Desesperados por contratações de impacto, clubes ingleses esquecem das próprias bases
Qual a semelhança entre Adam Johnson e Victor Moses, além de serem jogadores que despontam neste momento no futebol inglês? Os dois jovens – o primeiro de 22 anos, e o segundo de 19 – estiveram envolvidos em um sem-número de boatos e rumores sobre transferências nesta janela do mercado de inverno europeu, a ponto de muitos torcedores deste ou daquele clube grande ficar de orelha em pé e perguntar “por que o Arsenal não quer aquele garoto, se o Manchester United pode acabar pagando dez milhões de libras por ele?”.
Passado todo o frisson do fechamento do mercado, Victor Moses, ótimo winger nigeriano que chamava a atenção no Crystal Palace já na temporada passada, não foi fisgado pelos Red Devils por cifra tão astronômica, mas acabou assinando com o bem mais modesto Wigan por um quarto deste valor.
Da mesma forma, Adam Johnson, também bom winger, fruto da elogiada categoria de base do Middlesbrough, finalmente deixou o Riverside Stadium após muita especulação, dirigindo-se ao gastador Manchester City por sete milhões de libras – a transação mais cara da Premier League neste meio de temporada. Tudo isto por um jogador talentoso, sim, mas que já foi emprestado a Leeds United e Watford e que terá em um ambiente conturbado e cheio de concorrência sua última chance de acabar com o rótulo de promessa que o acompanha desde que deixou a seleção sub-21 inglesa e não mais foi cogitado entre os melhores do país.
Tamanhas cifras gastas com nomes proeminentes, mas fora do primeiro escalão de prospectos – e por clubes de médio para pequeno porte, especialmente – fazem insurgir uma discussão que há algum tempo permeia os observadores do futebol inglês: por que os clubes da Premier League buscam tantos jogadores jovens em outras bandas e não olham para suas próprias academias? O “estilo Wenger” de ser vai agregando adeptos e suscita, já há uma década, inúmeras discussões sobre como garantir mais espaço aos ingleses entre os times titulares e também a garotos vindos da base nos elencos profissionais.
Louise Taylor, em coluna recente no The Guardian, ataca o problema sob outro prisma: ignorantes em relação ao trabalho das divisões inferiores de seus próprios clubes, os treinadores preferem evitar o risco de subir um jogador desconhecido e acabam por acionar a rede de observadores espalhados ao redor do globo.
Isso teria a ver também com o aumento do número de técnicos estrangeiros na Premier League (hoje, são seis), o que aumenta o efeito globalizante das buscas por jovens e também outro fenômeno comum dos comandantes: levar aos clubes nomes com quem já trabalhou anteriormente, diminuindo o espaço dos garotos que tentam romper a barreira do profissionalismo.
Neste contexto, a probabilidade de um menino que não seja um fora de série acabar despontando cai vertiginosamente, e os jovens acabam emprestados para clubes menores e, mesmo com potencial, acabam atravessando a carreira em equipes menores da segunda ou terceira divisão. “Na verdade, muitos jogadores das duas divisões principais da Inglaterra possuem um nível de qualidade parecido, no mesmo padrão, o que me leva a crer que a diferença entre aqueles que batalham semanalmente na Championship e aqueles que ganham trinta mil libras por semana na Premier League seja a pura sorte – o famoso “estar no lugar certo na hora certa”, afirma Louise. Não deixa de ser um raciocínio interessante.
Finalmente, parece claro que muitos dos que conseguem romper a barreira e emplacar camisas pesadas graças ao puro marketing de seus agentes ou dos técnicos, cujos elogios mais simples podem transformar qualquer jogador em próxima contratação obrigatória para todos os rivais, num típico pensamento “se eles querem, eu também devo querer”.
De fato, muito se fala até hoje das qualidades pinçadoras de dinossauros como Wenger e Ferguson, mas não são raros os depoimentos de que até eles costumam contratar jovens mais pelo nome e pelo burburinho do que por terem realmente visto suas qualidades e considerado-as benéficas para seus times. Enquanto isso, inúmeros talentos que, se lapidados, poderiam se tornar grandes jogadores no futuro, acabam fadados ao anonimato. Tudo porque a exigência é maior com quem é próximo. Pode não parecer, mas santo de casa faz, sim, milagre.
