Um time falido, rebaixado e sem dono, que ainda corre o risco de ter suas portas fechadas definitivamente. Este é o Portsmouth, que de emergente passou a afundado em pouquíssimo tempo, escancarando as falhas do modelo inglês de administração do futebol que já ameaça o Liverpool, colocado à venda nesta sexta-feira, de destino semelhante.
Comprado por Sulaiman al Fahim (membro da família real de Abu Dhabi que se desligou do Manchester City) e colocado à venda logo depois, o Pompey passou de mão em mão como uma batata quente, que ninguém queria para si. A inconsistência financeira levou ao pedido de falência da diretoria da vez e obrigou o time azul do litoral britânico a negociar todos os seus principais jogadores para tentar ao menos diminuir o rombo - Peter Crouch, Sylvain Distin, Niko Kranjcar e Glen Johnson deram adeus para, aparentemente, nunca mais voltar.
É importante lembrar que, neste processo, pesou bastante a carta branca recebida por Harry Redknapp para comprar jogadores questionáveis a rodo e com preços exorbitantes para a realidade do clube - na temporada 2006/07 foram cerca de cinquenta milhões de libras em jogadores como Utaka, Muntari e David Nugent.
Apesar de tarde demais, a chegada de Avram Grant ao Fratton Park permitiu a realização de novas experiências no elenco, devido também a diversas contusões de jogadores que se tornaram peças chave da equipe após a debandada, como Jamie O’Hara. Além disso, com o descenso concretizado, houve uma queda na tensão existente durante toda a temporada, pois nada mais poderia ser feito.
Por mais clichê que possa parecer, caso o Portsmouth continue a existir, é este o momento apropriado para se fazer algo que os clubes ingleses têm deixado cada vez mais de lado – em virtude, é bom que se diga, deste mesmo modelo que afundou o clube: voltar os olhos para a base e buscar, no trabalho realizado em longo prazo, a solução caseira para o renascimento da instituição.
Felizmente, os primeiros passos já começam a ser dados ainda no que resta da atual temporada. Na partida contra o Wigan na última semana, Matthew Ritchie e Joel Ward fizeram suas estreias na Premier League. A história dos dois é exemplar: destaques da base do Pompey durante muito tempo, foram relegados aos Reserves (o popular time B dos ingleses) desde os 18 anos, realizando aparições esporádicas em partidas das copas nacionais e eventualmente emprestados a times menores como Notts County e Bournemouth.
Foi só aos vinte anos que ambos finalmente debutaram no campeonato inglês, em um elenco recheado de internacionais (são 17 nacionalidades diferentes), nem sempre de qualidade garantida. Ward foi considerado o melhor jogador da partida, empurrando o ataque dos Latics a um empate sem gols: no primeiro tempo, atuou como lateral esquerdo e, no segundo, foi zagueiro no conservador 4-4-2 de Grant. “Já havia jogado na lateral antes, então não foi uma grande surpresa pra mim. Consigo jogar em qualquer posição da linha defensiva”, afirmou um confiante camisa 40 após o apito final.
Ritchie, um ala esquerdo que também atua como meia atacante enfiado, também foi bastante elogiado pelo treinador e por pouco não marcou o gol da vitória em uma cobrança de falta ensaiada. Nas bases dos blues desde os 13 anos, Matt, como é chamado, mostrou qualidades que poderão ser importantes na árdua caminhada através do Championship na temporada que vem: veloz, de drible curto e toques rápidos na bola. “Foi incrível. Não esperava ter uma oportunidade e antes que percebesse eu estava em campo”, declarou, eufórico.
Junto à dupla de debutantes, atuou pela segunda vez nesta temporada um jovem bastante comentado nas bases inglesas: o alemão de origem ganesa Lennard Sowah, lateral esquerdo pinçado pelo Arsenal no St. Pauli em 2007, mas que no mesmo ano mudou-se para as academias de Fratton Park.
Aos 17 anos, Sowah estreou na Premier League uma partida antes, em outro empate sem gols, com o Blackburn. Graças aos seus 1,85m, é bastante requisitado nas bolas aéreas, fundamento que tem rendido convocações para as seleções sub 16 e sub 17 da Alemanha – embora ainda não tenha definido qual país irá defender, já que recebeu convite também da federação ganesa.
A eles, soma-se Liam O’Brien, goleiro reserva da seleção sub 19 inglesa e único jogador do clube presente, atualmente, nas seleções de base inglesas. Apesar de o Portsmouth não possuir uma grande tradição de revelação de talentos no país, o próprio discurso dos dirigentes molda-se à esta realidade quando se vislumbra o futuro. “Quando cheguei em novembro, sabia que alguns destes jovens começariam a jogar em breve como parte de seu desenvolvimento. São bons atletas e serão importantes para nós no futuro, especialmente na campanha da segunda divisão”, avaliou Grant.
Com uma final de FA Cup ainda por disputar – um consolo e tanto para uma temporada desastrosa –, esta poderá ser a oportunidade de ouro para estes garotos mostrarem verdadeiramente seu valor. E ao passo que a diretoria luta para conseguir disputar a Liga Europa em 2010/11 (já que o Chelsea, outro finalista, já está garantido na Liga dos Campeões), a expectativa sobre estes nomes cresce bastante, por serem neles que reside boa parte da esperança pela volta por cima dos azuis do litoral sul inglês.
sábado, 17 de abril de 2010
A esperança é azul
Jovens, Ward, Ritchie e Sowah se preparam para carregar o Portsmouth pós-falência
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