Publicado no Olheiros
Vila Belmiro, 14 de março de 2010. Aos 35 minutos do segundo tempo, Paulo Henrique deixa Madson na cara do gol, e o baixinho apenas toca na saída de Marcos para empatar em 3 a 3 o clássico entre Santos e Palmeiras. Na saída de bola, o time da casa pressiona e retoma a posse. Neymar é lançado próximo à linha lateral, mata no peito, domina com o joelho e peteca uma vez com o pé direito, até receber um toque de Pierre, que fica com a bola. Na sequência, o camisa dezessete santista se escora em Léo, corre e atinge, sem bola, o volante palmeirense com um pontapé.
A expulsão de Neymar pelo árbitro Antonio Rogério Batista do Prado monopolizou as discussões futebolísticas, desde o balcão do botequim até à mesa redonda televisiva, na semana passada. Não pela legitimidade do cartão vermelho, mas muito pelo gancho que o meia atacante poderia pegar – falou-se em 18 partidas, que afinal tornaram-se apenas duas.
Pouco foi falado, entretanto, sobre a reação do garoto à expulsão e ao próprio lance, em que Pierre lhe toma a bola limpamente, por sinal. São naturais o desespero de um jogador habilidoso que sofre inúmeras faltas durante a partida e o desconsolo de um menino de 18 anos que recebe o primeiro vermelho de sua carreira. Foi a primeira expulsão, mas não a primeira advertência: Neymar já levou cinco cartões amarelos neste ano, o maior número entre os quatro grandes de São Paulo.
Pode-se dizer que é exatamente a marcação irritantemente insistente que faz com que Neymar revide, cometa faltas bobas e receba os amarelos. Somente a vivência lhe dará a experiência necessária para controlar seu temperamento e entender que, se é perseguido dentro de campo, o é exatamente por ser diferenciado - “ele está louco” é a única coisa que pode ser publicada da leitura labial que se faz de Neymar nos instantes que seguem a expulsão.
Evitando ser minimalista e reduzir todo o contexto em apenas um fato, a expulsão de Neymar é um argumento sólido contra os que defendem veementemente sua convocação à seleção brasileira para a disputa da Copa do Mundo. A crise tardia de identidade do time de Dunga, o medo inconsciente e coletivo de que Kaká e Luís Fabiano, que enfrentam temporadas turbulentas, não dêem conta do recado e a sensação de que o banco de reservas é pobre de inspiração transformaram um simples desejo de muitos no pedido incessante de quase todos – “Neymar deve ir à África do Sul”.
O coro soma-se à campanha velada de quase a totalidade da imprensa pela convocação de Ronaldinho Gaúcho, por mais que o camisa 80 do Milan não tenha feito nada de relevante nos últimos três anos e, de uma hora para outra, tenha resolvido jogar diante de Sienas e Livornos. A ida de Neymar, defende-se, ofereceria um gole de habilidade a um time sedento por ideias e seria fundamental para o desenvolvimento do jogador, que tem tudo para se tornar um dos principais craques do futebol mundial, garantem.
Contudo, Neymar não está pronto. Levá-lo à Copa criaria um ambiente de expectativa muito grande sobre o menino, diferente do que aconteceu com Pelé em 58 – exemplo que costumam oferecer à discussão para convencer que ele pode sim ser convocado, mas que fecha os olhos à diferença existente entre a cobertura midiática da época e a atual e, bem, ao fato de Pelé ser Pelé. Correria-se um risco exagerado de, assim como foi com o inglês Theo Walcott em 2006, esperar tanto do garoto que ele mesmo se perca no processo.
Esta é uma história comum a muitas promessas do futebol que não se concretizam. Que Neymar é diferente da maioria delas, certamente o é, e pelo que já demonstrou neste primeiro ano de profissional tem realmente tudo para ser protagonista em 2014. Mas o mau desempenho no Mundial Sub-17 do ano passado alerta para o fato de que nem sempre o craque está em um dia bom.
Principalmente, é preciso lembrar que Neymar teria, na delegação brasileira, peso e importância radicalmente diferentes dos que possui no Santos, onde já é estrela estabelecida - teria de se relegar a um segundo plano. Neste ponto, os dois argumentos principais que defendem sua convocação se excluem: se ele deve ser chamado apenas para ganhar experiência, então será um jogador espectador, configurando-se em uma opção a menos de um time que já carece de boas alternativas no banco.
Por outro lado, se for convocado realmente por seu desempenho e para atuar de fato, não será uma convocação apenas para que conviva com os grandes nomes e amadureça, podendo facilmente queimá-lo no sempre conturbado processo que envolve uma Copa do Mundo, com pressão gigantesca por resultados e espaço zero para erros.
Por tudo isso, Neymar ainda não está pronto. Nem Paulo Henrique, seu companheiro de equipe, que acredito ser até um jogador já mais maduro. Afinal, Robinho já foi unanimidade e, por querer queimar etapas, voltou ao Brasil como um dos atletas mais criticados por sua atitude antiprofissional. O craque não precisa de oportunidade. Ele precisa de tempo para se estabelecer – algo que acontecerá naturalmente com o novo menino da Vila.
