sábado, 17 de abril de 2010

A esperança é azul


Jovens, Ward, Ritchie e Sowah se preparam para carregar o Portsmouth pós-falência

Publicado no Olheiros

Um time falido, rebaixado e sem dono, que ainda corre o risco de ter suas portas fechadas definitivamente. Este é o Portsmouth, que de emergente passou a afundado em pouquíssimo tempo, escancarando as falhas do modelo inglês de administração do futebol que já ameaça o Liverpool, colocado à venda nesta sexta-feira, de destino semelhante.

Comprado por Sulaiman al Fahim (membro da família real de Abu Dhabi que se desligou do Manchester City) e colocado à venda logo depois, o Pompey passou de mão em mão como uma batata quente, que ninguém queria para si. A inconsistência financeira levou ao pedido de falência da diretoria da vez e obrigou o time azul do litoral britânico a negociar todos os seus principais jogadores para tentar ao menos diminuir o rombo - Peter Crouch, Sylvain Distin, Niko Kranjcar e Glen Johnson deram adeus para, aparentemente, nunca mais voltar.

É importante lembrar que, neste processo, pesou bastante a carta branca recebida por Harry Redknapp para comprar jogadores questionáveis a rodo e com preços exorbitantes para a realidade do clube - na temporada 2006/07 foram cerca de cinquenta milhões de libras em jogadores como Utaka, Muntari e David Nugent.

Apesar de tarde demais, a chegada de Avram Grant ao Fratton Park permitiu a realização de novas experiências no elenco, devido também a diversas contusões de jogadores que se tornaram peças chave da equipe após a debandada, como Jamie O’Hara. Além disso, com o descenso concretizado, houve uma queda na tensão existente durante toda a temporada, pois nada mais poderia ser feito.

Por mais clichê que possa parecer, caso o Portsmouth continue a existir, é este o momento apropriado para se fazer algo que os clubes ingleses têm deixado cada vez mais de lado – em virtude, é bom que se diga, deste mesmo modelo que afundou o clube: voltar os olhos para a base e buscar, no trabalho realizado em longo prazo, a solução caseira para o renascimento da instituição.

Felizmente, os primeiros passos já começam a ser dados ainda no que resta da atual temporada. Na partida contra o Wigan na última semana, Matthew Ritchie e Joel Ward fizeram suas estreias na Premier League. A história dos dois é exemplar: destaques da base do Pompey durante muito tempo, foram relegados aos Reserves (o popular time B dos ingleses) desde os 18 anos, realizando aparições esporádicas em partidas das copas nacionais e eventualmente emprestados a times menores como Notts County e Bournemouth.

Foi só aos vinte anos que ambos finalmente debutaram no campeonato inglês, em um elenco recheado de internacionais (são 17 nacionalidades diferentes), nem sempre de qualidade garantida. Ward foi considerado o melhor jogador da partida, empurrando o ataque dos Latics a um empate sem gols: no primeiro tempo, atuou como lateral esquerdo e, no segundo, foi zagueiro no conservador 4-4-2 de Grant. “Já havia jogado na lateral antes, então não foi uma grande surpresa pra mim. Consigo jogar em qualquer posição da linha defensiva”, afirmou um confiante camisa 40 após o apito final.

Ritchie, um ala esquerdo que também atua como meia atacante enfiado, também foi bastante elogiado pelo treinador e por pouco não marcou o gol da vitória em uma cobrança de falta ensaiada. Nas bases dos blues desde os 13 anos, Matt, como é chamado, mostrou qualidades que poderão ser importantes na árdua caminhada através do Championship na temporada que vem: veloz, de drible curto e toques rápidos na bola. “Foi incrível. Não esperava ter uma oportunidade e antes que percebesse eu estava em campo”, declarou, eufórico.

Junto à dupla de debutantes, atuou pela segunda vez nesta temporada um jovem bastante comentado nas bases inglesas: o alemão de origem ganesa Lennard Sowah, lateral esquerdo pinçado pelo Arsenal no St. Pauli em 2007, mas que no mesmo ano mudou-se para as academias de Fratton Park.

Aos 17 anos, Sowah estreou na Premier League uma partida antes, em outro empate sem gols, com o Blackburn. Graças aos seus 1,85m, é bastante requisitado nas bolas aéreas, fundamento que tem rendido convocações para as seleções sub 16 e sub 17 da Alemanha – embora ainda não tenha definido qual país irá defender, já que recebeu convite também da federação ganesa.

A eles, soma-se Liam O’Brien, goleiro reserva da seleção sub 19 inglesa e único jogador do clube presente, atualmente, nas seleções de base inglesas. Apesar de o Portsmouth não possuir uma grande tradição de revelação de talentos no país, o próprio discurso dos dirigentes molda-se à esta realidade quando se vislumbra o futuro. “Quando cheguei em novembro, sabia que alguns destes jovens começariam a jogar em breve como parte de seu desenvolvimento. São bons atletas e serão importantes para nós no futuro, especialmente na campanha da segunda divisão”, avaliou Grant.

Com uma final de FA Cup ainda por disputar – um consolo e tanto para uma temporada desastrosa –, esta poderá ser a oportunidade de ouro para estes garotos mostrarem verdadeiramente seu valor. E ao passo que a diretoria luta para conseguir disputar a Liga Europa em 2010/11 (já que o Chelsea, outro finalista, já está garantido na Liga dos Campeões), a expectativa sobre estes nomes cresce bastante, por serem neles que reside boa parte da esperança pela volta por cima dos azuis do litoral sul inglês.

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