quarta-feira, 14 de abril de 2010

Clássico dos canteranos


Chivas e América duelaram com maioria de jogadores formados nas bases

Publicado no Olheiros

Estádio Jalisco, Guadalajara. Com um gol de Omar Arellano aos 35 minutos do primeiro tempo, o Chivas derrota o América e assume a ponta do Torneo Bicentenário, o clausura da temporada mexicana. Mais que a vitória no “clássico dos clássicos” e os três pontos, o triunfo do time branco, vermelho e azul entrará para a história do futebol do país por uma razão bastante peculiar.

O duelo mais importante da temporada para as duas equipes contou com 13 jogadores formados nas próprias categorias de base dos clubes, um número bastante raro em qualquer liga profissional de alto nível. Foi o “Guadalajara-América” dos canteranos, como chamou a imprensa esportiva do México, graças especialmente às contusões e ausências que permitiram a utilização de jovens promessas das duas maiores academias formadoras de jogadores do país.

No time vencedor do Chivas, apenas Aarón Galindo, Adolfo Bautista e Omar Arellano não foram formados no clube. Já pelos lados do América, Guillermo Ochoa, Óscar Rojas, Ángel Reyna, Antonio López e Israel Martínez, todos oriundos das bases azulcrema, estiveram em campo. Além de ter sido o clássico das bases, foi também a despedida de sete selecionáveis que, após a partida, partiram rumo à fase preparação visando à Copa do Mundo.

“Claro que é um adicional ter vários canteranos na equipe, porque sabemos a responsabilidade que implica uma partida assim, bem como o que ela representa para toda a torcida. São jogos que disputamos com outra mentalidade, muito mais motivados”, disse o jovem atacante Antonio López, recém-promovido das bases americanas, tendo ganhado uma chance após a tragédia com Salvador Cabañas. Apesar da derrota, foi Tony que criou as maiores chances dos canários na partida. Édgar Mejía, por sua vez, disse que “partidas como estas são muito importantes para nós. O compromisso é muito maior, pois crescemos vivendo esta rivalidade desde as bases”, lembra.

Curiosamente, a ausência mais sentida no clássico foi exatamente da maior estrela ascendente do futebol mexicano: Javier Hernandez, atacante de 21 anos do Chivas e artilheiro do Bicentenário com dez gols. O “Chicharito”, como é conhecido, é a esperança de gols de Javier Aguirre na África do Sul. Cria da base dos Rayadas, ficou de fora da campanha vitoriosa da Sub-17 no Mundial de 2005 por uma lesão, e após ser sondado por clubes como PSV e Wolfsburg, assinou nesta semana um contrato com o Manchester United.

Ao mesmo tempo, o maior orgulho da safra recente do América enfrenta um momento delicado: há pouco inquestionável e, ainda, o grande ídolo do futebol nacional, o goleiro Guillermo Ochoa passa por um 2010 tétrico, cometendo erros incríveis também na meta da seleção e recebendo cada vez mais questionamentos sobre sua titularidade na seleção. No clássico, o gol de Arellano foi possível graças a outra falha de Memo, ao abrir o ângulo para o remate do atacante na tentativa de interceptar um cruzamento que não veio.

Nova falha, outro round perdido na luta pela camisa um na Copa da África do Sul: outra atuação segura de Luís Michel, experiente goleiro de 30 anos do Chivas que teve participação decisiva na vitória de sua equipe – outra cria de Guadalajara, que passou a ter chances na seleção recentemente, após viver por muito tempo na sombra de Oswaldo Sanchéz.

Rivais eternos, Chivas e América formam boa parte da base da seleção mexicana convocada por Aguirre para uma série de amistosos preparatórios para a Copa, que servirão para definição da lista final que viajará à África. Dos nomes chamados, apenas dois – Jonny Magallón, pelos tricolores, e Juan Carlos Valenzuela, pelas Águias – não foram formados em seus respectivos clubes.

Sinal de que, apesar da fase instável de Giovanni dos Santos e Carlos Vela, suas mais recentes promessas e de quem, a esta altura, esperava-se muito, o trabalho de formação dos clubes mexicanos continua dando resultados bastante satisfatórios. E com a recente investida de clubes internacionais na busca por jogadores que, antes, não sentiam-se tentados a deixar suas equipes, a força dessas bases poderá ser colocada ainda mais à prova. Mais do que hora de mostrar que é possível, sim, sobreviver muito bem com seus próprios recursos.

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