quinta-feira, 10 de junho de 2010

História das Copas - Alemanha 2006

Havia muita expectativa em cima dessa Copa. Muitos diziam que seria o melhor Mundial desde 82, na Espanha, tamanha a qualidade das seleções e o número de craques vivendo grande fase em suas carreiras. Ronaldinho, Henry, Totti, Drogba e Lampard, entre outros, tiveram uma excelente temporada européia e prometiam muito, bem como as seleções. O Brasil chegava como maior favorito da história; a Alemanha era dona da casa e não podia ser subestimada; a Argentina chegava com a geração mais talentosa desde 86 e a Inglaterra, por sua vez, apresentava a melhor equipe desde 66.

Com tudo isso, a bola rolou no dia 9 de junho, em Munique, para a partida de abertura da Copa da Alemanha. Em campo, os anfitriões mostraram seu poder de fogo e venceram a Costa Rica por 4 a 2, deixando os fãs empolgados: 6 gols só no primeiro jogo! Mas o jogo inaugural, que historicamente tem uma média baixa de gols, se provou uma exceção.

A primeira rodada da Copa do Mundo demonstrou um medo muito grande das equipes. O nervosismo da estréia falou mais alto do que a vontade de uma vitória inicial, que daria muito mais confiança às equipes. O que se viu nos primeiros dias de competição foram jogos muito equilibrados, com poucas chances de gol. Os times se estudavam muito e quem conseguia uma vantagem mínima já se fechava na defesa para assegurar a vitória. Um comportamento que, como vimos, acabou por permear toda a Copa.

Na estreia, o Brasil jogou muito mal e conseguiu uma vitória magra sobre a Croácia, por 1 a 0. Ronaldo, muito acima do peso, se arrastou em campo. Na segunda rodada, mesmo sem novamente atuar de maneira satisfatória, a seleção derrotou a Austrália em Munique por 2 a 0. O ataque brasileiro finalmente desencantou e Ronaldo marcou duas vezes na vitória de 4 a 1 sobre o Japão, igualando o recorde de Gerd Muller com 14 gols na história das Copas.

O principal destaque da primeira fase foi, sem dúvida, a maior goleada da Copa, aplicada pela Argentina sobre Sérvia e Montenegro: 6 a 0. Belos gols, jogadas coletivas altamente plásticas e atuações inspiradas de Tevez, Messi e Maxi Rodriguez colocaram os hermanos definitivamente como um dos principais favoritos. Já os sérvios e montenegrinos, que chegaram à Copa credenciados pela melhor defesa das Eliminatórias, tiveram muito o que explicar à imprensa de seu país.

A zebra passeou com mais liberdade pelos gramados alemães na segunda rodada. Primeiro, um empate sem gols entre Angola e México, comemorado entusiasticamente pelos africanos, que disputaram sua primeira Copa. Depois, uma zebra ainda maior: Gana venceu a República Tcheca por 2 a 0 e só não goleou graças à grande atuação do goleiro Petr Cech, do Chelsea. Os tchecos pintaram como possíveis azarões na primeira rodada, mas depois que perderam seu atacante e referência na área Koller, eles pareciam perdidos diante dos africanos.

No geral, a primeira fase foi bem mais "normal" do que em 2002, quando os maiores favoritos caíram logo de cara. Todos os grandes se classificaram, com destaques para a anfitriã Alemanha e as campanhas de Portugal e Espanha, que fecharam com três vitórias.

Surpresas, somente a Suíça avançando em primeiro lugar no Grupo G, à frente de uma França que só se classificou no final do jogo contra Togo, marcando 2 a 0. Outros classificados, como o Equador no Grupo A, e Gana, no Grupo F, derrubaram alguns apostadores, mas foram claramente justificados pelas boas atuações das equipes. Terminada a primeira fase, haviam sido marcados 117 gols, uma média razoavelmente baixa de 2,43 por jogo.

Oitavas de final

Depois de uma primeira fase mediana, com poucos jogos de alto nível técnico, a expectativa era de grandes jogos nas oitavas-de-final. Entretanto, com raras exceções, não foi o que aconteceu. Uma dessas exceções foi a Alemanha, que partiu para cima da Suécia como um verdadeiro tanque de guerra em Munique. A blitz inicial deu resultado e com menos de 20 minutos o placar já apontava 2 a 0, com dois gols de Podolski.

