quinta-feira, 25 de março de 2010

Crônica de uma morte anunciada


Vasco de Vágner Mancini é apenas mais um time mal montado e mal treinado

No dia em que iam demiti-lo, Vágner Mancini levantou-se pela manhã para estudar o adversário que enfrentaria. "Sonhava sempre com vitórias", disse a mãe, recordando depois os pormenores daquela quarta-feira ingrata. Tinha uma reputação bastante bem ganha de observador certeiro dos times alheios, mas não descobrira qualquer saída nas manhãs que precederam a sua demissão.*

O Vasco estampou ontem no peito de sua nova camisa a cruz que o vascaíno carrega não é de hoje em suas costas: um clube que acumula vexames com a mesma facilidade que somava títulos na década passada, quando a Cruz de Malta - que na verdade é a Cruz Pátea - era vestida com orgulho por seus torcedores.

Há oito anos o Gigante da Colina não caía duas vezes seguidas para pequenos: em 2002, derrotas para Americano e Bangu, ambas em São Januário. Com as quedas perante Olaria e - novamente - Americano, o torcedor mais pessimista já vislumbra novo rebaixamento no Brasileiro.

De novo, o calvário cruzmaltino não tem nada: velhos erros foram cometidos na preparação, como a contratação em massa de jogadores ainda em dezembro, quando sequer o técnico era conhecido. Como saber se o futuro comandante da nau aprovaria os marujos selecionados?

Vágner Mancini, por sua vez, não fez o que dele se esperava - ou fez, para quem, como este que vos bloga, pouco acreditava no treinador que teve no Paulista e no Vitória triunfos importantes, mas que no Grêmio e no Santos, clubes de verdadeira expressão e com latente pressão, falhara retumbantemente.

Com Mancini, o Vasco começou promissor, muito graças à goleada sobre o Botafogo em uma noite atípica das duas equipes. Dodô, encantado, desencantou contra o ex-clube e depois marcou mais três contra o Friburguense, adotando um quaresmal jejum de gols ainda não quebrado.

O tempo que era ensolarado na Colina fechou após a derrota na final da Taça Guanabara, sujeito a trovoadas e relâmpagos durante o restante do período - empate sem gols em casa com o Sousa, da Paraíba, derrota para o Flamengo no clássico e novo empate pela Copa do Brasil, contra o mesmo ASA que já eliminou Palmeiras.

Essencialmente, o Vasco perdeu seu espírito após o revés do Maracanã. Um time zumbi, que já naquela partida mostrou uma de suas muitas faces distorcidas: dominou todo o jogo, mas não foi capaz de defini-lo - e assim foi também contra o Flamengo.

Mancini errou ao mudar muito do pouco que vinha dando certo na equipe, alterando a formação para três zagueiros, mudando a toda rodada o miolo da defesa e insistindo em jogadores desqualificados como Magno, Paulinho e Geovane Maranhão (foram 29 atletas utilizados). A nova mexida, voltando para o 4-3-1-2 do início do ano - e de todo o ano passado -, foi o último levante de um treinador que não conseguiu dar moral à equipe e mexer com o brio de um grupo que, num ínterim, perdeu toda a confiança.

Mais: durante toda sua passagem, fez do Vasco um time ansioso, que mesmo tentando ser leve e veloz batia demais: foram 72 amarelos em 18 jogos, média de quatro por partida, além de 8 expulsões, quase uma a cada dois jogos.

Um time que buscava resolver a partida como se fosse a última, buscando a bola da mesma forma que uma mariposa segue instintamente a vela sem questionar sua chama que, eventualmente, irá matá-la.

Enfim, o Vasco de Mancini foi, desde seu início, a crônica de uma morte anunciada. Caberá, agora, a Leão, ou Tite, ou Abel Braga, ou Oswaldo de Oliveira, ou por que não Antônio Lopes, ressuscitá-lo a tempo de salvar o time de outra crucificação ao final da temporada.

* Adaptação do primeiro parágrafo de "Crônica de uma morte anunciada", de Gabriel Garcia Marquez.

Um comentário:

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