sábado, 20 de fevereiro de 2010

O importante também é ganhar


Ranking Olheiros mostra que conquistar torneios e revelar jogadores andam juntos na base

A cada nova atualização do Ranking Olheiros das categorias de base, somos bombardeados com inúmeras perguntas e críticas sobre “como é possível que o meu time A, que revelou vários jogadores para o time profissional, esteja X posições atrás do meu rival, o time B, que não consegue emplacar ninguém na equipe de cima”, ou ainda ouvimos o argumento de que “ganhar competições amadoras não importa nada, o que vale é formar atletas que serão craques no futuro”.

Pois bem. Não tiramos a razão de nenhum de nossos leitores – pelo contrário, os encorajamos e buscamos sempre a interação e a opinião de todos, para aprimorarmos o Ranking e todo o site, deixando ambos mais completos. Mas, será que, de fato, revelar é tão mais importante que ganhar? Ou ainda, ser campeão nas bases não vale efetivamente de nada, e estamos fazendo um levantamento estatístico completamente descabido e sem valor real?

É algo difícil de acreditar, na verdade. Utilizando um raciocínio bastante simples, significaria a mesma coisa que dizer que qualquer campeão brasileiro, da Liga dos Campeões ou de uma Copa do Mundo não tenha, naquele momento, os melhores jogadores à disposição. E aí, o argumento se volta a favor da base: ao passo que, nos profissionais, esse pensamento às vezes acaba se tornando verdade (dada a aleatoriedade de um campeonato decidido em jogo único, por exemplo), nos campeonatos amadores a separação por faixas etárias praticamente garante que, naquele instante, todos os times enfrentem adversários com condições semelhantes – não há o fator idade influenciando os duelos individuais, cabendo apenas à habilidade e à qualidade técnica a definição dos vencedores.

Desenvolvendo a ideia: se determinada equipe vence uma competição sub-15, por exemplo, em que as características físicas e de desenvolvimento de cada jogador são, ao menos na média teórica, bastante parecidas, é de se imaginar que este clube ofereça aos seus atletas aquilo que o diferenciará dos demais: infraestrutura adequada, alimentação, treinamento, acompanhamento profissional, para citar alguns. Sendo assim, acaba por ter, afinal, melhores categorias de base que seus adversários, correto? E conquistar campeonatos, chegar a decisões, também é conferir experiência valiosa aos garotos.

Até porque, analisando os números do Ranking, e vendo as equipes que venceram mais torneios nos últimos quatro anos, alguém discorda, por exemplo, de algum dos integrantes do Top 10? Há como duvidar que o Internacional, que nos últimos anos revelou nomes como Nilmar, Alexandre Pato, Daniel Carvalho e Rafael Sobis, tenha de fato a base mais estruturada do país? Ou que Grêmio, São Paulo, Cruzeiro, Fluminense e Atlético-MG também não mereçam suas posições?

Apenas para ficar em dois exemplos, Flu e Galo têm hoje, cada um, em seus elencos profissionais, mais de dez jogadores oriundos de suas divisões inferiores. E até mesmo os casos dos três grandes com as piores colocações nas atualizações anteriores mostram o quanto o Ranking tem sido preciso em traçar o panorama da base brasileira: após alguns anos de verdadeiro ostracismo das bases, Palmeiras, Botafogo e Vasco têm alcançado ótimos resultados e lançado, efetivamente, jogadores de qualidade no time principal – coisa que não vinham fazendo, e da qual Gabriel Silva, Philippe Coutinho e Luís Guilherme são exemplos claros.

Com tudo isso, fica clara a validade do Ranking em sua função de escalonar os diferentes níveis de categorias de base no futebol brasileiro. Obviamente, a diferença é bem mais tênue na parte intermediária da tabela: os trabalhos de uma equipe que aparece na 52ª posição, com 20 pontos, podem não ser tão diferentes quanto se sugere a pontuação da 94ª colocada, com 13,5, por exemplo. Neste contexto, entra a subjetividade do levantamento estatístico, que deve ser observado mais no todo que em partes. Afinal, se revelar é importante, conquistar também.

Publicado originalmente no Olheiros.

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