Vila Belmiro, 14 de março de 2010. Aos 35 minutos do segundo tempo, Paulo Henrique deixa Madson na cara do gol, e o baixinho apenas toca na saída de Marcos para empatar em 3 a 3 o clássico entre Santos e Palmeiras. Na saída de bola, o time da casa pressiona e retoma a posse. Neymar é lançado próximo à linha lateral, mata no peito, domina com o joelho e peteca uma vez com o pé direito, até receber um toque de Pierre, que fica com a bola. Na sequência, o camisa dezessete santista se escora em Léo, corre e atinge, sem bola, o volante palmeirense com um pontapé.
A expulsão de Neymar pelo árbitro Antonio Rogério Batista do Prado monopolizou as discussões futebolísticas, desde o balcão do botequim até à mesa redonda televisiva, na semana passada. Não pela legitimidade do cartão vermelho, mas muito pelo gancho que o meia atacante poderia pegar – falou-se em 18 partidas, que afinal tornaram-se apenas duas.
Pouco foi falado, entretanto, sobre a reação do garoto à expulsão e ao próprio lance, em que Pierre lhe toma a bola limpamente, por sinal. São naturais o desespero de um jogador habilidoso que sofre inúmeras faltas durante a partida e o desconsolo de um menino de 18 anos que recebe o primeiro vermelho de sua carreira. Foi a primeira expulsão, mas não a primeira advertência: Neymar já levou cinco cartões amarelos neste ano, o maior número entre os quatro grandes de São Paulo.
Pode-se dizer que é exatamente a marcação irritantemente insistente que faz com que Neymar revide, cometa faltas bobas e receba os amarelos. Somente a vivência lhe dará a experiência necessária para controlar seu temperamento e entender que, se é perseguido dentro de campo, o é exatamente por ser diferenciado - “ele está louco” é a única coisa que pode ser publicada da leitura labial que se faz de Neymar nos instantes que seguem a expulsão.
Evitando ser minimalista e reduzir todo o contexto em apenas um fato, a expulsão de Neymar é um argumento sólido contra os que defendem veementemente sua convocação à seleção brasileira para a disputa da Copa do Mundo. A crise tardia de identidade do time de Dunga, o medo inconsciente e coletivo de que Kaká e Luís Fabiano, que enfrentam temporadas turbulentas, não dêem conta do recado e a sensação de que o banco de reservas é pobre de inspiração transformaram um simples desejo de muitos no pedido incessante de quase todos – “Neymar deve ir à África do Sul”.
O coro soma-se à campanha velada de quase a totalidade da imprensa pela convocação de Ronaldinho Gaúcho, por mais que o camisa 80 do Milan não tenha feito nada de relevante nos últimos três anos e, de uma hora para outra, tenha resolvido jogar diante de Sienas e Livornos. A ida de Neymar, defende-se, ofereceria um gole de habilidade a um time sedento por ideias e seria fundamental para o desenvolvimento do jogador, que tem tudo para se tornar um dos principais craques do futebol mundial, garantem.
Contudo, Neymar não está pronto. Levá-lo à Copa criaria um ambiente de expectativa muito grande sobre o menino, diferente do que aconteceu com Pelé em 58 – exemplo que costumam oferecer à discussão para convencer que ele pode sim ser convocado, mas que fecha os olhos à diferença existente entre a cobertura midiática da época e a atual e, bem, ao fato de Pelé ser Pelé. Correria-se um risco exagerado de, assim como foi com o inglês Theo Walcott em 2006, esperar tanto do garoto que ele mesmo se perca no processo.
Esta é uma história comum a muitas promessas do futebol que não se concretizam. Que Neymar é diferente da maioria delas, certamente o é, e pelo que já demonstrou neste primeiro ano de profissional tem realmente tudo para ser protagonista em 2014. Mas o mau desempenho no Mundial Sub-17 do ano passado alerta para o fato de que nem sempre o craque está em um dia bom.
Principalmente, é preciso lembrar que Neymar teria, na delegação brasileira, peso e importância radicalmente diferentes dos que possui no Santos, onde já é estrela estabelecida - teria de se relegar a um segundo plano. Neste ponto, os dois argumentos principais que defendem sua convocação se excluem: se ele deve ser chamado apenas para ganhar experiência, então será um jogador espectador, configurando-se em uma opção a menos de um time que já carece de boas alternativas no banco.
Por outro lado, se for convocado realmente por seu desempenho e para atuar de fato, não será uma convocação apenas para que conviva com os grandes nomes e amadureça, podendo facilmente queimá-lo no sempre conturbado processo que envolve uma Copa do Mundo, com pressão gigantesca por resultados e espaço zero para erros.
Por tudo isso, Neymar ainda não está pronto. Nem Paulo Henrique, seu companheiro de equipe, que acredito ser até um jogador já mais maduro. Afinal, Robinho já foi unanimidade e, por querer queimar etapas, voltou ao Brasil como um dos atletas mais criticados por sua atitude antiprofissional. O craque não precisa de oportunidade. Ele precisa de tempo para se estabelecer – algo que acontecerá naturalmente com o novo menino da Vila.
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