Qual a semelhança entre Adam Johnson e Victor Moses, além de serem jogadores que despontam neste momento no futebol inglês? Os dois jovens – o primeiro de 22 anos, e o segundo de 19 – estiveram envolvidos em um sem-número de boatos e rumores sobre transferências nesta janela do mercado de inverno europeu, a ponto de muitos torcedores deste ou daquele clube grande ficar de orelha em pé e perguntar “por que o Arsenal não quer aquele garoto, se o Manchester United pode acabar pagando dez milhões de libras por ele?”.
Passado todo o frisson do fechamento do mercado, Victor Moses, ótimo winger nigeriano que chamava a atenção no Crystal Palace já na temporada passada, não foi fisgado pelos Red Devils por cifra tão astronômica, mas acabou assinando com o bem mais modesto Wigan por um quarto deste valor.
Da mesma forma, Adam Johnson, também bom winger, fruto da elogiada categoria de base do Middlesbrough, finalmente deixou o Riverside Stadium após muita especulação, dirigindo-se ao gastador Manchester City por sete milhões de libras – a transação mais cara da Premier League neste meio de temporada. Tudo isto por um jogador talentoso, sim, mas que já foi emprestado a Leeds United e Watford e que terá em um ambiente conturbado e cheio de concorrência sua última chance de acabar com o rótulo de promessa que o acompanha desde que deixou a seleção sub-21 inglesa e não mais foi cogitado entre os melhores do país.
Tamanhas cifras gastas com nomes proeminentes, mas fora do primeiro escalão de prospectos – e por clubes de médio para pequeno porte, especialmente – fazem insurgir uma discussão que há algum tempo permeia os observadores do futebol inglês: por que os clubes da Premier League buscam tantos jogadores jovens em outras bandas e não olham para suas próprias academias? O “estilo Wenger” de ser vai agregando adeptos e suscita, já há uma década, inúmeras discussões sobre como garantir mais espaço aos ingleses entre os times titulares e também a garotos vindos da base nos elencos profissionais.
Louise Taylor, em coluna recente no The Guardian, ataca o problema sob outro prisma: ignorantes em relação ao trabalho das divisões inferiores de seus próprios clubes, os treinadores preferem evitar o risco de subir um jogador desconhecido e acabam por acionar a rede de observadores espalhados ao redor do globo.
Isso teria a ver também com o aumento do número de técnicos estrangeiros na Premier League (hoje, são seis), o que aumenta o efeito globalizante das buscas por jovens e também outro fenômeno comum dos comandantes: levar aos clubes nomes com quem já trabalhou anteriormente, diminuindo o espaço dos garotos que tentam romper a barreira do profissionalismo.
Neste contexto, a probabilidade de um menino que não seja um fora de série acabar despontando cai vertiginosamente, e os jovens acabam emprestados para clubes menores e, mesmo com potencial, acabam atravessando a carreira em equipes menores da segunda ou terceira divisão. “Na verdade, muitos jogadores das duas divisões principais da Inglaterra possuem um nível de qualidade parecido, no mesmo padrão, o que me leva a crer que a diferença entre aqueles que batalham semanalmente na Championship e aqueles que ganham trinta mil libras por semana na Premier League seja a pura sorte – o famoso “estar no lugar certo na hora certa”, afirma Louise. Não deixa de ser um raciocínio interessante.
Finalmente, parece claro que muitos dos que conseguem romper a barreira e emplacar camisas pesadas graças ao puro marketing de seus agentes ou dos técnicos, cujos elogios mais simples podem transformar qualquer jogador em próxima contratação obrigatória para todos os rivais, num típico pensamento “se eles querem, eu também devo querer”.
De fato, muito se fala até hoje das qualidades pinçadoras de dinossauros como Wenger e Ferguson, mas não são raros os depoimentos de que até eles costumam contratar jovens mais pelo nome e pelo burburinho do que por terem realmente visto suas qualidades e considerado-as benéficas para seus times. Enquanto isso, inúmeros talentos que, se lapidados, poderiam se tornar grandes jogadores no futuro, acabam fadados ao anonimato. Tudo porque a exigência é maior com quem é próximo. Pode não parecer, mas santo de casa faz, sim, milagre.
* Publicado no Olheiros.net
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