Emoções também para argentinos e mexicanos: os hermanos levaram um gol no início, foram dominados, mas colocaram a cabeça no lugar e empataram, levando o jogo para a prorrogação. Um belo gol de Máxi Rodriguez selou a vitória e a classificação para as quartas. Numa partida muito fraca tecnicamente, a Inglaterra venceu o Equador por 1 a 0 graças a um gol de falta de David Beckham. Os comandados de Sven-Goran Eriksson, que chegaram entre os principais favoritos, não conseguiam desenvolver um bom futebol e suscitavam dúvidas quanto a capacidade do English Team.

Quem também venceu sem convencer foi o Brasil, que apesar dos 3 a 0 sobre Gana, levou sufoco, foi pressionado durante todo o jogo e só marcou nos contra-ataques. Ao menos, Ronaldo atingiu a marca história de 15 gols em Copas e Cafu tornou-se o jogador brasileiro a atuar mais vezes em Copas.

A Itália enfrentou a Austrália com medo da fama de violentos dos adversários. Mas quem teve um jogador expulso foi a Azzurra: Materazzi deu um costumeiro carrinho e foi para o chuveiro mais cedo. No último lance do jogo o lateral Fabio Grosso invadiu a área e o árbitro espanhol Luis Medina Cantalejo assinalou pênalti, que Totti converteu. Violento mesmo foi o jogo entre Portugal e Holanda. A "Batalha de Nuremberg", como ficou conhecido o duelo, teve quatro expulsões e 16 cartões amarelos. Um recorde. Enquanto houve futebol, Portugal foi melhor e Maniche fez o gol da vitória em bela jogada.

França e Espanha fizeram o melhor jogo das oitavas. O único - ao lado da vitória da Argentina sobre o México por 2 a 1 - em que as duas equipes marcaram. Os espanhóis haviam dito que aquele seria o último jogo de Zidane e realmente parecia assim quando David Villa abriu o placar de pênalti. Mas a França veio com tudo na segunda etapa e, com gols de Ribery, Vieira e um golaço de Zidane no final, venceu por 3 a 1 e tratou de aposentar Raúl, o líder da Fúria.

Por outro lado, as oitavas também registraram o pior jogo da Copa. Ucrânia e Suíça fizeram qualquer coisa, menos jogar futebol. Um empate insosso sem gols onde as duas equipes mais se preocuparam em não tomar gol do que em fazê-los. A decisão nos pênaltis, a única das oitavas, teve uma peculiaridade: a Ucrânia venceu por 3 a 0, ou seja, a Suíça não converteu nenhuma cobrança. Um feito nunca antes alcançado, assim como outro dos próprios suíços: foram eliminados sem levar um gol sequer na Copa.

Quartas de final

Alemanha e Argentina foi um grande jogo, com todos os ingredientes de uma verdadeira decisão. E foi um grande jogo, com todos os ingredientes de uma verdadeira decisão. O técnico Jose Pekerman anulou as principais jogadas da equipe alemã e o primeiro tempo foi muito tenso, com as equipes arriscando mas, ao mesmo tempo, se resguardando na defesa. No segundo tempo, a Alemanha cresceu e empatou a dez minutos do fim. Após uma prorrogação tensa, chegou a vez da disputa de pênaltis, onde brilhou a estrela do goleiro Lehmann, que defendeu duas cobranças e garantiu a vaga na semifinal.

Itália e Ucrânia chegavam às quartas-de-final carregando, cada uma, um ponto de interrogação: até onde poderia chegar a Azzurra, já que só havia se classificado graças a um pênalti mal marcado? E seria a Ucrânia a nova zebra do leste europeu, que desde 1994 sempre marca presença nas semifinais da Copa? A resposta a essas perguntas não demorou a chegar: com seis minutos, Zambrotta abriu o placar e a Itália passeou em campo, sacramentando a vaga na semifinal.

Ingleses e portugueses jogariam em Gelsenkirchen. O jogo teve emoção e drama mas não teve gols - como foi o mote desta Copa. A expulsão de Rooney e as supostas simulações dos portugueses chamaram mais a atenção do que o futebol. Na disputa de pênaltis, caiu outro recorde: Ricardo defendeu três cobranças e colocou o time de Luís Felipe Scolari na semifinal novamente, após 40 anos.

