sexta-feira, 4 de junho de 2010

História das Copas - Estados Unidos 1994



A escolha dos Estados Unidos como sede da 15ª edição da Copa do Mundo foi muito contestada, pelo fato do país não ter tradição nenhuma no futebol. Entretanto, o sucesso de público calou a boca dos críticos, embora as partidas tenham sido realizadas em um horário nada agradável para os jogadores: muitos jogos começaram sob o forte sol do meio dia, para adequar-se ao fuso horário europeu.

O Brasil nunca havia passado por eliminatórias tão conturbadas. Pela primeira vez na história, a seleção perdeu uma partida preliminar: 2 a 0 para a Bolívia em La Paz com uma ajuda do goleiro Taffarel. O técnico Parreira não convocava o atacante Romário e, pressionado pela torcida e pela necessidade de uma vitória contra o Uruguai no último jogo, chamou o Baixinho, que deu conta do recado e classificou a seleção canarinho. A Bolívia, que havia vencido o Brasil, estrearia em Copas, ao passo que a Colômbia, com status de favorita, assegurou a vaga após ter goleado a Argentina por 5 a 0 pelas eliminatórias. Os hermanos só se classificaram na repescagem, vencendo a Austrália.

Na Europa, dois grandes times ficaram de fora do Mundial: A Inglaterra foi eliminada por Noruega e Holanda, enquanto que a França caiu diante de Suécia e Bulgária. A Itália só se classificou no último jogo, eliminando Portugal com uma vitória magra em Milão. A Rússia se classificou pela primeira vez após a cisão da União Soviética. Já a Grécia se classificou pela primeira vez e Espanha, Bélgica, Romênia e Irlanda completaram a lista européia. A Alemanha, é claro, já estava classificada por ser a atual campeã.

Na Concacaf, o México ficou com a única vaga disponível, já que os anfitriões estadunidenses tinham lugar garantido. Na Ásia, a Arábia Saudita se classificou pela primeira vez, frustrando os planos japoneses de disputar sua primeira Copa. Acompanharam os árabes a Coréia do Sul. Na África, os veteranos Camarões e Marrocos tiveram a companhia da estreante Nigéria na viagem rumo à América do Norte.

Primeira fase

A Alemanha tratou de acabar com a maldição do jogo de estréia, sendo o primeiro campeão a vencer tal partida desde que a mesma foi instituída, em 1974. Mesmo assim, foi um jogo duro no estádio Solder Field, em Chicago: 1 a 0 sobre a fraca Bolívia com um gol de Klinsmann. O artilheiro do Monaco ainda marcaria o gol alemão no empate em 1 a 1 contra a Espanha e mais dois na vitória de 3 a 2 sobre a Coréia do Sul, que ainda arrancou um empate contra os espanhóis. Coreanos e bolivianos, entretanto, morreram na praia.

O Brasil teve uma primeira fase fácil nos resultados e difícil no futebol. A zaga titular, Ricardo Rocha e Ricardo Gomes, foi cortada por contusões e coube a Aldair e Márcio Santos a tarefa de segurar os adversários. Apesar de só tomar um gol na primeira fase, a defesa brasileira deu muitos sustos. Na partida de estréia, o meio-campo com Raí e Zinho criou muito pouco e Romário só marcou um gol aproveitando uma cobrança de escanteio. Raí aumentou de pênalti, mas sua saída era pedida pela torcida e pela imprensa, que apelidara o outro meia armador, Zinho, de "

No segundo jogo, a seleção de Camarões era temida por sua campanha na Copa de 90. O que se viu, entretanto, foi um time longe do que apresentara um futebol vistoso quatro anos antes. Romário mais uma vez desiquilibrou, abrindo o placar numa arrancada aos 39 do primeiro tempo. Márcio Santos, de cabeça, e Bebeto completaram a goleada. Bebeto e Romário eram uma dupla quase perfeita. Com as duas vitórias, o Brasil já estava classificado, mas precisava ao menos empatar com a Suécia para garantir o primeiro lugar. Mais uma vez o meio-campo não rendeu e a zaga, preocupada demais em marcar os atacantes Dahlin e Brolin, se descuidou e deixou espaços para Kenneth Andersson abrir o placar. O Brasil sofreu mas brilhou de novo a estrela de Romário que, de bico, empatou.

O Brasil enfrentaria os donos da casa no feriado nacional, o Dia da Independência, 4 de julho. Mas por muito pouco os Estados Unidos sequer se classificaram para a segunda fase, o que quebraria uma escrita do país-sede sempre avançar na competição. Os americanos empataram com a Suíça na estréia e venceram a badalada Colômbia por 2 a 1 com um gol contra do zagueiro Escobar, mas a derrota para a Romênia por 1 a 0 quase lhes custou a vaga. Um fato triste é que Escobar, que marcou o gol contra, foi assassinado na Colômbia logo quando voltou da Copa exatamente por ter marcado esse gol. A Colômbia, aliás, foi uma das grandes decepções da Copa, sendo eliminada logo na primeira fase. A Romênia de Hagi terminou em primeira no grupo.

