sábado, 3 de abril de 2010

Futebol 2.0


Graças à Internet, garoto brasileiro chegou à seleção austríaca sub 18

A Internet revolucionou, dentre tantos outros segmentos, também o futebol: pelo PC, partidas de quase todos os campeonatos do mundo podem ser acompanhadas ao vivo, informações de quaisquer jogadores podem ser compiladas e, principalmente, vídeos e mais vídeos podem ser assistidos em sites e redes sociais. A antiga expressão “jogador de videotape”, que se transformara em “jogador de DVD”, evoluiu nos últimos anos para “jogador de Youtube” – o caso do garoto Vitor Flora, já retratado aqui no Olheiros, é um dos mais emblemáticos.

Esse avanço tecnológico do futebol (ao menos fora das quatro linhas) ocorreu de forma mais perceptível com a popularização da Web 2.0 – ferramentas interativas atreladas à Internet banda larga. E foi graças a elas que um jovem jogador brasileiro chegou, na última semana, à seleção sub 18 da Áustria.

Rafhael Domingues, atacante de 18 anos do Toledo Colônia Work (TCW), da primeira divisão paranaense (que acabou rebaixado nesta temporada), é neto de austríacos – seu avô materno, Franz Joseph Schweighofer, nasceu na região do Tirol. Graças à dupla cidadania, Rafinha, como é conhecido, foi atrás do sonho de atuar na Europa.

E foi através do site de relacionamentos Facebook que a “convocação” aconteceu: Rafinha entrou em contato com membros das categorias de base da federação austríaca contando de sua ascendência, enviando vídeos de suas atuações pelo TCW e colocando-se à disposição da equipe sub 18. “Pensei que eles não iriam dar bola para mim. Um mês depois de ter entrado em contato, recebi a convocação por e-mail. No começo não acreditei, mas quando eles pediram o contato do Toledo para me levarem para o amistoso, vi que era verdade mesmo”, contou um surpreso atacante ao jornal Gazeta do Povo.

Chegando a Viena com seu pai, Rafinha encontrou língua e cultura diferentes, que dificultaram a adaptação à seleção. “No primeiro treino o treinador falava, eu esperava um pouco e olhava o que os outros jogadores faziam, para depois repetir”, lembra. Ainda assim, a estreia diante da República Tcheca não poderia ter sido melhor. Diante de 1300 torcedores no pequeno estádio municipal da cidade de Laa an der Thaya, no noroeste austríaco, o paranaense de Marechal Cândido Rondon jogou pela primeira vez com a camisa preta da Áustria – um país tão novo quanto seus companheiros de time.

Logo aos três minutos, os tchecos abriram o placar após cobrança de escanteio, mas a partir daí Rafinha provou-se fundamental: empatou aos 34, após boa jogada pela direita, e virou o jogo aos 10 do segundo, chutando de bico cara a cara com o goleiro. Substituído aos 25, foi aplaudido pela torcida e, nos vestiários, virou o centro das atenções, tentando – como podia – responder às perguntas dos curiosos companheiros sobre o futebol brasileiro.

Elogiado pelo técnico Hermann Stadler – “ele é rápido, ágil e habilidoso” –, Rafinha ganhou destaque na imprensa local e já aprendeu uma ou outra palavra em alemão durante sua estadia. Contudo, por mais que seu futebol tenha impressionado, Stadler deixou claro que outros fatores pesam muito em futuras convocações – especialmente a questão do idioma. “Sem dúvida, ele é talentoso e especial. Esportivamente falando, não há problema algum, mas há outras circunstâncias a serem avaliadas”, sentenciou o ex-atacante do Áustria Salzburg. De fato, trazer um jogador de outro continente para atuar em amistosos e competições sub 18 de seleções demanda muitos ajustes operacionais. Períodos maiores de treinamento e adaptação mais profunda ao futebol e aos costumes do país ficariam prejudicados pela distância, transformando Rafinha quase que em um ente separado do restante do time.

Para solucionar este problema, o garoto está disposto a enfrentar todos os desafios. “Quero começar a aprender inglês e alemão”, conta, acrescentando os próximos e inevitáveis passos para se concretizar o sonho. “Acho que no futuro seria melhor eu jogar na Áustria ou na Alemanha, para ser observado e poder ser convocado de novo”, reflete. A vontade, Rafinha garante, é mesmo atuar pela seleção européia no futuro – a própria busca pela dupla cidadania já foi com essa intenção.

Caso a aventura austríaca não dê certo, o atacante promete não desanimar. “Não sei o que vai acontecer. Se surgisse uma oportunidade de jogar nos grandes do estado, eu aceitaria com certeza”, afirma. O primeiro contrato profissional com o TCW foi assinado recentemente e vale até 2013. Até lá, Rafinha terá tempo para provar se tem realmente talento ou se é, apenas, mais um fruto da geração Web 2.0.

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