquela temporada vitoriosa, o brasileiro acabará indo para o banco.

A Juve já mudou muito de formação nesta temporada (iniciou no 4-3-1-2, passou pelo 4-2-3-1 e terminou com Ciro Ferrara no 4-4-1-1), e forçar os jogadores a se adaptarem a um novo esquema - no qual a maioria deles jamais atuou - pode ser ainda mais prejudicial que a manutenção de Ferrara. Afinal, se Zaccheroni falhar em seu único objetivo, de permanecer entre os quatro para garantir uma vaga na Liga dos Campeões, aí sim a Juve poderá iniciar uma espiral descendente sem previsão de inversão.

Alberto Zaccheroni
Nascimento: 1 de abril de 1953, em Meldola
Clubes: Cesenatico (1983-85), Riccione (1985-87), Boca San Lazzaro (1987-88), Baraccia Lugo (1988-90), Venezia (1990-93), Bologna (1993-94), Cosenza (1994-95), Udinese (1995-98), Milan (1998-01), Lazio (2001-02), Inter (2003-04), Torino (2006-07)
Título: 1 Campeonato Italiano (1999)

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