quarta-feira, 9 de junho de 2010

História das Copas - Coreia/Japão 2002

As campanhas de Coreia e Japão para sediarem a Copa de 2002 eram as melhores, e como a FIFA já estudava implementar um rodízio de continentes como forma de globalizar ainda mais o esporte, os dois países eram os candidatos mais fortes. Mas quando a entidade anunciou que os dois países sediariam o Mundial em conjunto, o entusiasmo deu lugar à decepção das duas nações: nenhuma queria dividir a honra. Apesar de alguns problemas entre os dois países (o Japão reclamou quando o nome oficial foi Coréia/Japão e não Japão/Coréia), os asiáticos deram um show de organização e tecnologia, com os mais belos estádios já vistos servindo de palco para os jogos do torneio.

Primeira fase

O Brasil pegou uma chave considerada dos sonhos, com Turquia, China e Costa Rica, todos países sem expressão no cenário futebolístico mundial. Se o caminho ficava mais fácil, a pressão aumentava: resultados ruins acabariam de vez com a imagem da seleção. Na estréia contra a Turquia, o jogo foi nervoso e os turcos jogaram melhor no primeiro tempo, até que Hasan Sas abriu o placar no último lance antes do apito final. Na volta do intervalo, o Brasil precisava de um gol rápido e foi o que conseguiu, com Ronaldo, aos cinco minutos, na raça, de carrinho. O jogo seguiu tenso e Luizão sofreu um pênalti mandraque, que o juiz coreano ajudou e muito, afinal a falta foi fora da área. Rivaldo, que não tinha nada a ver com isso, marcou o gol da vitória aos 42 minutos.

No segundo jogo, contra a China, o Brasil jogou bem, mas mais por deficiência técnica dos chineses do que por mérito dos brasileiros. Roberto Carlos abriu de falta aos 15, Rivaldo ampliou aos 35 e Ronaldinho Gaúcho marcou seu primeiro gol em copas no final do primeiro tempo. Com o jogo já ganho, o time de Felipão apenas administrou a vantagem e ainda ampliou aos 10 da segunda etapa, com Ronaldo novamente.

No terceiro jogo, o Brasil já estava classificado mas mesmo assim não deu sopa para o azar: 5 a 2 na Costa Rica. Ronaldo fez dois gols em três minutos após um começo arrasador da seleção. Edmílson ampliou de meia-bicicleta aos 38 e Wanchope descontou um minuto depois. No segundo tempo, Gomez diminuiu para 3 a 2 e acendeu a luz amarela para o Brasil, mas Rivaldo e Júnior trataram de pôr as coisas em ordem e classificaram o Brasil com 100% de aproveitamento.

Embora a Copa de 2002 tenha ficado devendo um pouco no nível técnico, as zebras passearam soltas nos gramados orientais, garantindo muita emoção à disputa. Logo no jogo de abertura, a poderosa França, jogando sem Zidane, machucado, foi surpreendida pelos despretensiosos senegaleses que, exibindo um futebol vistoso, desbancaram os `bleus` e venceram por 1 a 0 com o gol de Papa Bouba Diop. Na última rodada, precisando vencer, a França contou com Zidane mas de nada adiantou: derrota por 2 a 0 para os dinamarqueses e eliminação catastrófica, sem nem marcar um gol sequer. O Uruguai perdia de 3 a 0 mas arrancou um empate com o Senegal, o que de nada adiantou: as duas seleções campeãs mundiais estavam eliminadas.

Outra seleção badalada e favorita ao título, a Argentina também não passou da primeira fase, com um desempenho pífio. Na primeira rodada, vitória simples com gol de Batistuta. No jogo mais esperado da segunda fase, os argentinos perderam para a Inglaterra por 1 a 0, gol de pênalti de Beckham. O time não agradava e o empate em 1 a 1 com a Suécia fez os hermanos voltarem para casa mais cedo. A Nigéria decepcionou e ficou em última no grupo, que teve ingleses e suecos classificados.

No Grupo B, um dos mais insossos do Mundial, a Espanha não encontrou dificuldades para vencer seus três inexpressivos adversários: vitórias de 3 a 1 sobre a estreante Eslovênia e sobre o Paraguai, culminando com um triunfo por 3 a 2 em cima da África do Sul. A Fúria credenciava-se para a conquista do título, enquanto o Paraguai se classificou à frente da África do Sul apenas por ter marcado um gol a mais.