No Grupo D, a Argentina só se classificou em terceiro, embora tenha sido nos critérios de desempate. Após vencer o saco de pancadas grego por 4 a 0 e derrotar os surpreendentes nigerianos por 2 a 1, o craque Maradona foi pego no antidoping e foi expulso do Mundial. Uma despedida trágica de um jogador polêmico. A Bulgária de Letchkov e Stoitchkov foi outra surpresa, vencendo os argentinos - sem Maradona - por 2 a 0.

Já no grupo E, imperou a chatice. Todos os times terminaram com 4 pontos e a classificação foi definida apenas por sorteio: a Irlanda ficou em segundo, na frente da Itália. O México foi o campeão do grupo por ter feito mais gols e a Noruega foi eliminada. A grande surpresa do grupo foi a vitória irlandesa por 1 a 0 sobre os italianos na estréia, com um golaço por cobertura do meio da rua do meia Houghton.



Por fim, outra surpresa no Grupo F: a Arábia Saudita venceu Marrocos e Bélgica para ficar em segundo lugar no grupo, perdendo para a Holanda apenas no confronto direto. O atacante Al Owairan fez um gol histórico, driblando quase todo o time belga e fuzilando o já veterano goleiro Preud`homme.

Oitavas de final

O Brasil teria uma tarefa inglória nas oitavas de final: enfrentar os donos da casa no maior feriado nacional, o dia da comemoração da independência do país. Naquele 4 de julho, os americanos se inflaram de patriotismo para buscar a classificação com uma vitória sobre o Brasil que se tornaria histórica. E os americanos dificultaram o quanto puderam. Parreira finalmente tirou Raí do time, escalando Mazinho, que trouxe mais mobilidade ao meio-campo.

Mas a retranca estadunidense era forte e o Brasil só conseguiu marcar um gol aos 27 minutos do segundo tempo, numa jogada de Romário que lançou Bebeto que, por sua vez, acertou um chute milimétrico para o fundo das redes do goleiro Meola. Se a torcida ficou nervosa ao ver a partida, os jogadores também tiveram seus ânimos acirrados, tanto que Leonardo, escalado na lateral, acertou uma cotovelada no rosto de Tab Ramos e foi justamente expulso, sendo suspenso pelo resto do Mundial. O americano teve seu maxilar quebrado pela força do golpe. Mas no final das contas, o que valia era que o Brasil estava classificado para as quartas de final.

O adversário seria a Holanda, que vencera a Irlanda com boa atuação do atacante Dennis Bergkamp. A imprensa brasileira falava de uma revanche de 20 anos antes, quando o Brasil foi eliminado pela Laranja Mecânica. Além dos holandeses, também passaram para as quartas-de-final os espanhóis, com uma ótima vitória de 3 a 0 sobre a Suíça, e os búlgaros, que eliminaram os mexicanos nos pênaltis após empate de 1 a 1.

A Suécia tratou de espantar a zebra saudita e venceu por 3 a 1, com um gol de Dahlin logo aos 6 minutos e outros dois de Kenneth Andersson. Al Guesheyan descontou. Em partida com início eletrizante, a Alemanha venceu a Bélgica por 3 a 2, sendo que com 11 minutos de jogo o placar já apontava três gols: dois para os alemães e um para os belgas.

Mas as duas partidas mais emocionantes das oitavas-de-final foram, sem dúvida, Romênia x Argentina e Itália x Nigéria. Na primeira, os argentinos tentavam provar que poderiam chegar à final sem o astro Maradona. Mas esbarraram em mais uma grande atuação de Hagi e seus companheiros. Dumitrescu abriu o placar aos 11 e Batistuta empatou 5 minutos depois. Logo depois da saída de bola, Dumitrescu colocou os romenos novamente na frente e Hagi tratou de matar os argentinos com seu gol no 13° minuto da segunda etapa. Balbo ainda descontou mas já era tarde: a Argentina estava eliminada.

A Itália sofreu muito mais, mas pelo menos conseguiu a classificação. Surpreendida pelo alegre futebol nigeriano, os italianos levaram um gol de Amunike aos 25 do primeiro tempo. A pressão italiana transformou-se em desespero quando, a dois minutos do fim, Roberto Baggio empatou. Na prorrogação, o craque da Juventus marcou mais um, desta vez de pênalti, e assegurou a classificação italiana, que momentos antes parecia tão impossível. Mais uma vez o futebol africano era punido por sua displiscência na marcação.

Nenhum comentário: