terça-feira, 8 de junho de 2010

História das Copas - França 1998

A França foi mais um país escolhido como sede da Copa pela segunda vez, após México e Itália. O país promoveu um show de organização e contou com belos estádios. Após 24 anos, o brasileiro João Havelange passou o cetro da FIFA para seu secretário, o suíço Joseph Blatter, tendo conquistado dois sonhos: transformou o futebol em um negócio mundial que movimenta dezenas de bilhões de dólares por ano e aumentou novamente o número de participantes da Copa: de 24 para 32. A partir de então, somente os dois primeiros de cada grupo se classificariam para a segunda fase, que continuaria como antes.

Nas eliminatórias, o Uruguai ficava de fora mais uma vez. A África, agora com cinco vagas, presenteou a África do Sul com a primeira participação. A Concacaf levou os figurões México e Estados Unidos e os estreantes jamaicanos, que fizeram muita festa no Velho Continente. A Ásia, por sua vez, teve como representantes Coréia do Sul, Irã, Arábia Saudita e Japão, que finalmente conseguiu se classificar. A Austrália, representante da Oceania, novamente ficou de fora, perdendo dessa vez a repescagem para os iranianos. Na Europa, poucas surpresas. A Suécia, após o terceiro lugar em 94, sequer se classificou, sendo a principal baixa. Outras seleções medianas, como Portugal, Rússia e República Tcheca, também ficaram de fora. As principais novidades foram a Dinamarca, que voltava após 86 e a Croácia, que disputava a Copa pela primeira vez.

Primeira fase

O Brasil abriu a Copa em 10 de junho de 98 no belíssimo Stad de France, em Saint-Denis. A seleção da Escócia, embora fraca, deu trabalho. César Sampaio marcou o primeiro gol da Copa de cabeça após um escanteio e Collins empatou, de pênalti, no final do primeiro tempo. Aos 28 da segunda etapa, quando o jogo caminhava para um final nervoso, Cafu deu um toque na bola, que bateu em Boyd e entrou. Foi um sufoco, mas a vitória estava assegurada. A segunda partida foi a única fácil da primeira fase: vitória tranquila sobre o Marrocos por 3 a 0. Ronaldo marcou seu primeiro gol em uma Copa do Mundo, logo aos nove minutos. Rivaldo e Bebeto também fizeram os seus.

A última partida foi a mais complicada. O Brasil já estava classificado e a Noruega precisava de uma vitória para avançar sem depender do resultado do jogo entre Marrocos e Escócia. Jogando sem preocupação, o Brasil abriu o placar aos 33 do segundo tempo com Bebeto. Mas a Noruega foi para cima e empatou com Flo após uma falha da zaga. Cinco minutos depois, Júnior Baiano cometeu pênalti polêmico (que depois foi comprovado que realmente houve) e Rekdal marcou o gol da vitória. Pela primeira vez desde 66, o Brasil perdia um jogo na primeira fase.

Apesar de não ter proporcionado grandes jogos, a Copa de 98 teve uma melhora significante no nível do futebol apresentado se comparada com os Mundiais de 90 e 94. A anfitriã França foi uma prova disso, demonstrando força ao derrotar seus três adversários na primeira fase com um futebol altamente ofensivo. As goleadas de 3 a 0 sobre a África do Sul e 4 a 0 sobre a Arábia Saudita credenciavam os `bleus` para a disputa do título. A vitória sobre a forte seleção dinamarquesa - outra classificada do grupo - só ratificou ainda mais este fato.

Já a atual vice-campeã Itália sofreu um pouco mais, ainda que somente no primeiro jogo. Em uma bela atuação de Roberto Baggio, a Azzurra arrancou um empate contra o Chile no final do jogo. Os chilenos, impulsionados por sua perigosa dupla de ataque Salas e Zamorano, empatou os três jogos da primeira fase, mas foi o suficiente para avançar juntamente com a Itália, que derrotou Áustria e Camarões sem maiores problemas. Os camaroneses, após 94, decepcionavam mais uma vez.