Um dos anfitriões, a Coreia sofria uma pressão muito grande: nunca um país sede foi eliminado na primeira fase do torneio, e parecia que dessa vez o tabu seria quebrado. Mas não foi o que se viu em campo: com uma equipe vibrante empurrada pela grande massa que lotava os estádios, a anfitriã conseguiu uma surpreendente vitória por 2 a 0 sobre a Polônia e uma vitória ainda mais surpreendente pela contagem mínima sobre Portugal. Como zebra pouca é bobagem, os Estados Unidos bateram Portugal no jogo de estréia por 3 a 2, com grande atuação do time norte-americano. As duas seleções mais improváveis haviam se classificado.

No grupo E, em terras japonesas, a Alemanha começou arrasadora, aplicando uma sonora goleada de 8 a 0 sobre a Arábia Saudita, com 3 gols de cabeça de Klose. O empate em 1 a 1 com a Irlanda e a vitória de 2 a 0 sobre Camarões foram suficientes para deixar os alemães em primeiro no grupo e os irlandeses em segundo.

Continuando com as zebras, o México mostrou a evolução de seu futebol ao vencer o Grupo G, com vitórias sobre Croácia e Equador e um empate com a Itália. A Itália se classificou em segundo graças aos dois gols de Vieira na estraia contra o Equador, mas teve uma campanha irregular.

Por fim, o Japão desempenhou o mesmo papel que a Coreia: muito cobrado, mostrou sua força ao derrotar a irreconhecível Rússia e a fraca Tunísia, empatando com os outros classificados do grupo, os belgas, que ainda empataram com a Tunísia e venceram os russos. A Rússia só ganhou da Tunísia e voltou para casa mais cedo.

Oitavas de final

Se as zebras deram as caras na primeira fase, na segunda etapa do Mundial elas já estavam acostumadas com os gramados e tomaram conta da festa. A Bélgica bem que tentou aprontar para cima do Brasil, mas uma bela atuação de Marcos no gol e com Rivaldo e Ronaldo mais uma vez inspirados, a seleção venceu por 2 a 0. O primeiro tempo foi tenso, com os belgas pressionando e o meia Marc Wilmots incomodando muito a zaga brasileira. A adversária seria a Inglaterra, que não encontrou problemas para derrotar a Dinamarca por 3 a 0. Mais uma vez, os dinamarqueses fizeram bonito na primeira fase mas depois não repetiram o bom futebol.

Mas estávamos falando de zebras. O fato da Coréia do Sul ter passado à segunda fase já era um feito histórico, mas agora eles enfrentariam a tricampeã Itália e poucos apostavam - se é que alguém apostava - numa vitória dos donos da casa. Empolgada pelo gol e empurrada pela torcida, a Coréia pressionou a Itália o tempo todo. Parecia que os times haviam trocado de uniforme, pois os coreanos jogavam muito melhor. Faltando três minutos para o fim, quando o jogo já se encaminhava para os pênaltis, Ahn aproveitou um cruzamento e colocou a bola para dentro, para desespero dos italianos e para a loucura dos coreanos em todo o país. Assim como os vizinhos do Norte em 66, a Coréia do Sul eliminava a Azzurra em um jogo histórico.

Mas como emoção e zebra poucas são bobagem, o Senegal enfrentou a Suécia em um grande jogo em Oita. A partida foi para a prorrogação e em uma bela jogada no final do primeiro tempo, Camara chutou, a bola escorou na trave e matou os suecos. O Senegal virara o jogo e estava nas quartas de final, sendo a segunda seleção africana a chegar tão longe, após Camarões tê-lo feito em 90.

Mas chega de zebras. Duas equipes tradicionais, Alemanha e Espanha suaram para vencer. Os alemães enfrentaram o Paraguai e começaram uma prática que não mudou até a final: futebol defensivo e contra-ataques. Contra o Paraguai, um jogo de poucas chances e o 0 a 0 parecia que duraria até à prorrogação quando Neuville acertou um belo voleio a dois minutos do fim e venceu o goleiro Chilavert, que fora muito criticado na primeira fase por estar visivelmente acima do peso.

Já os espanhóis, que cresciam na competição, tiveram um jogo difícil contra os irlandeses, que marcavam muito forte e saíam rapidamente para o ataque com boas trocas de passe. Após uma prorrogação sem gols, Casillas defendeu um pênalti e a Espanha avançou às quartas.

Por fim, outros dois jogos emocionantes: num clássico regional, os Estados Unidos venceram o México por 2 a 0 com gols de McBride e Donovan, o craque norte-americano. Já o Japão não teve a mesma sorte da Coréia, outra anfitriã, e em um jogo fraco, perdeu para a Turquia por 1 a 0, gol de Davala aos 12 do primeiro tempo.

Quartas de final

Brasil e Inglaterra fariam a partida mais esperada das quartas-de-final. O belo estádio de Shizuoka foi palco de um jogo eletrizante desde o seu início. Ambas as equipes criavam boas oportunidades, mas foi a Inglaterra quem marcou primeiro. Lúcio falhou feio na tentativa de cortar o lançamento de Heskey e acabou entregando a bola nos pés de Michael Owen, que ficou cara a cara com Marcos e só teve o trabalho de chutar para o gol.

A partida ficou mais nervosa e o Brasil atacava de todos os meios. O gol de empate surgiu após uma pipocad de Beckham, que não dividiu uma bola com Lúcio na linha lateral. Após a cobrança, Ronaldinho Gaúcho carregou a bola e deu um lindo passe para Rivaldo, que deixou o zagueiro Ferdinand procurando a bola e chutou cruzado no fundo do gol de Seaman. O gol antes do intervalo era o que o Brasil precisava.

No segundo tempo, a seleção melhorou e se impôs sobre o English Team. A virada veio numa cobrança de falta espetacular de Ronaldinho Gaúcho, logo a 5 minutos, chutando de muito longe, quase da linha lateral, e encobrindo o goleiro inglês David Seaman. Ronaldinho ainda foi expulso pelo juiz Felipe Ramos Rizo, após falta em Mills. A Inglaterra, com um homem a mais, tentou pressionar mas não conseguiu sucesso, e o Brasil estava nas semifinais.

Adivinha quem seria o adversário do Brasil? A Turquia, novamente, o adversário mais difícil da seleção na primeira fase. Mais uma vez com a torcida contra, os turcos seguraram o ímpeto dos habilidosos senegaleses e venceram com um gol de ouro logo no início da prorrogação. Mansiz, de sem-pulo, marcou um belo gol e acabou com o sonho africano de chegar pela primeira vez a uma semifinal.

Na outra chave, a Espanha enfrentou os coreanos, donos da casa, que mais uma vez eram apoiados massivamente pela torcida. Uma arbitragem muito questionável do egípcio Gamal Gandhour anulou um gol legítimo dos espanhóis. Ao final, a decisão foi para os pênaltis e os coreanos venceram com o gol de Myung-bo Hong. A imprensa mundial reclamou muito de um suposto favorecimento dos coreanos, e a verdade é que eles, que nunca haviam sequer passado da primeira fase, estavam na semifinal.

O adversário dos anfitriões seria a Alemanha, que mais uma vez venceu por 1 a 0 em um jogo onde mais se defendeu do que atacou. Os Estados Unidos acuaram os alemães e detinham muito mais a posse da bola, mas em um escanteio ainda no primeiro tempo, o meia Michael Ballack colocou os tricampeões na frente para não mais largarem a liderança. Por mais que os estadunidenses tentassem, não conseguiriam furar a barreira alemã, que tinha no goleiro Oliver Khan seu maior expoente.

Semifinais

As campanhas da seleção brasileira em 94 e em 2002 tiveram muitas semelhanças: em ambas, o Brasil chegou desacreditado, em ambas os técnicos eram acusados de retranqueiros, em ambas o time teve dificuldades para se classificar e em ambas, o Brasil enfrentou uma seleção européia duas vezes: na primeira fase e na semifinal.

E foram essas coincidências que motivaram o Brasil a buscar a vitória contra a Turquia, em Saitama, no dia 26 de junho de 2002. Como já conhecia o perigoso adversário, Felipão tratou de avisar seus defensores, que tomaram uma posição mais cautelosa. Ronaldinho Gaúcho, suspenso, foi substituído por Edílson. No primeiro tempo, zero a zero. Na volta do intervalo, logo a quatro minutos, Ronaldo recebeu a bola, ganhou do adversário na base da força e, entrando na área, chutou com o bico da chuteira. A bola foi morrer no canto do goleiro Rustü, para desespero dos turcos, que tentaram empatar, mas sem sucesso. O Brasil igualara assim o recorde da Alemanha, chegando a três finais de Copa do Mundo consecutivas.

E o outro finalista seria exatamente a Alemanha, que enfrentou os já temíveis coreanos e sua massa vermelha de torcedores. O que se viu nas oitavas e nas quartas de final se repetiu na semifinal: os alemães, acuados, sofreram a pressão coreana durante todo o jogo, até que um gol do salvador da pátria, Michael Ballack, colocou os tricampeões mundiais na frente. A Coréia estava em choque, porque diferentemente das outras vezes, eles não conseguiram reverter o placar. Mas ao invés de tristeza, o sentimento geral era de muito orgulho, pelo país ter chegado tão longe. Brasil e Alemanha fariam, então, uma final histórica, entre os dois maiores vencedores de Copas do Mundo, um jogo que até então nunca havia acontecido.

A decisão

Os maiores vencedores de Copas do Mundo estava presentes no belíssimo Estádio Internacional, em Yokohama. E respeito era a ordem do dia para as duas equipes, afinal do outro lado havia uma camisa pesada, não importa de que lado se estava jogando. Um primeiro tempo cauteloso por parte das duas seleções, com algumas chances esporádicas. O grande desfalque da seleção alemã era o meia Ballack, suspenso após receber um cartão amarelo na semifinal contra a Coreia. E sua ausência foi duramente sentida pelos tricampeões, que criaram menos que a seleção brasileira, que chegou com mais perigo ao gol de Khan na primeira etapa.


Na volta do segundo tempo, a Alemanha continuava detendo mais a posse da bola, embora o Brasil fosse mais ofensivo. Até que aos vinte minutos, Rivaldo soltou uma bomba de fora da área, que Khan não segurou e Ronaldo, livre, só teve o trabalho de empurrar para o fundo das redes. No duelo entre o melhor goleiro e o artilheiro da Copa, o placar estava 1 a 0 para Ronaldo.

E a partir daí começou a brilhar uma outra estrela. Quando muito se esperava de Ronaldinho Gaúco e Rivaldo, foi Kléberson quem comeu a bola na final. Jogando muito, o meio-campo do Atlético-PR havia acertado um belo chute no travessão de Kahn já nos descontos do primeiro tempo. Aos 35 da segunda etapa, fez bela jogada e tocou a bola para Ronaldo que, aproveitando-se do corta luz de Rivaldo, emendou para o gol, vencendo mais uma vez a muralha alemã chamada Oliver Kahn. O Brasil já podia comemorar a vitória.

XVII Copa do Mundo - 2002 - Coréia/Japão

Campeão: Brasil
Vice: Alemanha
Terceiro: Turquia
Quarto: Coréia do Sul

Período: de 31 de maio a 30 de junho de 2002
Total de jogos: 64
Gols marcados: 161
Média de gols: 2,52 por partida
Artilheiro Ronaldo (Brasil) - 8 gols
Público total: 2.705.197 pagantes
Média de público: 42.269 pagantes

O Brasil: CAMPEÃO - 7 jogos (7V), 18GP/4GC

Jogos:
Primeira fase:
Brasil 2x1 Turquia (Ronaldo e Rivaldo; Hasan Sas)
Brasil 4x0 China (Roberto Carlos, Rivaldo, Ronaldinho Gaúcho e Ronaldo)
Brasil 5x2 Costa Rica (Ronaldo (2), Edmílson, Rivaldo e Júnior; Wanchope e Gomez)

Oitavas-de-final:
Brasil 2x0 Bélgica (Rivaldo e Ronaldo)

Quartas-de-final:
Brasil 2x1 Inglaterra (Rivaldo e Ronaldinho Gaúcho; Owen)

Semifinal:
Brasil 1x0 Turquia (Ronaldo)

Final:
Brasil 2x0 Alemanha (Ronaldo (2)

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