Leônidas da Silva jamais brindou aos gramados do Maracanã com uma exibição de seu talento. Quando calçou pela última vez as surradas chuteiras de couro, em meados de 1949, o maior do mundo era ainda uma cornucópia de madeira, concreto e ferragens. Não possuía a alma que hoje faz pulsar toda uma cidade quando as torcidas o invadem em dia de jogo.
O Diamante Negro, ou “homem-borracha” – outro apelido que o jornalista francês Raymond Thourmagem conferiu ao craque, quando da Copa de 38 – imortalizou seu nome na estirpe dos grandes craques com belas jogadas, gols antológicos e com ela. A bicicleta. Uma jogada que tanto afronta os movimentos naturais do corpo humano que só poderia ter sido concebida por um anjo negro, um deus banto da bola, que, alado, não teme à gravidade e confere à plástica de um gol uma visão totalmente nova.
A jóia mais precisa de Leônidas, lapidada pela primeira vez em 24 de abril de 1932, causou mais espanto que a Semana de Arte Moderna havia feito dez anos antes na capital paulista. Também ousada, também instigante. E se Leônidas, que depois de jogar por Flamengo, Botafogo e Vasco foi a São Paulo, não pôde adornar o Maracanã com tal jóia, o tempo tratou de corrigir essa falha.
Diamantes duram eternamente, e o brilho de Leônidas reluziu na bicicleta de Dodô. Um artilheiro muito mais modesto, que no Saara do futebol contemporâneo é o “artilheiro dos gols bonitos”. Tranqüilo, de ar despreocupado, Ricardo Lucas – que começou no mesmo São Paulo – aproveitou que a história brinca de inventar coincidências para, ao vestir o manto alvinegro eternizado na figura de Leônidas, surpreender a todos com uma jogada tão bela quanto difícil. Pode não ter tido a técnica, a plástica do mestre, mas certamente causou o mesmo espanto de quando foi executada pela primeira vez.
Não, as monumentais paredes de concreto do eternamente maior do mundo não são frias. Elas têm sentimento. E choraram, vibraram, agradeceram ao ver aquele gol, um gol que ninguém esperava, ninguém exigia que acontecesse. E que nunca viram nos pés de quem o criou. E é essas coisas da vida que surgem ao acaso, despreocupadas, que valem mais a pena e despertam mais emoção. Emoção que dura eternamente. Como os diamantes.
segunda-feira, 16 de abril de 2007
Diamantes são eternos
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3 comentários:
poxa simplesmente genial
ótimo esse mauricio
bom... o blog inteiro né, mas esse foi demais.
e aproveitando...
parabens xD
abrassss
Parabéns mais uma vez Maurício.
Não tem como negar que o Dodô faz belíssimos gols. Vem bem desde a última passagem pelo Alvinegro Praiano.
Porém sempre me pergunto se ele não vai cair de produção, como muitas vezes o fez após períodos de belos gols.
Se continuar neste ritmo tem tudo pra ser um dos melhores do Brasileirão, mas eu não levo muita fé. Tomara que eu esteja errado.
Abraço. ;]
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