No grupo D, aconteceram talvez a melhor partida da primeira fase e a maior zebra. Logo na estréia, a Espanha perdeu de virada para a Nigéria por 3 a 2, com a ajuda do goleiro Zubizarreta. A Fúria ainda empatou sem gols com o Paraguai, time forte na defesa. A Bulgária decepcionava e após a derrota para a Nigéria, já estava eliminada. Na última rodada, a Espanha goleou os búlgaros por 6 a 1 mas de nada adiantou, pois os paraguaios desencataram e venceram a já classificada Nigéria por 3 a 1, assegurando a segunda vaga.

Já no Grupo E, quatro empates em seis jogos. Os eternos rivais Holanda e Bélgica não saíram do zero e o México de Hernandez e Blanco derrotou a fraca seleção da Coréia do Sul por 3 a 1. Na segunda rodada, os holandeses golearam os coreanos por 5 a 0 com show de Dennis Bergkamp e a Bélgica forçou outro empate, desta vez com o México. Na última rodada, o empate entre holandeses e mexicanos classificou as duas equipes, uma vez que os belgas empataram de novo, desta vez com os coreanos.

No grupo F, a Alemanha não encontrou dificuldades para se classificar, vencendo Estados Unidos e Irã por 2 a 0. A Iugoslávia também venceu essas duas seleções e empatou com os alemães em 2 a 2, garantindo a classificação de ambos. Neste grupo, um fato histórico: muito se temia pelo fato de Estados Unidos e Irã - eternos rivais políticos e até militares - se enfrentarem. Mas não houve incidentes e os jogadores deram um exemplo de como o futebol pode ajudar a levar a paz aos povos. No final, vitória muito comemorada dos iranianos por 2 a 1.

No Grupo G, a indicação da Romênia como cabeça-de-chave foi questionada por muitos mas pareceu ter sido acertada: com vitórias sobre Colômbia e a badalada Inglaterra, que voltava a Copa após a ausência em 94, os romenos se deram ao luxo de empatar com a Tunísia na última rodada e ainda assim se classificarem. O English Team venceu seus outros dois compromissos para ficar com a segunda vaga.

Finalizando, a Argentina não teve dó dos três estreantes em Copas que estavam em seu grupo: venceu Japão e Croácia por 1 a 0 e goleou a Jamaica por 5 a 0, com três gols de Batistuta. Os croatas venceram japoneses e jamaicanos e classificaram-se em segundo, enquanto os japoneses frustraram-se com a derrota para os `reaggae-boys` da Jamaica por 2 a 1.

Oitavas de final

O jogo contra o Chile pelas oitavas-de-final foi o mais fácil da campanha brasileira na França - mais fácil até do que a partida contra Marrocos. Sem inspiração, a dupla Salas-Zamorano pouco perigo levou ao gol de Taffarel e César Sampaio, em noite inspirada, marcou dois ainda no primeiro tempo. Ronaldo ampliou de pênalti e, apesar de Salas ter diminuído já no segundo tempo, marcou mais um. A seleção enfrentaria nas quartas-de-final a perigosa Dinamarca, que mais uma vez demonstrou um belo futebol e eliminou os badalados nigerianos com uma goleada por 4 a 1. A Dinamáquina dava sinais de que voltava a funcionar 12 anos depois.

A Alemanha seguia firme em sua campanha apesar de ter levado um susto. O México abriu o placar com Hernandez e contava com as jogadas plásticas de Blanco para chegar ao gol de Koepke. Mas os alemãs não se dão por vencidos e Klinsmann empatou aos 30 do segundo tempo. Faltando quatro minutos para o fim do jogo, o artilheiro Oliver Bierhoff virou o placar e mostrou mais uma vez que com a Alemanha não se brinca. Já a Itália eliminou a Noruega em um jogo fraco, com Vieri marcando o único gol da partida ainda no primeiro tempo.

A França foi outra que sofreu muito para se classificar. Sem Zidane, os `Bleus` penaram para vencer a forte retranca paraguaia e quase perderam o jogo. Na prorrogação, o regulamento da morte súbita foi cruel com o time de Chilavert e Gamarra - que não fez uma única falta em todo o torneio - e a França venceu com um gol chorado de Blanc. A Romênia, cujos jogadores haviam pintado o cabelo de amarelo em comemoração à classificação em primeiro lugar no grupo, foi eliminada pela Croácia com um gol de pênalti de Suker. O favoritismo subiu à cabeça e o craque Hagi despedia-se assim de forma melancólica das Copas. Já a Holanda venceu a Iugoslávia por 2 a 1 com um gol salvador de Davids já nos descontos.

