
Publicado no Olheiros
As grandes competições são para os grandes jogadores, para os atletas prontos, correto? Não há muito espaço para os jovens inexperientes, pelo medo de que possam sucumbir à pressão das partidas decisivas. Às vésperas de mais uma Copa do Mundo, e com o clamor popular pela convocação de Neymar crescendo a cada exibição de gala do Santos, tal discussão parece bastante aproriada: afinal, é possível utilizar os meninos em jogos de ponta sem correr riscos exagerados?
Nesta semana, dois ótimos exemplos para os defensores da resposta “sim” à pergunta do parágrafo anterior foram dados na maior competição de clubes do mundo: a Uefa Champions League. Com apenas 19 e 17 anos respectivamente, Miralem Pjanic e David Alaba foram os destaques das heróicas classificações de Lyon e Bayern de Munique às quartas de final.
Pjanic não é nenhuma novidade. O meia bósnio vindo do Metz em 2007 estreou na UCL ainda na temporada passada, e nesta transformou-se titular absoluto do meio-campo de Claude Puel, tendo marcado três gols e anotado cinco assistência na Ligue 1. E foi além: na atual Liga dos Campeões, é o motor do renovado Lyon pós-Juninho Pernambucano, com quatro gols (vice-artilheiro do campeonato) e três assistências. Na primeira fase, contra o Debrecen, da Hungria, foi o homem do jogo, com um belo gol de falta no melhor estilo do meia brasileiro.
Por isso, quando o camisa 8 dominou a bola na coxa direita à frente de Casillas e fuzilou de canhota sem deixar a bola cair, sabia-se que era a afirmação definitiva de um jogador que ascendeu aos profissionais aos 16 anos, marcou seu primeiro gol na Ligue 1 aos 17 (um dos mais jovens da história do campeonato) e estreou aos 18 na seleção principal de seu país.Um dia antes, 1287 quilômetros a leste de Madrid, na capital da Toscana, outro garoto aparecia com evidência na surpreendente eliminação do time da casa. Desta vez, não por marcar um gol, mas por evitá-los. David Olatunkubo Alaba, austríaco de Viena, mas de mãe filipina e pai nigeriano, quebrou mais um recorde em sua ainda breve carreira.
Jogador mais jovem a atuar na Bundesliga austríaca (estreou aos 17 anos, três meses e 20 dias pelo Áustria Viena), o garoto que tinha dois dias de idade na final da Euro 92, quando a Dinamarca bateu a Alemanha, alcançou duas marcas em uma semana pelo Bayern de Munique: no final de semana, aos 17 anos, oito meses e dez dias, foi o atleta mais novo a defender os bávaros pela Bundesliga, no empate em 1 a 1 com o Colônia. Três dias depois, era titular diante da Fiorentina, em uma partida válida pelas oitavas de final da Champions League.
Alaba torna-se, desde já, uma referência em ascensões meteóricas. Há seis meses, recém-alçado ao time titular dos Violetas (austríacos, não os que ajudou a afundar na quarta-feira), recusou uma extensão de contrato para assinar com os bávaros e foi direcionado ao time B. Foram 16 partidas na Regionalliga Sul, terceira divisão nacional, e há exatamente um mês, no dia 10 de fevereiro, foi convocado para o elenco que enfrentaria o Greuther Fürth pela Copa da Alemanha. A estreia foi perfeita, e concedeu até mesmo uma assistência nos 6 a 2.
O desempenho acima do esperado foi surpreendente para um garoto tão inexperiente no que se refere a este nível de jogo, e por mais que seu chamamento tenha sido primordialmente devido às contusões de Demichelis e Contento, Alaba foi amplamente elogiado pela imprensa alemã, recebendo a melhor avaliação de toda a linha defensiva da equipe. Tudo isso jogando fora de sua posição ideal – foi improvisado na lateral esquerda, por mais que seja um meiocampista central de orientação defensiva.
Alaba poderá retornar ao time B assim que Demichelis voltar, mas o importante é que mostrou qualidades para permanecer no elenco principal, feito bastante relevante em um Bayern que emprestou o supervalorizado Toni Kroos por problemas de adaptação. Com exemplos como o de Rooney – que aos 18 anos marcou um hat-trick sobre o Fenerbahçe, na UCL de 2004 e é, no momento, o maior atacante em atividade –, não há dúvida que até mesmo as principais competições do mundo são, sim, um bom lugar para se começar.
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