E por último, mas não menos importante, um jogo com triste fim para todos os brasileiros. A imprensa brasileira entrou na onda de querer "aposentar" Zidane, e como havia acontecido nas oitavas-de-final, foi Zidane quem aposentou Cafu, Roberto Carlos & cia. Em uma "exibição" apática, o Brasil foi completamente dominado pela França, que teve na atuação inspirada de seu camisa 10 o impulso necessário que precisava para ganhar confiança e vencer a partida, chegando às semifinais.

Semifinais

Itália e Alemanha. Dois gigantes do futebol. O jogo foi parelho e ambas as equipes atacaram, ainda que cautelosamente, não querendo abrir espaços. A Alemanha era ligeiramente melhor, especialmente no segundo tempo, quando a seleção italiana parecia cansada e, entregue, só se arrastava tentando levar o jogo para a prorrogação.

O técnico Marcelo Lippi lançou três atacantes na equipe - Gilardino, Iaquinta e Del Piero - e a Itália mandou no jogo a partir da prorrogação. Gilardino em grande jogada quase abriu o placar nos minutos iniciais e a Alemanha ainda teve uma chance de ouro com Podolski, que cabeceou livre, pra fora. Mas contra a Itália não se pode errar e o golpe de misericórdia veio a dois minutos do fim, quando a disputa de pênaltis já parecia inevitável. Após cobrança de escanteio, Pirlo deu belo passe para Grosso, que marcou um lindo gol. A Alemanha ainda tentou, mas no contra-ataque, Del Piero mandou os donos da casa, bem, de volta pra casa!

Na outra semifinal, duas equipes que jogavam de forma parecida: defesas sólidas, meias abertos nas pontas e apenas um centro-avante. Muito se esperava de Zidane após a exibição magnífica das quartas-de-final, mas desta vez ele não foi tão brilhante, muito em razão da marcação constante de Costinha, um verdadeiro carrapato. Portugal chegava nos pés do talentoso - e na mesma proporção genioso - Cristiano Ronaldo e, principalmente, no embalo de seu técnico, Luís Felipe Scolari. Mas a França se provou mortal e, em um pequeno descuido da defesa lusa, Henry foi derrubado dentro da área. Pênalti convertido por Zidane, que foi o suficientepara assegurar a vaga na decisão.

A final

Na disputa pelo terceiro, a seleção de Klinsmann retribuiu todo o carinho da torcida ao vencer Portugal por 3 a 1, em Stuttgart, com dois belos gols de Schweinsteiger e um contra de Petit - Nuno Gomes descontou.

Os italianos, que jamais haviam vencido uma disputa de pênaltis em Copas, derrotaram os franceses na finalíssima após o empate por 1 a 1 no tempo normal e prorrogação. No tempo normal, os franceses abriram o placar nos minutos iniciais, com Zidane. A Itália empatou ainda na primeira etapa, com Materazzi escorando de cabeça depois de jogada de escanteio. Zidane deixou a França com um homem a menos ao ser expulso na prorrogação, depois de agredir um adversário. No final, Trezeguet perdeu a única cobrança francesa nos pênaltis, decidindo o título italiano.

Doze anos depois de perder o tri para o Brasil, a Itália foi tri em 1982. Doze anos depois de perder o tetra também para o Brasil nos pênaltis, a Itália sagrou-se tetra e ganhou a Copa do Mundo de 2006. Num jogo disputadíssimo e tenso, a "Squadra Azzurra" venceu a França por 5 a 3 nos pênaltis, depois de 1 a 1 no tempo normal e nenhum gol na prorrogação.

Os italianos conseguiram provocar um fim de carreira melancólico do francês Zidane, expulso na prorrogação por agredir Materazzi com uma cabeçada no peito. De herói francês, Zidane virou vilão em sua despedida do futebol aos 34 anos. Deixou o gramado debaixo de uma vaia estrondosa.

XVIII Copa do Mundo - Alemanha - 2006

Campeão: Itália
Vice: França
Terceiro: Alemanha
Quarto: Portugal

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