Mas o jogo mais sensacional das oitavas foi, sem dúvida, Argentina e Inglaterra. Batistuta abriu o placar logo aos 6 e Alan Shearer empatou apenas 4 minutos depois, de pênalti. Aos 16, o garoto-prodígio inglês Michael Owen fez grande jogada e virou o placar. Zanetti empatou no comecinho do segundo tempo e a partida continuou tensa e movimentada até o final da prorrogação. Foi um jogo brigado e o astro inglês David Beckham foi expulso após uma falta desleal em Simeone. Nos pênaltis, a mística dos goleiros argentinos veio à tona e brilhou a estrela de Roa, que pegou o pênalti de Batty para levar a Argentina às quartas-de-final.

Quartas de final

O que o jogo contra o Chile teve de fácil, a partida contra a Dinamarca teve de complicada. Os dinamarqueses tinham uma jogada ensaiada que dava resultado: enquanto os adversários discutiam com o juiz a respeito da falta, eles cobravam rapidamente e pegavam a defesa desprevenida. E foi assim que, aos 2 minutos, Jorgensen abriu o placar. O Brasil estava nervoso em campo mas dez minutos depois, Bebeto empatou. Rivaldo, em grande atuação, virou aos 27 e tranqüilizou a torcida. O jogo era aberto e ambas as equipes tinham chances de gol. No segundo tempo, Roberto Carlos tentou tirar a bola da grande área com uma bicicleta e furou, deixando livre para Laudrup empatar novamente. O jogo era dramático até que Rivaldo, em grande jogada, desempatou e garantiu a classificação brasileira para a semifinal.

O adversário seria a Holanda, que também esteve no caminho do Brasil em 94. A laranja enfrentou a Argentina nas quartas-de-final e, mais uma vez, os argentinos proporcionaram um belo jogo. Kluivert abriu o placar aos 12 do primeiro tempo e CLáudio Lopez empatou cinco minutos depois. O jogo seguiu movimentado e tenso e, quando parecia que a prorrogação era inevitável, Bergkamp recebeu um belo lançamento e bateu. A bola foi morrer no fundo dol gol de Roa. Os holandeses estavam classificados e os argentinos, mais uma vez, dramaticamente eliminados.

A França mais uma vez sofreu para se classificar. Após vencer o Paraguai apenas na prorrogação, os `bleus` empataram sem gols com a Itália em um jogo fraco e sem lances de perigo. Nos pênaltis, os donos da casa venceram por 4 a 3 e avançaram às semifinais.

E quem enfrentaria a França? A surpreendente Croácia, do artilheiro Davor Suker, que humilhou a Alemanha com uma vitória incontestável por 3 a 0. Jarni abriu o placar aos 3 do segundo tempo e Suker, duas vezes, aos 30 e aos 35, fechou o caixão alemão, que pela segunda vez consecutiva perdia nas quartas-de-final para uma seleção européia sem muita tradição.

Semifinais

Que semifinal foi aquela. Considerada por muitos o melhor jogo da Copa, a semifinal entre Brasil e Holanda foi emocionante. Os dois times jogavam de forma ofensiva e os ataques levavam vantagem sobre as defesas. No primeiro tempo, 0 a 0, mas assim que começou a segunda etapa, Ronaldo em seu melhor estilo de arrancadas fulminantes, abriu o placar para o Brasil. A Holanda pressionava e abusava das jogadas de linha de fundo, jogando nas costas de Zé Carlos, inexperiente lateral-direito que substituía Cafu, suspenso. E foi em uma bola alta a três minutos do fim, quando a classificação brasileira já parecia assegurada, que Kluivert subiu e, parado no ar, cabeceou enquanto Junior Baiano só olhava.

A partida foi então para a prorrogação e aí o jogo tomou um tom dramático. A cada ataque, a partida poderia terminar. Taffarel E Van der Sar fizeram defesas incríveis e, após mais 30 minutos de sofrimento, o jogo terminou. Pênaltis. Taffarel pegou a cobrança de Cocu e pôs o Brasil na frente. Dunga converteu e Taffarel pegou de novo, desta vez a cobrança de Frank de Boer, para colocar o Brasilna final novamente.

A outra semifinal também foi emocionante, embora nem tanto. O artilheiro croata Suker abriu o placar no primeiro minuto do segundo tempo, mas o lateral direito Lilian Thuram não deu nem tempo para a comemoração e empatou um minuto depois. Novamente, o talismã francês deu sorte à equipe e virou o jogo aos 24. A partir daí, a França só cozinhou o jogo, com a Croácia tentando passar pela defesa sem sucesso. Aos trancos e barrancos, os franceses chegaram à final dos sonhos, contra o Brasil.

A decisão

Naquele domingo, 12 de julho, o Brasil enfrentaria os donos da casa, mas a confiança era geral pois o time vinha jogado bem e vencido adversários igualmente fortes. Entretanto, minutos antes da partida já se podia ter uma idéia do desastre que seria aquela tarde em Saint-Dennis. A lista oficial da FIFA indicava Edmundo no lugar de Ronaldo. Ninguém sabia o que havia acontecido, afinal Ronaldo era o principal jogador da seleção. Mas na hora que o time entrou em campo, Ronaldo estava lá.

Veio então a notícia que o atacante da Inter de Milão havia passado mal e só confirmou sua presença após um último teste no vestiário. Mas o time estava apático em campo, como se abalado pelo que acontecera com Ronaldo, seja lá o que for. A França, que não tinha nada a ver com isso, fez 2 a 0 já no primeiro tempo com Zidane, duas vezes, de cabeça. O Brasil estava morto em campo, era perceptível no rosto dos jogadores o desânimo e a incapacidade de se esboçar uma reação. Em um determinado momento, esse clima tenso ficou bem claro: Ronaldo chocou-se com o goleiro Barthez e ficou caído no chão. Os jogadores brasileiros, desesperados, foram correndo ver se o atacante estava bem.

Na volta para o segundo tempo, nem a fala mais inspirada de Zagallo poderia evitar o inevitável: Petit, em um contra-ataque, fechou de vez o caixão brasileiro, marcando 3 a 0. A França estava em festa. Eles haviam conseguido o que tanto queriam: vencer a Copa do Mundo que organizaram em cima do Brasil. Depois disso, muito se falou sobre Ronaldo, e a versão mais aceita é a de que ele teria sofrido uma convulsão no hotel e que isso havia chocado os jogadores, mas um suposto contrato com a Nike o teria feito entrar em campo mesmo assim. A verdade pode nunca vir à tona, mas uma coisa é clara: o Brasil perdeu a Copa para si mesmo.

XVI Copa do Mundo - 1998 - França

Campeão: França
Vice: Brasil
Terceiro: Croácia
Quarto: Holanda

Período: de 10 de junho a 10 de julho de 1998
Total de jogos: 64
Gols marcados: 171
Média de gols: 2,672 por partida
Artilheiro: Suker (Croácia) - 6 gols
Público total: 2.904.400 pagantes
Média de público: 45.381 pagantes

O Brasil: Vice-campeão - 7 jogos (5V e 2D), 14GP/10GC

Jogos:

PRIMEIRA FASE:
Brasil 2x1 Escócia (César Sampaio e Boyd, contra; Collins)
Brasil 3x0 Marrocos (Ronaldo, Bebeto e Rivaldo)
Brasil 1x2 Noruega (Bebeto; Rekdal e Flo)

OITAVAS-DE-FINAL:
Brasil 4x1 Chile (Ronaldo (2) e César Sampaio (2); Salas)

QUARTAS-DE-FINAL:
Brasil 3x2 Dinamarca (Rivaldo (2) e Bebeto; Jorgensen e Brian Laudrup)

SEMIFINAL:
Brasil 1x1 Holanda (Ronaldo; Kluivert) - Brasil 4 a 2 nos pênaltis

FINAL:
Brasil 0x3 França (Zidane (2) e Petit)

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